As gavetas abertas por... Ana Ribeiro

Fotografia retirada daqui


Olá a todos!

Chamo-me Ana Filipa, tenho 30 anos (quase 31!), sou licenciada em Análises Clínicas e Saúde Pública e – neste momento – escritora e blogger.

A paixão pela escrita surgiu com a escrita de diversos diários pessoais, que se prolongou desde a adolescência à idade adulta. Não estava de todo nos meus planos publicar livros, apenas queria acabar o secundário, entrar na faculdade e fazer o meu curso; no entanto, após a partilha de vários textos poéticos meus com um amigo, ele incentivou-me a ir à aventura para compilá-los em livro. E assim nasceu a colectânea de poesia: “Diário de uma Vida”, editada em 2011. Em 2015, regressei às publicações com “Um Amor Inexplicável”, o meu romance de estreia que conta a história de um jovem que vai batalhar contra uma leucemia. E publiquei, em 2017, “Ao Teu Lado”, um livro no qual trabalhei nos últimos sete anos.

Em 2013, regressei à blogosfera, depois de uma experiência pouco positiva iniciada em 2008. O EscreViver surgiu da necessidade de partilhar o meu percurso literário e os meus textos com as pessoas. Um cantinho onde pudesse também falar dos meus livros, dos livros que leio, da música que me inspira e outros assuntos. Mas nunca fugindo do tema central: a minha escrita.

Espero que gostem!



Vamos opinar sobre... O mundo editorial


Vou começar este texto com três questões: Se já publicaram algum livro, o que acharam do nosso meio literário? Acham que funciona bem e que é justo? Se ainda não têm nenhum livro publicado, mas tencionam ter, que ideia têm do meio literário?

Esta é a minha experiência pessoal: Em 2011, há sete anos, quando eu decidi aventurar-me na publicação do primeiro livro, havia muito poucas editoras a apostar em jovens escritores. Aliás, quando enviei o manuscrito do meu primeiro livro – em finais de 2009 – para diversas editoras (a maioria grandes editoras, às quais só chegam autores mesmo bons e que se destacam), apenas encontrei uma cujo objectivo era apostar em jovens autores: aquela que acabei depois por escolher como a minha primeira editora. Hoje em dia, aparecem editoras novas todos dias, todas prometem um sem fim de coisas (que depois acabam por não cumprir) para cativarem autores, o que me leva a concluir que esta pode ser a nova forma de ganhar dinheiro fácil.

Naquela altura, eu era uma jovem cheia de sonhos, iludida com a possibilidade de ter um livro da minha autoria no mercado. Para além disso, era ingénua, inexperiente e tímida, não tinha nenhuma noção sobre a realidade do mundo editorial nem tampouco sabia mexer-me no meio. Sonhava cada vez mais acordada com o dia em que apresentaria o meu primeiro livro, numa sala cheia de gente e que teria imensos leitores à procura do mesmo. Achava que, tal como acontecia com as pessoas famosas que publicavam livros – era o exemplo que conhecia – quando entregávamos um manuscrito a uma editora, depois ela tratava de tudo: nomeadamente da divulgação da obra. Afinal de contas, é isso que está escrito nos contratos que celebram; mas entre o estar escrito e o ser feito, vai uma distância solar. Infelizmente, à medida que fui crescendo e evoluindo, percebi que estava redondamente enganada.

O meio editorial é um meio corrompido e com dupla face: de um lado está um número muito reduzido de editoras: as editoras que representam grandes autores como: José Luís Peixoto, Pedro Chagas Freitas, Margarida Rebelo Pinto, João Tordo etc, que são bastante selectivas nos livros que publicam e que têm como principal objectivo o sucesso do autor. E do outro lado estão 85% das editoras do actual mercado que trabalham como Vanity Publisher e que apelido de: papa-sonhos. E jovens autores cheios de sonhos – como eu – e com vontade de publicar é o que não faltam por aí, infelizmente, ainda há editoras que destroem sonhos e que se aproveitam do nosso trabalho para ganharem dinheiro. De certa forma, não me espanta, é assim em diversas áreas: de um lado estão os que trabalham, se dedicam e esforçam e do outro lado estão aqueles que simplesmente se aproveitam; por isso não se choquem. Basta pensarem no caso da J.K.Rowling e do Harry Potter, cuja obra foi recusada por diversas editoras até ser um sucesso. 

