Entre Margens

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«A vida é feita de momentos colecionáveis»


Junho chegou com promessa de festa, muita escrita, reencontros e música ao vivo e cumpriu na perfeição. Além disso, o sexto mês do ano ficará para sempre ligado ao início da minha jornada blogosférica, portanto, tem tudo para ser feliz. Entre saídas a solo e o colo das minhas pessoas-casa, deixará algumas saudades.


       MOMENTOS       

Concluir o Reading Challenge 2023
A minha meta no desafio do Goodreads estava nos 55 livros (a quantidade de títulos que tinha por ler) e alcancei-a na segunda semana de junho. Este número é, para mim, apenas um ponto de orientação, mas enche-me as medidas saber que já tive a oportunidade de me cruzar com tantas histórias.

Concerto d' Os Quatro e Meia
Corria o ano de 2014, quando me deparei com o tema P'ra Frente é Que é Lisboa, d' Os Quatro e Meia. Desde esse momento, percebi que escalariam para o topo das minhas preferências e não me enganei. Aliás, reforço essa certeza todas as vezes que os ouço e, ainda mais, quando os vejo a atuar ao vivo. Há uns tempos, fui surpreendida pela minha Gémea e pelo T., que compraram bilhetes para o concerto que dariam no Centro de Artes de Ovar. Para além da sala ser intimista, assistimos a um momento mágico. Eles são os reis disto tudo.

S. João
Uma das minhas festas favoritas, sobretudo, por ser celebrada em família. Por questões profissionais, este ano, faltaram pessoas à mesa, mas teremos a oportunidade de festejar um S. João tardio. Tudo assume outro significado nesta altura e é maravilhoso viver a noite mais longa da(s) minha(s) cidade(s).

      

      

      

      

      

Outros apontamentos bonitos do mês: ter saídas a solo para escrever e para fotografar, o Porto conquistar a taça de Portugal, receber o livro «Leme» (Margarida Sá Fernandes) e criar o meu cantinho do chá.


       LEITURAS       

📖 A Importância do Pequeno-Almoço, Francisca Camelo
📖 Guarda Nocturno, Ana Freitas Reis
Clube Leituras Descomplicadas

📖 O Pianista de Hotel, Rodrigo Guedes de Carvalho
Alma Lusitana

📖 Maremoto, Djaimilia Pereira de Almeida
Ler a Diferença

📖 Obras Completas Vol. I e II, Maria Judite de Carvalho
Alma Lusitana


Outras leituras do mês: 
Ainda Bem Que a Minha Mãe Morreu (Jennette McCurdy), Lágrimas no Mercado (Michelle Zauner), Conversas Entre Amigos (Sally Rooney), Género Queer (Maia Kobabe) e Rádio Silêncio (Alice Oseman)


     FILMES, SÉRIES E PODCASTS     

Braga
O corpo de uma criança cigana - Carlitos - é encontrado no Miradouro do Bom Jesus e o que chama logo à atenção é a posição em que foi deixado: de braços abertos, como se tivesse sido pregado numa cruz. Numa linha paralela, assistimos à chegada de um jovem padre à cidade de Braga. António instala-se numa paróquia abandonada, num «bairro de pobres e excluídos». É ao tentar recuperá-la que o seu caminho se cruza com Carlitos, de quem se torna próximo. A confiança entre os dois cresce, ao ponto de o rapaz lhe confidenciar que uma «pessoa muito importante da sociedade da cidade é pedófila», mas não chega a revelar o nome, aparecendo morto. Enquanto se investiga o crime, compreende-se que a alma humana será constantemente colocada à prova, numa luta entre o bem, o mal e a verdade - a premissa é excelente, mas há aspetos que necessitam de amadurecer.

A Hora dos Lobos
O filme inspirado no livro «Alcateia», de Carlos de Oliveira, transporta-nos para Cantanhede, nos anos 40. Num mundo de pescadores, Leandro e a filha Mariana «vivem do que o mar lhes dá», tentando contornar a precariedade evidente. Quando Mariana é violada, Leandro faz justiça pelas próprias mãos, por isso, vê-se obrigado a desaparecer e acaba por se juntar a um grupo de saltimbancos. Embora ache que algumas questões foram abordadas com alguma rapidez, foi interessante perceber que o escândalo de uma violação não é pelo ato hediondo em si, mas pelo falatório que pode provocar. E, infelizmente, esta mentalidade não ficou perdida neste tempo, ainda hoje tem um peso considerável.

