Entre Margens

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A banda sonora de uma viagem literária


O compromisso de associar músicas aos livros foi renovado para este ano, mas com uma identidade nova, isto porque o nome anterior não me estava a fazer assim tanto sentido. Além disso, queria algo independente, que não ficasse preso a duas rubricas do blogue, para continuar a existir se algum dia decidir terminá-las.

Foi assim que nasceram as notas literárias. E as de janeiro reúnem 12 temas, que incluem artistas que nunca ouvi, reencontros e instrumentais, numa simbiose que é uma autêntica manta de retalhos. Há canções que exploram muito o nosso lado emocional, mas também trago um ou outro apontamento mais enérgico.


o quarto do bebé, anabela mota ribeiro
Preciso Me Encontrar, Cartola ▫ Há versos nesta canção que, para além de serem referidos no livro, descrevem bem o estado da protagonista: «Deixe-me ir/preciso andar/vou por aí a procurar/rir pra não chorar […] Se alguém por mim perguntar/diga que eu só vou voltar/depois me encontrar». Porque ela andou sempre nesta oscilação, nesta vontade de ir, de voltar, de se encontrar naquilo que acabou por perder.

ferry, djaimilia pereira de almeida
What a Difference a Day Makes, Dinah Washington ▫ A protagonista, numa fase inicial da narrativa, cantarola versos desta canção. Quando terminei a leitura, senti que tinha de ficar esta e bastava o título para o justificar, porque um dia fazia toda a diferença na sua vida, na vida de quem a rodeava. Mas, depois, ao ouvir o tema completo, percebi que ainda lhe assentava melhor pelos contrastes, pela ideia de mudança e de perda.

mar da tranquilidade, emily st. john mandel
A Thousand Years, Rachel Pierce ▫ Há um som de um violino que é essencial para toda a narrativa, por esse motivo, fui à procura de um instrumental… de violino. E escolhi uma versão de um tema bastante conhecido, creio eu, da Christina Perri: não pela mensagem que a cantora transmitiu na letra original, mas pela ideia de, página a página, estarmos um passo mais perto de descobrir algo, pela ideia do tempo que fica em suspenso, mas que, depois, parece trazer tantos anos dentro.

a casa holandesa, ann patchett
The Nutcracker, Op. 71, Act I: March, Pyotr ILyich Tchaikovsky, Sir Simon Rattle & Berliner Philharmoniker ▫ Inicialmente, tinha pensado num tema que abordasse as dinâmicas familiares, mas quando o Quebra Nozes é mencionado na história fez-me todo o sentido não seguir a via mais óbvia. Há algo nesta Casa Holandesa que nos leva para um lado clássico e imponente, tal como este tema em particular. De repente, imaginei-me a entrar na casa com esta música de fundo e a descobri-la com uma certa formalidade.

reaccionário com dois cês, ricardo araújo pereira
Tudo Bem, Lázaro ▫ A associação deste tema talvez seja a mais livre de todas. Podia ter jogado pelo seguro e ir para «Lisboa, Menina e Moça», de Carlos do Carmo, já que foi referido no livro. No entanto, ao ler o nome Lázaro, ocorreu-me logo esta canção de um artista cuja voz adoro. E, em boa verdade, como fica sempre tudo bem quando lemos Ricardo Araújo Pereira, achei que podia resultar.

a minha andorinha, miguel esteves cardoso
Porto Sentido, Rui Veloso ▫ Numa das minhas crónicas favoritas deste livro - Parabéns Obrigados -, Miguel Esteves Cardoso refere-se a esta música, dizendo que a arrepia. Sendo assim, senti que melhor combinação era impossível, porque é um círculo de favoritos muito bem conjugado!

nadar no escuro, tomasz jedrowski
Heart Of Glass, Blondie ▫ O tom melancólico do livro talvez não se encaixe bem na energia desta canção. No entanto, achei que fazia todo o sentido combiná-los porque, aquando da sua referência na narrativa, senti que foi um dos momentos mais livres do protagonista, um daqueles rasgos de vida em que o medo, a dúvida, a insegurança não conseguem interferir. Ali, ao som desta música, a dançá-la, ele pôde apenas ser sem pensar em tudo o que isso implica.

a maldição de rosas, diana pinguicha
The Curse, Agnes Obel ▫ Como não me ocorreu uma música específica, abri o Spotify e procurei pelo nome do livro (tanto em português como em inglês) e foi assim que me cruzei com este tema de Agnes Obel. O passo seguinte foi ler a letra, enquanto escutava a melodia, e senti que lhe assentava bem por causa destes versos «From the start they didn't know exactly why», «It was swift, it was just, another wave of a miracle», «Only then would they know a blessing in disguise» e «And their hope grew with a hunger to live unlike before». Estava a ouvi-los e a recordar a(s) protagonista(s).

