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Fotografia da minha autoria |
«Uma trilogia moçambicana»
A escrita melodiosa de Mia Couto conquistou-me no Terra Sonâmbula, o único livro que tinha lido até ao momento. Por esse motivo, e por ter sentido algum conforto ao avançar na leitura, fui acalentando a vontade de conhecer melhor a sua obra. Para tal, decidi aceitar o repto da Sandra Cavaleiro [Leituras Descomplicadas].
A proposta passava por «saborear a escrita poética do autor ao sabor das estações do ano, lendo dois» em cada uma. A minha jornada, neste sentido, sofreu um reajuste, mas não podia perder o impulso desta iniciativa.
Na minha estante já figuravam os dois primeiros volumes da trilogia As Areias do Imperador - e tinha a intenção de comprar o terceiro antes de iniciar a leitura. Portanto, com a coleção reunida, aguardei até chegar às estações que contemplavam estes exemplares. E divide-me entre o verão e o outono para os descobrir.
AS AREIAS DO IMPERADOR
A trilogia, só para contextualizar, centra-se nos derradeiros dias do Estado de Gaza, «o segundo maior império em África dirigido por um africano», e em Ngungunyane, que foi o último imperador a «governar metade do território de Moçambique». Em 1895, as forças portuguesas derrotaram-no e acabou por ser deportado para os Açores, onde faleceu, em 1906. A narrativa, repartida por três exemplares, é, assim, uma recreação «ficcional inspirada em factos e personagens reais». E levanta preocupações sugeridas por versões distintas da história: terão sido as ossadas do Imperador a regressar a Moçambique? Porque há quem desenhe outro cenário.
LIVRO UM: MULHERES DE CINZA

TW: Violência Doméstica, Referência a Morte, Suicídio, Aborto e Violação; Linguagem Explícita
A escrita de Mia Couto é melodiosa, embalando-nos como numa dança. Embora esta tenha apontamentos bastante tristes e delicados, transportando-nos para um cenário de guerra e de desigualdade, no qual a mulher continua a ser um ser inferior, somos envolvidos nesta sua bela capacidade de contar histórias. Confesso, ainda assim, que não achei esta extraordinária, talvez pela sua organização, que acaba por tornar alguns aspetos repetitivos. Mas, por outro lado, também é essa estrutura que nos permite contactar com perspetivas distintas. Estava muito curiosa para perceber como é que a narrativa cresceria nos outros dois volumes.
LIVRO DOIS: A ESPADA E A AZAGAIA

TW: Violência, Morte, Referência a Escravatura
O segundo volume da trilogia As Areias do Imperador transporta-nos para dois pólos opostos: os vencedores e os vencidos. Pelo meio, deparamo-nos com os conflitos de quem vive os dois cenários, com os costumes e as sucessivas tentativas de um povo amedrontado para sobreviver. Além disso, intercalando três vozes no papel de narrador, corroboramos uma noção antiga: cada história tem vários lados - e nem sempre a verdade dos factos se afigura de imediato. Sentindo as emoções à flor da pele, também percebemos que o amor será sempre colocado à prova. Por um lado, gostei mais desta continuação, mas, por outro, senti que algumas passagens foram um pouco mais céleres e com pontas soltas. Ainda assim, é uma história maravilhosa e o final deixou-me com imensa vontade de prosseguir para a última parte deste ambiente tão brilhante.
LIVRO TRÊS: O BEBEDOR DE HORIZONTES

TW: Referência a Suicídio, Violência, Assédio; Linguagem Explícita
O fim da viagem. A conclusão de uma trilogia sublime, que nos levou por um período histórico turbulento, algo misterioso e cheio de camadas. A escrita de Mia Couto foi, para mim, o elemento chave desta narração, uma vez que nos inebria, ao mesmo tempo que quase nos coloca no centro da ação. Além disso, tornou-se fascinante acompanhar o crescimento de Imani, enquanto mulher e enquanto figura de importância, já que lhe foi atribuída uma tarefa crucial nesta última etapa. Há partes cruéis, que chocam e angustiam, mas também existem fragmentos de extrema perseverança, esperança e resistência. Mostrando-nos que há muitas áreas cinzentas na história oficial, percebemos que cada interpretação pretende manifestar a sua verdade.
10 Comments
Confesso que nunca li nada do autor, vou levar as tuas sugestões para ler em 2023.
ResponderEliminarObrigada pela partilha, minha querida.
Beijinho grande!
Do pouco que já li, estou encantada com a escrita, é maravilhosa!
EliminarTenho muita curiosidade em ler as obras deste autor *.*
ResponderEliminarAcho que ias gostar, minha querida!
Eliminar.
ResponderEliminar.
Adorei a publicação que muito gostei de ver, e ler. Mas hoje quero apenas deixar votos de um FELIZ E SANTO NATAL, extensivo à sua família e amigos
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Poema de Natal: “” Jesus, é a luz, o caminho “”
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
Obrigada e igualmente, Ricardo!
EliminarPosso dizer que ainda não conhecia de todo, mas vou levar essa dica a quem adora muito ler
ResponderEliminarUm Feliz Natal
Beijinhos
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Aconselho :)
EliminarNunca li, confesso.
ResponderEliminarSe tiveres curiosidade, aconselho :)
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