Instinct
O Dr. Dylan Reinhart foi um agente da CIA, mas, atualmente, é professor universitário. Quando a detetive Lizzie Needham o interpela, para a ajudar a encontrar um assassino que usa o seu livro como orientação, Reinhart retoma funções e deixa de lado a sua vida pacata. Acho que o ponto chave desta série é mesmo a dinâmica entre esta dupla.

Podcasts
🎤 Desengatados Ep.6, que mostra bem a dualidade de critérios em relação às mulheres numa dating app;
🎤 Watch.tm c/ Diogo Dalot, com uma conversa maravilhosa e descontraída;
🎤 Assim Se Faz Portugal, um podcast da TSF, com voz da Maria Rueff a dar vida aos textos de Luísa Costa Gomes, Manuel Monteiro, Filipe Homem Fonseca e Afonso Cruz.


       À MESA       

O meu domingo de manhã está reservado para a preparação dos lanches da semana.

   

Assim, tenho tentado experimentar receitas diferentes e tanto os bolinhos de coco, como o bolo fondant com framboesas são exemplos dessas tentativas mais recentes. São fáceis de confecionar e rendem, o que é sempre ótimo para poupar tempo (tenho só em atenção as framboesas, porque não são fruta duradoura).


       ENTRE LINHAS       

Newsletter 80/90
A Isaura propôs-se a estar três meses sem redes sociais, porque «estava cansada de se sentir uma autêntica máquina de telegramas». Mas como é muitas coisas e precisa de divagar, enviou a sua primeira newsletter, com fixações, manias e pancas do momento. Estou a gostar muito da sua abordagem direta, mas dividida em alguns elementos culturais, que vão de livros a séries e a coisas que a deixam entusiasmada.

Ler a Diferença
A Elga Fontes (@quemmelera) recuperou o seu projeto Ler a Diferença, um ciclo de leituras inclusivas, «que pretende conciliar a exploração dos diversos temas e experiências proporcionados pelos livros com a aposta em autores marginalizados». Assim, todos os meses, haverá um tema associado e duas sugestões (uma de ficção e uma de não ficção), mas podemos explorar outras possibilidades. Esta iniciativa, que creio ser de máxima importância, durará de junho até dezembro.


       JUKEBOX       

Top 5 de favoritas
🎧 Pedra Quente, Salvador Sobral;
🎧 Será o Que Será, Joana Espadinha;
🎧 Não Vás Já, Mimi Froes;
🎧 Paranoia, David Fonseca;
🎧 Agora Vira, Edmundo Inácio


Álbuns
🎵 V.H.S. (Vol. 1), Fernando Daniel;
🎵 Uma Valsa Urgente, António Zambujo


       GRATIDÃO       

Estamos cansados, mas ninguém diz que não

O meu ponto de gratidão, para junho, divide-se em duas vertentes: a oportunidade de assistir a um concerto de uma das minhas bandas favoritas (com a companhia certa) e ter a casa cheia para celebrar o S. João.


Como foi o vosso mês?

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A banda sonora de uma viagem literária


Liberdade, tristeza, autodescoberta, perda, quebra de estereótipos, vazio, intimidade. Creio que estes poderiam ser os termos-chave para descrever a banda sonora literária de junho, até porque se alinham com os manifestos das várias narrativas. Foram leituras muito ricas e as canções vieram acompanhar essa tendência.


A IMPORTÂNCIA DO PEQUENO-ALMOÇO, FRANCISCA CAMELO
Nome de Mulher, Ana Magalhães ▫ O livro da Francisca Camelo ramifica-se naquilo que é ser mulher, no quanto a sua voz continua a ser invisível, ainda que haja tanto na sociedade que dependa de si. Na música da Ana Magalhães, temos uma mulher que se faz ouvir e que se recusa a sucumbir. Portanto, quando concluí a leitura, senti que a canção encaixava muito bem nos poemas, porque, mesmo que existam tantos obstáculos, tantas tentativas de limitar a liberdade feminina, a mulher continua aqui, a resistir.


GUARDA NOCTURNO, ANA FREITAS REIS
Guarda-me Esta Noite, Valter Lobo ▫ A associação foi imediata pelo título, ainda que partilhem mais a energia do que, propriamente, as palavras. Ademais, sinto que tanto o livro, como a canção transmitem uma certa urgência para não cairmos no marasmo da vida, para «sacudirmos o tédio», porque «o tempo é um fio que pode romper hoje».


