ENTRELINHAS || SOU UM CRIME
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Fotografia da minha autoria |
«Nascer e crescer no Apartheid»
Avisos de Conteúdo: alcoolismo, violência doméstica,
assédio, racismo, discriminação, cenas explícitas
A literatura é uma fonte inesgotável de conhecimento, porque nos coloca em contacto com inúmeros cenários: desde os mais hipotéticos até àqueles que se baseiam em acontecimentos históricos. E a experiência torna-se mais enriquecedora, quando o testemunho é feito de coração aberto, porque não há filtros, nem deturpações. Há, pelo contrário, uma vulnerabilidade que nos desperta para o impacto real das situações, mesmo que não as sintamos na pele. E foi isso que aconteceu com o livro de Trevor Noah, que me desorganizou por dentro.
«A genialidade do apartheid foi convencer uma população que
constituía a esmagadora maioria do país a virar-se contra si mesma»
Sou Um Crime é um relato na primeira pessoa, sobre a vida do comediante e apresentador sul africano, durante os últimos anos do Apartheid e os primeiros de democracia, com a eleição de Mandela, em 1994. E é impressionante como o seu próprio nascimento é considerado um crime, visto que é fruto de uma relação entre raças. Além disso, desperta, em nós, uma certa ignorância, atendendo a que, ao avançarmos na contextualização histórica, compreendemos que sabemos tão pouco acerca de um regime segregacionista, que ainda hoje tem repercussões na sociedade. Em simultâneo, fez-me refletir sobre o limbo em que as pessoas mestiças se sentiam neste ambiente discriminatório, quase como se fossem, como alguém descreveu, «terra de ninguém». E no quanto é simples julgarmos determinadas realidades, quando temos outras opções.
«A língua transporta consigo uma identidade e uma cultura,
ou, pelo menos, a percepção de uma identidade e de uma cultura»
Um dos aspetos mais fascinantes desta obra é o facto de Trevor Noah não se focar apenas em si e nas suas vivências, mas ter a capacidade de retratar as pessoas que o rodeiam e o contexto que influenciou o seu crescimento. Outra característica interessante é a escrita do autor: com um sentido de humor apurado, que demonstra o quanto a imaginação e a comédia são excelentes exercícios de defesa - e de ataque. Portanto, ainda que partilhe memórias dolorosas, de acontecimentos que dilaceram e nos deixam sem fôlego - e revoltados na mesma medida -, a sua abordagem proporciona-nos conforto e esperança.
«Meia dúzia de palavras que podiam ter mudado
a minha vida, se tivesse tido a coragem de dizê-las»
Esta história de coragem e resiliência traça um percurso desde a infância até à adolescência, com uma honestidade que emociona e enaltece a tolerância. No entanto, importa realçar que há vários murros no estômago: pela injustiça, pelo abuso de poder, pela desigualdade, pela descredibilização da mulher e pela violência. E, por falar em mulher, há uma com particular destaque nesta narrativa: a sua mãe, que foi - e continua a ser - um dos seus maiores exemplos, quer pela determinação, quer pela rebeldia. Desempenhando um papel crucial no seu desenvolvimento enquanto homem e ser humano, é comovente perceber os laços que os unem e que são motor de superação.
«Uma das primeiras coisas que aprendi no bairro é
que existe uma linha ténue entre o cidadão e o criminoso»
Sou Um Crime é brilhante e aumentou, ainda mais, a minha admiração por Trevor Noah. Porque é um relato duro, sentimental, perturbador e refinado. Além do mais, demonstra as camadas da condição humana. Alarga horizontes, pois «quebra o ciclo de pobreza» e preconceito «a que estava condenado». E é, acima de tudo, uma prova de amor profundo.
«O amor é um acto criador. Quando amamos alguém,
criamos um mundo novo para a pessoa que amamos»
// Disponibilidade //
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Bertrand: Livro | Livro de bolso
20 Comments
Este livro deve ser muito interessante. Vou levar a sugestão.
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida!
É brilhante, minha querida, recomendo imenso a leitura!
EliminarAdorei "ouvir" o Trevor <3 Este livro vai ficar para sempre na minha memoria <3 Excelente sugestao, recomendo :)
ResponderEliminarAinda nao desisti da ideia de assistir a um espectaculo dele :)
EliminarÉ um livro que dificilmente esqueceremos, sem dúvida!
EliminarAdorava assistir a um espetáculo dele ao vivo *-*
EliminarUm dos meus livros preferidos :)
ResponderEliminarTambém se tornou um dos meus *-*
EliminarDeve ser um livro bastante interessante, acho que nunca tinha ouvido falar, mas quem sabe não o faça para conhecer
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
Se tiveres curiosidade, recomendo imenso
EliminarDeve ser muito interessante.
ResponderEliminarObrigada pela partilha!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Muito mesmo!
EliminarNão li esse livro. Todavia, vivi alguns anos em África. Imagino como terá sido o Apartheid, na África do Sul. Em Moçambique e Angola, não havia Apartheid. Mas, nem tudo eram rosas. Também haviam muitos espinhos. Se os não tivesse visto, não acreditava!
ResponderEliminarTenha uma boa noite Andreia.
Ficam memórias muito dolorosas desses tempos, acredito.
EliminarNão aprecio muito ler, contudo, desejo-te um feliz e abençoado mês de Maio, muita saúde e muita paz, beijinhos e fica bem!!
ResponderEliminarMuito obrigada, Sandra! Desejo-lhe o mesmo :)
EliminarDe nada, obrigada a ti também, muitos beijinhos!!
EliminarOra essa :)
EliminarFica bem!! Bom final de semana para ti!!
EliminarObrigada e igualmente :)
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