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Fotografia da minha autoria |
Escrever em cafés sempre foi uma das minhas atividades mais satisfatórias, porque gosto de resolver o caos interior com o barulho do mundo. Acho, até, que há uma certa poesia nesta trivialidade, na possibilidade de avançar umas linhas numa folha em branco, enquanto a mesa se reveste de chávenas vazias, há pedidos a serem gritados para trás do balcão e há uma aura frenética que nos abraça a todos.
Se calhar, perco mais tempo a observar o ambiente do que a escrever, mas depois ganho histórias. Se não forem completas, pelo menos, recolho detalhes, expressões para personagens, estados de espíritos e contextos. Talvez até consiga rabiscar alguns versos. Nestes momentos, sinto-me sempre uma pequena ladra, uma vez que nada aquilo é meu, mas tento que tenham a vida mais digna possível, dentro das minhas palavras. Afinal, escrever também é isto: colecionar. E eu tenho colecionado muitas vivências aqui - num lugar ficcionado da minha memória.
Num cenário ideal, sentar-me-ia no lugar de sempre, privilégio de quem chega cedo e não inventa no pedido: chá de jasmim e panquecas da cada, uma especialidade com calda de frutos vermelhos e um aroma que deveria ser vendido em pequenos frascos. Comeria devagar, enquanto, na rua, apareceriam os primeiros rostos e o movimento ficaria apetecível para uma mente inquieta. Assim que abrisse o caderno, tudo o resto acabaria por desaparecer.
Sinto mesmo falta de ter um lugar fixo para escrever fora de casa, um espaço regular onde já nem precisaria de dizer o que queria, porque a pergunta seria apenas uma: «é o habitual?». Queria ter esta rotina há anos para, no fim, saber que há caras que já são familiares, que as conversas já não são de circunstância. Como o meio é pequeno, ajudaria a estabelecer proximidade, ficando todos conscientes quando se passam fronteiras.
Num mundo idílico, aquele seria o meu espaço, um lar alugado sem renda. Aliás, seria para ali que fugiria sempre que os pensamentos se tornassem audíveis, a precisarem de ser transcritos no papel. Penso tanto nisto, que até já idealizei o dia em que chegaria atrasada e a minha mesa estivesse ocupada, sentindo uma pequena afronta, como se me tirassem um pedaço de quem sou.
Gosto muito de escrever em cafés e, como prova disso, este texto foi escrito num. Só preciso de tornar este compromisso constante.
▪ setembro, 2024
3 Comments
Nunca experimentei escrever num ambiente diferente. Confesso que tenho dificuldade em sair da zona de conforto, mas é algo que quero experimentar.
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida!
Olá!! Na altura que trabalhava fisicamente (estou em teletrabalho desde 2020), havia algumas vezes que escrevia na hora do almoço no café do habitual. Era uma hora calma, sem grandes alaridos, mas também gostava de vir para um pequeno jardim que existia na parte de trás.
ResponderEliminarEu acho que neste momento não ia conseguir fazê-lo, começo a sofrer de um "mal" que é o barulho me incomodar e faz-me bastante confusão, parece que não me sai nada!
Beijos e abraços.
Sandra C.
Parece ser uma sensação única e maravilhosa.
ResponderEliminarBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia