querido edward, ann napolitano

Fotografia da minha autoria



Gatilhos: Morte, Luto; Referência a Aborto e Abandono


O reencontro com Ann Napolitano estava para breve, apenas dependente da tradução do seu primeiro livro. Quando vi que seria uma das escolhas do Livra-te, para agosto, tudo se alinhou.


 libertarmo-nos das nossas tragédias

Querido Edward conta-nos a história de Edward Adler, de 12 anos, que foi o único sobrevivente de um acidente de avião. O voo com destino a Los Angeles transportava 183 passageiros, para além da família do protagonista - os pais e o irmão mais velho. Perante semelhante tragédia, é acolhido pelos tios e a pergunta que salta logo do peito é: e, agora, como é que se vive depois de se perder o mais importante?

As leituras para o clube são sempre dividas por partes, para ser mais fácil de ir comentando e partilhando o nosso parecer. E a minha intenção era mesmo dosear, lendo apenas uma das partes por dia, mas não fui capaz de largar este enredo: não porque tenha um ritmo compulsivo, que nos deixa quase sem respirar, em permanente alvoroço, mas porque há um amadurecimento lento, constante, como se estivéssemos compenetrados a colar os cacos de um coração despedaçado, amplamente ferido, que não desistiu de procurar o seu lugar no mundo, ainda que esse lugar seja distante de tudo o que idealizou.

A forma como nos libertamos das nossas tragédias é sempre muito pessoal, mas acredito que, de uma forma mais ou menos consciente, exista uma estrutura que nos permita avançar ou recuar sem que nos sintamos desamparados. Nesta narrativa, verificamos isso e corroboramos que o processo de luto é moroso, com múltiplas áreas cinzentas. E, admito, chorei por causa de alguns detalhes, porque, para mim, foram uma demonstração tremenda de generosidade e de amor.

«Os homens esvaziaram o camião no parque de estacionamento, depositando todas as caixas no asfalto. Abriram uma identificada como quarto do Eddie. Retiraram o elefante de peluche da caixa e enviaram-no para o hospital de Denver (...)»

Ann Napolitano, inspirando-se em dois acidentes de aviação, construiu uma história exímia, com uma estrutura que me parece resultar muito bem, até porque a alternância temporal permite conhecer um conjunto de personagens fascinantes, em vez de ficarem reduzidas a números. Além disso, com uma escrita sensível e melancólica, não camufla emoções. Ninguém imaginava o que ia acontecer e acabamos a viver diferentes perspetivas.

Querido Edward é um longo processo de descoberta, que nos mostra que há sempre algo que se quebra e que não pode permanecer igual - mas não tem de ser o fim. Explorando o impacto das memórias, do escrutínio público e de termos um porto seguro, achei interessante que nos deixe a pensar no quanto certas pessoas nos moldam, transformando quem somos. Este livro é sobre recuperar e estabelecer várias pontes. Talvez seja estranho, mas é quase poética a maneira como nos une, porque nos reconhecemos na dor, ainda que nenhuma perda seja igual.


🎧 Música para acompanhar: Hold On, Lizzy McAlpine

📖 Outro livro lido: Olá, Linda


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Comentários

  1. Fiquei curiosa! Obrigada pela partilha!
    Aproveito para desejar uma boa semana!

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

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  2. Muito curiosa com este livro.

    Vou levar a sugestão.

    Beijinho grande, minha querida 😘

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    Respostas
    1. A escrita da Ann Napolitano é mesmo surpreendente e a forma como construiu a narrativa, sinto, é difícil de esquecer. Acho que irias gostar de ler, minha querida

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