o terceiro país, karina sainz borgo

Fotografia da minha autoria



«O fim do mundo não tinha um lugar fixo, nem era o mesmo para todos os que fugiam dele»

Gatilhos: Morte, Violência, Luto, Linguagem Explícita


A categoria não foi criada, mas acho que vou anexar uma etiqueta no Goodreads para «autoras que podem só publicar a lista de compras que eu lerei com entusiasmo». Karina Sainz Borgo seria um dos nomes irrefutáveis.


 as várias camadas da miséria humana

O Terceiro País começa com uma fuga: Angustias Romero e o marido veem-se obrigados a partir para o país vizinho para sobreviverem à peste. Com dois filhos bebés, o instinto de sobrevivência extrapola, mas os gémeos não resistem e Angustias procura um lugar para os poder enterrar e dar-lhes a paz que lhes faltou. É neste ponto que a sua vida se cruza com Visitación Salazar, que vigia um cemitério ilegal, e compreende que encontrou o que tanto procurava - mesmo que isso implique ficar sozinha.

Nesta terra de leis dúbias, o ambiente é de violência, guerrilha e de uma enorme tensão. Além disso, é percetível que a miséria humana pode ter várias camadas e rostos. Por outro lado, permite traçar um retrato impressionante da resistência e da lealdade entre duas mulheres carismáticas, que se recusam a desistir. Ainda que tenham motivos distintos, amparam-se na mesma luta, enfrentando os perigos de um local onde o conflito está sempre à espreita.

Foi impossível largar esta leitura: não só pela história em si, mas também pelo modo como as personagens se relacionam. Há um traço muito real nos seus comportamentos, portanto, é fácil envolvermo-nos nas perdas, nos dilemas, na dança que as faz oscilar entre o bem e o mal, entre o certo e o errado.

N' O Terceiro País, transpomos uma fronteira entre vivos e mortos, entre o poder das lendas e a tragédia que paira sobre a realidade. Em simultâneo, é palpável o sofrimento e o impacto da partida. Esta travessia é dolorosa e bastante emotiva e isso deve-se muito à escrita da autora, que é crua, bela e, acima de tudo, digna. Em nenhum momento procura julgar as atitudes das protagonistas, apenas representar os seus caminhos, as suas dúvidas e os seus rasgos de esperança.

Há momentos que parecem desenrolar-se à nossa frente, em câmara lenta, angustiando-nos pela sensação de impotência. Ainda assim, é uma obra fabulosa, que nos mostra a importância dos lugares e do amor - mesmo que este se esconda numa neblina cerrada.


🎧 Música para acompanhar: Fronteiras, Guadi Galego

📖 Outros livros lidos: Cai a Noite em Caracas


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8 Comments

  1. Acho que vou querer ler todos os livros que partilhas *.*
    Mais um para a lista. Fiquei mesmo muito curiosa.
    Beijinho grande, minha querida.

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    1. Oww, fico mesmo feliz por ler isso. Aconselho muito os livros da Karina Sainz Borgo 😍

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  2. Parece ter um conteúdo bastante interessante! Vou levar a sugestão!

    Bjxxx
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  3. Ainda ontem estive com Com a noite em Caracas para por na TBR de 2024 *.*

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