a revolução, hugo gonçalves
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Fotografia da minha autoria |
«Mas há momentos em que nos deparamos com uma escolha que define quem somos»
Gatilhos: Linguagem Explícita, Referência a Tortura, Aborto e Consumo de Drogas
A verdade tem várias faces, porque depende das sombras de cada interveniente, das perspetivas que explora e, também, daquilo em que prefere acreditar. Por isso, há tantas fronteiras que se cruzam, tantos limites que se esbatem. E, num período pós-ditadura, até a revolução pode assumir diferentes propósitos, diferentes figuras.
entre a liberdade e a família
O mais recente romance de Hugo Gonçalves, Revolução, mostra-nos todas essas facetas através da família Storm: Maria Luísa é a filha mais velha e uma opositora clandestina. Frederico é o filho mais novo e um autêntico boémio. Pureza é a filha do meio e é a mais conservadora dos três irmãos. Apesar de serem distintos, são um espelho fiel da época, dos modelos sociais que se perpetuam e do que é esperado de cada cidadão. Num plano secundário, mas igualmente fulcral, encontramos a matriarca da família, Antónia Storm, cujo passado não deixa de ser fascinante.
É natural escolhermos o nosso lado da batalha e termos muitas certezas em relação ao que é certo e ao que é errado, mas embarcar nesta narrativa é compreender que nada é assim tão linear, que aquilo que assumimos como uma verdade irrefutável pode quebrar num segundo. Por isso, mesmo que me tenha aproximado mais de uns protagonistas do que de outros, consegui perceber o que os movia a todos. Acho que esse é um dos elos mais estimulantes na obra do autor, porque constrói personagens credíveis, humanas, que poderíamos muito bem estar a observar da janela.
Neste Revolução, é palpável o clima de tensão e de terror. A luta pela liberdade. A mágoa que é transversal à passagem do tempo. Neste Revolução, lidamos de perto com o arrependimento, com o vazio e com o fosso que se cria entre relações que não foram cuidadas com amor - ou será que esses laços não se estreitaram conscientemente por ser maior o amor? Por se sentir que a proteção das pessoas dependeria de um afastamento? De facto, é muito ténue a linha que separa o cuidado da ausência.
Há vários segredos a marcar a família Storm. Sobretudo, há muitos silêncios, talvez demasiados, e, quando o diálogo os quebra, nunca nada é dito por inteiro: fica um prenúncio de omissão, de uma meia verdade. É este jogo de sombras que também nos faz pensar que, se calhar, até a clandestinidade pode ter várias camadas. Aparentemente, só Maria Luísa vivia neste registo, mas acredito que todos eles experimentaram uma versão personalizada, por estarem sempre à margem.
A forma como Hugo Gonçalves bordou a história do país à história dos Storm é fascinante: não só porque tudo parece uma extensão política, mas também porque este período tumultuoso de transição ergueu muitos muros, «separando filhos e pais, colocando irmãos em lados opostos da barricada». Além disso, cada um deles teve um papel, mais ou menos, direto no curso dos acontecimentos e é mesmo interessante compreender o verdadeiro impacto das suas decisões - para si e para os seus.
O que foi não volta a ser e isso fica claro nesta saga familiar. Ainda assim, a memória tem peso e embala-nos neste enredo, que é melancólico, trágico e cómico em simultâneo; que nos agarra da primeira à última página. Se o comecei em alvoroço, terminei-o quase no mesmo estado, porque o final desarma, comove. A Revolução não se fez só na rua, fez-se de dentro, no coração de cada um destes protagonistas que nos guardam e que alimentam um «labirinto de luz, sombras, crueldade e benevolência».
É natural escolhermos o nosso lado da batalha e termos muitas certezas em relação ao que é certo e ao que é errado, mas embarcar nesta narrativa é compreender que nada é assim tão linear, que aquilo que assumimos como uma verdade irrefutável pode quebrar num segundo. Por isso, mesmo que me tenha aproximado mais de uns protagonistas do que de outros, consegui perceber o que os movia a todos. Acho que esse é um dos elos mais estimulantes na obra do autor, porque constrói personagens credíveis, humanas, que poderíamos muito bem estar a observar da janela.
Neste Revolução, é palpável o clima de tensão e de terror. A luta pela liberdade. A mágoa que é transversal à passagem do tempo. Neste Revolução, lidamos de perto com o arrependimento, com o vazio e com o fosso que se cria entre relações que não foram cuidadas com amor - ou será que esses laços não se estreitaram conscientemente por ser maior o amor? Por se sentir que a proteção das pessoas dependeria de um afastamento? De facto, é muito ténue a linha que separa o cuidado da ausência.
Há vários segredos a marcar a família Storm. Sobretudo, há muitos silêncios, talvez demasiados, e, quando o diálogo os quebra, nunca nada é dito por inteiro: fica um prenúncio de omissão, de uma meia verdade. É este jogo de sombras que também nos faz pensar que, se calhar, até a clandestinidade pode ter várias camadas. Aparentemente, só Maria Luísa vivia neste registo, mas acredito que todos eles experimentaram uma versão personalizada, por estarem sempre à margem.
A forma como Hugo Gonçalves bordou a história do país à história dos Storm é fascinante: não só porque tudo parece uma extensão política, mas também porque este período tumultuoso de transição ergueu muitos muros, «separando filhos e pais, colocando irmãos em lados opostos da barricada». Além disso, cada um deles teve um papel, mais ou menos, direto no curso dos acontecimentos e é mesmo interessante compreender o verdadeiro impacto das suas decisões - para si e para os seus.
O que foi não volta a ser e isso fica claro nesta saga familiar. Ainda assim, a memória tem peso e embala-nos neste enredo, que é melancólico, trágico e cómico em simultâneo; que nos agarra da primeira à última página. Se o comecei em alvoroço, terminei-o quase no mesmo estado, porque o final desarma, comove. A Revolução não se fez só na rua, fez-se de dentro, no coração de cada um destes protagonistas que nos guardam e que alimentam um «labirinto de luz, sombras, crueldade e benevolência».
🎧 Música para acompanhar: Ain't No Sunshine, Bill Withers
📖 Outros livros lidos: Filho da Mãe, Deus Pátria Família e O Coração dos Homens
◾ DISPONIBILIDADE ◾
Quero! *.* Sinto que este livro vai-me lembrar tanto da minha mae e todos os ensinamentos que ela me transmitiu sobre a Revolução :)
ResponderEliminarAcredito que isso possa acontecer, sim :)
EliminarFiquei muito curiosa com este livro, tenho que explorar o autor.
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida!
Recomendo muito, minha querida!
EliminarAndreia é um livro muito marcante, é uma boa pedida pra ler, bjs.
ResponderEliminarÉ mesmo, Lucimar, sem dúvida!
EliminarDeve ser mais um excelente livro para se conhecer
ResponderEliminarBeijinhos
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Fiquei completamente rendida!
EliminarUm livro que quero muito ler em 2024 :)
ResponderEliminarFico a torcer muito para que esse encontro se proporcione *-*
EliminarMais uma sugestão a ter em conta!
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Aconselho, Isa!
EliminarNão conhecia, mas levo a sugestão.
ResponderEliminarSe tiveres oportunidade, lê, minha querida
EliminarRevista muito legal
ResponderEliminarObrigada!
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