o vestido de noiva, filipa leal
Talvez Se Eu Dançasse, Miguel Araújo ▫️ O livro da Filipa Leal não está relacionado com a nossa apetência ou falta dela para a dança. Mas tem dança. E embala-nos como se estivéssemos a ser conduzidos numa valsa. Sempre que a palavra dança era mencionada, só me ocorria esta canção do Miguel Araújo e acho que não foge assim tanto do tema, porque as personagens vão tendo uma noção de si, porque estão à espreita e autoconscientes. E é por estarem sempre atentas, como se olhassem constantemente para o espelho, que vão lutando contra a imagem que observam e aquela que percebem ser a sua verdadeira identidade. Se calhar, se dançassem como se ninguém as visse, talvez fossem mais livres.

a solidão dos inconstantes, raquel serejo martins
Eu Te Amo, Chico Buarque ▫️ A escolha deste tema apropria-se de um certo sentido de conveniência, isto porque é associado a uma passagem do livro. Há um momento em que a protagonista tenta manter a lucidez, mas é traída pela memória desta canção e, portanto, senti que podia encaixar na dinâmica que procuro: porque lhe é próxima, porque teve algum impacto na narrativa e, sobretudo, porque, ao ler a letra, há versos que traduzem muitas emoções da história, tal como estes: «Se juntos já jogamos tudo fora/Me conta agora como hei de partir/Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios».

obras completas volume iv, maria judite de carvalho
Duas Casas, Stereossauro & Capicua ▫️ Quando cheguei à crónica «Casas», ocorreu-me logo esta canção, porque tem uma identidade muito portuguesa, porque nos faz viajar por diferentes zonas e emoções e, também, porque imaginava Maria Judite de Carvalho a escrever alguns destes versos. Além disso, sinto que explora bem a dicotomia entre o que vemos de dentro para fora e o que trazemos do lado de lá da janela para o conforto do nosso lar. Mas continuamos a voar por outros mundos e a arranjar forma de regressar.

a casa de pineapple street, jenny jackson
Super Rich Kids, Frank Ocean & Earl Sweatshirt ▫️ Fui acompanhando a leitura com uma playlist que alguém criou para o livro de Jenny Jackson e fiquei presa a esta, sobretudo por causa dos versos «Super rich kids with nothing but loose ends/Super rich kids with nothing but fake friends». Se calhar, a questão dos falsos amigos não é tão evidente no enredo, ainda que se compreenda que há sempre oportunismos, mas nota-se que há muitas pontas soltas nestas personagens, porque todas tentam perpetuar uma realidade ou distanciar-se dela. E todas as suas ações são tomadas nesse sentido. Além disso, acho que todas elas andavam à procura de um amor verdadeiro - «Real love, I'm searching for a real love».

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«Faço tudo o que é importante com palavras, porque não sei fazer doutra maneira»

Gatilhos: Referência a Violência Doméstica e Violação


A capacidade de observação do Ricardo Araújo Pereira fascina-me, por isso, é sempre um gosto lê-lo, é sempre um gosto ser desarmada com o seu humor inteligente.


portugalidade e liberdade de expressão

Reaccionário Com Dois Cês reúne uma série de crónicas originalmente publicadas na revista Visão. Dividido em quatro capítulos centrais, discorre sobre questões da atualidade, sobre portugalidade e sobre a tão importante liberdade de expressão.

Um dos aspetos que mais aprecio nos seus textos é que, mesmo que não concorde com a opinião expressa, tenho margem para me entreter, para rir e para explorar determinado tema de outra perspetiva. No fim, continuaremos a discordar (sobretudo no gosto futebolístico), mas sem que a experiência de leitura fique comprometida.

Com a ironia aguçada, algo a que já nos habituou, transita entre redes sociais, costumes, identidade, polémicas, a situação política do país (e não só), preconceitos e comportamentos muito nossos. Embora não sinta que seja um impedimento para compreendermos a mensagem das crónicas, creio que beneficiariam se viessem acompanhadas com a data da publicação, porque ajudaria a contextualizar melhor.

O único problema deste livro, que, na realidade, não é um grande problema, é que algumas crónicas são mais datadas e ficam presas à época em questão. Isso é uma consequência do Ricardo Araújo Pereira escrever sobre assuntos atuais. E a escrita acutilante do humorista compensa sempre. Por isso é que também existem textos que permanecem tão pertinentes como na altura em que foram escritos/partilhados.

Reaccionário Com Dois Cês é leve, mas faz-nos pensar. É fluído, mas há retratos que ficam connosco. Ri-me muito com várias observações e, no grupo de crónicas favoritas, destaco «Disseram Bem de Portugal em Badajoz», «Mais Rápido, Mais Alto, Mais ou Menos», «Anestesia Linguística», «A Indecência Merece Mais Respeito» e «Justiça Para Totós». Farei por regressar mais vezes a estes textos/a esta obra.


🎧 Música para acompanhar: Tudo Bem, Lázaro

📖 Outros livros lidos: A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram Num Bar | Estar Vivo Aleija | Idiotas Úteis e Inúteis | Ideias Concretas Sobre Vagas


Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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«As inquietações de ouvintes e espectadores servem de mote para as animadas conversas entre as anfitriãs 
e o/a convidado/a, que será diferente a cada apresentação»


O Voz de Cama é, neste momento, uma companhia regular. Até aqui, ia ouvindo episódios pontuais, mas, desde que comprei bilhete para o espetáculo ao vivo, assumi o compromisso de maratonar o podcast, até porque acho fascinante o trabalho que a Tânia Graça e a Ana Markl desenvolvem com o projeto. É uma dupla que, entre si, combina muito bem e, além disso, consegue equilibrar várias frentes: ser educativa, elucidativa, descomplicada e com uma boa dose de entretenimento e de leveza.

