Entre Margens

Fotografia da minha autoria



vi-te refletida no olhar da tua mãe
o mesmo tom doce
irrequieto, expectante
mas sereno, esperançoso
e doeu-me essa ausência
o futuro que antes de mim
te tiraram sem perdão

continua tudo exatamente igual
esperando a tua chegada
mas tu partiste muito rápido
para longe de todos nós

poderá o céu ser tão longe
ou haverá uma ponte que
nos una em breve?

Fotografia da minha autoria


A atualização do catálogo da BiblioLED levou-me a descobrir um livro do João Tordo do qual nunca tinha ouvido falar. Intrigada, adicionei-o às primeiras leituras de junho.


 os passos para a recuperação

Que Nós Estamos Aqui, cujo subtítulo é 12 Passos Para a Recuperação, pretende fazer-nos refletir acerca dos caminhos que «estão por detrás de quem tem dependências e quer parar». Assim, através de entrevistas, experiências externas e pesquisas, o autor traça um retrato muito próximo de um problema ainda negligenciado na nossa sociedade.

O discurso não romantiza a realidade em questão, no entanto, mostra que é possível combater a compulsão para «beber, usar ou consumir». E, por esse motivo, estabelece um paralelismo com a criação dos Alcoólicos Anónimos e a evolução do programa dos 12 passos, que as pessoas adictas seguem nas reuniões. A existência destes grupos de recuperação é, portanto, uma via alternativa, uma noção de esperança, até porque fica a certeza de não terem de lutar sozinhas. O primeiro passo consiste em reconhecer o problema e pedir ajuda, mas essa abordagem pode demorar: por um lado, porque a pessoa adicta pode não reconhecer a dependência, o que condiciona uma intervenção precoce, e por outro, porque não é fácil avançar para a etapa seguinte se nos sentirmos julgados e/ou diminuídos. A Organização Mundial de Saúde tipificou a adição como uma doença, desde meados dos anos 60, contudo, persistem casos de marginalização.

«Ninguém entra alegremente pela primeira vez numa reunião de Doze Passos. Ninguém chega saudável ou inteiro. Chega-se derrotado, o corpo e o espírito vergados pela dependência»

O tema é de máxima importância e, ao apresentar-nos testemunhos reais, permite-nos compreender melhor os contornos da adição, as dificuldades, os estigmas associados e as possíveis saídas. Confesso, ainda assim, que o peso atribuído à espiritualidade me deixou um pouco reticente. São as nossas crenças que, muitas vezes, nos mantêm à tona, mas senti falta de algo mais concreto. Além disso, acho que a obra peca por se ficar num plano mais superficial desses testemunhos. Abre-nos a porta, sim, só que preferia que tivesse concedido mais espaço aos intervenientes e que tivesse ouvido familiares e amigos, porque acredito que traria uma visão mais completa do problema.

Que Nós Estamos Aqui deixou-me, sobretudo, a questionar o trabalho de prevenção.


 notas literárias
  • Gatilhos: Dependências
  • Lido a: 4 de junho
  • Formato de leitura: Digital
  • Género: Não ficção
  • Pontos fortes: A pertinência do tema, até por dar espaço a quem sente as repercussões desta realidade
  • Banda sonora: Rehab, Amy Winehouse | Ainda Estamos Aqui, Miguel Araújo | Don’t Leave Home, Dido | The A Time, Ed Sheeran | Last Hope, Paramore

Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Wook | eBook)
Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Fotografias da minha autoria



A Elena Ferrante era uma das autoras que mais queria descobrir: não só por me cruzar com A Amiga Genial em todo o lado, quase a toda a hora, mas também por haver um grande mistério associado à sua verdadeira identidade. Continuo a assumir que é uma escritora, porque acho que há partes que só poderiam ter sido escritas por uma mulher (são muito fiéis a certas realidades que sentimos na pele), mas tudo o resto paira na incerteza. Ainda assim, a minha primeira experiência não correspondeu às expectativas que tinha criado.

Em 2020, a história impressionou-me em alguns aspetos, mas não me deixou com vontade de avançar para os próximos volumes da Tetralogia Napolitana, talvez por não ter criado uma ligação com a escrita. No entanto, como A Amiga Genial foi leitura conjunta no Livra-te, em janeiro, decidi dar-lhe uma nova oportunidade e avançar para a leitura com uma abordagem diferente: encarar este volume como o primeiro capítulo da história.

Fez toda a diferença pensar no primeiro livro como uma parte de algo maior. Embora a minha opinião inicial não tenha mudado por completo, o certo é que fiquei com vontade para descobrir as narrativas seguintes.


 história do novo nome

O segundo volume, que começa após o casamento de Lila, permite-nos acompanhar a reta final da adolescência das protagonistas e o início da idade adulta. Tendo em conta tudo o que viveram antes, talvez já não reste qualquer traço de inocência, até porque existiram várias situações que as obrigaram a crescer rápido.

A sentirem-se «num beco sem saída», sufocadas pelo bairro e por um destino turvo, o que mais me impressionou nesta parte da história foi mesmo a pressão dos lugares: fora ou dentro deles, há aspetos que se colam a ambas e que acabam por influenciar cada decisão tomada - mesmo que nem sempre se apercebam disso. Por outro lado, intrigou-me a distância cada vez maior entre as duas amigas. Aliás, acho que isso trouxe outro fôlego ao enredo, porque me permitiu ter uma noção mais clara de ambas.

A instabilidade social e política, complementada por um clima de violência, funciona quase como uma personagem extra e é mesmo interessante tentar perceber os esquemas, as intrigas, os negócios dúbios e as ligações improváveis em prol de uma certa autoafirmação e de jogos de poder inesgotáveis e problemáticos.