OBRAS COMPLETAS VOLUME I, MARIA JUDITE DE CARVALHO
Mariana, Mariana, Maria Bethânia ▫ Tanta Gente, Mariana foi o conto que mais me arrebatou, portanto, quis uma música que, de alguma forma, o evidenciasse. Para além do título da canção cumprir esse propósito, a letra explora uma ideia de descoberta, de viagem interna, que nos fala à alma, exatamente como a escrita de Maria Judite de Carvalho; exatamente como Mariana e as restantes personagens deste primeiro volume.


MAREMOTO, DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA
Lisboa Não é a Cidade Perfeita, Deolinda ▫ A cidade de Lisboa é um espaço central na narrativa, por isso, fiz a associação desta maneira. Além disso, «não é a cidade perfeita» remate-me para a marginalização das personagens, em plena capital, ao mesmo tempo que canta as saudades e as imperfeição e que dá «eco a quem nunca tem voz».


O PIANISTA DE HOTEL, RODRIGO GUEDES DE CARVALHO
Prelude in B Minor, Bach & Khatia Bunatislavili ▫ Ainda não tinha iniciado a leitura e já sabia que ia querer que a melodia fosse só de um piano. Como Bach é mencionado, uni o melhor de dois mundos, interligando a escrita com a arte musical, numa versão moderna e plural - até porque esta história não segue apenas um ritmo.


AINDA BEM QUE A MINHA MÃE MORREU, JENNETTE MCCURDY
Heart Of a Child, Jennette McCurdy ▫ Estive um pouco indecisa na música, embora quisesse uma da Jennette McCurdy, porque há vários fragmentos que nos remetem para diferentes canções. No entanto, optei por esta, porque transmite a ideia de uma infância perdida, roubada, que é o que encontramos neste livro de não ficção.


OBRAS COMPLETAS VOLUME II, MARIA JUDITE DE CARVALHO
Lugar Vazio, Aline Frazão ▫ Este volume está dividido em dois contos e uma novela. Foi a novela Os Armários Vazios que roubou o meu coração por inteiro, apesar de haver um fio a interligar cada um dos textos. Por esse motivo, foquei-me no seu propósito e acabei por me cruzar com este tema da Aline Frazão. Ao escutá-lo, percebi que encaixava na perfeição, porque canta a tristeza, a distância, a ausência e esta sensação de vazio, como se, à nossa volta, nada nos amparasse.


LÁGRIMAS NO MERCADO, MICHELLE ZAUNER
Tell Him, Barbra Streisand & Céline Dion ▫ Era uma das músicas favoritas da mãe da autora, logo, fez-me todo o sentido prestar-lhe esta homenagem. A letra talvez não seja a mais alinhada com a narrativa, mas acho que, pela importância que tem, no momento em que Michelle Zauner recupera esta memória, não poderia seguir outra combinação.


CONVERSAS ENTRE AMIGOS, SALLY ROONEY
Atmosphere, James Blake ▫ Estive quase a seguir a sugestão da Sofia e a escolher «Complicated», da Avril Lavigne, porque, de facto, é o que estas personagens mais são. Mas, depois, ouvi esta canção do James Blake e senti que espelhava bem os silêncios ao longo da narrativa, a noção dos perigos e a vontade de permanecer perto. E de conversa em conversa - ou de confusão em confusão -, há um vínculo que se vai criando.


GÉNERO QUEER, MAIA KOBABE
Born This Way, Maia Kobabe ▫ Há uma ocasião em que Maia tem um momento de descoberta que lhe permite compreender que, de facto, nasceu deste jeito e que não há nada de errado com elu e, por isso, refere este tema de Lady Gaga. Claro que aproveitei a dica, até porque acredito que ajuda a destacar este processo de aceitação, nem sempre sereno, muitas vezes pautado por incertezas e desconfiança. Além disso, reconhecendo que a jornada não é fácil, torna-se importante erguer a cabeça e não ficar preso a arrependimentos. E aprendermos a amar-nos pelo que somos é vital.


