Entre Margens

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«A vida é feita de momentos colecionáveis»


Maio chegou sereno, com mais tentativas para fazer os famosos cinnamon rolls e com conquistas de amigos. Também me fez sentir vulnerável, triste e insegura, sem que existisse um acontecimento em concreto para isso. Com a bateria social a cumprir serviços mínimos, percebi que, por vezes, é preciso contrariar a tendência e dizer sim, para não cairmos numa espiral de isolamento, por isso, voltei ao Queimódromo e compensou muito pelo estreitar de laços, pela certeza de cuidar de elos de amizade que são uma parte importante da minha vida. E, claro, não ignoremos o óbvio: Maio foi D'ZRT e eu ainda estou a fazer morada no Super Book Arena.


       MOMENTOS       

35 anos de casamento
Há astros que se alinham de uma forma muito bonita: na data em que se celebra o Dia da Família, os meus pais festejam anos de casados. São 35. E continuam a ser a minha história de amor favorita.

D'ZRT Encore
Voltei, voltarei sempre que quiserem, porque esta tribo não se perde. Já conversei sobre isto com duas amigas, mas quero reforçar por escrito: tudo tem o seu momento e há bandas que fizeram todo o sentido numa determinada altura da nossa caminhada, mas depois amadurecemos e já não nos servem mais. Com os D'ZRT não sinto isso. Sinto, sim, que continuarão a fazer todo o sentido para quem cresceu com eles. E a prova disso foi o concerto ainda não ter começado, mas colocarem a «Querer Voltar» e ouvir todo o Super Book Arena a cantar em uníssono, com um sentimento extraordinário. Hei-de ter palavras para falar sobre este momento.

      

      

      

Outros apontamentos bonitos do mês: O Porto sagrou-se campeão europeu em Hóquei, jantei com a minha Gémea, fui à Queima, mudei o nome do Instagram para @_entremargens_, o Dia do Autor Português.


       LEITURAS       

📖 A Mulher-Casa, Tânia Ganho
Alma Lusitana

📖 A Avó e a Neve Russa, João Reis
Alma Lusitana

📖 Gente Melancolicamente Louca, Teresa Veiga
Clube Leituras Descomplicadas

📖 A Estrada Para Firopótamos, Filipa Leal; 
📖 Os Pássaros, Afonso Cruz
Estante Cápsula ◾ Os Últimos Livros de Poesia Que Li


Outras leituras do mês: Mar Negro (Ana Pessoa), Caderno de Encargos Sentimentais (Inês Meneses), A Breve História da Menina Eterna (Rute Simões Ribeiro), Quantos Ventos na Terra (Maria Isaac), O Paraíso Segundo Lars D. (João Tordo), Fabíolo (Mário Zambujal) e O Deslumbre de Cecília Fluss (João Tordo).


     FILMES, SÉRIES & PODCASTS     

Emília
O argumento tem movimento. Aliás, Filipa Amaro inspirou-se na dança contemporânea «como roldana que faz girar o enredo», porque considera «muito interessante conseguirmos pôr as personagens a dizer coisas com o corpo que não conseguem dizer com a voz». E é nesta dança singular que estreitamos tantos passos (aqui).

Capitães do Açúcar
A vida precária é o mote para este projeto e é através de Bernardo, um jovem estudante de ciências farmacêuticas a viver sozinho com a irmã, que compreendemos as várias margens desta condição. Enquanto estuda, também tem um part-time numa hamburgueria, mas os seus dias estão prestes a mudar, porque recebe um convite bastante tentador. Ao aceitá-lo, vê-se envolvido num esquema ilegal de «produção e distribuição de uma substância psicotrópica chamada Açúcar». Achei muito interessante a forma como se construiu a história do Bernardo e como é uma série com algumas linhas narrativas paralelas. Ainda assim, houve passagens que não me fizeram tanto sentido, porque sentia-as demasiado desconexas e apressadas.