História do Novo Nome abre-nos a porta para um lugar íntimo. Por um lado, deixou-me com a certeza de Lila estar a crescer enquanto uma das minhas personagens favoritas, por toda a sua complexidade, e, por outro, deixou-me a pensar que Lenù se está a libertar de algo que nem ela compreende. Gostei da vulnerabilidade.



 história de quem vai e de quem fica

O terceiro volume permite-nos conhecer a versão de Lila e de Lenú num tempo intermédio, compreendido entre os 20 e os 30 e poucos anos, «no mar alto dos anos 70, num cenário de esperança e incerteza, tensões e desafios até então impensáveis». Além de tudo isto, sinto que nos permite fechar algumas teorias e começar a atar as pontas soltas, sobretudo em relação à verdade de algumas personagens.

Descobrir esta história através do olhar de Lenù poderia ser bastante enviesado, mas, confesso, tornou-se uma dinâmica interessante, porque acredito que ela vai desconstruído as certezas com que se revestiu e compreendendo os motivos que sustentam algumas decisões de Lila e de todas as outras personagens com quem convive. Em simultâneo, achei interessante sentir que, como as duas amigas se cruzam pouco, há uma certa calma a pairar, embora também persista a sensação de estarmos sempre a um passo do abismo.

O que mais me entusiasmou neste livro foi, por um lado, este constante entra e sai, esta noção de que a presença física é oscilante, e, por outro, que nunca ficam totalmente longe: quanto mais não seja, há sempre um pensamento que as recupera, que as faz idealizar o que a outra faria naquele lugar. Com estilos de vida que aparentam distanciá-las ainda mais, o bairro continua a exercer uma influência gritante nos seus destinos. Por mais que se movimentem num sentido contrário, há uma força que as atrai, que as derruba, que as prende àquele lugar e à sua história por contar.

O discurso, mesmo que não pareça, tem sempre um tom político e a verdade é que as lutas que travam, muitas vezes de um modo silencioso, são um reflexo disso mesmo. Aqui, é mais notório o crescimento do fascismo, as revoltas e as ligações poderosas da máfia. Sempre foi claro, por exemplo, que a sociedade é amplamente machista, opressiva, mas também percebemos que o feminismo começa a conquistar o seu espaço, ainda que lentamente. E Lila, uma vez mais, tem um impacto fabuloso em todas estas questões, porque sempre se preocupou em estar no lado certo da História. Podem faltar-lhe os meios, mas nunca as convicções.

História de Quem Vai e de Quem Fica aborda temas atuais e cenários que se continuam a repetir e a preocupar, ainda que possa explorar outras situações paralelas menos intensas. Ademais, mostra-nos o quanto duas vidas tão distintas conseguem ter elos comuns. E deixou-me a pensar na influência de uma personagem em particular.



 história da menina perdida

O momento da despedida aproxima-se e, admito, este volume foi o que me deixou mais apreensiva, porque não sabia se estava preparada para descobrir todas as áreas cinzentas desta narrativa e os possíveis desfechos das personagens.

Lenù regressa a Nápoles «para viver com Nino Sarratore», o que me levantou muitas questões: por um lado, por não confiar em Nino e, por outro, por sentir que esta relação poderia desvirtuar todo o crescimento de Lenù, que parecia estar mais certa de quem era e das suas verdadeiras motivações. No fundo, sinto que ela estava a encontrar o seu caminho, mas que a figura deste homem a atirou para fora da rota. Mais tarde, de volta ao bairro que a viu crescer, nem tudo foi problemático, porque acabou por recuperar a ligação cúmplice com Lila, uma vez que engravidaram ao mesmo tempo.

Perante novos desafios, dentro de um ambiente sempre intenso e conflituoso, o que mais me entusiasmou foi perceber que há desígnios que se repetem, quase como se fossem uma passagem de testemunho (ou viessem colados ao ADN), e que há detalhes do passado que adquirem uma nova força neste enredo. Aquilo que poderia ter sido apenas um pormenor tem, na realidade, um significado maior.

A minha relação com a tetralogia foi evoluindo, tal e qual como as protagonistas, e este capítulo final acabou por conquistar um lugar de destaque no meu coração, porque interliga uma série de questões que me foram fascinando ao longo da história: o impacto dos lugares, das pessoas, do que se destrói e precisa de ser reerguido, da segurança que parece sempre comprometida; o impacto de não se ficar em silêncio e de se lutar, apesar do medo, das repercussões, das portas que se fecham sem piedade.

A escrita continua demasiado crua, mas a construção da narrativa conquistou um brilho diferente. E, verdade seja dita, Elena Ferrante traçou um retrato impressionante do país, das tensões políticas, da violência e das incoerências do ser humano. Não creio que as pessoas sejam só boas ou más, habitam espectros, e isso fica muito evidente nestes quatro volumes. Questionei muitas vezes a honestidade da amizade entre Lila e Lenù, porque espelham comportamentos competitivos levados ao extremo, toxicidade e, por vezes, pouca compreensão. Ainda assim, percebi que nem neste assunto conseguimos uma imagem consensual, porque há dinâmicas distintas dentro de diferentes relações. E, lá no fundo, sempre foram um espelho da sociedade, ainda que tentassem fazer o melhor que sabiam, com as ferramentas que tinham ao seu dispor.

História da Menina Perdida deixa-nos na dúvida e apreciei isso. E, até para mim, será difícil largar este bairro.



 notas literárias
  • Gatilhos: Violência, relacionamentos abusivos, saúde mental, luto, drogas, linguagem gráfica e explícita
  • Lido entre: fevereiro e abril (um volume por mês)
  • Formato de leitura: Digital
  • Género: Romance
  • Pontos fortes: O bairro, as questões sociais, a evolução
  • Personagens favoritas: Lila e Enzo
  • Banda sonora: My Brilliant Friend (soundtrack seasons 1, 2, 3 e 4)

Fotografia da minha autoria


A minha relação com as bibliotecas foi sempre intermitente: até visitava as escolares, mas as municipais não entravam na rota, uma vez que ainda não tinha despertado bem para a leitura. Só quando entrei para a faculdade, e com os estágios a acontecerem maioritariamente no outro lado da margem, é que resolvi inscrever-me na Biblioteca Municipal Almeida Garrett. Embora usufruísse mais dela por questões académicas, também era a desculpa perfeita para regressar mais vezes a um dos meus lugares favoritos da cidade Invicta.

