QUERER AUMENTAR AS ESTANTES, MAS ESTAR MAIS CONSCIENTE A COMPRAR LIVROS

Fotografia da minha autora



«Sou apenas um ser consciente e curioso»


A sensação de mergulhar num livro pode despertar vários estados: liberdade, catarse, fascínio, revolta, um certo vício. Porque as palavras - e a forma como se agrupam para construir a narrativa - abrem um precedente que nos estimula a querer mais. Se calhar, é por esse motivo que qualquer leitor tem uma profunda admiração pelas suas estantes, pois são um lembrete de todas as viagens que já fez e daquelas que ainda o esperam.

Quando comecei a fomentar o gosto pela leitura, ainda que não tenha sido consciente na altura, senti uma urgência para recuperar o tempo que julguei perdido. Portanto, entre ler na biblioteca, requisitar e destinar parte das minhas poupanças para comprar novos exemplares, fui-me moldado enquanto leitora e, sobretudo, passei a investir num bem precioso: a minha modesta biblioteca. Mas se, numa fase inicial, a seleção não tinha qualquer critério em particular, porque o objetivo era descobrir os autores e perceber o que resultava comigo, com essa perceção mais evidente passei a ser mais criteriosa. Só que esse processo levou o seu tempo.

Crescer, creio, também passa por aprender a olhar para as nossas paixões com outra maturidade.


AUMENTAR AS ESTANTES

Uma casa sem livros parece-me, hoje, um espaço menos colorido. No entanto, houve uma altura em que isso não me fazia confusão, porque a minha prioridade era diferente. Nessa fase, os meus livros cabiam, à vontade, numa das prateleiras do móvel da sala. E até parece surreal pensar nisso, porque sinto que foi há muitas vidas.

Agora, para além do móvel, tenho uma estante, caixas de madeira, cubos por cima da secretária, outra estante no quarto, mais uma caixa e livros divididos entre a cómoda/armário da televisão e a parte inferior da mesinha de cabeceira. Tendo em consideração as histórias que me faltam descobrir, há momentos em que me aflige ter de as encaixar nestes espaços cada vez menos vazios. Por oposição, há outros em que me sinto totalmente em paz com essa imagem, porque percebi, finalmente, que nem todas são para ficar comigo - dadas, doadas ou vendidas, existem obras que sei que vou querer deixar ir, para que cumpram o seu propósito noutras casas.

Seja como for, este aumentar de estantes é algo que, no geral, me entusiasma, já que gosto da possibilidade de ter tantas narrativas por perto. Gosto da sensação de ir a uma livraria e sair de lá com o mundo nas mãos. Gosto quando as minhas pessoas me surpreendem com livros. Contudo, comecei a não apreciar muito o incómodo de ter tantos livros por ler. Sei que parte do problema se deve, agora, ao não usufruir tanto da biblioteca, porque gosto de viver os meus livros sem preocupações e prazos, mas também sei que há estratégias que me permitem manter um certo controlo na hora de comprar. De que me serve ter tantos livros parados, se não paro de adicionar exemplares à estante? Quando é que priorizarei os antigos? Quero muito continuar a investir numa biblioteca pessoal, mas fazê-lo de um modo consciente, com um tempo de resposta mais equilibrado e sem sentimentos de culpa. Acima de tudo, quero garantir que o princípio não é acumular.


SER MAIS CONSCIENTE A COMPRAR LIVROS

Organizar a lista de livros por ler ajuda-me a ter uma noção clara do caos. Catalogar os que ainda não descobri das edições anteriores da Feira do Livro do Porto e dividir, depois, todos os restantes pelos anos de compra foi outra estratégica que se revelou útil. Aliás, fazer este exercício até me deixou mais tranquila, porque o livro mais antigo que tenho por ler é de 2020 e vários dos que me faltam estão reservados para clubes de leitura.

