CLUBE LEITURAS DESCOMPLICADAS ◾
O DICIONÁRIO DAS PALAVRAS PERDIDAS, PIP WILLIAMS
![]() |
Fotografia da minha autoria |
«Como surgiram os primeiros dicionários? Quem selecionava as palavras?»
Avisos de Conteúdo: Orfandade, Depressão, Morte, Referência a Violação, Linguagem Explícita
Os títulos dos livros - muitas vezes, mais do que as capas - ficam a ecoar em mim. Foi isso que me aconteceu com o de Pip Williams, que fiquei a namorar na lista de desejos até o comprar. Aproveitando as letras do alfabeto deste mês para o Clube Leituras Descomplicadas, resgatei-o da estante. E já que estamos no mês do livro e dos direitos de autor, senti que fazia todo o sentido ler uma história onde as palavras são protagonistas.
DO SCRIPTORIUM PARA O MUNDO
O Dicionário das Palavras Perdidas concentra-se na criação do primeiro Dicionário Inglês de Oxford, através da visão de Esme que, sendo filha de um dos lexicógrafos responsáveis, acompanha todo o processo de perto, no Scriptorium, debaixo da secretária do pai. É num desses momentos que, entre reuniões e revisões, um dos papéis com a palavra escrava cai ao chão e Esme, escondendo-a no bolso, inicia uma jornada muito particular.
«Eu sabia o que acontecia quando uma palavra era descartada»
A premissa intrigou-me, sobretudo, depois de descobrir que é baseada em factos reais - não descartem as notas da autora, porque dão uma visão interessante sobre o que é verídico e o que é imaginado - e dei por mim a repetir as perguntas da contracapa: «Quem selecionava as palavras?», «Porque é que algumas palavras eram consideradas mais importantes do que outras?», com destaque para a última, porque a protagonista percebe que essa organização assume um traço patriarcal, evidenciando diferenças entre géneros e classes.
«- Sinto que sou como um dente-de-leão antes de o vento soprar»
A falta de representação feminina também se faz notar nas palavras e em objetos tão singelos e transformadores como um dicionário. Portanto, é no enlaço da história de Esme que refletimos sobre esta desigualdade, sobre o facto de determinados termos utilizados pelas mulheres serem diminuídos para que se elevem as experiências e os conhecimentos masculinos. Deste modo, também explora o desequilibro entre aqueles que têm acesso a uma educação formal e aqueles que aprendem por vias alternativas, sem que a sua voz seja considerada. E este confronto entre o eruditismo e o não académico fomenta inúmeros preconceitos.
«De repente, todas as palavras que eu tinha aprendido até àquele momento evaporaram-se»
As ramificações do enredo transportam-nos, em simultâneo, para o movimento sufragista feminista e para o despertar da Grande Guerra. Compreender a maneira como estes pólos se influenciam e como interferem com a vida de Esme, a gerir as suas emoções, contrariedades e desafios, é fascinante: não só pela ação em si, mas também por, dois séculos volvidos, ainda se manifestarem tantos vestígios da mentalidade destes tempos.
«As palavras não tinham fim. Não havia fim para o que elas
significavam, nem para as formas como tinham sido usadas»
O ritmo é mais lento, mas é necessário que se desenrole assim, porque não é uma narrativa para devorarmos, é para nos deixarmos mergulhar aos poucos, desvendando cada camada. Esme aprendeu a escutar os outros e a dar-lhes voz, e assim podemos debater sobre temas como amizade, maternidade, negligência, ativismo, tristeza, luto, perda e o poder das memórias. Além disso, é um retrato do quanto a língua nos pode definir.
«Não lhe compete julgar a importância destas palavras, mas apenas permitir que outros o façam»
O Dicionário das Palavras Perdidas é uma viagem bastante emotiva, com uma escrita poética que equilibra a componente histórica e a componente de entretenimento. Por um lado, queria que alguns acontecimentos não tivessem surgido de um modo tão abrupto, por outro, acredito que há informações que poderiam ter sido encurtadas (sem que a história perdesse interesse e coerência), não obstante, deparamo-nos com um ambiente fascinante, que reforça a importância da empatia e das palavras: porque podem mudar o mundo.
🎧 Música para acompanhar: Runaway, Aurora
◾ DISPONIBILIDADE ◾
clube de leitura
clube leituras descomplicadas
estante cápsula
livros
livros de autores estrangeiros
8 Comments
Fiquei mesmo intrigada com este livro.
ResponderEliminarVou levar a sugestão.
Beijinho grande, minha querida.
É maravilhoso, minha querida, aconselho muito
EliminarFiquei com muita vontade de ler. Muito obrigada pela sugestao, minha querida *.*
ResponderEliminarVale muito a pena fazer esta viagem
EliminarOii Andreia,
ResponderEliminarAdorei a resenha, que bom que gostou da leitura.
Fiquei curiosa para conhecer :)
Beijos,
https://brenshelf.blogspot.com/
Olá, Brenda
EliminarMuito obrigada pelo teu comentário. Aconselho a leitura
Que me parece ser mais uma boa opção para ler, vou levar a indicação.
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem Post Novos Diariamente
É um livro para lermos sem pressa, mas vale muito a pena
Eliminar