O certo é que ter o cartão da biblioteca me permitiu acelerar o processo quando, no início do ano, a BiblioLED chegou à Área Metropolitana do Porto: como já estava inscrita, só precisei de criar conta na plataforma.


 o que é a biblioled?

A BiblioLED é uma plataforma para «leitura e empréstimo digital», prestando um serviço gratuito que contempla livros e audiolivros «disponibilizados através das bibliotecas municipais que integram a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (RNBP)». E o seu maior objetivo passa por fomentar novos hábitos de leitura.

Atendendo a que, no final de 2024, investi num Kobo, senti que seria um excelente complemento: por um lado, porque me permitiria recuperar o contacto com a biblioteca - sem, no entanto, sair do lugar - e, por outro, porque teria acesso a um catálogo mais diversificado. Com quase quatro meses de uso, sinto que compensa.


 livros requisitados na biblioled?

A lista de livros lidos graças à BiblioLED ainda é reduzida, porque continuo a priorizar os físicos que esperam na estante e os que fui adicionando no Kobo, mas tenho requisitado pelo menos um todos os meses. Antes de partilhar os títulos que escolhi, permitam-se só destacar três aspetos positivos e um menos conseguido:

  • o processo de requisição e de devolução dos livros é rápido e intuitivo;
  • o tempo de esperar das reservas pode parecer assustador, mas é provável que os livros fiquem disponíveis antes, até porque o leitor tem sempre um prazo para confirmar o empréstimo. Caso isso não aconteça, passam à reserva seguinte e são logo informados quando fica disponível para vocês;
  • o catálogo ainda carece de alguns géneros, mas sinto que tem havido uma aposta atenta para o manter atualizado e relevante;
  • o único ponto menos conseguido, para mim, prende-se com a formatação de alguns livros. Isso não é um problema específico da plataforma, mas das editoras, o que pode condicionar a experiência de leitura.

Passando às leituras, até ao momento requisitei:

  • Cor-de-Margarida, Capicua (fevereiro);
  • Limpa, Alia Trabucco Zéran (fevereiro);
  • Teoria das Catástrofes Elementares, Rita Canas Mendes (março);
  • Vista Chinesa, Tatiana Salem Levi (abril);
  • Gula de Uma Rapariga Esquelética de Amor (maio);
  • É Normal?, Leonor de Oliveira (maio);
  • Que Nós Estamos Aqui, João Tordo (junho).

O único que acabei por ter de ler no computador, por causa da formatação incompatível, foi o da Capicua.


 lista de leitura

A lista de leitura, pelo contrário, já apresenta um número considerável. Nem todos os livros se encontram disponíveis para empréstimo imediato, e não sei quando os escolherei, no entanto, gosto desta sensação de ter várias opções para explorar - e de sentir que será uma lista em constante crescimento. Ora vejamos:

  • Guia Prático Antimachismo, Ruth Manus;
  • Malorie, Josh Malerman;
  • Biografia Involuntária dos Amantes, João Tordo;
  • Um Outro País, James Baldwin;
  • Conversas Com Escritores, Isabel Lucas;
  • Bambino a Roma, Chico Buarque;
  • Não é Só Sangue, Patrícia Lemos;
  • Marina, Carlos Ruíz Záfon;
  • Admirável Mundo Verde, Filipa Fonseca Silva;
  • Sinais de Fumo, Alex Couto;
  • Notas de Um Filho da Terra, James Baldwin;
  • Amy e Isabelle, Elizabeth Strout;
  • Na Terra dos Outros, Manuel Abrantes;
  • Paradaise, Fernanda Melchor;
  • Amigos, Dra. Marisa Franco;
  • Guia Para Lésbicas num Colégio Católico, Sonora Reyes;
  • Demon Copperhead, Barbara Kingsolver;
  • Gótico Mexicano, Silvia Moreno-Garcia;
  • Bem-Vindos ao Retiro, C. J. Tudor;
  • O Nome Que a Cidade Esqueceu, João Tordo;
  • Hip Hop Tuga, Ricardo Farinha;
  • Felix Para Sempre, Kacen Callender;
  • Mau Género, Chlóe Cruchaudet;
  • O Santo Ilusionista, Cláudia Andrade;
  • Querida, Dolly, Dolly Alderton;
  • Mr. Loverman, Bernardine Evaristo;
  • Destransição, Baby, Torrey Peters;
  • Amores Verdadeiros, Taylor Jenkins Reid;
  • Babel, R. F. Kuang;
  • Uma Valsa Com a Morte, João Tordo;
  • Swipe, Match, Date, Rita Sepúlveda;
  • Lucy à Beira-Mar, Elizabeth Strout;
  • E Se Eu Morrer Amanhã?, Filipa Fonseca Silva;
  • Verão, Ali Smith;
  • Um Pouco de Cinza e Glória, Cláudia Andrade;
  • Temporada de Furacões, Fernanda Melchor;
  • Vejam Como Dançamos, Leïla Slimani;
  • A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, Svetlana Alexievich;
  • O Palácio de Papel, Miranda Cowley Heller;
  • Nome de Mãe, Vários Autores;
  • Mulheres de Sal, Gabriela Garcia;
  • Primavera, Ali Smith;
  • Outono, Ali Smith;
  • Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos, Olga Tokarczuk;
  • Nasci Para Isto, Alice Oseman;
  • A Subtração, Alia Trabucco Zéran;
  • Este é o Meu Nome, Chanel Miller;
  • Rapariga, Mulher, Outra, Bernardine Evaristo;
  • Levarei o Fogo Comigo, Leïla Slimani;
  • A Grande Ilusão, Margarida Rebelo Pinto;
  • A Tua Melanina, Stephanie Vasconcelos;
  • Um Sopro de Vida, Clarice Lispector;
  • Perto do Coração Selvagem, Clarice Lispector;
  • A Paixão Segundo G.H., Clarice Lispector;
  • A Segunda Vida de Olive Kitteridge, Elizabeth Strout;
  • O Perfume das Flores à Noite, Leïla Slimani;
  • No Jardim do Ogre, Leïla Slimani;
  • O País dos Outros, Leïla Slimani;
  • Uma Árvore no Céu de Brooklyn, Betty Smith.

