ENTRELINHAS || O ANO DO PENSAMENTO MÁGICO

Fotografia da minha autoria



«Viagem pela memória do ano mais transformador»

Avisos de Conteúdo: Morte, luto


A nossa existência preenche-se de dias normais, mas basta um instante para que tudo mude, virando-nos do avesso. E esta noção tornou-se evidente quando, há uns anos, sentada numa das cadeiras do Teatro Nacional de São João, assisti a um monólogo de Eunice Muñoz, que interpretava a adaptação de uma obra de Joan Didion. Naquele momento, embevecida pela intensidade do que acontecia em palco, acalentei a vontade de ler o texto e compreender todas as suas camadas emocionais.

«Só me lembro de levantar os olhos»

O Ano do Pensamento Mágico transporta-nos para uma fase dramática da vida da jornalista, com a morte repentina do marido e o coma da filha. Perante este cenário, o desnorte, a dor e a dormência são estados inevitáveis, que passam a caminhar presos a nós. Confesso, ainda assim, que esperava um relato mais visceral e menos lúcido das suas fragilidades. Por outro lado, creio ter compreendido o rumo que as suas palavras seguiram, porque todos temos o nosso processo de luto. Aliás, temos todos uma maneira particular de lidar com a perda, ancorando-nos a mecanismos de defesa que nos impeçam de sucumbir.

«A dor, quando chega, não é nada como esperávamos que fosse»

A escrita franca e bastante racional, pode, deste modo, criar uma barreira, até porque, no contexto em questão, tendemos a ser mais sentimentais, procurando construir um sentido lógico a partir dessa vertente. Apesar disso, é um testemunho que nos desarma, sobretudo, porque a sua abordagem desconstrói o rótulo que algumas pessoas recebem por reagirem da mesma forma. Estruturar a tragédia com esta clareza não implica que os sentimentos sejam menos intensos, menos verdadeiros. Simplesmente, permite perceber que encontraram um método para se protegerem. Portanto, é um olhar muito importante, encaminhando-nos para algo transversal: a necessidade da superação.

«As pessoas que perderam alguém há pouco tempo têm um certo olhar»

O Ano do Pensamento Mágico faz-nos reconhecer que existem coisas que não podemos controlar. Que a memória nos prega partidas. E que, independentemente disso, existe esperança. Com um tom irrepreensível, oscila entre a culpa, o desamparo e a autocomiseração, alertando-nos que há um momento em que temos de libertar os mortos, por mais doloroso que seja, porque viverão sempre de alguma maneira: em nós.

«(...) tentamos mantê-los vivos de forma a mantê-los connosco»


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22 Comments

  1. Não podemos controlar quase nada nesta vida. Vou tomar nota da sugestão!

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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  2. Acho que iria gostar deste livro. Vou levar a sugestão :)

    Beijinho grande, minha querida!

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  3. Na faculdade tive uma cadeira de Jornalismo Literário e este era um dos livros a analisar. Como cada livro era analisado por um grupo diferente, não o li na altura, mas desde aí que estou para o fazer. Ainda me lembro da forma apaixonada como o professor falava da Joan Didion!


    A Sofia World

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    1. É um livro do qual dificilmente nos esqueceremos, porque a abordagem alarga-nos tantos horizontes!

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  4. Sugestao muito forte com um tema muito actual... quero muito ler <3

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  5. Acredito que seja um livro emocionante de ler. Narrativa fluida, pura sedução de leitura.
    .
    Abraço poético.
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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    1. É um livro com uma abordagem muito interessante! Não sendo o mais emocional de todos, não deixa, de facto, de ser emocionante de ler

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  6. Acho que sim deve ser um livro que vou adorar conhecer,
    mas gostei de ler um pouco da sua opinião
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  7. Fiquei muito curiosa! :)

    www.amarcadamarta.pt

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  8. Adorei a profundidade e a crueza deste livro.

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  9. Li este livro o ano passado e ficou-me a mesma sensação. Uma mulher lúcida a oferecer-nos o seu interior com uma postura racional.
    Eu gostei do relato dela. Não foi um livro que adorei, mas gostei de lê-la. Estou curiosa para ler o novo que saiu.
    Beijinhos

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    1. Também gostei bastante. E acredito que, quando nos relacionamos com a sua abordagem, torna-se mais fácil de compreender esse lado mais racional.
      Quero muito lê-lo!

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  10. Já li o livro.
    Também esperava uma abordagem mais sentimental, mas não deixa de ser avassalador.

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