ESTANTE CÁPSULA JUKEBOX (6)

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A banda sonora de uma viagem literária


Liberdade, tristeza, autodescoberta, perda, quebra de estereótipos, vazio, intimidade. Creio que estes poderiam ser os termos-chave para descrever a banda sonora literária de junho, até porque se alinham com os manifestos das várias narrativas. Foram leituras muito ricas e as canções vieram acompanhar essa tendência.


A IMPORTÂNCIA DO PEQUENO-ALMOÇO, FRANCISCA CAMELO
Nome de Mulher, Ana Magalhães ▫ O livro da Francisca Camelo ramifica-se naquilo que é ser mulher, no quanto a sua voz continua a ser invisível, ainda que haja tanto na sociedade que dependa de si. Na música da Ana Magalhães, temos uma mulher que se faz ouvir e que se recusa a sucumbir. Portanto, quando concluí a leitura, senti que a canção encaixava muito bem nos poemas, porque, mesmo que existam tantos obstáculos, tantas tentativas de limitar a liberdade feminina, a mulher continua aqui, a resistir.


GUARDA NOCTURNO, ANA FREITAS REIS
Guarda-me Esta Noite, Valter Lobo ▫ A associação foi imediata pelo título, ainda que partilhem mais a energia do que, propriamente, as palavras. Ademais, sinto que tanto o livro, como a canção transmitem uma certa urgência para não cairmos no marasmo da vida, para «sacudirmos o tédio», porque «o tempo é um fio que pode romper hoje».


OBRAS COMPLETAS VOLUME I, MARIA JUDITE DE CARVALHO
Mariana, Mariana, Maria Bethânia ▫ Tanta Gente, Mariana foi o conto que mais me arrebatou, portanto, quis uma música que, de alguma forma, o evidenciasse. Para além do título da canção cumprir esse propósito, a letra explora uma ideia de descoberta, de viagem interna, que nos fala à alma, exatamente como a escrita de Maria Judite de Carvalho; exatamente como Mariana e as restantes personagens deste primeiro volume.


MAREMOTO, DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA
Lisboa Não é a Cidade Perfeita, Deolinda ▫ A cidade de Lisboa é um espaço central na narrativa, por isso, fiz a associação desta maneira. Além disso, «não é a cidade perfeita» remate-me para a marginalização das personagens, em plena capital, ao mesmo tempo que canta as saudades e as imperfeição e que dá «eco a quem nunca tem voz».


O PIANISTA DE HOTEL, RODRIGO GUEDES DE CARVALHO
Prelude in B Minor, Bach & Khatia Bunatislavili  Ainda não tinha iniciado a leitura e já sabia que ia querer que a melodia fosse só de um piano. Como Bach é mencionado, uni o melhor de dois mundos, interligando a escrita com a arte musical, numa versão moderna e plural - até porque esta história não segue apenas um ritmo.


AINDA BEM QUE A MINHA MÃE MORREU, JENNETTE MCCURDY
Heart Of a Child, Jennette McCurdy  Estive um pouco indecisa na música, embora quisesse uma da Jennette McCurdy, porque há vários fragmentos que nos remetem para diferentes canções. No entanto, optei por esta, porque transmite a ideia de uma infância perdida, roubada, que é o que encontramos neste livro de não ficção.


OBRAS COMPLETAS VOLUME II, MARIA JUDITE DE CARVALHO
Lugar Vazio, Aline Frazão  Este volume está dividido em dois contos e uma novela. Foi a novela Os Armários Vazios que roubou o meu coração por inteiro, apesar de haver um fio a interligar cada um dos textos. Por esse motivo, foquei-me no seu propósito e acabei por me cruzar com este tema da Aline Frazão. Ao escutá-lo, percebi que encaixava na perfeição, porque canta a tristeza, a distância, a ausência e esta sensação de vazio, como se, à nossa volta, nada nos amparasse.


LÁGRIMAS NO MERCADO, MICHELLE ZAUNER
Tell Him, Barbra Streisand & Céline Dion  Era uma das músicas favoritas da mãe da autora, logo, fez-me todo o sentido prestar-lhe esta homenagem. A letra talvez não seja a mais alinhada com a narrativa, mas acho que, pela importância que tem, no momento em que Michelle Zauner recupera esta memória, não poderia seguir outra combinação.


CONVERSAS ENTRE AMIGOS, SALLY ROONEY
Atmosphere, James Blake  Estive quase a seguir a sugestão da Sofia e a escolher «Complicated», da Avril Lavigne, porque, de facto, é o que estas personagens mais são. Mas, depois, ouvi esta canção do James Blake e senti que espelhava bem os silêncios ao longo da narrativa, a noção dos perigos e a vontade de permanecer perto. E de conversa em conversa - ou de confusão em confusão -, há um vínculo que se vai criando.


GÉNERO QUEER, MAIA KOBABE
Born This Way, Maia Kobabe  Há uma ocasião em que Maia tem um momento de descoberta que lhe permite compreender que, de facto, nasceu deste jeito e que não há nada de errado com elu e, por isso, refere este tema de Lady Gaga. Claro que aproveitei a dica, até porque acredito que ajuda a destacar este processo de aceitação, nem sempre sereno, muitas vezes pautado por incertezas e desconfiança. Além disso, reconhecendo que a jornada não é fácil, torna-se importante erguer a cabeça e não ficar preso a arrependimentos. E aprendermos a amar-nos pelo que somos é vital.


RÁDIO SILÊNCIO, ALICE OSEMAN
Lost In The Cosmos, Romantica  Uma canção descoberta depois de alguma pesquisa, mas que encaixa neste livro na perfeição por duas razões: porque um dos protagonistas de Rádio Silêncio criou um universo paralelo, como se estivesse mesmo perdido no cosmos, onde se sente em casa; e porque uma das frases de marca desse universo é «espero que alguém esteja a ouvir», algo que também é explorado neste tema. Aliado a isso, sinto que a melodia acompanha bem o ritmo da história.

10 comments

  1. Das tuas escolhas conheço a Mariana da Maria Bethânia e a Tell Him da Barbara Streisand com a Celine Dion. Gosto imenso, fazem-me lembrar a minha infância.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Que memória tão boa! Confesso que a da Barbra Streisand com a Céline Dion não conhecia

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  2. Conheço alguns de nome, mas ainda não li nenhum deles.

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  3. Que acaba mesmo por ser uma boa conjugação para conhecer cada um
    Beijinhos
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