Three Pines
Comecei a ver sem qualquer expectativa, mas agora conto os dias para que chegue a quarta-feira, só para assistir a mais um episódio duplo! Resumidamente, é uma série de mistério e thriller, que nos transporta para uma «aldeia aparentemente idílica». O protagonista, que vê coisas que mais ninguém vê, é o Inspetor Armand Gamache: ao investigar vários assassinatos, acabará por desvendar «segredos há muito enterrados».

No que diz respeito a filmes, este mês, excedi-me, porque vi quatro (e conto ainda ver o quinto). Mas isto tem um motivo: é que pertencem todos ao projeto Contado Por Mulheres, portanto, não podia deixá-los passar.

Podcasts
🎤 Pessoas Humanas #19, uma conversa encantadora entre David Carronha e Paulo Vintém;
🎤 A Duas Vozes, num contraponto que envolve a Carolina Deslandes e convidados que a inspiram;
🎤 Desengatados, uma rubrica criada pela Sofia Costa Lima sobre este mundo encantado das dating apps.


       À MESA       

Como aprecio cerveja artesanal, gosto de ir experimentando algumas marcas. Este mês, bebi uma da Sovina (que foi pioneira neste conceito) e fiquei com vontade de descobrir mais produtos para além da Amber.

   

Bugo Art Burgers
Foi uma entrada recente no Roteiro Gastronómico que mantenho com a minha Gémea. No dia do concerto dos D'ZRT, achamos que seria uma boa oportunidade para lá ir e revelou-se uma ótima surpresa. O espaço não é grande, mas tem esplanada e é acolhedor. Fomos muito bem recebidas e os menus estavam deliciosos.


       ENTRE LINHAS       

T-shirt Tomás Adrião
«Perdoa Se Há em Mim Pressa Para Ser Feliz» é das melhores frases de sempre - e empresta a sua melodia ao álbum de estreia do Tomás Adrião. Recentemente, cruzei-me com a novidade da sua merch e é claro que não podia perder a oportunidade de apanhar a «laranjinha». É bastante confortável e ainda mais bonita ao vivo.

   

Publicações
✏ Versos Favoritos de Bichinho, @jotices;
✏ Como Lidar Com as Críticas dos Leitores Beta Parte I e Parte II, Diogo Simões;
✏ Clube das Mulheres Escritoras, Rita da Nova.


       JUKEBOX       

Top 6 de favoritas
🎧 Maria, Beatriz Rosário;
🎧 Volta, Isaac Pimenta;
🎧 Os Raros, Benjamim & Samuel Uria;
🎧 Dona Joana, Soraia Tavares;
🎧 Água, Mariana Norton;
🎧 Underwater, Frankieontheguitar, Van Zee & Diogo Piçarra


Álbuns: 
🎵 Se Dançar é Só Depois (Ana Lua Caiano); 
🎵 !! (Cláudia Pascoal); 
🎵 Leve(mente) (Inês Apenas); 
🎵 Estava no Abismo Mas Dei Um Passo em Frente (Pedro Mafama); 
🎵 De Sombra a Sombra (Milhanas); 
🎵 É Só Harakiri, Baby (João Borsch).


       GRATIDÃO       

«Os melhores homens / têm ombros em vez de gaiolas»

Num mês emocionalmente oscilante, sei que o meu maior ponto de gratidão é o concerto dos D'ZRT, porque há muitas camadas associadas a este momento, porque é o concretizar de um sonho antigo. Nunca esquecerei.


Como foi o vosso mês?

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A banda sonora de uma viagem literária


A TBR de maio só incluía escritores nacionais, porque, sendo o mês em que se celebra o dia do Autor Português, é a minha maneira de estender a homenagem. Por isso, para estar em harmonia com este propósito, tive o cuidado de só associar canções portuguesas - uma delas com a melodia do português do Brasil (não deu para resistir). A miscelânea de estilos, essa, como sabem, já é transversal a qualquer playlist.