Sei que estou a ir do particular para o geral; no entanto, depois da experiência que tive, prefiro dar o benefício da dúvida. Este é o lado obscuro deste meio: editoras cujo único objectivo é publicarem o maior número de livros possível e que são muito pouco selectivas nas obras que publicam. O autor envia o manuscrito, a editora faz uma proposta de edição. O autor até nem se importa de pagar, mesmo que não trabalhe ou que gaste as poupanças que fez: tudo em prol de um sonho; já que inicialmente estas editoras apresentam valores reduzidos para a publicação de um livro, para cativarem autores. O livro é impresso e o processo de publicação fica por ali; o impacto destas obras a nível de mercado é quase nulo, a menos que o autor trabalhe afincadamente na divulgação da obra; já que grande parte das editoras não o fazem. A percentagem de público a que estes livros chegam é muito baixa; já para não falar da péssima revisão de texto e da falta de rigor e profissionalismo. Convido-vos a espreitarem dois artigos, com especial atenção: este e este para perceberem aquilo de que falo. 

A ajudar a tudo isto, há o mercado livreiro: as grandes cadeias de lojas que vendem livros e que dão particular atenção e preferência aos autores que lhes dão lucro imediato: figuras públicas, esposas de jogadores de futebol, apresentadores de televisão etc. Pessoas já conhecidas que quase não precisam de divulgação para venderem e darem lucro, o seu simples nome é o suficiente para venderem carradas de exemplares de livros. O mesmo não acontece com quem é desconhecido, precisa de divulgação e, consequentemente, leva mais tempo a dar lucro.

Mas voltando ao meu percurso, em 2015, regressei inesperadamente às publicações com um livro num registo totalmente diferente: a prosa. Estava previsto publicar nessa altura o meu actual livro: “Ao Teu Lado”, mas como não estava pronto decidi publicar uma história que já estava concluída há algum tempo e que intitulei de: “Um Amor Inexplicável”. Para este novo desafio escolhi também uma nova editora, que daquilo que acompanhava nas redes sociais era uma editora cheia de potencial porque divulgava imenso as obras dos seus autores e até publicava num blogue entrevistas com os mesmos. Posso dizer-vos que me sentia plenamente satisfeita com a nova editora, daí em meados de 2016 ter decidido voltar a um dos meus grandes projectos: “Amigos para sempre” (actualmente “Ao Teu Lado”), para prepará-lo para edição física. Escolhi logo a mesma editora e esse foi, sem dúvida, o meu maior erro, que fez com que – de certa forma – a publicação desta obra fosse um fracasso; porque a editora não cumpriu com os seus objectivos. Não foi feita divulgação da obra e comercialização muito menos, acho que não pode chamar-se a isto uma editora, quanto muito uma prestadora de serviços; mas de editora não tem nada.

O processo de publicação iniciou-se em finais de Janeiro de 2017 e o livro só ficou pronto em finais de Junho sob muita pressão minha; uma vez que me era dito que o livro estava retido na gráfica. Ao fim de um mês lá, foi impresso com erros ortográficos e de formatação: frases cortadas a meio e diálogos em fila indiana como se fossem texto corrido. Fiquei desiludida quando, ao reler a obra, me apercebi desses erros, depois de ter revisto a obra de fio a pavio. Que passem algumas gralhas ainda se aceita e é algo perfeitamente normal em primeiras edições, erros de formatação que não são da minha responsabilidade não se aceitam, fiquei com a sensação que foi tudo feito à pressa e sem rigor. Passaram-se seis meses e, em Dezembro, o livro ainda nem sequer tinha chegado ao mercado: quer loja física, quer loja online, comecei a ficar de pé atrás e a sentir-me cansada de lutar tanto e estarem constantemente a cortarem-me as asas. Senti-me revoltada, triste e acima de tudo desiludida por ter apostado numa editora que afinal era igual a todas as outras e que não tinha dado nenhum valor ao meu trabalho. A única coisa em que pensaram foi no dinheiro que paguei e nada mais. Comecei a perceber que estava no meio de um negócio e se aos 23 anos era ingénua e inexperiente, aos 30 já tinha os olhos bem abertos e não ia permitir que se aproveitassem deste trabalho, ao qual dediquei os últimos 7 anos da minha vida e que tem muito significado para mim. Decidi então rescindir contrato e continuar este caminho da escrita desvinculada de editoras. Ao menos sou eu que controlo todo o processo de edição, não dependo de terceiros, ninguém se aproveita do meu trabalho, coloco o livro no mercado como quero e quando quero e não pago valores exorbitantes por um serviço que a bem dizer qualquer gráfica sabe fazer, não preciso de uma editora. O impacto no mercado de uma edição de autor é igual e não tenho que me chatear. 