Penso que já o escrevi noutra publicação, mas faz-me sentido recuperar este pensamento: existem livros que compramos e que deixam de nos interessar - pelas mais variadas justificações. Respeito isso, assim como respeito e aplico a leitura por estados de espírito, porque acho importante seguirmos essa espécie de chamamento, esse olhar para a estante e sentir uma afinidade maior por um determinado título, que aumenta a predisposição. Talvez por isso nunca tenha sido grande adepta de pensar numa TBR mensal, até que, este ano, decidi arriscar nessa dinâmica e percebi que me tem ajudado a ser mais consciente dentro deste universo.

Em simultâneo, à semelhança do que fiz em 2020, propus-me a um novo book buying ban e usei os clubes de leitura, incluindo a minha viagem literária, a meu favor: se tenho livros que se enquadram nos temas ou nas sugestões, separo-os para o efeito; caso não tenha, não participo naquele[s] mês[es]. Embora necessite de ser mais regrada nos momentos de pausa, para não comprar por todos os dias em que não o fiz, estes métodos são autênticos aliados para diminuir a pilha e para me recordar de que tenho muitas histórias à minha espera.


PAIXÃO VS ESTRATÉGIA

É improvável, para não dizer impossível, ter a lista de livros por ler a zeros. Para ser honesta, também não é algo que pretenda na totalidade, apenas tenho vindo a reajustar a forma como penso o meu investimento.

Há livros que comprarei com a certeza de só os ler mais tarde, como acontece com os do Alma Lusitana, porque aproveito a Feira do Livro para organizar a edição seguinte. Da mesma maneira, sei que há lançamentos que vou querer aproveitar no imediato, caso sejam dos meus autores favoritos. Isto é um pensamento estratégico, porque existe uma lógica que funciona comigo e porque estou a privilegiar exceções, em vez de fazer disto uma regra. De resto, procuro que o período entre a compra e a leitura não seja extenso.

Não deixei de adorar comprar livros - nunca deixarei, na realidade -, mas embarcar nesta análise é saber que respeito muito mais os que estão por ler e que foram adquiridos para serem descobertos e não apenas para ficarem em exposição por épocas infinitas. É tentador ver as estantes a aumentar, porém, como sei que o tempo, por si só, já escasseia, prefiro garantir que aqueles que habitam cá em casa terão o seu momento.

Comentários

  1. Concordo plenamente com a tua análise. Eu tinha uma estante do Ikea para livros, que era ótima. No entanto, optei por comprar uma estante mais pequena para ter espaço para uma secretária. E vou selecionando livros com os quais me identifico menos para dar lugar a novos.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Essa estratégia também me parece interessante, porque estás a priorizar outras ferramentas de trabalho. Os livros continuam a estar lá e a serem importantes, mas geres de outra maneira.
      Eu tenho tentado, no final de cada mês, perceber que leituras é que quero mesmo manter na estante

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  2. Adoro livros, e tenho muitos, contudo cada vez, tento fazer compras conscientes, como por exemplo só comprar mesmo livros que queira muito ler, ou então quando já li todos os que tinha pendentes!

    Bjxxx
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    1. Identifico-me cada vez mais com essa postura. É ótimo comprar livros novos e saber que temos vários mundos para descobrir nas estantes, mas, se estivermos sempre a comprar, acabamos por não embarcar nessa viagem.

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  3. Entendo-te bem pois para alem do tempo do não ser muito para ler, tem de haver muita contenção, tudo muito bem ponderado com peso e medida *.* E nao posso esquecer da minha estante virtual. E aqui ainda temos as pequenas bibliotecas de troca de livros, ja para nao falar na biblioteca do pequenote que volta e meia precisa de ser remodelada :)

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    1. Não faltam tentações, de facto. Só me safo na virtual ahahah

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  4. Acho que para quem adora livros, não deve ser nada fácil manter tudo em um espaço só, nem sei se é fácil qual fica na nossa coleção
    Beijinhos
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    1. É uma gestão complicada, sem dúvida, porque acabamos sempre por estabelecer um vínculo emocional

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