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O meu gosto musical começou a ser construído relativamente cedo, no entanto, sofreu algumas mudanças, porque fui percebendo melhor quais os artistas que queria manter por perto. Portanto, aos 17, mais segura dessa identidade, cruzei-me com um tema que ficou a ecoar, Blame It On Me, e que foi determinante para estreitar laços com o cantor.

Na altura, confesso, não foi evidente que Richie Campbell ocuparia todo esse espaço, mas a verdade é que passei a aguardar com entusiasmo a chegada de novas canções, de álbuns e de datas para concertos. Aliás, a minha estreia na Queima das Fitas do Porto, a 2 de maio de 2011, foi para assistir ao seu concerto e parte de mim adorava conseguir recuar no tempo só para desfrutar desse momento outra vez, porque foi extraordinário!

A agenda alinhou-nos poucas vezes ao vivo, apesar disso, é um dos artistas da minha vida e dificilmente passo um dia sem escutar alguma das suas canções. Ainda que nem sempre perceba todas as letras, há uma energia diferente - e a forma como interpreta e nos entrega os temas diminui logo qualquer barreira linguística. Para mim, o poder da música é mesmo esse: interligar-nos mesmo quando não somos capazes de traduzir o que está a ser dito, porque a mensagem passa pela emoção. E ainda que não saibamos a história completa, sentimos na pele o que nos está a ser cantado. As suas músicas já foram companheiras de dança, mas também já foram o conforto de um coração ferido.

No fundo, a arte do Richie Campbell tem capacidade para ser banda sonora das mais distintas ocasiões e tem sido maravilhoso assistir à sua evolução. Sei que terei sempre um carinho especial pelos temas dos primeiros álbuns, mas vê-lo a explorar registos diferentes, sem perder a sua essência, entusiasma-me, porque é o exemplo perfeito da extensão do seu talento e, sobretudo, da maneira como se posiciona no meio artístico.

   

As saudades de estar num concerto dele eram imensas, mas o Senhor de Matosinhos veio colmatá-las. Estava à espera que durasse um pouco mais, mas não comprometeu a experiência. Aliás, ele podia atuar cinco minutos que eu tenho a certeza que seriam os melhores cinco minutos da noite. Para além de estar atenta ao alinhamento e de vibrar com as músicas, gosto sempre de reparar na postura em palco e aquilo que eu sinto é que ele aproveita ao máximo. Não há ali esforço para parecer bem, há, sim, verdade, já que está comprometido para proporcionar o melhor espetáculo possível. E creio que isso fica evidente no sorriso rasgado, nas pausas breves para apreciar a resposta do público, na forma como o envolve em várias dinâmicas. É por essa razão que creio que os seus concertos estão num patamar superior e que se tornam sempre contagiantes.

Atuar em festas populares é agridoce: é bom para quem ouve, porque, geralmente, não tem custos, mas pode não ser o mais estimulante para o artista, já que aquela não é a totalidade do seu público. Há um cruzamento de universos e isso faz a diferença. Uma vez que fiquei mais para trás, longe do palco, consegui compreendê-lo melhor e até foi curioso reparar que, por exemplo, tinha pessoas à minha volta em conversas paralelas e pessoas nas varandas a desfrutarem do concerto em pleno, com direito a um jogo de luzes bem coreografado. E não acho que a atuação tenha sido condicionada por não ser num contexto pago - a duração talvez, o que faz sentido, mas não a forma como se entregou, como construiu o espetáculo. Há um respeito mútuo que é bonito de sentir.

O meu coração está em paz com o facto de, gradualmente, ir deixar de ouvir os meus temas favoritos ao vivo, porque ouvi-lo vale por tudo o resto. E que bom que foi voltar a estar num concerto do Richie Campbell, precisava mesmo daquela energia que me transcende. Venha o próximo, para ver «nuvens a transformarem-se em céus azuis».

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O meu primeiro contacto com a escrita da Carla M. Soares foi através do livro O Ano da Dançarina. Embora já não tenha a história presente, sei que, na altura, gostei e que me deixou com vontade de descobrir mais obras da autora. Corta para março de 2025, quando tentei ler a mais recente, mas acabei por adiar, uma vez que não estava com a disposição certa. Voltei, então, em maio e percebi que este livro não é bem para mim.


 o peso dos lugares

Gente Feita de Terra narra a história de duas mulheres, mãe e filha, desde os anos 60 até ao início do século XXI. Durante este arco temporal, acompanhamos uma mãe que sai «de um Alentejo sem futuro, perseguindo um amor na Angola colonial portuguesa» e uma filha viúva, a viver numa cidade de Lisboa «rápida e desenraizada». Através dos passos da progenitora, tentará entender as suas origens e a que lugar é que pertence.

A Guerra Colonial surge como pano de fundo e agradou-me que a autora optasse por atribuir maior expressão ao impacto que a guerra teve nas pessoas e nas respetivas famílias, em vez de se focar no contexto histórico em si. Se o tivesse feito, seria muito relevante, claro, até porque continua a ser urgente percebermos os seus contornos e as verdadeiras implicações do colonialismo, mas creio que esta decisão narrativa acabou por trazer uma perspetiva nova e, por consequência, um certo alargar de horizontes.

