1+3 | APRENDIZAGENS QUE [ME] REVOLUCIONAM

Fotografia da minha autoria


Tema: Coisas que aprendi com alguém muito importante


A pegada que marcamos no mundo não tem apenas a dimensão da nossa alma. Porque somos feitos de todos aqueles que se cruzam no nosso caminho. É essa energia, essa inspiração, que vai completando a identidade que pretendemos maturar. E eu compreendi, com o tempo e com a visão atenta de terceiros, que tudo pode ser aprendizagem, seja para anexar no nosso peito, seja para sabermos como não agir - ou, simplesmente, como não ser. E como, para mim, o que levamos de melhor desta vida é os conselhos das nossas pessoas-casa, procuro guardar tudo aquilo que cresci - e aprendi - com cada uma delas.

Podem roubar-nos o tapete, mas haverá sempre alguém a sentar-se connosco na tijoleira: A vida não tem só momentos bonitos, grandiosos e plenos. Também consegue ser uma merda e arrasar-nos por completo. No entanto, para além de não termos que aguentar o peso do mundo nos ombros sozinhos, também percebemos quem está disposto a sentar-se ao nosso lado, no chão. Quando a minha avó materna faleceu, foi como se me retirassem um pedaço de coração. E sei que aliviei um pouco da minha dor ao partilhá-la com a minha melhor amiga. Avisei-a. Ela tentou ligar-me, mas não tive força para atender. Porém, foi o suficiente para saber que nunca me faltaria aquele colo. No dia do funeral, sem que tivesse pensado no assunto, o meu núcleo duro estava lá todo, para amparar as minhas lágrimas e o meu sofrimento. Hoje, com exceção da R., que continua a ser a minha gémea, estamos distantes e sem fios que nos unam, mas naquele momento eu soube que nunca estaria sozinha. Foram o meu rochedo. E isso recordarei para sempre.

Há ligações que valem uma vida, mas não permanecem na nossa vida: Quando ainda estamos em fase de desconstruir as nossas verdades, acreditamos que existem algumas irrefutáveis, absolutas, como se fosse tudo linear. E, durante muito tempo, afirmei que uma amizade só o era genuinamente se durasse a vida toda. Contudo, nem todas as pessoas chegam à nossa história para ficar, algumas estão só de passagem e isso não significa que o sentimento fosse desonesto. Cumpriram o seu propósito e seguiram viagem. Sem ressentimentos, sem julgamentos, sem inimizades, porque faz parte. Nós crescemos, afinamos os nossos gostos e os nossos objetivos e, por vezes, deixamos de encaixar. Desencontramo-nos e não nos reconhecemos na sua rota. E está tudo bem. Mesmo! Houve uma fase - mais ou menos longa - em que o elo foi profundo. E não deixa de ser especial só porque não existe mais.

Os limites também simbolizam amor: Sempre sonhei ser Educadora de Infância, mas trabalhar com crianças é uma onda de imprevisibilidade e há aspetos que só debatemos quando estamos em contexto. Quando iniciei o estágio em creche - com a melhor profissional com quem contactei -, houve uma frase que me marcou: «Não tenham medo de estabelecer limites, porque as crianças não vão gostar menos de vocês». E facilmente estendi este ensinamento para o meu quotidiano, pois é imprescindível para uma convivência saudável. As pessoas que nos rodeiam devem estar cientes dos nossos limites, para tal, precisamos de as elucidar nesse sentido. E é ao estabelecê-los que evitamos cobranças e falsas promessas. Definir limites pode parecer extremo, mas é algo que nos salva. Porque não somos perfeitos, porque nem sempre chegamos para tudo - nem temos que - e porque a nossa individualidade também conta. E sabemos até onde podemos ir.

