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Fotografia da minha autoria |
«Quem diz que o livro não tem voz é porque nunca
para a prestar atenção ao que ele tem a dizer»
A diversidade é fascinante, sobretudo, por desbravar tantos caminhos. No que diz respeito às nossas opiniões, essa multiplicidade é um espelho da fase em que estamos, da maturidade que abraçamos e até das emoções que nos impulsionam. E sendo sempre tão individual, é natural que possamos divergir em inúmeros cenários.
No manuscrito Quero Morrer, Mas Também Quero Comer Tteokbokki, Baek Sehee transcreveu uma das consultas de psiquiatria onde conversou (e perdoem-me o possível spoiler) sobre o que sentiu no momento em que uma amiga lhe disse que não tinha gostado do livro que ela lhe emprestou. Isto fez soar um alarme em mim, porque é impressionante a «extrema influência» que estes pareceres têm no nosso «estado de espírito».
GERIR CRÍTICAS NEGATIVAS
Qualquer leitor, de um ponto de vista racional, compreende que nenhuma história é sentida da mesma maneira e que é válido gostarmos mais de umas do que de outras. Assim, cruzamo-nos com pessoas cuja experiência de leitura é semelhante à nossa e com pessoas a manifestar uma opinião contrária. Repito, racionalmente, nós sabemos e, inclusive, defendemos isso, a questão é que o ato de ler nunca será apenas movido pela razão.
O lado emocional pesa bastante, porque é o vínculo que estabelecemos com os livros e os autores que se tornam casa. Portanto, na gestão de críticas, não é descabido que nos sintamos melindrados, quando as mesmas não são favoráveis. Claro que isso não justifica sermos inflexíveis, rudes, amplamente desagradáveis com os outros, porque é crucial termos respeito e poder de encaixe, mas é duro ter esse retorno de realidade.
Há narrativas que nos transformam, há escritas que nos embalam, há personagens que se colam à nossa pele. Perceber que esse laço passa ao lado de alguém mexe connosco. Por vezes, até parece impossível estarmos a falar da mesma obra literária, tendo em conta os sentimentos antagónicos que desperta, no entanto, a beleza da partilha também é essa. Apesar disso, sejamos honestos, ninguém gosta que falem mal do/de que/quem tem tanto significado para si - sejam pessoas, músicas, lugares, livros. Isso não implica não aceitar opiniões opostas, só demonstra que há algo que nos incomoda e que continuaremos a defender as nossas paixões.
NÃO É UM ATAQUE PESSOAL
Creio que o mais importante desta dinâmica é entender que isto não é, de todo, um ataque pessoal. Não apreciarem os nossos autores ou os nossos livros favoritos não é sinónimo de não gostarem de nós, nem sequer é uma tentativa de nos diminuírem. Não há, aqui, uma relação indissociável, portanto, temos de aprender a filtrar e a desenvolver estratégias que nos permitam não encarar os comentários como uma afronta.
Claro que me custa, por exemplo, ler que alguém considera um livro de Afonso Cruz uma seca ou que a escrita do MEC é monótona ou que reviraram os olhos a ler a história da Rita da Nova, mas nenhum desses comentários belisca o elo que estabeleci com eles. Queremos muito que a mensagem que fez morada em nós chegue aos outros, que os acolham com a mesma emoção que nós, que quase os respirem no mesmo compasso que o nosso peito, mas isso não acontecerá sempre, e não há algo de errado. Independentemente das opiniões negativas que venham a receber, continuarão a ser favoritos de vida - com o mesmo entusiasmo.
Somos leitores a dar voz ao que nos inspira. Não temos de concordar, só temos de aceitar que, enquanto seres autónomos, não estaremos sempre em sintonia, é isso que mantém o mundo em movimento, em perfeito equilíbrio. E todos nós, em algum momento, acabaremos a distanciar-nos do livro/autor favorito de alguém.
12 Comments
As críticas negativas são muito importantes. É verdade que por vezes custa a aceitar que uma pessoa não gostou da nossa história, que lhe encontra falhas e inconsistências, mas isso só nos faz amadurecer e querer melhorar.
