As gavetas abertas por... Andreia Morais

«As estrelas estão iluminadas para que cada pessoa possa encontrar a sua?», 

Antoine de Saint-Exupéry

Os 26 chegaram! Hoje, volto a ser pequenina. E ainda mais mimada, em amor e não em feitio. Porque sempre tive a sorte de viver rodeada de afetos, sentimentos e sensações evidentes. E foi este colo constante que me fez querer abraçar o mundo na mesma proporção de bondade, até porque todos os meus exemplos têm essa luz interior de quem chega e fica por bem. Acredito que, para além de «sermos do tecido de que são feitos os sonhos», também somos - e muito - o resultado das nossas decisões. E que carregamos no peito traços das nossas pessoas. E eu não podia estar mais grata. Porque, com todos os «abraços-casa» que me recebem, sei que o meu coração pertence ao sítio certo.

Em dia de festa, aceitei o repto do Miguel Gouveia [Pieces Of Me], que me sugeriu - quando partilhei a ideia d' «As gavetas abertas por...» - escrever uma publicação dedicada à infância, retratando-a através de imagens e com as minhas melhores memórias. Assim que li o comentário, fez-me todo o sentido. Porque tenho partilhado convosco uma fase mais presente, enquanto estes fragmentos do passado só eu e os meus conhecemos. Portanto, vamos recuar no tempo. E fazer uma viagem por algumas fotografias, que contam inúmeras histórias e que me permitem regressar a momentos extremamente felizes. 

Álbum de Recordações

A minha família será sempre a minha fortaleza. E o lado mais bonito e seguro de mim. Porque é, simultaneamente, a rede que me ampara e a seta que me impulsiona, quando a vida me leva a retroceder. Os meu pais devem sentir que acertaram à primeira, razão pela qual sou filha única. No entanto, tenho primos que são como irmãos - e os laços que nos unem [e que se fortalecem com a nossa cumplicidade e estupidez] ninguém quebra. E ainda bem! Apesar de a minha memória não ser a melhor, tenho certas cenas soltas que me aconchegam a alma: que saudades das nossas traquinices. Das viagens à Serra da Estrela. Das férias em Monte Real. Dos dias de praia com direito a barraca montada e do dia em que, por acaso do destino, resolvi atirar-me para uma fonte, em Bragança. Mas também recordo todas as festas de aniversário, a recolha do lixo na praia, os joelhos esfolados, a trotinete que se partiu e os raspanetes inevitáveis. E já perdi conta à quantidade de vezes que, por entre gargalhadas, a minha mãe me falou do momento em que rebolei para debaixo da cama e o meu avô ficou em alvoroço, porque não sabia de mim [perdoa-me, avô]. Há coisas que se perdem com o tempo, mas este amor eu conquisto-o diariamente!

O grau de parentesco podia não se aplicar, mas desde cedo que percebi que os amigos são uma extensão da família. E eu fiz alguns - na escola, na catequese e no coro. E, curiosamente, se hoje dispenso falar ao telemóvel, na escola primária era eu que atendia as chamadas [porque a minha turma tinha aulas no piso superior, onde estava instalado o telefone]. Se calhar, foi por isso que me cansei. Nunca me poderia era cansar dos sábados de catequeses [das 10h às 11h], porque há uma fé que me move e porque tinha um grupo incrível. Só chegamos quatro ao Crisma, mas passei momentos maravilhosos com aquelas pessoas. E o Colégio do Sardão, que conheço quase como a palma da minha mão, teria muitas peripécias para partilhar, se as suas paredes falassem.

O melhor vem no fim, modéstia à parte. E aqui estou eu, uma mini Andreia cheia de sonhos, com ar de rufia e gargalhada fácil; que adorava a sua moto 4, não se calava um segundo e que contava histórias com toda a pompa e circunstância. Confesso, dei trabalho: desde partir ovos - porque sim - a ter o voador preso, para não voar com ele, energia não me faltava. E ainda dei alguns concertos no pátio cá de casa [o meu vizinho deve ter uma prova dessa tragédia]. Sempre atenta e curiosa, fui pôr, literalmente, o nariz onde não devia: quem é que me mandou ir cheirar garrafas de cerveja às escondidas? Maria-rapaz, só estava bem a jogar à bola, a brincar com carrinhos e, mais tarde, a escrever sem parar. Nesta altura, talvez não percebesse a sorte que tinha. O quanto fui uma criança feliz, que cresceu em liberdade. Fiz muitas asneiras, é certo, mas aproveitei bem esta fase tão mágica das nossas vidas.

No momento em que soprar as velas, vou pensar em cada um de vocês. Obrigada ❣