RÁDIO SILÊNCIO, ALICE OSEMAN
Lost In The Cosmos, Romantica ▫ Uma canção descoberta depois de alguma pesquisa, mas que encaixa neste livro na perfeição por duas razões: porque um dos protagonistas de Rádio Silêncio criou um universo paralelo, como se estivesse mesmo perdido no cosmos, onde se sente em casa; e porque uma das frases de marca desse universo é «espero que alguém esteja a ouvir», algo que também é explorado neste tema. Aliado a isso, sinto que a melodia acompanha bem o ritmo da história.

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«Um mapa de estradas da minha vida»

Avisos de Conteúdo: Morte, Luto, Linguagem Explícita


A leitura da obra literária que se segue requer um certo ambiente: intimista, com um aroma a café a inebriar os nossos pensamentos e uma predisposição que nos permita acolher uma infinidade de histórias singulares. Patti Smith abriu o seu álbum de polaroides e nós, imediatamente, sem esforço, seguimos os seus passos.


A ARTE DE ESCREVER SOBRE TUDO E COISA NENHUMA

M Train é uma narrativa de viagens, que nos transporta para o café nova-iorquino preferido da escritora e artista musical/visual, recuperando recordações antigas, leituras, pessoas, referências e inspirações e a sua relação com a arte. Neste revisitar do passado, vêmo-la a «transgredir a ordem do tempo».

«Quando as pesadas cortinas se abriram e a luz da manhã inundou 
a pequena área de jantar, ocorreu-me que, sem qualquer dúvida, nós às vezes 
escondemos os nossos sonhos por baixo da realidade»

O mundo que habita nestas páginas é fascinante, mas aquilo que me atraiu foi a sua capacidade para escrever sobre tudo e coisa nenhuma com o mesmo nível de entusiasmo. Aliás, dentro da banalidade dos dias, é a maneira como descreve as mais diversas situações que eleva a experiência, porque ajuda a criar uma proximidade palpável, mesmo que saibamos que não. Por isso, achei esta viagem tão bonita e difícil de largar.

«Serão os nossos pensamentos nada mais do que comboios a passar, sem paragens, 
sibilando por enormes cartazes de imagens sucessivas?»

A escrita consegue ser, paralelamente, poética e comum, focada em pensamentos profundos ou dilemas peculiares. Há um tom de normalidade, no qual não se leva nada a sério e que quase nos faz esquecer que é a Patti Smith - sou capaz de imaginar uma amiga de longa data a tecer observações similares. Em simultâneo, ao visitar «os lugares em nome de uma memória», notamos um tom melancólico, solitário e, também, de perda.

«- Nunca se paga demais pela paz de espírito - respondi eu»

Ter a oportunidade de descobrir estes textos é ter a sensação que estamos sentados ao seu lado, a percorrer sonhos, espaços bonitos e várias peripécias. M Train é uma partilha familiar entre mais uma chávena de café.


🎧 Música para acompanhar: Frederick, Patti Smith

📖 Da mesma autora, li e recomendo: Apenas Miúdos


◾ DISPONIBILIDADE ◾

Wook: Livro | eBook
Bertrand: Livro | eBook

Nota: O blogue é afiliado da Wook e da Bertrand. Ao adquirirem o[s] artigo[s] através dos links disponibilizados estão a contribuir para o seu crescimento literário - e não só. Muito obrigada pelo apoio ♥

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Título sugerido pela Matilde Ferreira


Estava a ficar farta da ladainha de sempre, daquela espécie de mantra que é suposto alinhar os nossos chakras — seja lá isso o que isso for —, mas que só me deixa com os nervos em franja! Desde quando é que um «olha para as estrelas» é a resposta para todos os problemas do mundo? Perdão, do meu mundo? Isto é do mais piroso que pode existir. Preciso mesmo de sair deste lugar.

Sim, reconheço, as estrelas são bonitas vistas de longe, mas já não tenho cinco anos para acreditar que escondem qualquer mensagem encriptada, que deciframos se as observarmos com atenção. Eu cresci, estou a um passo de ser mulher, mas é como se à minha volta ninguém percebesse isso. Pior, é como se se recusassem a aceitar que não sou mais uma criança e que este pedaço de terra esquecido pela humanidade já não me serve. Calma, não me acho grande de mais para ele, não me acho assim tão importante, apenas sinto que preciso de viver coisas diferentes, de esfolar os joelhos em asfaltos diferentes, de ter o coração despedaçado e de lamber as feridas numa vista panorâmica diferente — é parvo, admito, mas curar um desgosto na Capadócia é bem mais glamoroso do que fazê-lo numa casa no meio do monte. Este último ganha pontos pela melancolia, mas o primeiro vence qualquer pódio: pelo charme desconhecido, pela vista idílica, pela esperança em céu aberto. Aqui, até a vizinha mais deslocada consegue ouvir os meus suspiros profundos.