ResponderEliminarObrigada por esta reflexão, minha querida.
Beijinho grande!
Quando bem feitas, as críticas são mesmo importantes. Lá está, porque nos permitem evoluir e pensar em contextos que podiam nem nos ter surgido
EliminarEu deixo-os falar, principalmente aqueles que falam sem pensar, vale para tudo. Se falam sem saber o que estao a dizer, entao nao sabem mesmo o que estao a perder ;)
ResponderEliminarQuando é esse o caso, o silêncio é mesmo a melhor resposta. Mas acho muito saudável discutirmos pontos de vistas contrários, entre quem gostou de um livro e quem não gostou, porque nos mostra outros contextos e acaba por nos enriquecer. No fim, sem procurarmos impor a nossa verdade, cada um continuará com a sua opinião e está tudo bem
EliminarAs criticas são importantes quando construtivas. O pior é quando aparecem aquelas crititcas gratuitas e maldosas.
ResponderEliminarBoa semana!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Concordo totalmente, Isa. Tudo o que seja com o intuito de nos enriquecer, é maravilhoso, quando as pessoas perdem um certo discernimento e a crítica só é feita para magoar, perde-se o propósito
EliminarObrigada e igualmente!
O livro é sempre um degrau
EliminarDepende sempre das fontes.
Pode abrir os horizontes
Ou levar-nos a um perau.
Quer seja bom ou se mau.
Eu sou um humilde escritor
Que escrevo tendo o pudor
De conduzir a um caminho
De luz, não abismo ou ninho
De cobras que causam horror.
Abraço fraterno. Parabéns pela postagem. Laerte.
Muito obrigada pela sua partilha!
EliminarAcho que nunca devemos deixar de falar o que pensamos de algo que acabamos por ler, mas acho que depende muito do que acabam por dizer, porque há gente que as vezes só sabe criticar o outro
ResponderEliminarBeijinhos
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Também acho que sim, não devemos deixar de expressar a nossa opinião, desde que a mesma seja feita com respeito. Pontos de vista opostos existirão sempre e é saudável debatê-los, é saudável conversar e discutir sobre gostos diferentes, não pode é existir imposição de parte a parte
EliminarCurioso como nunca me senti particularmente melindrada pelo facto de não gostarem do mesmo livro do que eu, mas já me ter sentido atacada noutras áreas em que não sentiam, viam, apreciavam uma obra artística como eu .... Ao ler a tua meditação, arrisco-me a dizer que do meu lado - e possivelmente comum a todos nós -, essa divergência de gostos faz com que, num ponto da nossa insegurança, nos sintamos excluídos de uma tribo, sozinhos na nossa jornada, descrentes do poder da nossa opinião... Por consequência, isso causa um desconforto imenso, sobretudo se não aprendermos a ficarmos confortáveis na nossa pele, com as nossas visões, seguros e confiantes de que está tudo okay, e até é normal, cada um ter a sua.
ResponderEliminarLá porque não gostam do mesmo livro, série, artista, não quer dizer que seja mais certo/errado/interessante para qualquer um de nós... Significa, apenas, que somos singulares nisso, também! 🤗
Beijocassss,
Lyne, Imperium Blog
Quando gostamos de um determinado conteúdo ou de um determinado artista, estabelecemos sempre um vínculo emocional e acho que é por isso que, depois, nos custa um pouco a ler e/ou a ouvir críticas negativas sobre os mesmos. Isso não quer dizer que não respeites a visão das outras pessoas, apenas gostavas que outras pessoas vissem aquilo que tu vês ou que sentisses aquilo que tu sentes, porque aquilo que o artista te transmite deixa marcas.
EliminarSim, isso também é verdade, acabas por sentir que estás sempre do outro lado da margem. E, enquanto não aprendes a gerir e a aceitar que todos temos visões diferentes, que o retorno é sempre singular, esse desconforto é palpável. Mas é um processo que se vai tornando cada vez mais intuitivo, creio, à medida que cresces e que te conheces melhor.
E que bem que é existir essa singularidade, porque nos mostra muitas perspetivas do mundo