POESIA PARA O OUTONO

Fotografia da minha autoria



«(...) é mais estação da alma do que da Natureza»


O meu estado de alma está sempre alinhado com o outono. Na newsletter 149, a Sofia convidou-nos a refletir sobre a comercialização da estação do ano em causa, por esse motivo, parei para repensar sobre a primeira frase deste parágrafo e percebi que fui, intuitivamente, construindo a minha própria imagem do outono.

Existem muitas atividades que não entram na minha rotina, sem que isso seja provocado, apenas porque nunca se proporcionaram. A minha casa não é invadida pelo aroma de tartes de abóbora, ainda não provei o famoso pumpkin spice latte do Starbucks, nem me cruzo assim tanto com árvores revestidas daquele tom dourado ou acastanhado típico. Por outro lado, suspiro sempre por castanhas, roupas apropriadas à época e pela minha chávena com um caramel macchiato acabado de tirar. E velas, claro, a derreter em várias divisões.

Na realidade, o meu cenário idílico de outono inclui muita poesia. Embora leia este género o ano todo, acho que a energia da estação lhe assenta bem, talvez pelo tom nostálgico, talvez por ser feito de infinitas camadas - tal como o outono. Assim, reuni a antologia que encerrou as minhas leituras de 2022 e os três últimos livros de poesia lidos, para vos trazer quatro sugestões que podem aconchegar uma das minhas estações favoritas.


ANTOLOGIA POÉTICA, NATÁLIA CORREIA


Avisos de Conteúdo: Linguagem Explícita, Referência a Violação

A minha última leitura do ano anterior. A minha estreia na poesia de Natália Correia. E que bela combinação esta! Confesso que estava à espera de ser arrebatada de uma maneira diferente, em alguns poemas, no entanto, é fascinante como expressa os seus pontos de vista, como intervém através da palavra, centrando-nos em problemas concretos e urgentes. Com um tom ora carnal, ora vulnerável, é uma obra com inúmeras camadas e intencionalidades, na qual se identifica uma certa ironia e uma forte identidade política.


JÁ NÃO ME DEITO EM POSE DE MORRER, CLÁUDIA R. SAMPAIO


Uma escrita crua, visceral, sem receio de espelhar todas as emoções que lhe fervilham no peito. Além disso, estes poemas carregam um traço de absurdo, de loucura, mostrando bem a dualidade que habita em todos nós, seres tão inconstantes, incoerentes. E, depois, o silêncio que fica no vazio, no que não se compreende, nas angústias e nos traumas que fazem morada desde a infância. Achei absolutamente fascinante a maneira como o livro termina, uma vez que me parece acrescentar uma essência ainda mais pessoal ao manuscrito.


OBRA POÉTICA, SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN


Avisos de Conteúdo: Referência a Morte

A poesia de Sophia é muito visual, algo melancólica, com uma «pesada consciência da morte» e inúmeras dicotomias. Com o mar sempre presente, deambula pelo desejo de partir, pelo assombro, pelo pânico, pelo deslumbramento. Há, inclusive, uma polaridade entre o lado sombrio e a luminosidade das coisas. E é percetível a importância das casas na sua vida. Nestes poemas, parece condensar o mundo, por isso, temos temas tão diversos como a noite, o jardim, a natureza, os deuses, o amor, a alegria, o luto, o êxtase e a influência de outros artistas. Além disso, reforçou um pensamento que já partilhei entre amigos: a capacidade de escrever sobre trivialidades, transcendendo-as: a observação aparenta ser simples, mas ficamos a pensar naqueles versos e compreendemos que são feitos de camadas infinitas. Isso é um dom que me inspira.


TODAS AS PALAVRAS, MANUEL ANTÓNIO PINA


Avisos de Conteúdo: Referência a Morte

Manuel António Pina foi o autor homenageado, na edição deste ano, na Feira do Livro do Porto. Como só tinha lido textos soltos, quis aproveitar a oportunidade para me perder na sua poesia. Todas as Palavras revelou-se uma viagem intimista, como se estivesse sempre a regressar a casa. Deambulando pelas palavras, pelo silêncio, pela finitude, pela consciência de si, pela saudade e pela trivialidade da vida, temos sempre presente o que é real e aquilo que só o aparenta ser. Sinto que Pina nos deixa margem para fazermos distintas interpretações, dependendo do momento em que lermos os seus poemas. Hei-de relê-los e descobrir novos significados. Hei-de compreendê-los, mesmo sabendo que nunca os compreenderei em pleno. A sua escrita é desconcertante, mas também nos reserva o aconchego de um abraço. Sem desmerecer os restantes, digo-vos que Amor como em casa é um dos poemas mais bonitos que já li na vida - tornou-se um favorito de vida.

Comentários

  1. Para mim, outono rima com fins de tarde sentada no sofá, com uma manta a ler um livro ou um bom filme. Mas concordo que a poesia é um género que aconchega pela forma como as emoções e os temas são expostos.

    Das tuas sugestões li a obra poética da Sophia de Mello Breyner, vou levar as outras sugestões.

    Beijinho grande, minha querida.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Um programa sempre maravilhoso! Sim, também acredito nisso. Alinha-se mesmo bem com a energia do outono *-*
      Boas leituras, minha querida

      Eliminar
  2. Adoro *.* quero muito mandar vir a poesia de Natalia Correia :) Ja para nao falar em Sophia <3 E concordo plenamente, Outono é mesmo a estacao da alma *.*

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E tambem é a estacao da fase melancolica da Vida em que me encontro, a Menopausa...

      Eliminar
    2. Pela figura que é, confesso que estava à espera de poemas mais impactantes, mas gostei muito de descobrir a poesia de Natália Correia.
      Sophia nunca falha 💜

      Eliminar
    3. Haja poesia para confortar. Mas, qualquer coisa que precises, estou a uma mensagem de distância 🫶🏻

      Eliminar
  3. Com este tempo de chuva nada melhor que fica em casa ou a ver um bom filme mas também um bom livro, mas acho que tens aí umas boas sugestões
    Um bom fim de semana
    Beijinhos
    Novo post
    Tem Post Novo Diariamente

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, parece-me o programa ideal 😍
      Obrigada e igualmente, Sofia

      Eliminar
  4. Poesia é o meu género de leitura menos preferido, mas é sempre bom conhecer novas sugestões. 😉

    ResponderEliminar
  5. Parecem-me excelentes opções para os dias de aconchego que o outono trás :)

    ResponderEliminar

Enviar um comentário