Passo noites em claro a traçar estratégias, mas há sempre alguma merda a estragar os planos. Por isso, engulo o orgulho e continuo no sítio de sempre, a ouvir que devia olhar mais para a estrelas, porque são demasiado bonitas para não serem contempladas. Se o meu futuro dependesse desta beleza, certamente, já teria orientado toda a minha vida.

Há uns dias, esparramada no sofá, a ver uma série qualquer, uma das personagens disse «vá, mundo», como se fosse uma maneira subtil de dizer ao outro para ir, para desamparar a paciência, que é sempre tão curta nestes contextos. E eu até ia, apanhava essa boleia, se este lugar não me prendesse. Esta ideia de ficar presa a algo que já não sou perturba-me, deixa-me a cabeça a explodir. Fui tão ingénua ao pensar que tinha encontrado a solução perfeita, mas, em vez de se construírem pontes, edificaram-se muros mais altos.

Estou uma lástima, eu sei, embora pareça a única a corroborar esse facto, mas preciso tanto de ver o mundo florir para me ver a mim a ganhar cor. Ando pálida de sonhos, inerte, a arrastar-me por vontades alheias. «Vá, mundo», repito em surdina, mas parece-me que não surte o efeito pretendido.

Antes que me afunde de vez, preciso que me deixem ir. Não basta que me abram a janela à noite, para que respire o ar da madrugada, preciso de pisar a terra. Estar aqui sufoca-me, compenso em demasia e ninguém o sabe. Só me sabem dizer para olhar para a porra das estrelas, como se isso fosse suficiente, como se isso chegasse para me realizar. Não é, não chega, todos sabem, ninguém o respeita.

Eu fui feita para sentir saudades, não para me habituar à presença. Fui feita para regressar, em períodos próprios, não para ficar eternamente. E por mais que os caminhos tenham sido construídos em paralelo, preciso de curvar para uma direção que me leve para longe. Estou farta de pensar pequeno, mesmo que a imensidão me assuste.

Dou voltas e mais voltas na cama. Conto até cem. Conto carneiros, vacas, pinguins, nada resulta. Sento-me à secretária e deixo que seja o coração a guiar as palavras. Faço as malas, seguro as lágrimas e fecho a porta devagar. Não sei para onde será suposto ir, mas existirão estrelas por lá.

Fotografias da minha autoria



«Uma das escritoras mais marcantes da literatura portuguesa»


O nome passou despercebido a maior parte da minha vida e, agora que o descobri, questiono-me como é que não é uma figura constante, quando se debate literatura, questiono-me como é que nas minhas aulas de português não me mostraram o mundo que é Maria Judite de Carvalho.

Se a memória não me falha, foi com uma partilha da Sofia (@ensaiosobreodesassossego) que percebi que teria de incluir esta autora na lista do Alma Lusitana, porque as palavras foram tão francas e convincentes, que fiquei com vontade de experienciar as mesmas sensações, as mesmas emoções, o mesmo nível de identificação que a transformasse numa autora-casa.

No total, foram publicados seis volumes destas Obras Completas e eu li os dois primeiros - tenho, ainda, o quinto na tbr, mas acho que vou querer ler por ordem. Embora sejam exemplares independentes, há linhas transversais: uma delas é sentir que, pela forma como borda os seus contos, poderia(mos) ser uma das suas personagens; outra é a elegância com que descreve a dor, a realidade, a falta de equidade. Além disso, continuam a ser textos bastante atuais, com tudo o que isso tem de maravilhoso e angustiante.

Há um mundo antes e depois de ler Maria Judite de Carvalho, pensamento da Sofia que eu corroboro na integra. Quero muito continuar entranhada nesta escrita que consegue ser intima, comovente e sempre verdadeira. É extraordinário como diz tanto com tão pouco.


OBRAS COMPLETAS VOLUME I


«Sinto-me só, mais do que nunca, ainda que sempre o tivesse estado»

Avisos de Conteúdo: Morte, Referência a Aborto, Suicídio, Rapto


O mundo é um lugar barulhento, por todos os diálogos que ecoamos no tempo, com as pessoas que nos rodeiam, com aqueles que chegam de novo e nos dão perspetiva. Mas, mesmo assim, sabendo que nos incluímos num mar de gente, não é descabido sentirmo-nos sós.

