segredo mortal, bruno m. franco

Fotografia da minha autoria


Gatilhos: Violência Física e Sexual, Homicídio, Misoginia, Linguagem Gráfica e Explícita


O fenómeno das redes sociais é tanto que, ao seguirmos criadores de conteúdo literário, podemos ser influenciados a aumentarmos as nossas listas de livros por ler. Uma vez que estou sempre disposta a descobrir novos autores portugueses e que a obra de estreia do Bruno M. Franco foi aparecendo em algumas das páginas que acompanho, acabei por o incluir como autor do Alma Lusitana, na edição de 2024. Estava, portanto, bastante entusiasmada, porém, a experiência não foi positiva.


um projeto secreto, um assassino contratado e um homem acusado por crimes que não cometeu

Segredo Mortal é um policial que cobre três frentes: um projeto secreto, um assassino contratado e um homem acusado de crimes que não cometeu. Para contextualizar um pouco mais, na véspera de Natal, ocorreu uma catástrofe em Lisboa. Mais tarde, é encontrado um puzzle humano numa praia, um jovem tenta provar a sua inocência e começa a compor-se o perfil de um perigoso assassino. Estará tudo interligado?

A premissa intrigou-me e fui anotando algumas questões sobre comportamentos que me pareceram suspeitos. Além disso, senti mesmo que esta pluralidade de cenários seria promissora: por um lado, porque acrescentaria ritmo à ação e, por outro, porque levaria o leitor a conjeturar, a traçar vários percursos e, na melhor das hipóteses, a fazer parte desta grande conspiração. No entanto, este livro não funcionou comigo.

O primeiro aspeto a deixar-me reticente foram os diálogos, porque nem sempre me pareceram credíveis e adequados à situação/à personagem. Depois, houve partes que achei que não acrescentavam muito à história, tornando-a repetitiva. Ademais, a dado momento, senti que estavam a surgir coincidências inverosímeis. Claro que sendo uma obra de ficção, num género que também necessita de uma certa extrapolação, não me incomoda que não represente a realidade tal como ela poderia ser, caso todas estas situações saíssem do papel, mas, enquanto leitora, gosto de sentir que até o cenário mais surreal consegue ser fidedigno, fazendo-nos acreditar no que estamos a ler, e existiram várias alturas em que isso me faltou, distanciando-me do enredo. Ainda assim, aquilo que mais me incomodou foi mesmo a construção das personagens.

«No fundo da sua mente, um plano começou a ganhar forma. A sua estratégia, apesar de drástica, poderia ser a sua salvação»

As figuras femininas foram sempre retratadas de um modo inferior, como se fossem menos capazes, muito mais emocionais e menos preparadas para lidarem com situações nefastas, ainda que ocupassem cargos importantes e/ou de chefia. Não quero entrar em detalhes, para não comprometer a história, mas fica sempre a sensação que só as figuras masculinas é que são dotadas de destreza, sentido crítico e coragem. Por outro lado, existe uma objetificação constante do corpo da mulher, que só serve para perpetuar estereótipos (não só em relação à mulher, mas também em relação ao homem). Eu compreenderia esta construção se o propósito fosse retratar um ambiente misógino, não sendo, pareceu-me apenas gratuita e, confesso, confrangedora.

Sou muito fã da expressão «mostra, não digas», porque acredito que a leitura se torna mais cativante se depreendermos as coisas pelas atitudes dos protagonistas. E esse foi outro aspeto que também me falhou neste livro, uma vez que é tudo detalhado. A base é curiosa, no entanto, peca pelo excesso e pela falta de equilíbrio entre as três frentes que sustentam o policial. E esse talvez possa ter sido outro dos problemas deste enredo, para mim: haver tanta coisa para alimentar, o que fez com que certos acontecimentos ficassem em segundo plano e tivessem desenvolvimentos superficiais.

Escrever este texto deixou-me incomodada, porque percebi que não tinha algo de bom para partilhar e queria muito ter gostado. Além disso, deixou-me triste porque tinha tudo para ser surpreendente. A escrita pode melhorar? Claro que sim! Mas estavam aqui vários ingredientes para nos deixarem em suspenso. Segredo Mortal precisava de ser polido e de ter um foco mais maduro, para não seguir o caminho mais fácil.


🎧 Música para acompanhar: Pontas Soltas, Souls Of Fire & Dubi


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook | Edição Especial) | Bertrand (Livro | eBook | Edição Especial)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Comentários

  1. Apesar de as opiniões dos outros não influenciarem a escolha das minhas leituras. Neste livro, parece-me que as opiniões são muito consistentes, no que diz respeito às falhas no enredo. Por esse motivo ainda não me atrevi na obra do autor. No entanto, o facto de ser um policial deixa-me curiosa.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Se existe essa curiosidade, sou sempre apologista de se avançar para a leitura, porque a nossa opinião pode ser completamente diferente. Aquilo que não resultou para uns pode ser o mais entusiasmante para nós e acho que essa também é a beleza da leitura: percebermos que a mesma história nos provoca reações distintas.
      Quando decidi que o Bruno M. Franco seria um dos nomes da edição deste ano do Alma Lusitana, tinha lido críticas incríveis acerca de Segredo Mortal, só agora é que me comecei a cruzar com opiniões semelhantes àquilo que senti. Para mim, de facto, é um livro com muitas falhas, mas isso vale o que vale. E, embora não o aconselhe, também não direi para que não o leiam, porque acho que as pessoas devem tirar as suas próprias conclusões

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