notas sobre a impermanência, paula gicovate
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Fotografia da minha autoria |
Os livros que acompanham uma personagem em vários momentos da sua vida, escritos na primeira pessoa sem serem autobiográficos, entusiasmam-me sempre, sobretudo, pela possibilidade de me cruzar com realidades diferentes da minha e pela possibilidade de escalar para reflexões que não me ocorreriam. E foi isso que encontrei no livro de Paula Gicovate.
a voz da amante
Notas Sobre a Impermanência coloca-nos logo em confronto com a (i)moralidade de uma traição, até porque, numa primeira instância, temos sempre a tendência para condenar esse cenário. Só que, sem querer desculpar comportamentos que magoem terceiros, ainda para mais se forem propositados, não deixa de ser uma área cinzenta. Através da voz de Lia, a protagonista desta história, vamos acabar por reconsiderar algumas verdades absolutas.
Entre São Paulo e Barcelona, naufragamos numa reflexão intimista acerca do que nos faz ficar e do que nos motiva a ir, do que «queremos e [d]o que julgamos querer». Escutando as inquietações desta mulher que assume o papel de amante, sem qualquer culpa, compreenderemos aquilo que a motiva e todo o amor que a envolve. Sei que existirão sempre questões sobre se será ou não correto alimentar uma relação nestes contornos, mas com Lia torna-se difícil não pararmos um pouco e, em vez de julgarmos, tentarmos perceber o seu lado.
«A solidão é mais honesta do que deitar com alguém que não se quer»
Sinto que li este livro num sopro, mas sem passar ao lado da solidão, das oscilações de humor, dos desejos, das dúvidas, da frustração, das contradições que a protagonista foi explorando no decorrer das suas reflexões, das suas partilhas, quase como se estivesse em pleno fluxo de consciência e precisasse de organizar pensamentos. Ademais, houve um tempo de viragem e achei fascinante conseguirmos acompanhar todas essas (micro) metamorfoses.
Notas Sobre a Impermanência marcou-me mais do que esperava, porque é arrojado, apaixonado, emocional e, muito humano. É franco e empatiza-nos para o impacto de se viver na sombra - e de todas as dinâmicas que se perdem à custa disso. Lia leva-nos para um lugar de desconforto e gostei mesmo muito que me retirasse da minha bolha e me fizesse questionar o modo tão plural como podemos viver as nossas relações. E, também por isso, senti que Lia embarcou numa viagem de autodescoberta, colando-nos aos seus passos e à certeza de que nem sempre aquilo que nos ferve por dentro é suficiente para permanecermos ancorados.
notas literárias
- Gatilhos: Linguagem explícita
- Lido entre: 24 e 25 de março
- Formato de leitura: Físico
- Género: Romance
- Personagens favoritas: Lia
- Pontos fortes: A escrita despojada e arrojada; o contraste entre fantasiar e querer
- Banda sonora: Purple Rain, Prince | No Ordinary Love, Sade | Dreams, Fleetwood Mac | How Can You Med a Broken Heart, Al Green | L'appuntamento, Ornella Vanoni
6 comments
Mais uma sugestão a ter em conta.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Boas leituras, Isa
EliminarAndréia uma excelente indicação de livro, desejo uma ótima quinta feira bjs.
ResponderEliminarGostei mesmo muito!
EliminarVou levar a sugestão.
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida!
Boas leituras, minha querida!
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