ESTANTE CÁPSULA ◾
MAR ALTO, CALEB AZUMAH NELSON
Fotografia da minha autoria |
«Uma história de amor bela, moderna e poderosa»
Avisos de Conteúdo: Referência a Morte e Ausência Parental; Preconceito, Racismo, Violência
O abrir de portas para os nossos sentimentos é complexo, porque nem sempre criamos um acesso direto para esse ambiente, porque geri-los nunca é linear, porque, quando não sabemos o que nos bate no peito, torna-se complicado ser-se - ou estar-se - sereno nas relações que estabelecemos com os outros - mais ou menos próximos. E é sobre esse emaranhado de emoções que refletimos no livro de Caleb Azumah Nelson.
UM PROCESSO DE DESCOBERTA
Mar Alto apresenta-nos dois jovens afrodescendentes britânicos que se conhecem num bar, em Londres. A sintonia é imediata, sobretudo, quando percebem que são ambos artistas - ele, fotógrafo; ela, dançarina - a tentar deixar a sua marca no mundo, enquanto se soltam das amarras de uma sociedade que ainda segrega.
«O olhar dispensa palavras; é um encontro honesto»
A narrativa parece uma dança lenta e sedutora, ora envolvente, ora esquiva, fazendo-nos rodopiar por uma série de questões que nos moldam na nossa humanidade, que nos obrigam a sair da nossa bolha e a compreender que nem todos sabemos o que é sair de casa a desconhecer como voltaremos, porque somos colocados num perfil único e correspondemos sempre «à descrição». Embora preferisse que os episódios de racismo tivessem outra contextualização e surgissem com outra fluidez, é interessante perceber como é que afetam o protagonista, como é que minam os elos que tenta criar; como é que o trauma é tão limitativo.
«Não podemos viver no vazio. E quando deixas entrar outras pessoas, tornas-te vulnerável,
porque elas podem ter um efeito sobre ti. Não sei se isto faz algum sentido»
Em simultâneo, esta história é sobre amor, sobre tudo aquilo que não controlamos e sobre o quanto podemos perder por não comunicarmos. Mas há tanto que é dito no silêncio. Nós acompanhamos dois jovens a apaixonarem-se cautelosamente, a pesarem os riscos dessa envolvência, a debaterem-se com o problema de não transporem certas barreiras, a cuidarem um do outro, e isso é tão honesto, que nos deixamos ir no enlaço. Por outro lado, foi fascinante ver a preocupação para que nada mudasse, sabendo que tanta coisa mudaria.
«Como é que se articula um sentimento?»
É por tudo isto que, para mim, este livro tem tanto de belo, como de triste. Sei que a escrita na segunda pessoa foi um entrave para algumas pessoas, mas foi das características que mais me cativou, pela sua cadência poética e sensível, por nos permitir ler de uma perspetiva externa e, no entanto, que parece falar diretamente connosco, como se fossem nossos aqueles gestos, aquelas dúvidas, aqueles diálogos. E, assim, acabei por sentir cada traço de vulnerabilidade, do medo, das cicatrizes e da vontade de permanecer à tona.
«(...) se insistires, dirias que ela cheira a um lugar a que chamas casa»
Mar Alto leva-nos nas suas oscilações, no conforto do que é comum, neste retrato extraordinário sobre uma relação de amizade profunda, sobre violência e sobre tentar ser para além das experiências que nos traumatizam. Nesta carta de amor lindíssima, sem pudor da fragilidade, o final desarmou-me por completo.
🎧 Música para acompanhar: Could Heaven Ever Be Like This, Idris Muhammad
Fiquei curiosa com esta narrativa, acho que iria gostar.
ResponderEliminarVou levar a sugestão.
Beijinho grande, minha querida!
É maravilhoso, minha querida. Parece que estamos a ler um longo poema
EliminarAcredito que seja um bom livro de ler
ResponderEliminar.
Saudações cordiais e poéticas.
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Bastante, Ricardo!
EliminarUma excelente quinta-feira
Obrigada pela partilha!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Agradeço pelo retorno 😊
EliminarMais uma excelente sugestão com temas bem interessantes. Muito obrigada pela partilha *.*
ResponderEliminarAconselho imenso este livro *-*
EliminarQue acaba mesmo por ser mais uma excelente sugestão para conhecer
ResponderEliminarBeijinhos
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É mesmo, Sofia
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