Resumindo e concluindo, e porque sei que desse lado há muitos jovens escritores que gostavam de publicar um livro. Desconfiem sempre de uma editora que vos cobra para publicar. Acham que os grandes autores pagam? É claro que não, as editoras assumem o risco e essa é a principal diferença entre as grandes editoras e as editoras que funcionam como Vanity Press. Também tenho consciência que é difícil chegar a essas grandes editoras; mas com persistência e perseverança havemos de lá chegar. Não vendam os vossos sonhos e manuscritos ao desbarato, informem-se primeiro sobre a edição de autor.

Lamento profundamente que em pleno século XXI não exista igualdade de oportunidades, os jovens autores deviam ter iguais direitos que os autores mais conceituados, que as figuras públicas e pessoas da televisão, futebol etc. Mas, infelizmente, isso não existe, como nunca existiu noutras áreas. Lamento ainda que continuem a desprezar os jovens autores e a aproveitarem-se do seu trabalho. Este meio esquece-se que antes de existirem pessoas conhecidas e figuras públicas a darem-lhes lucros, existiam pequenos autores e que é graças a eles que muitas destas editoras existem. Deviam ter vergonha de fazerem isto. Este tipo de atitudes desmoraliza-nos, tira-nos motivação e vontade de insistir e de continuar e há tantos jovens cheios de talento… 

Está aberto o debate!



Para além do blogue, podem encontrar a Ana no Facebook e no Instagram

Comentários

  1. Quero aproveitar para agradecer à Andreia pela iniciativa e pela oportunidade; uma vez que me esqueci de fazê-lo acima. Beijinhos, minha querida! :)

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  2. Infelizmente isso acontece não só nas editoras como em todo o meio profissional, o importante é não desistir :) tambem eu ao longo da minha vida profissional vi muitas portas a fecharem-se na minha cara mas encarei isso com um estímulo para seguir em frente :)
    Bjinhos as duas*
    https://matildeferreira.co.uk

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  3. Bem gostaria de escrever um livro ou algo parecido, mas infelizmente quando me proponho a escrever parece que as "palavras" desaparecem e fica um vazio.
    Um abraço e boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  4. Adorei a gaveta aberta de hoje porque vai de encontro à fase que estou a passar agora e identifiquei-me bastante!

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  5. Já tinha visto esse post no blog da Ana Ribeiro, e como lá mencionei, eu pagarei para publicar se tiver de ser, mas terei forma de o divulgar. Acho que não deve ser a editora a fazer tudo. Beijinhos

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  6. Já conhecia a Ana, gostei muito do texto! =)
    Beijinhos,
    https://chicana.blogs.sapo.pt/

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  7. Isto acontece e muito e com muitas editoras. Muitos autores têm de pagar para publicar, têm de ficar com por exemplo 100 versões e se quiserem revisor ainda têm de pagar mediante o livro. É ridículo, porque arruína os sonhos dos jovens e ao mesmo tempo tomam partido da sua ingenuidade. Infelizmente, o mercado editorial está cheio de oportunistas.

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  8. Adorei esta gaveta aberta. É algo que penso muito enquanto escritora; ainda me falta muito para sequer pensar em publicar um livro, mas penso sempre que quando o fizer, vou ter um longo caminho a percorrer no mundo editorial. É absurdo o abuso por parte das editoras para com escritores jovens. Acho que já deixou de ser pela escrita, pela leitura, mas sim pelo dinheiro e o lucro que se ganha no mercado.