A ESTRADA PARA FIROPÓTAMOS, FILIPA LEAL
Adeus, Até Mais Ver, Homem ao Mar ▫ Esta música não me ocorreu de imediato, mas houve qualquer coisa que me relembrou dos Homem ao Mar. Quando li a letra, percebi que fazia algum sentido, pela ideia de partir, pela união a algo, pela declaração de amor subtil. O livro da Filipa Leal também é essa declaração, não a uma pessoa, mas a um lugar, portanto, e porque «à noite sabe-se lá», há algo nesta poesia que se enlaça na ternura da melodia.


MAR NEGRO, ANA PESSOA
Café da Esplanada, Nena ▫ A associação a esta música motivou-se por dois fatores: porque o café é um espaço importante para a ação e porque a letra da Nena mostra um certo desnorte em relação ao que se conhecia - e uma sensação de mudança. Ainda que, depois, livro e canção apresentem protagonistas com histórias distintas, há elementos que se cruzam. Ademais, imagino-me à beira-mar, com esta novela gráfica aberta e a melodia a ecoar de fundo.


CADERNO DE ENCARGOS SENTIMENTAIS, INÊS MENESES
É P’ra Amanhã, António Variações ▫ O leque de opções era vasto e fascinante, até porque, ao longo do livro, não faltam associações musicais. Ainda assim, optei pela canção do António Variações pela noção de não adiarmos o presente, porque nós sabemos «como a vida foge» e não é agradável sentirmos que «é tarde de mais». E se há algo que Inês Meneses deixa claro em todas as suas reflexões - de uma forma mais ou menos explícita - é a preocupação de estar presente nos momentos, já que só assim conseguiremos construir memórias que nos envolvam o coração por inteiro.


A BREVE HISTÓRIA DA MENINA ETERNA, RUTE SIMÕES RIBEIRO
Menina, Márcia & Samuel Úria ▫ Foi o verso “Ou muito te passa da vida” que me ocorreu, enquanto fui lendo passagens desta narrativa, porque há uma certa apatia na protagonista, ainda que não intencional, que condiciona a maneira de observar o mundo, de viver todos os espectros da vida. Mas, depois, também há um certo quebrar da corrente.


A MULHER-CASA, TÂNIA GANHO
A Mulher Vento, Carminho ▫ Tive alguma dificuldade em escolher o tema desta leitura, porque não sabia bem o que procurar, até que me cruzei com a canção da Carminho. Hesitei, mas depois percebi que fazia todo o sentido: pelo lamento, pela solidão, pela própria ideia de fazer certas coisas às escondidas e por se sentir prisioneira. E como uma brisa ondulante, esta(s) mulher(es) aprenderam a ousar escolher.


A AVÓ E A NEVE RUSSA, JOÃO REIS
A Explicação das Estrelas, Rui Veloso & J. P. Simões ▫ A narrativa envolve-nos numa relação amorosa entre avó e neto, por isso, lembrei-me logo desta música, por causa dos versos «As estrelas são avós/vogando em trenós de prata/lá em cima a velar por nós». E como imagino o protagonista a deambular pelos pensamentos presentes na canção, acho que combinam bem.


OS PÁSSAROS, AFONSO CRUZ
Os Pássaros Quando Morrem Caem no Céu, Madredeus ▫ Imaginei esta narrativa a ser acompanhada por um instrumental e sinto que este a sustenta na perfeição: porque parece trazer um pedaço de natureza na melodia e, além disso, o título da canção é muito próximo de uma ideia explorada num dos poemas.


GENTE MELANCOLICAMENTE LOUCA, TERESA VEIGA
Louca, Gisela João ▫ Um título absolutamente poético, que me transportou logo para o tema de uma das minhas fadistas favoritas. Nestes contos, encontrei protagonistas que são «tudo ou nada», numa personalidade muito própria, com vidas mais ou menos complicadas. Ainda assim, tal como Gisela João canta «não sabes nada de mim», sinto que fiquei a conhecer muito pouco de cada um deles.