«A minha vida é como um tronco a que foram secando todas as folhas 
e depois, um após outro, todos os ramos. Nem um ficou»

Passei uma vida inteira sem me cruzar com Maria Judite de Carvalho, como o referi anteriormente, mas já assumi a missão de me redimir, porque a sua escrita conquistou-me na primeira frase. Há muita angústia nas suas palavras, há solidão, há saudade, há poesia. Nos seus contos, existe, sobretudo, uma ponte para vidas comuns, para uma realidade que, descrita há tantos anos, permanece atual. E é nesta certeza que acompanhamos as mágoas da mulher portuguesa, «os brandos costumes da hipocrisia moral salazarista» e a quantidade de vezes que, espantem-se, as vontades femininas são invisíveis e substituídas por caprichos masculinos - e como é que se perpetuam padrões sociais.

«Os seus olhos pareciam de repente vazios de olhar»

Há, nestas páginas, uma solidão e uma tristeza partilhadas e é maravilhoso perceber que a literatura tem a capacidade de nos abraçar desta maneira. Além disso, mostra-nos que existe uma certa beleza na melancolia.


🎧 Música para acompanhar: Mariana, Mariana, Maria Bethânia


OBRAS COMPLETAS VOLUME II


«Nós habituamo-nos a tudo, minha senhora, até a sermos desnecessários»

Avisos de Conteúdo: Referência a Morte; Saúde Mental


A solidão é o fio que agrega cada personagem, é a porta que se abre e que nos recebe nas suas vidas - ou serão as nossas vidas ali espelhadas?

«As coisas que não foram ditas deixam um desagradável sentimento de frustração»

Com uma escrita melancólica, irrepreensível, que se foca «nas gentes portuguesas», Maria Judite de Carvalho divaga sobre problemas reais, sobre momentos de angústia, de desassossego e de tristeza; mas também descreve a mágoa, os pequenos raios de felicidade e os debates internos que nos mostram tantos mundos, expondo o nosso lado mais sombrio. Como plano de fundo, encontramos, ainda, «os cativos resignados», os desamores, os estereótipos e mulheres que se distanciam daquilo que é socialmente aceite.

«A sua alma, se alma havia, estava longe; o seu corpo, nem queria pensar nisso»

Neste volume, dividido em dois contos e uma novela, há uma ideia que também me parece transversal: a falta de pertença, como se estas personagens sentissem que não há lugar para elas.


🎧 Música para acompanhar: Lugar Vazio, Aline Frazão

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Uma viagem literária para descobrirmos os nossos autores


Julho espreita e, no sétimo mês do ano, o Alma Lusitana terá três autores que não conheço. Joana Bértholo foi um nome que me despertou curiosidade, quando a vi no projeto Português no Feminino, da Ana Catarina Jesus. Por seu lado, Samuel Pimenta ficou na memória aquando da partilha dos Literacidades. Já Raquel Sem Interesse, que figurará como autora extra, surgiu num daqueles acasos bonitos, com o lançamento do seu mais recente livro. Uma vez que nunca me cruzei com as suas histórias, trouxe-os para esta viagem literária.


JOANA BÉRTHOLO

Nasceu em Lisboa, em 1982, licenciou-se em Design de Comunicação (Faculdade de Belas-Artes de Lisboa) e é doutorada em Estudos Culturais (European University Viadrina, na Alemanha). O percurso literário da escritora e dramaturga divide-se por romances, contos e literatura infantil, tendo conquistado alguns prémios.

      

Diálogos Para o Fim do Mundo: «Há uma história de amor, num tempo futuro após o fim do mundo, quando o amor ganhou sentidos novos ou deixou até de fazer sentido. Junto com o cinema, os museus e o próprio tempo. Há um famoso general do exército vermelho e uma velha que se lembra de tudo, do que importa e do que não importa. Três irmãs que carpem o destino dos homens e uma pequenina com ar de imperatriz. Há um cão mítico, e incontáveis pores-do-sol. Há até a bordo uma orquestra prussiana, que todas as tardes toca exactamente a mesma peça de Wagner. Segue tudo e todos juntos, num ajuntamento de opções flutuantes, uma espécie de arca. O que todos mais querem é chegar ao Brasil. Mas não sabemos se o Mundo não acaba entretanto».

