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ALMA LUSITANA: OS AUTORES DE JULHO

by - junho 23, 2023

Fotografia da minha autoria



Uma viagem literária para descobrirmos os nossos autores


Julho espreita e, no sétimo mês do ano, o Alma Lusitana terá três autores que não conheço. Joana Bértholo foi um nome que me despertou curiosidade, quando a vi no projeto Português no Feminino, da Ana Catarina Jesus. Por seu lado, Samuel Pimenta ficou na memória aquando da partilha dos Literacidades. Já Raquel Sem Interesse, que figurará como autora extra, surgiu num daqueles acasos bonitos, com o lançamento do seu mais recente livro. Uma vez que nunca me cruzei com as suas histórias, trouxe-os para esta viagem literária.


JOANA BÉRTHOLO

Nasceu em Lisboa, em 1982, licenciou-se em Design de Comunicação (Faculdade de Belas-Artes de Lisboa) e é doutorada em Estudos Culturais (European University Viadrina, na Alemanha). O percurso literário da escritora e dramaturga divide-se por romances, contos e literatura infantil, tendo conquistado alguns prémios.

      

Diálogos Para o Fim do Mundo: «Há uma história de amor, num tempo futuro após o fim do mundo, quando o amor ganhou sentidos novos ou deixou até de fazer sentido. Junto com o cinema, os museus e o próprio tempo. Há um famoso general do exército vermelho e uma velha que se lembra de tudo, do que importa e do que não importa. Três irmãs que carpem o destino dos homens e uma pequenina com ar de imperatriz. Há um cão mítico, e incontáveis pores-do-sol. Há até a bordo uma orquestra prussiana, que todas as tardes toca exactamente a mesma peça de Wagner. Segue tudo e todos juntos, num ajuntamento de opções flutuantes, uma espécie de arca. O que todos mais querem é chegar ao Brasil. Mas não sabemos se o Mundo não acaba entretanto».

Havia: «Havia muitas histórias, entre elas:
Havia uma rapariga que todas as manhãs saía para tomar café com um poema
Havia uma ilha rodeada de terra por todos os lados
Havia um sentimento sem nome
Havia, uma, vírgula, com, uma, gritante, necessidade, de, protagonismo,,,
Havia um Ricardo que queria ser um Francisco
Havia uma menina que estava há muito tempo sem comer
Havia um homem que tomava café para dormir
Havia um amor que era puro
Havia um poeta afetado
Havia alguém que amava uma marioneta
Havia uma história que não queria ser contada
Havia uma pessoa que um dia, numa manhã cinzenta, em pleno centro de Londres, acordou bem-humorada».

O Lago Avesso: «Ella Bouhart, coreógrafa consagrada, vive num sexagésimo quarto andar, no centro de uma metrópole, de onde avista um enorme jardim, ao fundo do palco, observa a cada dia as diferentes tonalidades de um lago. Esse lago representa o seu horizonte, até onde não é capaz de ir, os territórios da sua vida que se sente incapaz de ocupar. Isso, e o seu avesso».


      

Inventário do Pó: «Neste livro, a cada um dos 18 temas do álbum de música eletrónica Um Argentino no Deserto, de René Bertholo, corresponde um conto».

O Museu do Pensamento: «Este Museu é especialíssimo porque se dedica a compilar e proteger um bem essencial. Já alguma vez pensaram onde vão parar os pensamentos depois de passarem pela vossa cabeça? O que é que lhes acontece? Nunca pensaram nisso? Nunca mesmo? Nunca tiveram assim um pensamento tão grande, tão pesado, que vos fizesse doer a cabeça? Nunca tiveram assim um pensamento tão bonito ou divertido que vos deixasse feliz sem ter de acontecer mais nada? O guia Miguel irá conduzir-nos pelos meandros do pensamento»

Ecologia: «Numa sociedade que se fundiu com o mercado - tudo se compra, tudo se vende - começamos a pagar pelas palavras. A estranheza inicial dá lugar ao entusiasmo. Afinal, como é que falar podia permanecer gratuito? Há seis mil idiomas no mundo. Seis mil formas diferentes de dizer ecologia, e tão pouca ecologia. Seis mil formas diferentes de dizer paz, e tão pouca paz. Seis mil formas diferentes de dizer juntos, e cada um por si».