QUANTOS VENTOS NA TERRA, MARIA ISAAC
Infinito, Tomás Adrião & Elisa ▫ Mont-o-Ver e a Herdade do Lago têm histórias infinitas para contar, razão pela qual fui logo transportada para o título desta canção. Além disso, a própria melodia tem um tom misterioso, ligeiramente soturno, tal como os segredos que os nossos protagonistas escondem. «Tudo vai e tudo vem», e a verdade é que «a estrada era sem volta», porque, ao embarcarmos nesta Odisseia das Pequenas Coisas, já não largarmos a mão deste lugar, destas pessoas.


O PARAÍSO SEGUNDO LARS D., JOÃO TORDO
Lamento, Luís Severo ▫ A melodia parece combinar pouco com a carga emocional da narrativa, no entanto, lembrei-me desta música pela ideia do amor perdido, das coisas que vão e não voltam, dos lamentos que dizemos em surdina, enquanto tentamos encaixar as peças do puzzle. E por mais que se tente dar uma volta à vida, voar para outro lugar, há sempre algo que não se esquece.


FABÍOLO, MÁRIO ZAMBUJAL
Bela, Os Alice ▫ Reencontrei-me com Os Alice e senti que o tema em questão fazia sentido por causa dos versos «O amor é isto», «aguardei uma saída para ser alguém» e «tem mais cuidado com a tua companhia». O protagonista, tão sedutor e apaixonado, nem sempre se aliou das pessoas certas e isso teve consequências infelizes. Por outro lado, como há sempre alguém disposto a dar-nos a mão, nem tudo está perdido.


O DESLUMBRE DE CECILIA FLUSS, JOÃO TORDO
Cecilia, Anavitória ▫ Quando comecei a imaginar a protagonista, imaginei-a exatamente assim: melancólica, misteriosa, esquiva. Além disso, há versos desta canção que resumem bem algumas partes da história - «Parece que o tempo todo/A gente nem percebeu» são dois deles -, há um prenúncio de ausência, há um amor em surdina; há a ideia de que alguém escapa por entre as nossas mãos. E, no fim, «o pranto que ameaça».

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- título sugerido pela Ana Ribeiro -


Os gritos são ensurdecedores, mas tentei calá-los na minha cabeça. Fechei os olhos, como se isso me protegesse, como se isso apagasse o que se passa na porta em frente, porque acabaria por desaparecer.

A ausência de uma resposta concreta é clara. Aliás, é engraçado como nos cobrimos de desculpas, para nos apaziguarmos: se ela nunca pediu auxílio, porque teria de ser eu a dar o primeiro passo? Talvez até estivesse a perceber mal! Aquilo que não vemos pode ser deturpado pelos sons que vêm de longe. Talvez fosse isso, talvez estivesse a tecer cenários improváveis, a aumentar uma realidade que me foge do controlo e que nunca se manifestou à minha frente. Mas quando, à noite, a cabeça repousava na almofada, havia uma culpa a aquecer o corpo, porque os gritos persistiam, até que o silêncio cobria, por fim, os vazios que nos separam.

É curioso o jogo que se estende na manipulação e o tanto que se esconde num sorriso construído a charme. Aprendi a reconhecer isso e a permitir que essa imagem me ludibriasse. Nos poucos encontros casuais à porta do prédio, nem um sinal de desalinho, nem o mais pequeno indicativo de paz podre. E quando ela me olhava, nenhum resquício de julgamento se manifestava. Ela sabia-o, pressentia que não lhe podia ser indiferente, mas que o medo era um animal fascinante. E de sorriso baixo, cada um seguiu por um caminho de sombras.

Aceitei o destino, a impotência, a casualidade dos factos., Foi tudo subindo de tom, mas era como se apenas eu fosse capaz de escutar. Por isso, escudei-me ao passar mais tempo fora de casa, a garantir que há sempre uma fuga, que somos nós quem controla o limite da humilhação. No alto da minha sobranceria bacoca, passei a acreditar que só poderia existir um culpado: quem concede poder, quem não impede, quem não faz frente, quem não pode ajuda. Portanto, ao compactuar com o estereótipo, continuei a ser uma parte do problema.