Havia: «Havia muitas histórias, entre elas:
Havia uma rapariga que todas as manhãs saía para tomar café com um poema
Havia uma ilha rodeada de terra por todos os lados
Havia um sentimento sem nome
Havia, uma, vírgula, com, uma, gritante, necessidade, de, protagonismo,,,
Havia um Ricardo que queria ser um Francisco
Havia uma menina que estava há muito tempo sem comer
Havia um homem que tomava café para dormir
Havia um amor que era puro
Havia um poeta afetado
Havia alguém que amava uma marioneta
Havia uma história que não queria ser contada
Havia uma pessoa que um dia, numa manhã cinzenta, em pleno centro de Londres, acordou bem-humorada».

O Lago Avesso: «Ella Bouhart, coreógrafa consagrada, vive num sexagésimo quarto andar, no centro de uma metrópole, de onde avista um enorme jardim, ao fundo do palco, observa a cada dia as diferentes tonalidades de um lago. Esse lago representa o seu horizonte, até onde não é capaz de ir, os territórios da sua vida que se sente incapaz de ocupar. Isso, e o seu avesso».


      

Inventário do Pó: «Neste livro, a cada um dos 18 temas do álbum de música eletrónica Um Argentino no Deserto, de René Bertholo, corresponde um conto».

O Museu do Pensamento: «Este Museu é especialíssimo porque se dedica a compilar e proteger um bem essencial. Já alguma vez pensaram onde vão parar os pensamentos depois de passarem pela vossa cabeça? O que é que lhes acontece? Nunca pensaram nisso? Nunca mesmo? Nunca tiveram assim um pensamento tão grande, tão pesado, que vos fizesse doer a cabeça? Nunca tiveram assim um pensamento tão bonito ou divertido que vos deixasse feliz sem ter de acontecer mais nada? O guia Miguel irá conduzir-nos pelos meandros do pensamento»

Ecologia: «Numa sociedade que se fundiu com o mercado - tudo se compra, tudo se vende - começamos a pagar pelas palavras. A estranheza inicial dá lugar ao entusiasmo. Afinal, como é que falar podia permanecer gratuito? Há seis mil idiomas no mundo. Seis mil formas diferentes de dizer ecologia, e tão pouca ecologia. Seis mil formas diferentes de dizer paz, e tão pouca paz. Seis mil formas diferentes de dizer juntos, e cada um por si».


   

A História de Roma: «Duas pessoas que foram outrora um casal encontram-se passados dez anos de se separarem. Ela, lisboeta, condu-lo a ele, o estrangeiro, por diferentes percursos na sua cidade, enquanto desnovelam memórias. Na tentativa de estabelecer um passado comum, raros são os trajectos que coincidem. Resta-lhes os nomes de certas ruas, de certas cidades — Buenos Aires, Berlim, Marselha, Beirute — que se tornam topografias íntimas, que não poderão mais ser visitadas, como o nome da filha que nunca tiveram».

Natureza Urbana: «Eu era uma pessoa simples urbana, uma planta que insistiu em crescer entre os paralelepípedos do passeio, na rua mais concorrida da metrópole, cujo destino é conhecer a sola dos sapatos de milhares de turistas e transeuntes e respirar violentas concentrações de dióxido de carbono. Eu sabia chamar um táxi, mas não o rebanho; sabia levar uma muda de roupa à lavandaria self-service e trazê-la limpa, mas não sabia levar um cântaro à teta da vaca e trazê-lo cheio. Não sabia atear fogo, construir um abrigo, nem situar-me olhando as estrelas. Não conhecia o significado dos ventos nem descodificava as nuvens, quando antecipam temporal. Os elementos do mundo em meu redor que eu considerava naturais eram indecifráveis».

Podem, também, encontrá-la na coletânea Vinte Grandes Contos de Escritoras Portuguesas


SAMUEL PIMENTA

Nasceu em Santarém, em 1990, e licenciou-se em Ciências da Comunicação. Além das obras a solo, está presente em antologias e o seu currículo conta com alguns prémios. Escreve desde os 10 anos e dedica-se «à espiritualidade, à promoção dos direitos LGBTQIA+, dos direitos humanos e dos direitos da Terra».

