As gavetas abertas por... Carolina Cruz
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Fotografia retirada do Pinterest |
Olá a todos! Desde já, agradeço à Andreia por esta ideia maravilhosa de abrir as suas gavetas encantadas, das quais eu sou fã! Obrigada, Andreia.
Eu chamo-me Carolina Cruz, tenho 25 anos e sou uma apaixonada pela arte da escrita. Escrevo desde que me lembro, mas há 9 anos nasceu Gesto, Olhar e Sorriso, o meu blog, para dar a conhecer a minha escrita e as minhas paixões, que fazem o meu coração bombear com alegria – as músicas que me inspiram, os livros que leio, as séries e os filmes que assisto e os meus textos sobre a vida, o amor e histórias ficcionais. Estes textos também poderão lê-los na minha página de autora, intitulada Carolina Cruz oficial.
Hoje, aqui no blog da Andreia, que conheço há uns valentes anos e adoro, apresento-vos uma história de ficção à qual eu me dediquei de coração. Espero que gostem!
Espera por mim, meu amor
Olho as minhas mãos que acabaram de desapegar as tuas.
“Que amor brilhante foi o nosso, meu amor” – digo-te, mas já não me ouves. Talvez no lugar longínquo onde a tua alma pousa poderás ouvir-me.
Olho as rugas que perduram ainda no teu rosto a dormir para sempre. Olho-as e emociono-me: foi mesmo um amor para a vida toda, não somente na promessa ou no papel, mas no sentimento que não esmoreceu nem um pouco.
Olho para ti e recordo que te conheço desde que eras aquela criança de tranças loiras e longas e eu um rapaz que já te amava.
O Alentejo era o palco da nossa infância, seis anos nos separavam, mas eu já te amava tanto. Como pudera eu não te amar? O teu sorriso, a tua sabedoria, a tua juventude inquieta.
Obrigaram-me a partir quando completaste catorze anos. Achei que nunca mais te veria, meu amor.
Alistei-me na guerra do Ultramar e não sabia se sairia vivo, ou mesmo que vivesse, receava que não quisesses saber mais de mim.
Todas as dores que, na pior altura da minha vida, vivi, não as desejo a ninguém. Apenas te escrevi uma carta, meu amor, aquela que guardaste, com saudade, no bolso da tua saia às pregas.
Corpos mortos, almas desfeitas e uma saudade imensa do futuro, do teu corpo nu que nunca havia visto, dos teus seios que nunca havia tocado e do teu doce beijo que nunca saboreara. Tinha medo de perder a vida, porque tinha medo de perder-te, de morrer sem te tocar.
Veio a revolução e a chegada ao meu país, cantava-se “Vila Morena”, de Zeca Afonso, e todos achavam que seriamos livres. Mas eu… eu nunca mais seria livre dessa saudade de ti, perdera as minhas ligações ao Alentejo, perdera todas as ligações da minha vida, até a minha própria vida.
Achei que seria um homem forte, mas nenhum homem é forte o suficiente para aguentar acabar com a vida de tanta gente e não acabar com a sua. Eu não era o mesmo, não era o mesmo que te beijava a testa quando me davas pontapés, não era o rapaz que sorria ao ver-te ler um livro, não era o mesmo, tinha trinta anos, mas um medo de criança, uma vida de oitenta, uma vontade de nascer de novo, mas que nascesses comigo.
Se eu não te tivesse comigo, se eu não conseguisse mudar, eu não queria viver.
Porém, a vida tem sempre maneira de nos fazer renascer, de nos surpreender, de nos enviar uma mensagem - “espero por ti, espero que dês o teu melhor”.
Eu não passava de um homem de rua, que empobreceu por destino e escolha; pedia, dormia ao relento, até ao dia em que um braço amigo me curou da gripe.
Era inverno, tossia até doerem-me os ossos, ficara sem ar e desmaiara. Não me lembro de mais nada antes de acordar no hospital com um rosto que conhecera em tempos. Esfreguei os olhos, limpei a neblina, estaria a sonhar?
Nos meus olhos turvos, vi os teus olhos azuis, tão doces. Não reconheceste este imundo homem que fui e eu, de lágrimas a correrem-me pelo rosto, consegui proferir:
- Esperança?
- Tem de ter. – disseste inocentemente. Era impossível conheceres um homem como eu.
Devias ter a vida feita, uma família bonita, filhos bem-educados.
Tive vontade de chorar ainda mais…
- É a minha Esperança, de olhos azuis.
Não sabia como dizer-te, não sabia se ainda te lembravas de mim. Oh, meu amor! Comecei quase a declamar para perceberes o quanto ainda vivias cá dentro.
- No Alentejo sem destino, cruzei-me contigo, Esperança. Era amor, eu já sabia, desde que eras criança e eu um jovem. Os teus olhos azuis, a tua pele morena e esses longos cabelos loiros continuam com a mesma juventude; eu sou apenas um Américo que se tornou num Zé Ninguém.