Foi no dia em que abri a porta, que entrei numa espiral de destruição. Tudo o que antes preferi ignorar, passava-se, agora, a um palmo do meu olhar perdido, diminuído, dilacerado. E nos silêncios que sempre gritaram mais alto, nunca houve provas incriminatórias, mas havia um choro que se reconhece à distância. É no rosto vítreo que se identificam os estilhaços. Qual seria a probabilidade de, num espaço contíguo, a história se repetir? Quantas seremos, debaixo dos mesmos tetos, a engolir um conto de fadas envenenado?

Viste-me para além do sufoco e, sem qualquer palavra de conforto, foste um amparo que eu nunca te soube dar. Aliás, que preferi nunca ser. Fomos cúmplices na vergonha, no olhar por cima do ombro, no recuo de um gesto pouco claro. Fomos um espelho e a corrente que nos aprisiona ao chão. As janelas sempre estiveram abertas, mas foi como se existissem grades a impedir a partida, a impedir a doce sensação de liberdade.

Passei a vida toda a perguntar «e se fosse comigo», até ao dia em que deixei de precisar de o fazer.

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«Nada é mais poderoso do que a palavra»


O acolher de novas vozes literárias é algo que me motiva bastante, porque, já sabem, gosto de ir descobrindo os talentos que se escondem por cá (na literatura e não só) e que começam a construir o seu percurso.

Há alturas em que parto sem rede, há outras em que consigo gerir melhor esse desconhecido, caso o autor partilhe a sua escrita em alguma plataforma digital. E é nesta dança harmoniosa que vou abrindo a porta a mais escritores: porque aprecio correr esse risco, ao mesmo tempo que mantenho o conforto de quem já li.

Neste cenário, e centrando-me apenas em autores portugueses, há nomes que me arrebataram de tal maneira, que eu espero que as livrarias se encham de obras da sua autoria. Portanto, sem qualquer exigência (não teria nunca esse direito), mas de coração expectante, aguardo que estes escritores publiquem o seu segundo livro.


Noiserv
Há alguma coisa que não faça bem?

Rita da Nova
É a mulher das palavras e eu só quero abraçar todas as histórias que tem para partilhar.

Lénia Rufino
Foi uma das descobertas mais incríveis e creio que tem tudo para continuar a surpreender.

Inês Fernandes
O primeiro livro, para mim, teve algumas fragilidades, mas gostei bastante da escrita e quero ler mais.

Miguel Jesus
Foi outra surpresa muito interessante e tenho curiosidade em saber que outras narrativas nos reservará.

Guilherme Fonseca
O olhar cómico, cheio de ritmo e pertinência do primeiro livro (a solo) deixou-me com vontade de ler mais - também sou #TeamGui e isso pode fazer toda a diferença nesta vontade.

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«Tudo repousa no silêncio»


Os meus livros são organizados por autor, independentemente do género que escreveram, mas tenho procurado manter os de poesia todos juntos, talvez para me relembrar do quanto ainda tenho por explorar.

Embora continue a assumir que o meu peito pensa em verso, as leituras dentro deste universo permanecem escassas. Mas, sempre que me perco num novo exemplar de poesia, é como se transcendesse para aquele tipo de silêncio que conversa tanto connosco, que parece mostrar tão pouco e, afinal, mostra o mundo inteiro - sobretudo, o que vem de dentro, num dialeto visceral, que nos encaminha para uma experiência intimista.

Curiosamente, sinto-me sempre um pouco à deriva, quando a intenção é escrever sobre livros do género, porque sinto que me faltam ferramentas para analisar em pleno e porque, sendo das leituras mais pessoais, a mensagem chega-nos com distintas roupagens, quase como se estivéssemos a ler obras distintas - talvez por isso opte por me centrar mais em todas as sensações que despertou em mim e não tanto na parte formal.

