ESTANTE CÁPSULA
LENÇOS PRETOS, CHAPÉUS DE PALHA E BRINCOS DE OURO, SUSANA MOREIRA MARQUES

Fotografia da minha autoria



«(...) ao encontro da memória das mulheres portuguesas do passado»

Gatilhos: Referência a Violência, Luto, Morte


O passado não pode ser mudado, mas continua a ter impacto no presente. E que o digam todas as mulheres anónimas que figuram no livro de Maria Lamas, As Mulheres do Meu País, que serve de guia para a obra de Susana Moreira Marques; que o digam todas as mulheres que, sem nome, sem rosto, conseguimos reconhecer para lá destas palavras. Porque há tanto que mudou e muito mais que aparenta estar no mesmo lugar.


UM LIVRO MÚLTIPLO

Lenços Pretos, Chapéus de Palha e Brincos de Ouro é um relato, um ensaio, uma autobiografia. É um livro múltiplo de uma travessia que leva a autora a «aldeias ruidosas do passado» e a «aldeias-museu do presente», passando por hotéis modernos e mulheres que «ainda vivem no silêncio de antigamente».

«Quero chegar aos lugares como se não soubesse nada sobre eles»

É através desta imagem contrastante que compreendemos o impacto de figuras como Maria Lamas, tão central no ativismo político em Portugal, e de tudo o que poderia ter sido vivido, mas não foi, de todas as visões condicionadas que poderiam ter alterado o curso histórico - ou, pelo menos, determinados períodos. Além disso, torna evidente que conhecer o nosso passado é fundamental, não só para no edificarmos enquanto pessoas, mas também para recuperarmos raízes, memórias e termos um contexto da nossa condição.

«Às vezes, é apenas nas pausas das conversas que se conseguem partilhar certos gestos»

Ler esta obra deixou-me a pensar nas mulheres da minha família, naquilo que não fiquei a saber sobre cada uma delas e no que sou por causa delas, mesmo que não seja capaz de reconhecer esses fragmentos em mim. Por esse motivo, fiquei com vontade de voltar a observar os álbuns de família e de lançar questões, para tentar decifrar a bagagem que escondem. No fundo, creio que fiquei com vontade de lhes dar voz.

«Chego tarde demais: e, no entanto, vou»

Embarcando numa viagem atenta, intimista e transformadora a vários níveis, Susana Moreira Marques reúne lembranças, observações, divagações e a própria necessidade de compreender a sua história, sempre com uma grande sensibilidade. Em simultâneo, estabelece uma ponte com a sua avó, convidando-nos a reconstruir certos passos. Já me tinha rendido à sua forma de contar histórias em Agora e na Hora da Nossa Morte, no entanto, voltei a reforçar o fascínio: porque há poesia na maneira como interliga as diferentes componentes narrativas e no modo como, preenchendo silêncios e pausas, nos mostra um mundo de possibilidades.


🎧 Música para acompanhar: Maria, Beatriz Rosário

📖 Da mesma autora, li e recomendo: Agora e na Hora da Nossa Morte


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