Olhei-te nos olhos e choravas, choraste rios e mares e, genuinamente, como duas crianças que não se importam com qualquer diferença social, abraçaste-me e aqueceste-me o coração.
Não ficámos ligados nessa altura, meu amor. Lembras-te? Mas ajudaste-me a mudar, a querer outro rumo.
Encontrei-te anos mais tarde, eras uma advogada lindíssima, eu apenas um livreiro de porta a porta. Quis o destino que batesse à tua, perpetuando a certeza de que este amor merecia ser vivido. Começaste a comprar livros diariamente, falávamos sobre eles, a amizade crescera de novo e deu de novo lugar ao amor, com maturidade, mas com a mesma jovialidade.
Casámos tarde, mas o tempo não nos roubou os sonhos, meia-idade é suficiente para amar alguém, nunca é tarde e nunca é de mais. Porém, morreste-me, e eu queria mais tempo para olhar-te nos olhos. Mas eu sei também que, independentemente de fechares os olhos e sucumbires como se a dor da perda não me fizesse morrer também, eu sei que no lugar que Deus escolheu, haveremos de nos encontrar, lá e noutra vida. Ele há-de compensar-nos por toda a distância com que nos fez sofrer.
Por isso, meu amor, espera por mim. Espera por mim, como eu esperei por ti uma vida inteira. E ama-me, ama-me como sempre me amaste, protege-me, hei-de partir em breve também, achas que aguento a vida sem ti?
Espera por mim. Espera por mim, meu amor.
Conheci recentemente a escrita da Carolina e gosto tanto!!
ResponderEliminarGostei bastante de conhecer a Carolina e a sua escrita.
ResponderEliminarUm abraço e bom Domingo.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Gostei muito de conhecer a Carolina! Escreve muito bem! :P
ResponderEliminaramarcadamarta.blogspot.pt
"Olho as rugas que perduram ainda no teu rosto a dormir para sempre." tão boooom!
ResponderEliminarr: oww, obrigada <3
não aguento acompanhar pela rtp, quero sempre mais ahahah
Uma bela e triste história de amor :)
ResponderEliminarBjinhosss as duas*
https://matildeferreira.co.uk/
Uma grande escritora. Que continue a deliciar-nos com os seus escritos.
ResponderEliminar.
* Cavalo e Amazona - amizade sem tempo ( Poetizando) *
.
Votos de um domingo poético
Já acompanho a Carolina há algum tempo e gosto imenso da sua escrita: forte, delicada e sentida.
ResponderEliminarEsta gaveta não deixou de ser maravilhosa.
Bom domingo! Beijinhos!
Que bem escreve a Carolina :)
ResponderEliminarConfesso que mais uma partilha que não conhecia, mas gostei bastante da historia que li
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post (Review Batom Matte) // CantinhoDaSofia /Facebook /Intagram
Tem post novos todos os dias
Que história tão bem escrita, fiquei presa do início ao fim. Adorei!!
ResponderEliminarMinha querida, pela terceira vez, obrigada por esta oportunidade maravilhosa!
ResponderEliminarE obrigada a todos pelas palavras que me deixaram muito feliz <3
Um grande beijinho*
Uma bela história de amor, escrita com o coração.
ResponderEliminarQuase me revi na primeira parte do texto. Só que eu não "caí na rua". Ela segurou-me a tempo.
Não conhecia a Carolina, mas gostei muito do texto! Vou já visitar o blog dela!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Oh, que escrita bonita!
ResponderEliminarBeijinhos às duas :)
A Carolina escreve tão bem, gostei tanto!
ResponderEliminarBeijinho, Ana Rita*
BLOG: https://hannamargherita.blogspot.com/ || INSTAGRAM: @rititipi || FACEBOOK: https://www.facebook.com/margheritablog/
uau, adorei o texto. Tão forte! Amor e esperança, sempre lado a lado.
ResponderEliminarNão conhecia a Carolina, mas vou espreitar :)
Beijinhoos,
santiago | facebook | instagram
Que texto intenso e lindo, linda história de amor. Nesse tempo terá havido tantas. Parabéns à Carolina, beijinho às duas :)
ResponderEliminarNão a conhecia mas adorei a sua escrita´
ResponderEliminarhttps://retromaggie.blogspot.pt
Andreia: ;)
ResponderEliminarCarolina: gostei da sua escrita. É uma boa história de ficção!
Ótimo domingo!
Beijo! ^^
Gostei de ler a história.
ResponderEliminarBoa semana!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
obrigado meu bem :D
ResponderEliminarjá conheço a escrita da Carolina faz algum tempo e identifico-me muito :D Adoro a forma tão leve como ela escreve :)
Este texto dela... Ohn :)
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Instagram ∫ Facebook Official Page ∫ Miguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D
Já tive a oportunidade de escrever um texto em conjunto com a Carolina e a escrita dela é mesmo magnífica e está refletida exatamente neste texto. É difícil encontrar alguém para amar para a vida inteira. É mesmo muito difícil. Beijinhos <3
ResponderEliminarGostei tanto. Tão triste mas tão intensa e bonita, a Carolina tem talento :)
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