Foram três os últimos exemplares poéticos que descobri e é sobre eles que venho conversar.


PARA QUE O FOGO ACONTEÇA, FILIPE HOMEM FONSECA


Um livro que é uma estrada: para fugir ou para voltar aos lugares que conhecemos de cor. Foi a minha estreia no autor e gostei bastante do jogo de palavras, de sons e de imagens; e da maneira como conseguiu equilibrar as profundezas da alma humana com as suas banalidades. Comum a todos estes poemas há uma chama e uma vontade imensa de algo, e nós somos levados nesse embalo.

«três candeias e uma vontade néscia
de te descobrir num sopro, de fora»

🎧 Música para acompanhar: Estrada, Pedro Mafama


A ESTRADA PARA FIROPÓTAMOS, FILIPA LEAL


Avisos de Conteúdo: Referência a Suicídio

Firopótamos é um lugar de Milos, na Grécia. E este livro é um longo poema a Ítaca, à viagem que acompanhamos pelos versos da poeta. Com vários pormenores dessa travessia, é como se estivéssemos ao seu lado. Confesso que não me arrebatou, mas é sempre interessante descobrir a forma como tece memórias.

«Deve ser o sol, que ali ensina a cair»

🎧 Música para acompanhar: Adeus, Até Mais Ver, Homem ao Mar

📖 Da mesma autora, li e recomendo: Fósforos e Metal Sobre Imitação de Ser Humano, Vem à Quinta-Feira e A Rapariga Já Não Gosta de Brincar


OS PÁSSAROS, AFONSO CRUZ


Um livro absolutamente amoroso! Fico sempre fascinada com a maneira como Afonso Cruz brinca com os termos (em prosa e em poesia) e com a sua capacidade para os tornar tão visuais, transportando-nos para o cenário e/ou para a situação descritos. E as ilustrações? Lindíssimas. Lê-se num sopro, mas leva-nos por várias interpretações de um tema comum. E com um vínculo à Natureza, também eu acreditei que podia voar.

«Os melhores homens
Têm ombros em vez de gaiolas»

🎧 Música para acompanhar: Os Pássaros Quando Morrem Caem no Céu, Madredeus

📖 Do mesmo autor, dentro do género, li e recomendo: O Livro do Ano e Paz Traz Paz

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«Uma boa leitura é terapia para a alma»


A maior parte das minhas leituras é de exemplares únicos. Quando refiro únicos, neste caso, é pelo facto de serem histórias sem continuação, no entanto, há alturas em que embarco numa viagem de várias partes.

Visto que gostava de viver mais tempo em certos enredos, apostar em trilogias/sagas permite-me isso mesmo. E uma tendência que mantenho é a de querer comprar logo todos os volumes, para, quando iniciar a leitura, transitar entre eles sem esperas. Se isto é um risco? É, claro, mas existem coisas piores na vida de um leitor.

Como a lista de desejos livrólicos é interminável, reservei algum tempo para pensar nesta categoria e fui registar as trilogias/sagas que tenho cá em casa para terminar e quais as que pretendo, no futuro, começar.


PARA TERMINAR

Série Afonso Catalão
Fiquei rendida à escrita do Nuno Nepomuceno. Já li a maior parte da série - e podem ler a minha opinião sobre a mesma aqui -, mas ainda me falta descobrir o último exemplar: A Nova Judia (Feira do Livro, conto contigo).

Trilogia dos Lugares Sem Nome
João Tordo é um dos meus autores de eleição e, por isso, estou a recuar aos títulos mais antigos, porque quero ler tudo dele. Desta trilogia, li o primeiro livro - O Luto de Elias Gro - e tenho os outros dois na TBR deste mês: O Paraíso Segundo Lars D. (que comecei no fim de semana) e O Deslumbre de Cecilia Fluss.

