![]() |
Fotografia da minha autoria |
A atualização do catálogo da BiblioLED levou-me a descobrir um livro do João Tordo do qual nunca tinha ouvido falar. Intrigada, adicionei-o às primeiras leituras de junho.
os passos para a recuperação
Que Nós Estamos Aqui, cujo subtítulo é 12 Passos Para a Recuperação, pretende fazer-nos refletir acerca dos caminhos que «estão por detrás de quem tem dependências e quer parar». Assim, através de entrevistas, experiências externas e pesquisas, o autor traça um retrato muito próximo de um problema ainda negligenciado na nossa sociedade.
O discurso não romantiza a realidade em questão, no entanto, mostra que é possível combater a compulsão para «beber, usar ou consumir». E, por esse motivo, estabelece um paralelismo com a criação dos Alcoólicos Anónimos e a evolução do programa dos 12 passos, que as pessoas adictas seguem nas reuniões. A existência destes grupos de recuperação é, portanto, uma via alternativa, uma noção de esperança, até porque fica a certeza de não terem de lutar sozinhas. O primeiro passo consiste em reconhecer o problema e pedir ajuda, mas essa abordagem pode demorar: por um lado, porque a pessoa adicta pode não reconhecer a dependência, o que condiciona uma intervenção precoce, e por outro, porque não é fácil avançar para a etapa seguinte se nos sentirmos julgados e/ou diminuídos. A Organização Mundial de Saúde tipificou a adição como uma doença, desde meados dos anos 60, contudo, persistem casos de marginalização.
«Ninguém entra alegremente pela primeira vez numa reunião de Doze Passos. Ninguém chega saudável ou inteiro. Chega-se derrotado, o corpo e o espírito vergados pela dependência»
O tema é de máxima importância e, ao apresentar-nos testemunhos reais, permite-nos compreender melhor os contornos da adição, as dificuldades, os estigmas associados e as possíveis saídas. Confesso, ainda assim, que o peso atribuído à espiritualidade me deixou um pouco reticente. São as nossas crenças que, muitas vezes, nos mantêm à tona, mas senti falta de algo mais concreto. Além disso, acho que a obra peca por se ficar num plano mais superficial desses testemunhos. Abre-nos a porta, sim, só que preferia que tivesse concedido mais espaço aos intervenientes e que tivesse ouvido familiares e amigos, porque acredito que traria uma visão mais completa do problema.
Que Nós Estamos Aqui deixou-me, sobretudo, a questionar o trabalho de prevenção.
notas literárias
- Gatilhos: Dependências
- Lido a: 4 de junho
- Formato de leitura: Digital
- Género: Não ficção
- Pontos fortes: A pertinência do tema, até por dar espaço a quem sente as repercussões desta realidade
- Banda sonora: Rehab, Amy Winehouse | Ainda Estamos Aqui, Miguel Araújo | Don’t Leave Home, Dido | The A Time, Ed Sheeran | Last Hope, Paramore
0 Comments