   

A História de Roma: «Duas pessoas que foram outrora um casal encontram-se passados dez anos de se separarem. Ela, lisboeta, condu-lo a ele, o estrangeiro, por diferentes percursos na sua cidade, enquanto desnovelam memórias. Na tentativa de estabelecer um passado comum, raros são os trajectos que coincidem. Resta-lhes os nomes de certas ruas, de certas cidades — Buenos Aires, Berlim, Marselha, Beirute — que se tornam topografias íntimas, que não poderão mais ser visitadas, como o nome da filha que nunca tiveram».

Natureza Urbana: «Eu era uma pessoa simples urbana, uma planta que insistiu em crescer entre os paralelepípedos do passeio, na rua mais concorrida da metrópole, cujo destino é conhecer a sola dos sapatos de milhares de turistas e transeuntes e respirar violentas concentrações de dióxido de carbono. Eu sabia chamar um táxi, mas não o rebanho; sabia levar uma muda de roupa à lavandaria self-service e trazê-la limpa, mas não sabia levar um cântaro à teta da vaca e trazê-lo cheio. Não sabia atear fogo, construir um abrigo, nem situar-me olhando as estrelas. Não conhecia o significado dos ventos nem descodificava as nuvens, quando antecipam temporal. Os elementos do mundo em meu redor que eu considerava naturais eram indecifráveis».

Podem, também, encontrá-la na coletânea Vinte Grandes Contos de Escritoras Portuguesas


SAMUEL PIMENTA

Nasceu em Santarém, em 1990, e licenciou-se em Ciências da Comunicação. Além das obras a solo, está presente em antologias e o seu currículo conta com alguns prémios. Escreve desde os 10 anos e dedica-se «à espiritualidade, à promoção dos direitos LGBTQIA+, dos direitos humanos e dos direitos da Terra».

      

O Escolhido: «
Um jovem com o destino traçado. Duas mortes numa fria noite em Lisboa provoca a luta contra as forças do Mal. Criadas pela lendária Deusa, Seis Chaves de Cristal com um poder avassalador e segredos ocultos só serão descobertos pel’ O Escolhido. Muito se aguardou pelo seu nascimento e uma ordem secreta zela pela sua integridade agora que o seu tempo chegou».

O Relógio: «À prisão circular e obsessiva do tiquetaquear dos seus ponteiros, que soam enfadonhamente em eco redondo, triste e infindo, cinzento e nauseante, cola-se "o blá-blá-blá das gentes redondas que nada mais sabem dizer além de dizerem nada", e "que nada mais vêem além do umbigo que trazem na barriga, redonda também».

Geo Metria: «A poesia de Samuel Pimenta, sublime e requintada, surge abrilhantada pela ilustração do artista João Saramago cujo trabalho influenciou a própria escrita da obra».


      

Os Números Que Venceram os Nomes: «O que é um nome? — A pergunta ressoou por toda a divisão, embateu nas paredes e voltou ao emissor sem obter resposta. Um Nove Um Seis estava sentado na única cama do quarto número onze do hospício. Via as paredes do quarto a girar como se tivessem sido empurradas por uma criança que brinca com um globo terrestre pela primeira vez. Além disso, sentia-se como se estivesse de olhos abertos debaixo de água, estava tudo turvo. Era efeito dos fortes medicamentos. Sentado numa cadeira ao lado da cama, um médico observava-o de testa plissada, enquanto segurava uma folha no colo, onde fazia algumas anotações».