Trilogia Paternidades Falhadas
Valério Romão foi um nome descoberto por acabo, mas ao ler Autismo (o primeiro volume desta trilogia) rendi-me à maneira como conta histórias. Como foi um dos autores que escolhi para a edição mais recente do Alma Lusitana, conto ler O da Joana e Cair Para Dentro em setembro.

Neste capítulo, também vou incluir a segunda parte de Eliete, de Dulce Maria Cardoso, que ainda não existe, mas que aguardo com muita expectativa, e a Enciclopédia da Estória Universal, de Afonso Cruz: dos títulos publicados, até ao momento, só me falta um, porém, creio que é uma série para continuar por tempo indefinido.


PARA COMEÇAR

Obra Completa de Maria Judite de Carvalho
É uma das autoras de junho, no Alma Lusitana, e estou desejosa de começar esta travessia. Não tenho os exemplares todos, mas tratarei disso a seu tempo, porque estou mesmo curiosa para ler todos os seus contos.

Trilogia Freelancer
Nuno Nepomuceno tinha de aparecer novamente, porque quero continuar a descobrir a sua obra. Com uma edição revista, esta trilogia é composta por O Espião Português, A Espia do Oriente e A Hora Solene.

Série Mortal
Ando há imenso tempo para me cruzar com a escrita do Bruno M. Franco, por isso, esta série continua a figurar na minha lista de desejos. Até à data, Segredo Mortal e Jogo Mortal são os dois títulos que a compõem.

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Uma viagem literária para descobrirmos os nossos autores


O sexto mês do ano aproxima-se - como assim? -, por esse motivo, regresso a esta gaveta para anunciar mais dois autores do Alma Lusitana. De um lado, tenho uma escritora portuguesa que será uma estreia para mim e, do outro, tenho um escritor cuja forma de construir narrativas me deixou com vontade de descobrir mais.


MARIA JUDITE DE CARVALHO

O seu percurso literário divide-se por contos, novelas e crónicas, maioritariamente, mas também conta com uma peça de teatro e um livro de poesia. Além disso, «trabalhou nos periódicos Diário de Lisboa, Diário Popular, Diário de Notícias e O Jornal». Viveu em França, na Bélgica e em Lisboa, foi «várias vezes galardoada» e é considerada uma das vozes femininas mais importantes da literatura nacional do século XX.

      

         

«A presente coleção reúne a obra completa de Maria Judite de Carvalho (...) Herdeira do existencialismo e do nouveau roman, a sua voz é intemporal, tratando com mestria e um sentido de humor único temas fundamentais, como a solidão da vida na cidade e a angústia e o desespero espelhados no seu quotidiano anónimo. Observadora exímia, as suas personagens convivem com o ritmo fervilhante de uma vida avassalada por multidões, permanecendo reclusas em si mesmas, separadas por um monólogo da alma infinito».



Felizmente as Árvores são Grandes: «A autora escreveu, sob pseudónimo, cerca de 30 poemas infantis. São essas três dezenas de poemas, a maioria deles inéditos, que juntamos nesta edição brilhantemente ilustrada por Cátia Vidinhas e onde se inclui a digitalização dos textos originais».


RODRIGO GUEDES DE CARVALHO

Natural do Porto, é uma cara conhecida do jornalismo nacional. Na literatura, estreou-se em 1992 e, para além da ficção (que já lhe valeu alguns prémios), também assinou dois argumentos cinematográficos e uma peça de teatro. «Elogiado pela crítica, foi considerado uma das vozes mais importantes da nova literatura portuguesa».