«Há dias em que a solidão tem um peso incomportável»

Assim, neste drama familiar que cruza as histórias dos protagonistas e de dois países, que cruza violência, sentimentos ambíguos e ausências, pareceu-me interessante que se explorasse a noção de desenraizamento, de imperfeição, de sobrevivência e, até, de recomeço. Além disso, sinto que a narrativa também é feita de infinitos silêncios e de tudo o que fica por dizer - sem que, por vezes, haja essa intenção desde o começo. Por vezes, é apenas uma consequência das circunstâncias, do medo, da nossa incapacidade para formular/explicar o que sentimos. E isso transforma-se numa bola de neve difícil de combater. Apesar destas qualidades, senti-me sempre muito distante da história.

Gente Feita de Terra tem um início mais lento, mas creio que, no final, as peças deste puzzle acabam por encaixar e fazer sentido. Gostei que a autora nos levasse a refletir sobre o peso que os lugares têm na nossa história, mas, uma vez que não me liguei às personagens como esperava, houve momentos em que me senti apenas de passagem.


 notas literárias
  • Gatilhos: Morte, luto, racismo, colonialismo
  • Lido entre: 28 e 30 de maio
  • Formato de leitura: Físico
  • Género: Romance
  • Pontos fortes: Ser um drama familiar centrado em duas mulheres
  • Banda sonora: Ele e Ela, Madalena Iglesias | Amanhã é Sempre Longe Demais, Rádio Macau | Estranha Forma de Vida, Amália | Amanhã, Duo Ouro Negro

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O Luís Franco-Bastos é uma das minhas referências no humor e fico sempre fascinada com a sua versatilidade e com a sua capacidade para, através da voz, criar personagens distintas. Quando avançou com Hotel, uma série de ficção em áudio, ficou evidente a elasticidade da sua criatividade (para a qual, creio, já não existiam dúvidas). E, desde 2019, passei a habitar a Marateca e a chorar a rir com todas as suas peripécias, por isso, mal anunciou que faria o podcast ao vivo, não perdi tempo a comprar bilhetes.

A podsérie saiu do estúdio para o palco, após 6 temporadas e 81 episódios, para uma despedida especial. E isso, por si só, já seria entusiasmante para mim, porque adoro perceber como é que funcionam os projetos que acompanho de perto, mas acresceu o facto de conhecermos a origem de cada personagem e de termos a possibilidade de ver um episódio integral a ser gravado à nossa frente, com toda a adrenalina e eventuais falhas que essa dinâmica possa significar. O LFB já tem muitos anos de experiência a lidar com o público, porém, não deixa de ser uma aventura com outras exigências.

As atuações ao vivo já aconteceram, ainda assim, como não sei se o espetáculo poderá surgir noutras plataformas, vou limitar-me a partilhar o mínimo para não condicionar quem não teve a oportunidade de estar presente. Do que é sabido, o episódio contou com a participação do público, o que tornou a experiência ainda mais dinâmica. Já me tinha questionado sobre a construção do espetáculo e confesso que adorei esta opção, porque tornou a viagem mais interativa, claro, mas sobretudo porque nos deixou com a sensação de que fazemos todos parte deste universo paralelo tão único e alucinado.

   

Acredito que algumas pessoas tenham ido só por ser algo do Luís Franco-Bastos, mas sinto que a maioria estava lá pela Marateca e pelos seus habitantes tão carismáticos, o que trouxe uma energia diferente para a sala, corroborada pelas escolhas que fizemos, já tão alinhadas com a forma de pensar de cada uma das personagens - e do criador. Bem sei que sou suspeita, mas superou todas as expectativas que tinha para a ocasião.

Hotel deixou marcas e sei que voltarei aos episódios quando sentir saudades, mas teve uma despedida à altura da história que construiu e interpretou. «Foi ganda drena»!

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Os livros da Sónia Balacó passaram a povoar o meu imaginário, como se fossem obras inacessíveis, utópicas: por um lado, porque tinha curiosidade em relação à sua escrita e, por outro, porque encontrava os exemplares esgotados, sempre que tentava comprar algum deles. Foi um encontro atribulado, porém, consegui mergulhar nos seus versos.


 pontos que unem sem regras

Constelação é o primeiro livro publicado e, fazendo total justiça ao título, agrupa uma série de temas com o intuito de chegarmos a uma imagem, a um padrão: a identidade individual (e coletiva em certos apontamentos). No entanto, estes pontos unem-se sem regras, desafiando, inclusive, a cadência, a estrutura e aquilo que a poesia pode ser.

Sou apreciadora assumida de poemas que nos incluem, que nos agregam como se a voz do sujeito fosse a nossa - ou uma sobreposição muito idêntica; sou apreciadora de poemas que partem de detalhes quotidianos, por vezes triviais, mas que nos inquietam com a mesma intensidade de questões maiores. E sinto que a poetisa fez uma gestão equilibrada, intimista e audaz dessas perspetivas. Ademais, houve alturas em que uma linha era suficiente para que as suas palavras ficassem presas aos meus pensamentos.

«a única hora que nunca me custou
foi a hora dentro do poema»

Este livro fez-me companhia entre viagens de metro e, apesar de o ter lido num fôlego, sei que há versos para os quais regressarei: pela beleza, pelas camadas profundas, pela proximidade e pela componente visual, isto porque tive a sensação de que os poemas podiam sair do papel. Em simultâneo, tanto espelham alguma ironia, como despertam traços mais emocionais. A título de exemplo, preciso de destacar o poema Autopsicoisa.

