as outras máquinas de arquimedes, joana bértholo & joão dias

Fotografia da minha autoria


A forma como diferentes manifestações artísticas se fundem e influenciam parece-me sempre inspiradora: pela versatilidade e pela capacidade de ampliar novas perspetivas, dando-lhes outro fulgor. E foi assim que nasceu o livro de Joana Bértholo e João Dias.


uma extrapolação artística

As Outras Máquinas de Arquimedes é um exercício de extrapolação, uma vez que os dois artistas procuraram distanciar-se do «rigor do génio» que foi Arquimedes e considerar a «dimensão de erro, desvio, impertinência e inutilidade destes mecanismos» visíveis no nosso quotidiano, nas circunstâncias mais diversas da nossa vida. Portanto, tendo máquinas para quase todos os propósitos, o desafio foi pensar na margem que se cria quando falham, quando não executam aquilo para o qual foram programadas, abrindo espaço para a surpresa. É capaz de existir uma certa poesia e beleza nesta imagem.

Joana Bértholo e João Dias evidenciaram na nota inicial que, apesar da racionalidade que as caracteriza, as máquinas não deixam de evocar o que temos de mais irracional: «os medos, os instintos primários», por esse motivo, numa simbiose entre palavras e desenhos, temos acesso a construções concebidas com o intuito de ficarem aquém.

«Visita o parque com um turista. Conta-lhe uma história acerca de uma enorme batalha que teve lugar neste parque, ou qualquer coisa assim, grandiosamente falsa»

A obra pode ser lida gratuitamente aqui e integra o ciclo de Objectos Experimentais, cuja intenção é «estabelecer pontes entre formas diferentes de pensar e fazer dentro da arte contemporânea (…) dedicando-se ao diálogo com a criação literária». Nesta segunda edição, os textos de Joana Bértholo comunicam com as máquinas instaladas no parque Aquilino Ribeiro, potenciando um «sistema mútuo de reverberação». Achei mesmo fascinante esta ideia e a pluralidade das palavras, já que tanto funcionam como contos independentes, como são legendas para as várias instalações artísticas.

Sinto que não posso escrever muito mais sobre As Outras Máquinas de Arquimedes, atendendo a que é uma obra curta, sem correr o risco de revelar em demasia, contudo, permitam-me partilhar que o meu texto favorito foi A Máquina de Estender Intervalos, porque nos faz refletir nas vivências tão dispares que surgem no mesmo lugar. A vista é a mesma e, ainda assim, parece que estamos todos a observar coisas distintas.


notas literárias
  • Lido a: 28 de janeiro
  • Formato de leitura: Digital
  • Género: Conto
  • Pontos fortes: A versatilidade e a simbiose entre diferentes manifestações artísticas
  • Banda sonora: Andar à Solta, Capitão Fausto | A Dança, Tiago Nacarato | Passarinhos, S. Pedro | A Máquina, Amor Electro

Comentários

  1. Nunca li nada da Joana, acho que vou aproveitar a opotunidade.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Como está disponível em pdf, acho que pode ser uma ótima oportunidade de te estreares na sua obra

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  2. Não conhecia a obra, mas parece-me bem interessante! :)

    www.amarcadamarta.pt

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