ALMA LUSITANA
OBRAS COMPLETAS VOLUMES I E II,
MARIA JUDITE DE CARVALHO

Fotografias da minha autoria



«Uma das escritoras mais marcantes da literatura portuguesa»


O nome passou despercebido a maior parte da minha vida e, agora que o descobri, questiono-me como é que não é uma figura constante, quando se debate literatura, questiono-me como é que nas minhas aulas de português não me mostraram o mundo que é Maria Judite de Carvalho.

Se a memória não me falha, foi com uma partilha da Sofia (@ensaiosobreodesassossego) que percebi que teria de incluir esta autora na lista do Alma Lusitana, porque as palavras foram tão francas e convincentes, que fiquei com vontade de experienciar as mesmas sensações, as mesmas emoções, o mesmo nível de identificação que a transformasse numa autora-casa.

No total, foram publicados seis volumes destas Obras Completas e eu li os dois primeiros - tenho, ainda, o quinto na tbr, mas acho que vou querer ler por ordem. Embora sejam exemplares independentes, há linhas transversais: uma delas é sentir que, pela forma como borda os seus contos, poderia(mos) ser uma das suas personagens; outra é a elegância com que descreve a dor, a realidade, a falta de equidade. Além disso, continuam a ser textos bastante atuais, com tudo o que isso tem de maravilhoso e angustiante.

Há um mundo antes e depois de ler Maria Judite de Carvalho, pensamento da Sofia que eu corroboro na integra. Quero muito continuar entranhada nesta escrita que consegue ser intima, comovente e sempre verdadeira. É extraordinário como diz tanto com tão pouco.


OBRAS COMPLETAS VOLUME I


«Sinto-me só, mais do que nunca, ainda que sempre o tivesse estado»

Avisos de Conteúdo: Morte, Referência a Aborto, Suicídio, Rapto


O mundo é um lugar barulhento, por todos os diálogos que ecoamos no tempo, com as pessoas que nos rodeiam, com aqueles que chegam de novo e nos dão perspetiva. Mas, mesmo assim, sabendo que nos incluímos num mar de gente, não é descabido sentirmo-nos sós.

«A minha vida é como um tronco a que foram secando todas as folhas 
e depois, um após outro, todos os ramos. Nem um ficou»

Passei uma vida inteira sem me cruzar com Maria Judite de Carvalho, como o referi anteriormente, mas já assumi a missão de me redimir, porque a sua escrita conquistou-me na primeira frase. Há muita angústia nas suas palavras, há solidão, há saudade, há poesia. Nos seus contos, existe, sobretudo, uma ponte para vidas comuns, para uma realidade que, descrita há tantos anos, permanece atual. E é nesta certeza que acompanhamos as mágoas da mulher portuguesa, «os brandos costumes da hipocrisia moral salazarista» e a quantidade de vezes que, espantem-se, as vontades femininas são invisíveis e substituídas por caprichos masculinos - e como é que se perpetuam padrões sociais.

«Os seus olhos pareciam de repente vazios de olhar»

Há, nestas páginas, uma solidão e uma tristeza partilhadas e é maravilhoso perceber que a literatura tem a capacidade de nos abraçar desta maneira. Além disso, mostra-nos que existe uma certa beleza na melancolia.


🎧 Música para acompanhar: Mariana, Mariana, Maria Bethânia


OBRAS COMPLETAS VOLUME II


«Nós habituamo-nos a tudo, minha senhora, até a sermos desnecessários»

Avisos de Conteúdo: Referência a Morte; Saúde Mental


A solidão é o fio que agrega cada personagem, é a porta que se abre e que nos recebe nas suas vidas - ou serão as nossas vidas ali espelhadas?

«As coisas que não foram ditas deixam um desagradável sentimento de frustração»

Com uma escrita melancólica, irrepreensível, que se foca «nas gentes portuguesas», Maria Judite de Carvalho divaga sobre problemas reais, sobre momentos de angústia, de desassossego e de tristeza; mas também descreve a mágoa, os pequenos raios de felicidade e os debates internos que nos mostram tantos mundos, expondo o nosso lado mais sombrio. Como plano de fundo, encontramos, ainda, «os cativos resignados», os desamores, os estereótipos e mulheres que se distanciam daquilo que é socialmente aceite.

«A sua alma, se alma havia, estava longe; o seu corpo, nem queria pensar nisso»

Neste volume, dividido em dois contos e uma novela, há uma ideia que também me parece transversal: a falta de pertença, como se estas personagens sentissem que não há lugar para elas.


🎧 Música para acompanhar: Lugar Vazio, Aline Frazão

10 comments

  1. Estou a ouvir falar desta autora pela primeira vez e fiquei curiosa só de ler o que escreveste.
    Vou levar a sugestão para conhecer.
    Obrigada pela partilha.
    Boa semana, minha querida. Beijinho grande.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se tiveres oportunidade, aconselho imenso a leitura. A forma como escreve sobre as situações mais mundanas é extraordinária
      Obrigada e igualmente, minha querida

      Eliminar
  2. Fiquei bastante curiosa com estas sugestoes :) Muito obrigada pela partilha, minha querida *.*

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Estou encantada com a escrita da autora! Obrigada pelo retorno, minha querida

      Eliminar
  3. Hum, que é mesmo a primeira vez que ouvi falar, mas me parece ser uma boa opção para conhecer
    Uma boa semana
    Beijinhos
    Novo post
    Tem Post Novos Diariamente

    ResponderEliminar
  4. Oi Andreia, adorei a ideia do "música pra acompanhar", dá toda uma ambientação! Gostei bastante da ideia das obras e as capas são um charme a parte.

    Abraços!
    https://barbaradoblog.com/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Bárbara, bem-vinda às gavetas :)
      Foi um apontamento que quis incluir nas leituras deste ano e, assim, criar uma playlist. Confesso que me tenho divertido imenso no processo de associar o livro a uma música.
      Verdade, tudo nestes livros é um charme

      Eliminar