      

O Escolhido: «
Um jovem com o destino traçado. Duas mortes numa fria noite em Lisboa provoca a luta contra as forças do Mal. Criadas pela lendária Deusa, Seis Chaves de Cristal com um poder avassalador e segredos ocultos só serão descobertos pel’ O Escolhido. Muito se aguardou pelo seu nascimento e uma ordem secreta zela pela sua integridade agora que o seu tempo chegou».

O Relógio: «À prisão circular e obsessiva do tiquetaquear dos seus ponteiros, que soam enfadonhamente em eco redondo, triste e infindo, cinzento e nauseante, cola-se "o blá-blá-blá das gentes redondas que nada mais sabem dizer além de dizerem nada", e "que nada mais vêem além do umbigo que trazem na barriga, redonda também».

Geo Metria: «A poesia de Samuel Pimenta, sublime e requintada, surge abrilhantada pela ilustração do artista João Saramago cujo trabalho influenciou a própria escrita da obra».


      

Os Números Que Venceram os Nomes: «O que é um nome? — A pergunta ressoou por toda a divisão, embateu nas paredes e voltou ao emissor sem obter resposta. Um Nove Um Seis estava sentado na única cama do quarto número onze do hospício. Via as paredes do quarto a girar como se tivessem sido empurradas por uma criança que brinca com um globo terrestre pela primeira vez. Além disso, sentia-se como se estivesse de olhos abertos debaixo de água, estava tudo turvo. Era efeito dos fortes medicamentos. Sentado numa cadeira ao lado da cama, um médico observava-o de testa plissada, enquanto segurava uma folha no colo, onde fazia algumas anotações».

Ágora: «Este livro é sobre o trânsito vida/morte/renascimento, da luz/sombras e dos caminhos do meio, é sobre a redenção dos homens após a desolação e destruição que criaram no mundo»

Iluminações de Uma Mulher Livre: «Na aldeia onde é rejeitada e perseguida pela população, Isabel acorda com a única ideia capaz de a libertar do casamento opressor em que vive: matar o marido. Se, de início, a ideia lhe parece improvável, vai ganhando força à medida que recorda as histórias das mulheres do passado, de que a avó lhe falava quando, com outras mulheres, se reuniam em grupos femininos secretos para falarem de oráculos, curas e magia. Isabel é moderna, sensível, curiosa e sempre quis a sua independência».


   

Ascensão da Água: «N
asceu da observação do ciclo da água, elemento tão vital ao planeta, mas também dos mitos a ela associados, com referências às imagens pagãs do inferno primordial, do mundo subterrâneo e subaquático».

Ophiussa: «Herdeira do Jardim das Hespérides - que os mitos antigos situam na Península Ibérica - Ophiussa governa a cidade hoje conhecida por Lisboa. Deusa, Rainha e Serpente, é a última guardiã do tempo das Grandes Mães - a Idade de Ouro - em que a Deusa era cultuada pela humanidade. Mas novos deuses e os seus heróis vão tomando o lugar e o poder das antigas Senhoras da Terra».

Podem, também, encontrá-lo na coletânea Abril Depois de Abril e na antologia Emergente


RAQUEL SEM INTERESSE

Raquel da Silva Fernandes intitulou-se como Raquel Sem Interesse. Nascida no Porto, em 1989, licenciou-se em Artes Plásticas Multimédia e tirou o mestrado em Ilustração e Animação - foi nesta altura que descobriu «a paixão pelo cartoon». Além disso, o gosto pelo desenho aliou-se à sua necessidade de contar histórias.

   

Vida de Adulta: «Quica é uma jovem igual a tantas outras. Trabalha demasiadas horas num emprego de que não gosta, tem dilemas existenciais, às vezes gasta mais dinheiro do que aquele que tem, gosta de sair à noite com os amigos, embora não adore a música de dança, tem um problema com fotografias (sofre do oposto da fotogenia) e diz algumas asneiras. O que começou como um projecto de curso transformou-se numa série de tiras que têm acompanhado a vida desta personagem cómica e, ao mesmo tempo, amorosa».

E Agora?: «O relato de uma jovem com o futuro penhorado, como tantos neste país. Neste livro, dividido por quatro capítulos, cada um num tom de cor diferente, Raquel conta-nos a história da sua vida. Não é uma vida extraordinária, nem emocionante. É uma vida comum, pontuada pela tristeza e desilusão, que a autora tão bem traduz nas suas ilustrações».


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andreia morais

andreia morais

O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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