Ágora: «Este livro é sobre o trânsito vida/morte/renascimento, da luz/sombras e dos caminhos do meio, é sobre a redenção dos homens após a desolação e destruição que criaram no mundo»

Iluminações de Uma Mulher Livre: «Na aldeia onde é rejeitada e perseguida pela população, Isabel acorda com a única ideia capaz de a libertar do casamento opressor em que vive: matar o marido. Se, de início, a ideia lhe parece improvável, vai ganhando força à medida que recorda as histórias das mulheres do passado, de que a avó lhe falava quando, com outras mulheres, se reuniam em grupos femininos secretos para falarem de oráculos, curas e magia. Isabel é moderna, sensível, curiosa e sempre quis a sua independência».


   

Ascensão da Água: «N
asceu da observação do ciclo da água, elemento tão vital ao planeta, mas também dos mitos a ela associados, com referências às imagens pagãs do inferno primordial, do mundo subterrâneo e subaquático».

Ophiussa: «Herdeira do Jardim das Hespérides - que os mitos antigos situam na Península Ibérica - Ophiussa governa a cidade hoje conhecida por Lisboa. Deusa, Rainha e Serpente, é a última guardiã do tempo das Grandes Mães - a Idade de Ouro - em que a Deusa era cultuada pela humanidade. Mas novos deuses e os seus heróis vão tomando o lugar e o poder das antigas Senhoras da Terra».

Podem, também, encontrá-lo na coletânea Abril Depois de Abril e na antologia Emergente


RAQUEL SEM INTERESSE

Raquel da Silva Fernandes intitulou-se como Raquel Sem Interesse. Nascida no Porto, em 1989, licenciou-se em Artes Plásticas Multimédia e tirou o mestrado em Ilustração e Animação - foi nesta altura que descobriu «a paixão pelo cartoon». Além disso, o gosto pelo desenho aliou-se à sua necessidade de contar histórias.

   

Vida de Adulta: «Quica é uma jovem igual a tantas outras. Trabalha demasiadas horas num emprego de que não gosta, tem dilemas existenciais, às vezes gasta mais dinheiro do que aquele que tem, gosta de sair à noite com os amigos, embora não adore a música de dança, tem um problema com fotografias (sofre do oposto da fotogenia) e diz algumas asneiras. O que começou como um projecto de curso transformou-se numa série de tiras que têm acompanhado a vida desta personagem cómica e, ao mesmo tempo, amorosa».

E Agora?: «O relato de uma jovem com o futuro penhorado, como tantos neste país. Neste livro, dividido por quatro capítulos, cada um num tom de cor diferente, Raquel conta-nos a história da sua vida. Não é uma vida extraordinária, nem emocionante. É uma vida comum, pontuada pela tristeza e desilusão, que a autora tão bem traduz nas suas ilustrações».


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads

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16 comments

  1. Parecem-me excelentes autores.

    Já ouvi falar muito da Joana Bértholo.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Estou muito curiosa! Depois darei feedback :)
      Beijo grande, minha querida

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  2. Que me parece ser mais uma boa sugestão para conhecer cada um, porque se não me engano ainda não conhecia de todo
    Um bom fim de semanaBeijinhos
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  3. Muita leitura por aí. Bom fim de semana!
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  4. Olá, Andreia. Gostei muito do post! Fiquei intrigado com os três autores apresentados e as suas obras. É ótimo ver tantos talentos literários em destaque. A forma como você descreveu cada escritor e as suas obras despertou a minha curiosidade para conhecer um pouco mais sobre eles.

    Com carinho,
    Cantinho dos Poemas de Criança 👦.

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    1. Fico muito contente por ler isso!
      Mal posso esperar para descobrir estes três autores :)
      Boas leituras

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  5. Confesso que não conhecia nenhum dos autores, obrigada pela partilha! :)

    www.amarcadamarta.pt

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    1. Ainda só conheço de nome, mas estou muito curiosa. Obrigada pelo feedback 😊

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  6. Conheço alguns de nome mas ainda não li 🫣

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