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as palavras do corpo, maria teresa horta

by - abril 08, 2025

Fotografia da minha autoria


As leituras no feminino trouxeram-me novamente para a companhia de Maria Teresa Horta, até porque fazia sentido continuar perto de um dos nomes maiores da nossa luta. Assim, atendendo a que também é o mês da poesia e nos aproximamos de uma das datas mais importantes da nossa história, fui lê-la numa obra que grita liberdade.


sem filtros, dando voz à liberdade de sentir

As Palavras do Corpo reúne toda a poesia erótica da autora. Por esse motivo, tem tanto de audaz como de emocional, e há neste jogo de sensualidade, erotismo e provocação uma entrega profunda, de alguém que ama com o corpo inteiro, desprendendo-se de julgamentos alheios, de opiniões que minimizem os seus desejos. Aqui, temos uma mulher que se expõe sem filtros, que procura dar conta do seu prazer, que domina e se coloca num lugar de submissão, sempre consciente de que essa é a sua vontade. Aqui, não há espaço para silenciarmos a sexualidade, muito menos para nos reprimirmos.

O mais curioso, para mim, é que os versos conseguem ser crus, isentos de tabu, mas também demonstrar graciosidade e, acima de tudo, um tom apaixonado. Sinto que Maria Teresa Horta estabeleceu um equilíbrio muito interessante entre paixão e uma certa perversidade, entre o delírio das peles que se tocam de uma maneira íntima e os momentos posteriores em que se procura a calma do quotidiano. No fundo, é como se estivesse a fazer o reconhecimento de que, enquanto mulheres, não somos só movidas pela doçura de um relacionamento, mas que também queremos ceder à sofreguidão do toque, à loucura «de um segundo corpo», à masturbação, a esse lado primitivo que nos mostra diferentes camadas de quem somos. E nenhuma destas partes tem de se anular para que a outra exista, muito pelo contrário, podem nascer da mesma identidade.

Os estímulos sucedem-se e são desencadeados por comportamentos simples, na maior parte das vezes, sem qualquer intenção de concretizarem fantasias, de culminarem na cama (sendo a cama um mero exemplo). Por vezes, basta um cheiro e/ou um gesto para que sentimentos e temores se interliguem no mesmo espaço, na mesma vontade. Esta imagem fez-me lembrar de algo que a Tânia Graça refere com alguma regularidade: o facto de os preliminares não se restringirem apenas ao momento do sexo, uma vez que são tudo aquilo que acontece entre terminarmos uma relação sexual e iniciarmos a seguinte. Para mim, estes poemas seguem um pouco esta lógica, até porque a poetisa tem uma particular atenção aos detalhes, a cada partícula que pode provocar reações.

«Retomo estes anos
nos teus braços
diariamente calma e segura»

Os poemas não me marcaram todos com a mesma intensidade, o que é natural, porém, sinto que têm a capacidade de representar diferentes experiências e normalizar certas questões. Ainda continua a ser escandaloso que uma mulher se pronuncie acerca de determinadas temáticas, principalmente se o fizer de um modo explícito, mas estes versos, para além de quebrarem esse estigma, mostram-nos que é legítimo termos voz sobre estes assuntos: porque os sentimos, porque os procuramos, porque os desejamos.

As Palavras do Corpo foi construído sem pudor, mostrando-nos que o romantismo e o erotismo se entrelaçam sem culpas. Por isso, alimenta-se da tentação, da intenção, do que é familiar, da coragem, do que é dito, do que fica em silêncio, da finitude de um ato, do vazio e dos sentidos que se ativam de imediato. Por isso, é terno, é bruto e é cheio de contradições que nos impulsionam a oscilar entre a malícia e a timidez. Na lista de poemas favoritos destaco Delírio, , Felicidade, A Voz, O Clitóris, Fazer o Poema e Fazer Amor Com a Poesia, porque evidenciam a liberdade de ser e sentir por inteiro.


notas literárias
  • Lido entre: 27 e 29 de março de 2025
  • Formato de leitura: Digital
  • Género: Poesia
  • Poemas favoritos: Delírio, , Felicidade, A Voz, O Clitóris, Fazer o Poema e Fazer Amor Com a Poesia
  • Pontos fortes: A ausência de filtro, a atenção ao detalhe e ser um grito de liberdade
  • Banda sonora:  Dá-me o Tempo, Pedro Abrunhosa | Oh Meu Amor, Janeiro | Meia Romã, Capicua | O Teu Cheiro, Bispo

Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)
Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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4 comments

  1. Olá, com certeza irei conferir! Acho que nada melhor que um poema para poder descrever esses sentimentos e sensações, pois é uma escrita com uma grande profundidade! Ótimo post!
    www.finaliteratura.blogspot.com

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    1. É a beleza e o poder da poesia 😍
      Muito obrigada, Emília!

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