A DANÇA DAS BORBOLETAS

Fotografia da minha autoria



«é quando a alma usa o corpo de instrumento»


O jogo de luzes e de sombras ia-se intensificando à medida que avançava no caminho: solitário, silencioso, tal como ela, à procura de um propósito; subtil, talvez, com algo que fosse estimulante o suficiente para a prender à vida, a si, a um amanhã que se avizinhava turvo, hesitante, quem sabe, fugaz.

Enquanto apontava a objetiva da sua máquina, para um qualquer detalhe que, depois, lhe pareceu insignificante, um movimento despertou-a e fê-la estagnar o passo.

E ali estavam elas, numa dança majestosa, inebriante, de uma delicadeza ímpar. Aquelas borboletas ascendiam na cordialidade de uma abraço que não envolve qualquer toque, numa brincadeira de miúdos, inocente, cúmplice, que acabaria por se esgotar, mas sem que isso representasse um laivo de culpa.

Nesta coreografia pouco ensaiada, cada uma das borboletas retomou a sua missão, até que se perderam de vista. Mas voltariam, voltavam sempre, porque há um tempo em que as asas se fecham ao estarem em casa.

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