      

Canário: «Confia nas grades. Aproxima-te. Vou-te contar.
Vá lá, aproxima-te, leitor. E tu, leitora. Não tenhas medo. Estou preso vai para três anos. Não vês as grades? Não te consigo tocar. Receias sequer olhar-me? Então escuta só, vou contar-te do escritor conceituado. Soube agora que sou seu filho. Não se lembra sequer da minha mãe, não sabia de mim. Recompôs-se, aceita-me, vem-me buscar. Vai-me conseguir a liberdade. É famoso, influente, já viste a minha sorte? Se me ouvires, vais saber que a mulher dele nem sonha que existo, vais ver o neto autista que ele finge não ver. Mais o padre que se dedicou a mim na prisão, que acredita que ainda vou a tempo, que jurou que não me deixa apodrecer aqui. O padre que me perdoa o crime horrível. Sim, o crime. Mas não te assustes. Não te afastes agora».

O Pianista de Hotel: «É uma entrada para um mundo regido pela linguagem da música, pela sua força e beleza, presentes no ritmo de cada frase, de cada parágrafo rigorosamente medido. Livro em camadas, nele se cruzam diversos planos, diversas histórias perpassadas pelo poder redentor da música que entra e rasga, a solidão, a dor e o vazio das pessoas que habitam nestas páginas. Com um vasto subtexto, a densidade das personagens está carregada de mistérios que nos prendem a sucessivas interrogações».

Jogos de Raiva: «Um homem levanta a voz acima da algazarra de conversas. E pede que ponham mais alto o som do televisor do restaurante. É então que todos reparam no que ele vê. Não percebem ou não acreditam. E na rua, no bairro, na cidade, no país, homens, mulheres e crianças vão-se calando. Está por todo o lado, a imagem horrível e hipnotizante. O homem que pediu silêncio leva as mãos à cara e pensa: como chegámos aqui?»


      

Margarida Espantada: «(...) 
é sobre família. Sobre irmãos. É sobre violência doméstica e doença mental. É um efeito dominó sobre a dor».

Daqui a Nada: «Pedro arrasta consigo a mágoa incómoda de não ter tido com o pai a relação que gostaria. Por sua vez, nunca teve tempo para ser pai, ou não soube sê-lo. Regressado da guerra colonial, e tendo descoberto que a mulher, julgando-o morto, o traíra com um amigo, decide abandonar tudo, incluindo a filha, a quem nunca mais procurou. Agora, volvidos dez anos, recorda aquilo que lhe dói ter abandonado e a que deseja regressar».

Mulher em Branco: «Uma criança desaparece. Estava à guarda do pai. O choque da notícia atira a mãe para um abismo de amnésia. Sem memória, é incapaz de chorar um filho que não sabe que tem. Como podemos continuar a viver se caminhamos vazios? E há um homem que arranja uma amante enquanto visita a mulher no hospital. Ladrões que roubam cinzas de uma morta. Há as maldades desumanas do amor, um sopro pérfido que o diabo sussurra aos ouvidos. Em fundo, a irracional violência do divórcio. A bestialidade das palavras que atiramos uns aos outros como pedras. Uma mulher que espera ainda e sempre, à janela. Porque o coração é um bicho e não ouve. E uma pergunta a que não se ousa responder: Para onde vão os amores que foram um dia?»


   

Cuidado Com o Cão: «Em plena pandemia, um médico reformado está confinado na casa onde vive só, atormentado por recordações dolorosas, quando lhe bate à porta uma mulher que ele nunca viu, mas que garante conhecê-lo bem. Duas irmãs que nunca se separaram um único dia caem num inesperado abismo e, por causa de um incidente, passarão sete anos sem se ver. E quatro cães desempenham papéis importantes nas vivências das personagens principais, cujas vidas acabam por se cruzar da forma mais inesperada».

A Casa Quieta: «Passado em três décadas, centra-se na vida de três personagens: uma mulher, Mariana, professora; o seu marido, Salvador, arquitecto; e o irmão do marido, António, ex-combatente da guerra colonial que tenta lidar com os seus traumas. Os três revezam-se para contar a história desta família. Numa casa, quieta por opção, demasiado quieta pelo destino. Um profundo retrato da vida conjugal, do amor e dos afectos, da doença e da ausência».

Li e recomendo: Margarida Espantada

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andreia morais

andreia morais

O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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