gente feita de terra, carla m. soares

Fotografia da minha autoria


O meu primeiro contacto com a escrita da Carla M. Soares foi através do livro O Ano da Dançarina. Embora já não tenha a história presente, sei que, na altura, gostei e que me deixou com vontade de descobrir mais obras da autora. Corta para março de 2025, quando tentei ler a mais recente, mas acabei por adiar, uma vez que não estava com a disposição certa. Voltei, então, em maio e percebi que este livro não é bem para mim.


 o peso dos lugares

Gente Feita de Terra narra a história de duas mulheres, mãe e filha, desde os anos 60 até ao início do século XXI. Durante este arco temporal, acompanhamos uma mãe que sai «de um Alentejo sem futuro, perseguindo um amor na Angola colonial portuguesa» e uma filha viúva, a viver numa cidade de Lisboa «rápida e desenraizada». Através dos passos da progenitora, tentará entender as suas origens e a que lugar é que pertence.

A Guerra Colonial surge como pano de fundo e agradou-me que a autora optasse por atribuir maior expressão ao impacto que a guerra teve nas pessoas e nas respetivas famílias, em vez de se focar no contexto histórico em si. Se o tivesse feito, seria muito relevante, claro, até porque continua a ser urgente percebermos os seus contornos e as verdadeiras implicações do colonialismo, mas creio que esta decisão narrativa acabou por trazer uma perspetiva nova e, por consequência, um certo alargar de horizontes.

«Há dias em que a solidão tem um peso incomportável»

Assim, neste drama familiar que cruza as histórias dos protagonistas e de dois países, que cruza violência, sentimentos ambíguos e ausências, pareceu-me interessante que se explorasse a noção de desenraizamento, de imperfeição, de sobrevivência e, até, de recomeço. Além disso, sinto que a narrativa também é feita de infinitos silêncios e de tudo o que fica por dizer - sem que, por vezes, haja essa intenção desde o começo. Por vezes, é apenas uma consequência das circunstâncias, do medo, da nossa incapacidade para formular/explicar o que sentimos. E isso transforma-se numa bola de neve difícil de combater. Apesar destas qualidades, senti-me sempre muito distante da história.

Gente Feita de Terra tem um início mais lento, mas creio que, no final, as peças deste puzzle acabam por encaixar e fazer sentido. Gostei que a autora nos levasse a refletir sobre o peso que os lugares têm na nossa história, mas, uma vez que não me liguei às personagens como esperava, houve momentos em que me senti apenas de passagem.


 notas literárias

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2 Comments

  1. Nunca li nada da autora.

    Levo a sugestão para mais tarde.

    Beijinho grande, minha querida!

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