Constelação brinca com a língua e diferentes idiomas, uma vez que inclui poemas em português e inglês, e expressões em francês e em espanhol, é desobediente no formato e é curioso na descoberta, unindo todas as peças que nos aproximam de quem somos.


 notas literárias

  • Lido a: 31 de maio
  • Formato de leitura: Físico
  • Género: Poesia
  • Pontos fortes: Poemas com linguagem próxima, com detalhes do quotidiano; o jogo de palavras
  • Poemas favoritos: Autopsicoisa e In Sónia
  • Banda sonora: Constelação, Manel Cruz | Hometown Glory, Adele | Dancing On My Own, Calum Scott | Power To The People, John Lennon | Constelações, Agir & Milhanas

Fotografia da minha autoria



fui tratar do jardim porque da vida
já sobra pouco para cuidar
faltam as forças e a vontade
falta o ânimo das noites lentas
a sentir a brisa das rosas de santa teresinha
que crescem livres, belas, a desbotar
sem que nunca tivéssemos descoberto quem as plantou
de origem

reguei o único pé que resta
que resiste aos lutos em vida
e senti-me invadida pelas palavras de uma série qualquer
que acompanhavas sem ver
porque segundo eles «temos as mesmas feridas, mas de balas diferentes»
tal como nós, dizias tu entre olhares mudos, urgentes

preparei a jarra mas as flores ficaram
no parapeito por não ser capaz
de esbater esta fronteira entre o agora
e um passado que ainda ecoa tão dentro de mim

Fotografia da minha autoria

O Pronto a Despir, blogue da psicóloga clínica Leonor de Oliveira, tinha como um dos principais focos descomplicar o sexo, a sexualidade e, quem sabe, «ser até um recurso erótico». Apesar de não o ter acompanhado atentamente, sinto que a proximidade era uma das suas imagens de marca, até porque sempre soube comunicar sem se revestir de uma carga complexa, quase burocrática, que apenas profissionais da área parecem dominar. Muito pelo contrário, das publicações e partilhas com que me fui cruzando, fiquei sempre com a sensação de que procurava ser o mais clara e inclusiva possível. Por esse motivo, quis arriscar no seu livro de estreia, com perguntas da comunidade.


 desmistificar conceitos

É Normal? coloca-nos logo a pensar no título, já que deve ser uma das questões mais colocadas ao longo da nossa vida, sobretudo se fizermos/sentirmos coisas que, pelos vistos, não se vinculam ao que é considerado normativo. No entanto, essa designação transborda de áreas cinzentas e quanto mais evoluímos, mais a fronteira entre aquilo que é ou não normal se esbate, porque compreendemos que não há uma só forma de sermos. Com um raio de ação centrado na sexualidade, este livro vem para apaziguar.

Esta espécie «de enciclopédia sexual» divide-se por temas desenvolvidos «a partir de questões reais enviadas à autora». Por um lado, creio que esta abordagem é pertinente, não só porque aproxima o leitor, mas também porque, ao explorar dúvidas concretas, transmite segurança e a sensação de não estarmos sozinhos, mas, por outro, sinto que não correspondeu totalmente ao que estava à procura, uma vez que contava encontrar respostas um pouco mais desenvolvidas. Sei que, se fosse assim, talvez perdesse parte do seu traço descomplicado e objetivo, mas gostava de ter visto essa profundidade em alguns dos temas, até porque, pela sua forma de comunicar, continuariam a ser claros.

«Acho que, se fôssemos realmente livres para sermos quem somos, seríamos, em termos gerais, mais flexíveis»

É Normal? desmistifica conceitos como identidade de género, fluidez sexual, bifomia, entre vários outros. É uma obra franca, sem filtros e sem julgamentos, e acredito que possa ser um excelente ponto de partida para quem não faça tantas leituras dentro da área, como é o meu caso. Além disso, apresenta bibliografia complementar, para que continuemos a explorar o assunto. Sendo uma introdução valiosa, que nos faz pensar nos preconceitos tão enraizados na sociedade, houve uma imagem que ficou a ecoar: o quanto falar de sexualidade nos despe, nos deixa vulneráveis, acabando por nos retrair, razão pela qual é vital sermos educados para a sexualidade, porque quebra barreiras.


 notas literárias

  • Lido entre: 26 e 27 de maio
  • Formato de leitura: Digital
  • Género: Não ficção
  • Pontos fortes: Linguagem próxima, o facto de partir de questões concretas
  • Banda sonora: Pronto a Despir, Sr. Inominável & Columbia | É Normal, B Fachada | Sexo na Banheira, Ena Pá 2000 | Normal, Diogo Piçarra | Perfeito Acaso, Sr. Inominável

Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)
Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Fotografia da minha autoria



A agenda de maio esteve bastante preenchida, o que não é, de todo, uma queixa, já que me permitiu ter vários programas culturais, apaziguar saudades, ver as minhas pessoas a darem passos importantes e bonitos e, até, a aceitar convites que me levaram para fora de pé. Ainda assim, confesso, senti falta de dias mais tranquilos, sobretudo ao fim de semana, para repor energias e lidar com todo o cansaço que se foi acumulando.

Cheguei à conclusão de que não sou a maior entusiasta de meses com 31 dias - e estes trouxeram algum desalento em relação ao futuro do país. Contudo, acabaram por me reservar motivos para não baixar os braços. Resistiremos!


as coisas maravilhosas de maio


 os fragmentos aleatórios

Book Lamp
Uma amiga ofereceu-me uma book lamp como prenda de aniversário e, agora, a estante do quarto está muito mais bonita. Já andava a namorar este artigo há algum tempo e fiquei mesmo radiante quando o desembrulhei.

   

Tote Bag Apesar do Sangue
A Wook fez edição especial do mais recente livro da Rita, Apesar do Sangue, e um dos artigos da caixa era este saco de pano com a capa estampada. Claro que não desperdicei a oportunidade e tem andado comigo para todo o lado, porque tem as dimensões certas para levar todas as minhas tralhas e o tecido é resistente.

   

Muti e Zenith
Um jantar de amigas levou-me até ao Muti e uma sessão de escrita foi a desculpa perfeita para ir ao Zenith. No primeiro, comi a pizza Del Re e, no segundo, optei por uma Bowl de Frango. Fiquei muito agradada com ambos, quer ao nível do espaço, quer ao nível das refeições, e espero regressar em breve.