    O que posso dizer para a Ana e para todos os escritores como nós, é continuar a lutar e persistir tal e qual como a J. K. Rowling o fez. Temos que confiar no nosso trabalho e dedicação. Se não der com as editoras, dá de outras formas. O bom do mercado de hoje é que podemos fazer a mesma coisa de diferentes maneiras. Só temos que escolher a melhor :)

    Beijinhos,
    Sónia R. Pinto
    By the Library

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  9. Não fazia ideia que isto acontecia tanto nas editoras!Infelizmente, há sempre pessoas a aproveitarem-se...

    amarcadamarta.blogspot.pt

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  10. Infelizmente isto é muito comum e não apenas neste meio. Como disse à ana é uma pena que tenha acontecido isto com ela. É bom que demonstre o que aconteceu para outros jovens autores não passarem pelo mesmo.
    ps: já começo a ficar nervosa com a minha vez porque em comparação com estas gavetas abertas não é nada de mais ahaha

    Beijinhos,
    DEZASSETE

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  11. Conheço a Ana de há muitos anos. Conheci-a por aqui, pela net.
    E a escrita sempre foi uma paixão dela. :)
    Devemos sempre seguir os nossos sonhos.

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  12. R:Quem sabe não faço uma apresentação aí pelo Porto? Se surgir a oportunidade nem penso duas vezes xD
    Beijinhos

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  13. Não conheço a Ana,mas acho que o problema que ela enfrenta se passa em muitas outras profissões.
    Parabéns pelo texto.
    Beijinho às duas.

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  14. E:Se quiseres puxar aí uns cordelinhos não me importo ahaha :P

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  15. Não conheço a ANA, mas adorei bastante a tua partilha
    Beijinhos
    Novo post (Review Kit de Batom) // CantinhoDaSofia /Facebook /Intagram
    Tem post novos todos os dias

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  16. Passei pelo mesmo quando editei o meu livro. Só vêem dinheiro mas depois não se preocupam com a divulgação. Ando a trabalhar num novo livro e não tenho intenção de o editar. A partir de agora fica apenas disponível online.

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  17. Mas essa agora de ir opinar,
    terá de ficar para a próxima
    eu fico aqui mas é a imaginar
    sem, portanto, fazer batota!

    Tenha uma boa noite Andreia.

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  18. Depois disto, sinto-me um analfabeto feliz. :/

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  19. É lamentável quando desprezam jovens autores, todos merecem uma oportunidade. Grandes autores começam como iniciantes, tem que dá valor a eles, bjs.

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  20. Gostei deste texto... Dá para entender tanta coisa... não suporto ver tantos livros editados por pessoas que os editam, apenas pela pessoa que representam (mundo cor-de-rosa e etcs), por vezes os livros até podem ser algo que interesse, mas o meu primeiro intuito é não comprar.
    Como os livros de receitas, que nervos que me mete, todaaaa a gente agora cozinha maravilhosamente e lança livros de culinária.
    Eu também gostava de lançar um meu, mas não tenho pachorra nem dinheiro para pagar!
    Limito-me aos blogs e página do Facebook!

    Beijinhos
    Sandra C.
    https://bluestrass.blogspot.pt/

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  21. Parabéns pelo texto e muita força para continuar! Adorei o texto. :))

    Hoje:- Ainda chove no meu caminho...
    -
    Bjos
    Votos de uma boa Quinta-Feira

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  22. Wow... como este texto mexe comigo.
    N falo muito mas... eu ja escrevi... isto porque antes eu escrevi para respirar... escrevi todas as horas vagas e mm sem ser vagas. Eram os meus melhores amigos.
    Ganhei um concurso de poesia e lancei 1 livro... mas ai as coisas mudam... a editora n deu apoio eu senti m perdida. Algumas pessoas afastaram-se... e bloquei... deixei de conseguir escrever... isto em 2011... sou de 87 temos a mm idade ok sou mais velha but still...
    Comecei a desenhar mas nc mais consegui escrever. Nem este blog partilho com o meu nuclo pois sonto m tao perdida...

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  23. Que fixe! Vou guardar esta publicação nos favoritos para ler com toda a atenção possível quando tiver mais tempo livre!
    Beijinho grande, minha querida :*

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  24. Não conhecia esta realidade, mas fiquei com pena de ser assim, porque também gosto de escrever e percebo a tua parte, odiaria que algo assim me acontecesse...
    https://sunflowers-in-the-wind.blogspot.pt/

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  25. Confesso que não estou por dentro deste assunto, mas gostei de ler. É incrível como existem tantas formas de se aproveitarem do trabalho dos outros, não dando o devido mérito e até o devido respeito. Fico de certa forma triste.
    Mas como disseram algures em cima, há sempre caminhos diferentes - felizmente - é importante confiar e não desistir :)

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