ENTRELINHAS ◾ JARDIM DE OUTONO

março 10, 2022

Fotografia da minha autoria

«As folhas secas... voam ou caem?»

Avisos de Conteúdo: Morte, Linguagem Explícita

O desconhecido pode ser um terreno bastante desafiante, mas também seguro, quando confiamos de olhos fechados nas escolhas de terceiros, revelando-se tudo aquilo que necessitávamos sem saber. Assim, abraçando uma nova leitura às cegas, fiquei a conhecer Dulce María Loynaz graças à Livraria Flâneur.

ENTRE A LUZ E A SOMBRA

Jardim de Outono integra «a quase totalidade de Poemas Sin Nombre e parte de Melancolía de Otoño», fazendo-nos transitar por duas linhas temporais: a do princípio e a do fim do trajeto poético da autora. Conforme vamos mergulhando nos seus versos, vamos percebendo que há uma ponte a uni-los, numa espécie de reciprocidade entre a lógica e a emoção; e vamos deambulando por pensamentos soltos que se agregam.

«É aprazível o ar, aprazível a luz; mas não se pode ser

todo flor..., e quem não render a alma à raiz, mirrará»

O discurso melancólico, dividido por poemas breves e poemas mais extensos, expõe uma certa vulnerabilidade e um traço intimista, que ecoa muito depois de fecharmos o manuscrito [se calhar, até mais nesse momento]. Porque é uma poesia que se cola à nossa pele. Embora seja feita de alguma complexidade, tem também uma simplicidade que nos apaixona, uma vez que lhe deciframos a urgência, a dormência e a sua alma inteira.

«Atento sempre no sol que se põe porque não sei o que de meu leva»

Este livro manifesta-se numa dicotomia profunda, oscilando entre a luz e a sombra; entre a solidão e a necessidade do outro. E, tal como um belo Jardim de Outono, vai perdendo as suas folhas, para renascer.

«O teu esquecimento é a alvorada apagando as estrelas!...»