ALMA LUSITANA: OS AUTORES DE JUNHO

Fotografia da minha autoria



Uma viagem literária para descobrirmos os nossos autores


O sexto mês do ano aproxima-se - como assim? -, por esse motivo, regresso a esta gaveta para anunciar mais dois autores do Alma Lusitana. De um lado, tenho uma escritora portuguesa que será uma estreia para mim e, do outro, tenho um escritor cuja forma de construir narrativas me deixou com vontade de descobrir mais.


MARIA JUDITE DE CARVALHO

O seu percurso literário divide-se por contos, novelas e crónicas, maioritariamente, mas também conta com uma peça de teatro e um livro de poesia. Além disso, «trabalhou nos periódicos Diário de Lisboa, Diário Popular, Diário de Notícias e O Jornal». Viveu em França, na Bélgica e em Lisboa, foi «várias vezes galardoada» e é considerada uma das vozes femininas mais importantes da literatura nacional do século XX.

      

         

«A presente coleção reúne a obra completa de Maria Judite de Carvalho (...) Herdeira do existencialismo e do nouveau roman, a sua voz é intemporal, tratando com mestria e um sentido de humor único temas fundamentais, como a solidão da vida na cidade e a angústia e o desespero espelhados no seu quotidiano anónimo. Observadora exímia, as suas personagens convivem com o ritmo fervilhante de uma vida avassalada por multidões, permanecendo reclusas em si mesmas, separadas por um monólogo da alma infinito».



Felizmente as Árvores são Grandes: «A autora escreveu, sob pseudónimo, cerca de 30 poemas infantis. São essas três dezenas de poemas, a maioria deles inéditos, que juntamos nesta edição brilhantemente ilustrada por Cátia Vidinhas e onde se inclui a digitalização dos textos originais».


RODRIGO GUEDES DE CARVALHO

Natural do Porto, é uma cara conhecida do jornalismo nacional. Na literatura, estreou-se em 1992 e, para além da ficção (que já lhe valeu alguns prémios), também assinou dois argumentos cinematográficos e uma peça de teatro. «Elogiado pela crítica, foi considerado uma das vozes mais importantes da nova literatura portuguesa».

      

Canário: «Confia nas grades. Aproxima-te. Vou-te contar.
Vá lá, aproxima-te, leitor. E tu, leitora. Não tenhas medo. Estou preso vai para três anos. Não vês as grades? Não te consigo tocar. Receias sequer olhar-me? Então escuta só, vou contar-te do escritor conceituado. Soube agora que sou seu filho. Não se lembra sequer da minha mãe, não sabia de mim. Recompôs-se, aceita-me, vem-me buscar. Vai-me conseguir a liberdade. É famoso, influente, já viste a minha sorte? Se me ouvires, vais saber que a mulher dele nem sonha que existo, vais ver o neto autista que ele finge não ver. Mais o padre que se dedicou a mim na prisão, que acredita que ainda vou a tempo, que jurou que não me deixa apodrecer aqui. O padre que me perdoa o crime horrível. Sim, o crime. Mas não te assustes. Não te afastes agora».

O Pianista de Hotel: «É uma entrada para um mundo regido pela linguagem da música, pela sua força e beleza, presentes no ritmo de cada frase, de cada parágrafo rigorosamente medido. Livro em camadas, nele se cruzam diversos planos, diversas histórias perpassadas pelo poder redentor da música que entra e rasga, a solidão, a dor e o vazio das pessoas que habitam nestas páginas. Com um vasto subtexto, a densidade das personagens está carregada de mistérios que nos prendem a sucessivas interrogações».

Jogos de Raiva: «Um homem levanta a voz acima da algazarra de conversas. E pede que ponham mais alto o som do televisor do restaurante. É então que todos reparam no que ele vê. Não percebem ou não acreditam. E na rua, no bairro, na cidade, no país, homens, mulheres e crianças vão-se calando. Está por todo o lado, a imagem horrível e hipnotizante. O homem que pediu silêncio leva as mãos à cara e pensa: como chegámos aqui?»


      

Margarida Espantada: «(...) 
é sobre família. Sobre irmãos. É sobre violência doméstica e doença mental. É um efeito dominó sobre a dor».

Daqui a Nada: «Pedro arrasta consigo a mágoa incómoda de não ter tido com o pai a relação que gostaria. Por sua vez, nunca teve tempo para ser pai, ou não soube sê-lo. Regressado da guerra colonial, e tendo descoberto que a mulher, julgando-o morto, o traíra com um amigo, decide abandonar tudo, incluindo a filha, a quem nunca mais procurou. Agora, volvidos dez anos, recorda aquilo que lhe dói ter abandonado e a que deseja regressar».

Mulher em Branco: «Uma criança desaparece. Estava à guarda do pai. O choque da notícia atira a mãe para um abismo de amnésia. Sem memória, é incapaz de chorar um filho que não sabe que tem. Como podemos continuar a viver se caminhamos vazios? E há um homem que arranja uma amante enquanto visita a mulher no hospital. Ladrões que roubam cinzas de uma morta. Há as maldades desumanas do amor, um sopro pérfido que o diabo sussurra aos ouvidos. Em fundo, a irracional violência do divórcio. A bestialidade das palavras que atiramos uns aos outros como pedras. Uma mulher que espera ainda e sempre, à janela. Porque o coração é um bicho e não ouve. E uma pergunta a que não se ousa responder: Para onde vão os amores que foram um dia?»


   

Cuidado Com o Cão: «Em plena pandemia, um médico reformado está confinado na casa onde vive só, atormentado por recordações dolorosas, quando lhe bate à porta uma mulher que ele nunca viu, mas que garante conhecê-lo bem. Duas irmãs que nunca se separaram um único dia caem num inesperado abismo e, por causa de um incidente, passarão sete anos sem se ver. E quatro cães desempenham papéis importantes nas vivências das personagens principais, cujas vidas acabam por se cruzar da forma mais inesperada».

A Casa Quieta: «Passado em três décadas, centra-se na vida de três personagens: uma mulher, Mariana, professora; o seu marido, Salvador, arquitecto; e o irmão do marido, António, ex-combatente da guerra colonial que tenta lidar com os seus traumas. Os três revezam-se para contar a história desta família. Numa casa, quieta por opção, demasiado quieta pelo destino. Um profundo retrato da vida conjugal, do amor e dos afectos, da doença e da ausência».

Li e recomendo: Margarida Espantada

Comentários

  1. Tenho muita curiosidade com a obra do Rodrigo Guedes de Carvalho, nunca li nada dele.
    Vou acrescentar a tua sugestão à lista.
    Beijinho grande, minha querida.

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    1. Só li Margarida Espantada e fiquei fascinada com a sua forma de construir as narrativas - e com a escrita também.

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  2. Tenho muita curiosidade em conhecer a escrita do RGdC e tambem fiquei interessada na autora Maria Judite de Carvalho :) Boas leituras *.*

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    1. Estou desejosa de ler Maria Judite de Carvalho, pois só leio críticas maravilhosas. Do Rodrigo Guedes de Carvalho, como partilhei com a Ana, só li Margarida Espantada e fiquei cheia de vontade de ler mais

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  3. Me parece ser mais uma otima sugestão para conhecer
    Beijinhos
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    Tem Post Novos Diariamente

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