   

Outros fragmentos aleatórios: a nova capa para o Kobo, a pulseira que os noivos ofereceram, o bronzer e o iluminador da Mercadona, os novos livros no catálogo da BiblioLED e os 10 anos de carreira do Diogo Piçarra.


 as músicas e os álbuns

  • Quem Sabe, Lhast & Pikika;
  • Fogueira, Jimmy P;
  • Cacau, Deejay Telio & Slow J;
  • Puras Donzelas, Cláudia Pascoal;
  • Apagar a Sombra, Milhanas;
  • Infinito, Napa & Van Zee


  • Um Brinde ao Agora, Nena
  • Chorar no Club, Carolina Deslandes
  • eu nem queria falar de amor, Lázaro (EP)


 as publicações

apesar do sangue, rita da nova
Apesar do Sangue tem uma profundidade e uma sensibilidade surpreendentes. E tão depressa nos dilacera, como nos apazigua. Neste retrato a quatro vozes, há um toque muito humano, personagens complexas e credíveis e uma cadência que nos envolve desde a raiz. Parte de mim, gostava de esquecer o que leu só para ser arrebatada outra vez, não obstante, a parte que resta sabe que esta história encontrará novas forma de crescer, porque é daquelas que, quanto mais pensarmos nelas, mais camadas seremos capazes de traçar.

se eu fosse um escritor português por um dia
Os livros são eternos portais mágicos que entusiasmam qualquer leitor. Para celebrar o dia do autor português, a minha premissa foi responder à seguinte pergunta: se pudessem ser um escritor português por um dia, quem gostariam de ser?


 os filmes, as séries e os podcasts

Ruído
Ruído coloca-nos no lado da clandestinidade, ao mesmo tempo que nos faz pensar na quantidade de condicionantes que parecem pairar no humor. E não me refiro à velha questão de quais são os seus limites, refiro-me, sim, ao facto de ser «cada vez mais visto como algo a combater», como indicou Bruno Nogueira, sobretudo se tocar em temas sensíveis. Embora não pretenda fazer da série um manifesto político, faz-nos pensar nessa vertente e, acima de tudo, refletir sobre aquilo «que poderia ser feito se, um dia, o riso fosse mesmo proibido», priorizando sempre o lado do entretenimento. O humor é desconcertante e estou muito curiosa para perceber até onde escalará.

Favàritx
Favàritx é uma série policial que cruza «um desaparecimento com assassínios em série e redes de narcotráfico». O alerta sobre o desaparecimento da Vereadora Laura Vidal provoca agitação: não tanto por ser uma figura influente, mas por isso revelar um caso ainda mais complexo. Portanto, neste cenário de crime e desconfiança, a dificuldade maior será compreender a origem de certas ligações e em quem se poderá confiar. A premissa talvez não seja a mais original, porque já vimos como o tráfico de droga é capaz de contaminar diferentes ambientes e corromper valores, não obstante, acho que tem potencial e quero perceber como é que alguns caminhos se cruzaram.

Pata de Ganso
Pedro Teixeira da Mota, neste terceiro solo, concentra-se nas suas próprias limitações e fragilidades. Quando fui ver o solo ao vivo, partilhei a experiência no número 27 da newsletter, por isso, vou poupar-vos a repetições de ideias, mas venho alertar para o facto de o humorista ter disponibilizado o espetáculo no seu canal de Youtube. Claro que já aproveitei para o rever e para descobrir expressões e micro dinâmicas que não são tão percetíveis na plateia, e reforcei o quanto tinha achado o texto extraordinário.

Podcasts: Cultas e Vinho Verde com Ana Markl, Bom Partido (Temporada 3), Mixórdia de Temáticas, Terapia de Casal com Dagu, o regresso de Fuso (Bumba na Fofinha), Cultas e Vinho Verde com Madalena Sá Fernandes, Ar Livre com Capicua e Ponto Final, Parágrafo com Rita da Nova.


 os livros

Os favoritos do mês
  • Quem Me Comeu a Carne, Francisca Camelo;
  • Fábrica de Criadas, Afonso Cruz;
  • O Lago Avesso, Joana Bértholo.

Outros livros lidos: Gula de Uma Rapariga Esquelética de Amor, Gabriela Relvas | A Família Caserta, Aurora Venturini | Visitar Amigos e Outros Contos, Luísa Costa Gomes | Augusta B. ou As Jovens Instruídas 80 Anos Depois, Joana Bértholo | É Normal?, Leonor de Oliveira | Gente Feita de Terra, Carla M. Soares | Constelação, Sónia Balacó | Apesar do Sangue, Rita da Nova (releitura).


 os momentos

Fnac Talks com Capicua
A rapper portuense lançou Um Gelado Antes do Fim do Mundo em plena primavera, no dia mundial da poesia, abrindo-nos a porta para um álbum revestido de detalhes e de significados preciosos. No passado dia 4 de maio, na Fnac do Norteshopping, esteve à conversa com Luís Oliveira para nos falar um pouco mais sobre as mensagens que o revestem, o processo criativo e as questões ambíguas e urgentes que a inquietam. A magia desta conversa, para mim, vem muito do equilíbrio, da honestidade e do facto de acalentar a esperança no meio da neblina. Foi um momento bastante inspirador.


Casamento e Batizado
Conhecia a Rita no sexto ano e nunca mais largamos a mão uma da outra: tornou-se a irmã que nunca tive e, por mais que a vida nos troque a direção, sabemos sempre estar perto, porque cuidamos uma da outra sem hesitações. É das pessoas mais especiais que tenho na vida, por isso, torço sempre para que conquiste o melhor. Neste caminho, entrou o Tiago e vi o amor deles a crescer, a construir os alicerces que sustentam relações firmes. Nem tudo foi simples, mas eles também sempre souberam encontrar o caminho para casa. Vê-los a dar um passo tão bonito na sua relação deixou-me comovida e grata por me terem escolhido como madrinha. Torço muito por eles e estar nesta celebração de amor foi (continuará a ser) um dos pontos altos do meu ano. Para o tornar ainda mais especial, juntaram o batizado da minha sobrinha de coração. Adoro-os!