A comunicação é a base de tudo: É o amor que nos move. No entanto, nem sempre é suficiente para manter uma relação - independentemente da sua natureza -, porque há componentes que se quebram. E se existe algo que aprendi com algumas pessoas que fizeram parte da minha essência é que a comunicação é fundamental. Não devemos ter qualquer tipo de receio em partilhar o que nos inquieta ou o que nos desagrada, porque é assim que resolvemos questões pendentes. Além disso, através de uma conversa franca, podemos evitar que pormenores ou mal entendidos assumam proporções maiores do que aquilo que teriam. Quando optamos pelo silêncio, há quase uma espécie de desistência, como se nos conformássemos com uma possível rutura. Embora os caminhos possam vir a divergir, tudo merece um desfecho. Quanto mais não seja para honrar a história que foi sendo escrita - e porque é um sinal de respeito.

As saudades magoam, mas também lembram que valeu a pena: Observo as diversas circunstâncias com cuidado, procurando fazer sobressair o seu lado positivo. Este filtro talvez seja um mecanismo de defesa, mas acredito que existe sempre algo de bom a reter. E o mesmo se aplica às saudades. Ainda hoje sinto falta daqueles que perdi [e que são mais uma estrela no meu céu], de quem se afastou sem uma última despedida, de lugares que se revelaram aconchego, de abraços que foram casa... E vou senti-la até ao fim dos meus dias. Todavia, numa daquelas conversas que nos fazem levitar, houve alguém que me ajudou a entender que só sentimos saudades de tudo o que valeu a pena. E não tem que doer por já não ser assim, porque a lembrança perpetua-se em nós.

Nada acontece por acaso: Há fases na nossa vida que, por serem mais negativas, nos revoltam e nos fazem questionar o porquê de acontecerem connosco. Para além de não estarmos acima dos outros, é necessário passarmos por estas privações. E a minha avó e a minha madrinha sempre me ensinaram que tudo acontece por uma razão: seja para crescermos, seja para mudarmos de rota, seja por qualquer outro motivo. E, mais cedo ou mais tarde, acabaremos por compreender o porquê de determinadas situações nos implicarem.

Podes ser o que quiseres: Existem coisas que nunca serei - porque não quero e/ou porque não tenho competências para tal. Mas este sentido de liberdade, de poder traçar o meu caminho sem estar dependente de opiniões alheias, aprendi-o com os meus pais, que sempre foram colo, mas sem me esconderem as asas. É por essa razão que, se um dia for mãe, tenho a certeza de que posso falhar em muitos aspetos, mas nunca permitirei que o[s] meu[s] filho[s] vivam os meus sonhos, pois vão construir e lutar pelos seus, tendo-me como apoio incondicional.

Quebrar barreiras, construir pontes: A zona de conforto pode ser o nosso amparo, mas é quando derrubamos os nossos muros que evoluímos. Tenho muitas inseguranças, mas pertencer a uma família com tantos exemplos de ambição, superação, bravura e, em parte, com a dose certa de loucura dá-me alento para trabalhar cada uma delas. Vi primos a sair de empregos estáveis para abraçar projetos arriscados, e nunca os senti tão felizes. Portanto, na maior parte das vezes, por mais difícil que seja, só temos que gerir os nossos medos. A observá-los, aprendi que só depende de mim. Só dependo de mim.

Dizer não: Esta talvez tenha aprendido da pior maneira, porém, há alturas em que precisamos de uma bofetada metafórica para acordar. Porque eu sempre tive muita dificuldade em dizer não aos meus, como se isso significasse falhar-lhes. O problema é que, quando estamos demasiado disponíveis, as pessoas esquecem-se que também temos uma vida, sentimentos, angústias e compromissos. Ainda assim, acredito que, na maior parte dos casos, não o façam por mal, simplesmente potenciamos essa habituação. Ora, a bem da nossa sanidade e pelo bem das nossas relações, aprender a dizer não tornou-se prioritário.

Não exijas o que não és capaz de fazer [nem dar]: Na minha primeira semana de praxe, houve dois conselhos que nos transmitiram. E um deles guardo-o para a vida, porque, cada vez mais, temos tendência para exigir imenso dos outros, esquecendo-nos de refletir, de olhar para dentro, de modo a perceber se somos capazes de retribuir. Se a resposta for negativa, é de uma hipocrisia tremenda cobrá-lo. Precisamos, então, de ser mais conscientes a esse respeito.

O sentido de comunidade: Desfrutarmos da nossa companhia é indispensável. Mas as relações que vamos estabelecendo, enquanto crescemos, tornam a nossa jornada muito mais bonita. E neste mundo Blogosférico comprovo-o diariamente. Quando me mudei, em definitivo, para As gavetas, houve quem se mantivesse perto, atravessando a ponte comigo, mesmo sem saber o futuro do projeto. E isso valeu por tudo, porque foi um sinal de que consegui estreitar laços com quem estava do outro lado. Esta comunidade, que me dá a mão em cada desafio, confiando no meu conteúdo quase de olhos fechados e regressando sempre que lhe é possível, é a prova de que os números não passam disso. É a interação que tem peso. E sem ela não passamos de mais uma casa vazia. E eu gosto de ter as portas abertas, para que as pessoas entrem. Puxem uma cadeira. E fiquem o tempo que lhes fizer sentido.

Empatia gera empatia: A honestidade é uma componente essencial em qualquer ligação, até porque demonstra respeito mútuo. No entanto, a maneira como nos expressamos deve ter sempre em consideração a outra metade da equação. Além do mais, é a empatia que nos permite ver os passos do outro com o seu filtro. É assim que se constrói uma base de confiança. É assim que elevamos o carinho. É assim que valorizamos o ritmo, o espaço e a personalidade individuais. Porque não há lugar a condescendência. Há, pelo contrário, a certeza de podermos ser nós - com as nossas falhas e os nossos pontos fortes -, uma vez que nos acolherão sempre de peito aberto.

Não é o tempo, nem a ausência física que condicionam as relações: Os Hands On Approach tinham uma música em que cantavam «estás tão perto e tão longe». E esta frase deixou-me sempre pensativa. Porque, de facto, há pessoas que caminham ao nosso lado e, contudo, o fosso que nos separa é gigantesco. Da mesma maneira que há quem esteja fisicamente longe e se faça perto. Por isso é que esta questão é bastante relativa. E eu fui aprendendo isso com o tempo. Houve quem entrasse na minha vida por acaso e, agora, seja parte imprescindível. Houve pessoas que senti que seriam sempre um elo e, hoje, nem sei o que é feito delas. Paralelamente, entendi que não é necessário haver uma conversa diária para que a ligação seja forte. Não falo com a minha melhor amiga com essa regularidade, mas sei [ambas sabemos] que estará comigo para o bem e para o mal. Portanto, o segredo não está no tempo, nem na presença: está na verdade com que fortalecemos a relação.

Tudo passa: O sol, a tempestade, o amor, o desgosto, o sorriso, a dor... Tudo passa. E tudo regressa. Para te colocar à prova. Para te deixar mais firme. Para te levar à meta. Tudo passa. O que não pode passar é essa vontade de seres igual a ti. «Até ao fim do fim».

Eu também tenho voz, valor e mereço amor: A sociedade pode engolir-nos com tantas imposições e preconceitos, mas temos que resistir. E é curioso como a crise dos 25 me fez ponderar tanta coisa em mim, mas é agora, aos 27, que me sinto melhor. Estou mesmo em paz comigo. E esta tem sido uma aprendizagem constante. Porque não é a minha aparência que me define. Não é o meu peso que me limita. Não são as minhas limitações que me derrubam. Eu tenho uma voz para lutar pelas minhas causas. Tenho valor e valorizo-me. E amo-me cada vez mais. Porque ter amor próprio não é egoísmo, é um direito que não podemos negligenciar - «I'm the hero of the story. Don't need to be saved».

«As pessoas entram na nossa vida para nos dar algo». Que continuemos, então, a aprender com todos aqueles que nos são - ou foram, em determinada ocasião - importantes. Nós incluídos.


[Publicação inserida no desafio 1+3]

Comentários

  1. so lovely post!
    HAPPY WEEK
    xoxo
    https://stylishpatterns.blogspot.com/

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  2. Incrível Andreia. Talvez por aprendermos sempre algo com outros é que temos sempre alguma coisa em comum com alguém por mais pequenina que seja e talvez por isso me tenha identificado muito com o que escreveste.
    Era exatamente isto que estava a precisar ler.
    Beijinho e Boa Semana.

    Rosa Limão
    IG RosaLimão

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    1. Muito obrigada, Rosa Limão *-*
      Sim, é bem provável que seja por isso mesmo. Afinal de contas, estamos a sempre a ser inspirados pelos outros

      Igualmente :)

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  3. Excelentes aprendizagens, concordo com todas. =)

    Beijinhos :*

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  4. Oh que tens aí coisas que são mesmo verdade e que faz pensar um pouco em certas coisas da vida, a saudade, dizer não a certas coisas entre outras
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  5. Concordo com tudo o que escreveste.
    E o saco da fotografia, é dos sacos reutilizáveis mais bonitos que já vi (:

    http://arrblogs.blogspot.com/

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    1. Fico contente por ler isso *-*
      Rendi-me assim que o vi no site da Bertrand!

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  6. Estou ctg em cada linha, em cada palavra :) Estamos sempre a aprender, e o tempo é o melhor professor da vida :) Sao estas liçōes que nos fazem continuar a acreditar e a seguir em frnte em na nossa vida :)
    Beijinhos e continuação de boa semana*

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    1. No fundo, são estas aprendizagens que nos dão alento para continuarmos e para evoluirmos :)

      Obrigada e igualmente, minha querida

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  7. Por vezes aprendemos que as pessoas que foram importantes para nós em determinada época podem também ser uma grande desilusão e, também aprendemos isso com elas!!
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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    1. É isso mesmo, Marisa! Acredito muito nesse aspeto - cada vez mais

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  8. As aprendizagens são uma constante na nossa vida e quase todas advêm de fases menos estáveis e mais dolorosas que passamos. Começamos por não entender e depois ficamos com lições extremamente valiosas para o resto dos anos e isso é fantástico.
    Estamos sempre a aprender, sozinhos e com os outros, ainda bem!

    É incrível como me identifico com as tuas palavras e com a tua forma de ver a vida :)

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    1. «Começamos por não entender e depois ficamos com lições extremamente valiosas», tão verdade! Nem sempre compreendemos, mas depois, quando acalmamos as feridas e conseguimos olhar para as situações com mais distância, chegamos ao pretendido. E entendemos que foi essencial passar por aquilo para crescer.
      Ainda bem mesmo!

      Enche-me o coração ler isso <3

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  9. És um coração lindo, sabias?
    Vamos, com o passar do tempo, aprendendo tanto sobre a vida!
    E eu, com um ano a trabalhar, já aprendi tanto! E tanto ainda tenho para aprender!
    Um beijinho muito grande*

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    1. Oh, que amor ❤️
      Essa é a parte maravilhosa, não é? Acredito cada vez mais que sim, até porque ficamos mais seguros de quem somos e para onde queremos ir.
      Tão bom!

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  10. A vida é toda ela feita de momentos de crescimento (para quem os vê dessa forma).

    A mensagem é profunda e suportada, mas acima de tudo, o que mais me desperta é a qualidade da escrita.

    É um prazer ler-te

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    1. Estávamos tramados se o cenário não fosse esse, porque só perderíamos vivências e conhecimento!
      Muito, muito obrigada *-* fico mesmo feliz com este retorno

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  11. Também tenho um saco parecido que adoro! Recebi nos meus anos quando fui à Bertrand abastecer-me :P

    Blog: The Choice | Instagram

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    1. É uma belezura! Tanto que não resisti e tive que o acrescentar ao sorteio de aniversário *-*

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