As minhas viagens de metro #27

« Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente», Martha Medeiros

Fui ver o mar. Acalma-me tanto vê-lo ondular, como se em todas as vezes em que a onda vai me levasse as lembranças que quero afastar. Bem sei que isso só depende de mim, mas pensar desta forma tranquiliza-me, como se me retirasse responsabilidades e o peso dos ombros que tanto me tem atormentado.

Fui ver o mar. Sentir o vento a envolver-me num abraço descompensado. Ouvir as ondas embater nas rochas. Cheirar a maresia. Como é que há quem dispense este pequeno prazer? E evite sentir os pés em contacto com a areia molhada e a liberdade que se instala em nós?

Levei uma garrafa de vidro, um pedaço de papel e uma caneta preta de ponta fina. Sentei-me de pernas cruzadas e escrevi sem ter noção do tempo. Algo me diz que foram horas, mas talvez tenha divagado tanto que nem reparei que foram escassos minutos. Enrolei o papel, coloquei-o naquele suporte de vidro e tapei-o com a rolha de borracha. Atirei-o ao mar. Enviei-te para longe. E virei costas... enquanto as minhas lágrimas faziam pequenos buracos na areia.

M, 02.10.2014