      

Apresentação de Silêncio no Coração dos Pássaros
A sessão de apresentação foi conduzida pelo Álvaro Curia e achei mesmo interessante a análise que ele trouxe, porque foi fazendo uma viagem por vários elementos centrais da narrativa, entrelaçando-nos ainda mais à história, às suas mensagens, aos detalhes que a destacam e demonstram a evolução da escrita da Lénia - e que concedem espaço para reflexão. Aliás, sinto que o Álvaro é bastante generoso na forma como interpreta o texto, mostrando a atenção e o cuidado que tem durante todo o processo de leitura - e sem estragar a experiência de leitura a quem for à apresentação sem ter lido a obra. Foi maravilhoso escutar a Lénia a falar sobre a construção de Silêncio no Coração dos Pássaros, a explicar a ideia, a sua intenção com determinadas situações, as ligações, os cuidados que tem durante o processo de escrita e, inclusive, aquilo que não pretendia explorar naquele enredo. E creio que foi ainda mais bonito porque havia um brilho diferente na sua forma de comunicar, de nos puxar mais um bocadinho para o livro. Eu já tinha ficado rendida, e tenho quase a certeza que será um dos meus favoritos do ano, mas esta apresentação deu-me ainda mais razões para achar a história sublime.


O Livro da Minha Vida
O meu vizinho foi convidado pela Casa da Cultura de Avintes para ir falar sobre o livro da sua vida. Quando me contou, disse que gostava de sugerir o meu nome, algo que quis recusar de imediato, e deixei a ideia a maturar. Apesar de ser algo completamente fora da minha zona de conforto, decidi arriscar e ir conversar sobre A Criança Que Não Queria Falar, de Torey Hayden. Muitos nervos à parte, acho que correu bem e o grupo foi bastante generoso: não só na forma como me acolheu, mas também na troca de ideias que aconteceu depois de ter feito a apresentação. Se me vejo a fazer isto mais vezes? Talvez não, mas fiquei contente por ter sacudido o impulso de dizer que não e ter superado este desafio.

      

Carolina de Deus no Casino da Póvoa
Gostei bastante do ambiente intimista e da presença em palco. Não contava comover-me tanto com uma música que ainda não conhecia (e que espelha bem os estilhaços de certas relações), mas, tal como previa, comovi-me com a Lembras-te de Mim?. Recuei no tempo com alguns dos temas mais antigos e achei fascinante como nos mostrou uma faceta diferente ao cantar uma música em francês. Além disso, gostei que nos abrisse a porta do seu processo criativo ao contar-nos as histórias das canções. Ela diz que não se cala e eu acho isso positivo, porque cria um elo maior entre o músico e a plateia. Foi uma noite muito bonita, porque a Carolina encheu a sala de emoção e uniu-nos a todos - pela iniciativa e pela música. Talvez aquele não seja o seu público habitual, no entanto, parece-me que, depois deste concerto, dificilmente lhe ficarão indiferente. É bom ver artistas mulheres a conquistarem novos palcos e a darem passos firmes: com graça, humildade e sem rejeitarem a sua essência, mesmo que essa decisão provoque hesitações. De coração aberto, foi-nos cantando a sua história e isso foi inspirador - experiência completa aqui.

      

Sessões de Apresentação de Apesar do Sangue
A Rita fez as malas e rumou ao Norte do país para uma série de apresentações do seu mais recente livro, Apesar do Sangue. A Bruna Martiolli fez a apresentação na Note! Trindade e foi incrível ver estas duas mulheres incríveis a conversarem sobre relações familiares, sobre laços afetivos, sobre experiências pessoais, sempre com o cuidado de não condicionarem a experiência de leitura a quem ainda não tinha começado. Achei a análise da Bruna muito generosa, até porque conseguiu entrelaçar a sua formação académica ao seu lado de leitora. Já o Álvaro Curia e o Ludgero Cardoso (Literacidades) fizeram a apresentação na Fnac do Norteshopping e tenho pena de não ter conseguido ouvir desde o início. Apesar disso, ainda deu para apanhar a parte final e escutar as perguntas do público. Acredito que a história cresce por esta partilha e pelo facto de irmos descobrindo pontos distintos. A Rita é uma comunicadora nata e consegue, de uma forma natural, abordar temas delicados com empatia e graça. E, para além da sua escrita, também é isto que nos une e que nos leva para as suas sessões. Espero que seja sempre assim, porque ela merece.

      

Book Club Fnac
A Carolina Branquinho é a moderadora do Book Club da Fnac do NorteShopping. Só para contextualizar, todos os meses é selecionado um livro, através de uma votação, e, posteriormente, é marcada uma sessão para se conversar sobre essa escolha. Em maio, o livro vencedor foi Silêncio no Coração dos Pássaros, o mais recente da Lénia Rufino.

Uma vez que já tinha lido, achei que fazia todo o sentido ir assistir a este encontro e ouvir a Carolina ao vivo, até porque estou habituada a acompanhá-la através da sua página de instagram, Singularidade dos Livros. E posso já adiantar que gostei muito.

   

É complicado falar sobre este livro sem revelar demasiado, visto que a narrativa é mais de construção de personagens do que de enredo. Portanto, existe um conflito interno sobre o qual não é possível refletir a fundo sem que se desvendem detalhes cruciais. Se todos os que foram à sessão tivessem lido a história, isso não seria um problema, mas era preciso planeá-la a contar com o cenário oposto e creio que a Carolina conseguiu.

Acho sempre valioso ouvir conversas sobre obras que já lemos, porque acabamos por ter acesso a camadas sobre as quais não refletimos antes. E, por isso, sei que passei a gostar ainda mais deste Silêncio no Coração dos Pássaros depois de ter compreendido aquilo que chamou mais à atenção da Carolina. Sinto que a nossa opinião está muito alinhada, não obstante, redescobri-o nas suas palavras. Além disso, também gostei de contribuir com os meus dois cêntimos para o debate. Talvez participe mais vezes.


Junho, sê gentil ✨
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andreia morais

andreia morais

O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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