Há dilemas com os quais é fácil estabelecermos ligação: porque passamos por uma experiência semelhante, porque temos dúvidas idênticas ou porque já nos debatemos com aquelas questões. Por outro lado, é possível que compreendamos melhor alguns gatilhos, que percamos fé numa parte da humanidade e que queiramos abraçar ouvintes (por causa daqueles que nos fazem perder esperança no outro). Em todos os episódios que tinha ouvido, dei por mim a querer fazer parte da conversa, por consequência, contava que esta versão ao vivo me despertasse a mesma reação. E não me enganei.


A primeira data do Voz de Cama esgotou num sopro, portanto, fomos ao segundo espetáculo. Na segunda noite, que durou quase duas horas (sem que déssemos pelo tempo a passar), houve dois convidados: Peter Castro, com um vasto conhecimento histórico/político, com quem debateram um e-mail dentro desse tema, envolvendo pessoas aparentemente de partidos políticos opostos, e Tiago Nacarato, músico com uma voz que adoro, para conversarem sobre a possibilidade de um terceiro encontro com alguém que não desperta em nós um certo arrebatamento. No final do espetáculo, o Tiago ainda nos brindou com o maravilhoso tema A Pessoa Que Você Mais Ama (em parceria com Paulo Novaes).

Entre estes dois momentos, foi dada a possibilidade de alguém do público subir a palco e, devo confessar, foi a parte que menos apreciei: não pela dinâmica, mas por achar que a pergunta precisava de outra contextualização, precisava que a Tânia e a Ana tivessem margem para se informarem. Como não partiu de um dilema próximo da participante, tornou-se mais difícil de analisar, apesar de ser um tópico interessante, já que questionou sobre a interação entre pessoas dentro do espectro do autismo. Ainda assim, mesmo sem terem dados concretos, foram fabulosas na forma como procuraram abordar/discutir o assunto e chegar a um lugar com sentido - não a uma conclusão fechada, porque não seria possível, mas a um patamar seguro.

Assistir a este evento numa sala cheia, sem preconceitos espelhados, sem desconforto e com a plateia a reagir aos vários tópicos em discussão foi maravilhoso. De repente, era como se estivéssemos entre amigos e não numa sala de teatro. E acredito que esta proximidade só é possível pela energia que as duas transparecem e pelo trabalho que desenvolvem com o podcast. Elas ocupam muito bem o lugar de fala do qual dispõem e fazem isso sem qualquer tipo de moralismo. Vê-las a desconstruir ideias e a dar visibilidade a temas vitais para o ser humano - e para as relações intra e interpessoais -, não duvido, torna-nos melhores pessoas (para nós e para os outros). Podem regressar mais vezes ao Porto. Até lá, continuarei a escutá-las no Voz de Cama.

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«Há vezes na vida em que, quando damos um salto, o passado sobre o qual nos apoiávamos cai atrás de nós, 
e o futuro onde queremos pousar ainda não está definido»

Gatilhos: Morte, Abandono


A minha noção de casa traduz-se em conforto. Quando entro na minha, é isso que sinto, portanto, gosto de a viver e de cada regresso, ao final do dia. Saber que há quem veja em casa uma fonte de angústia dilacera. E são estas nuances que vamos descobrindo no livro de Ann Patchett.


 quando uma mudança desmorona tudo

A Casa Holandesa é uma saga familiar que percorre cinco décadas. Quando, em 1946, Cyril Conroy adquire «uma opulenta propriedade nos subúrbios de Filadélfia», pretende surpreender a mulher Elna e proporcionar uma mudança agradável para a sua família. O problema é que este gesto foi o gatilho para que tudo se desmoronasse como um baralho de cartas.

A sinopse tinha-me feito crer que ia gostar desta história, mas não me preparou para o quanto me arrebataria. Fui completamente sugada para a narrativa e não fui capaz de pousar o livro até o terminar. De repente, foi como se estivesse na companhia dos irmãos Maeve e Danny a desvendar todos os segredos, a alinhar factos e memórias; foi como se, também eu, tivesse sido afastada do mundo que sempre conheci e tivesse de sarar as feridas num lugar novo.

A relação entre os dois irmãos é tão bonita e comovente, que passei metade do tempo fascinada com ela e a outra metade a querer abraçá-los por terem sido obrigados a crescer rápido. É através desta lente que desconstruímos a dinâmica familiar, a gestão emocional, o fosso que fica pela certeza do abandono e a permanente sensação de perda.

Há muitas camadas neste livro e gosto que o seu ritmo seja mais lento, prolongando a viagem sofrida, melancólica e, em parte, obsessiva, porque não é fácil abrir mão de algo que sentimos pertencer-nos. É por esse motivo que o sentido de injustiça também ecoa nas entrelinhas, mas acho interessante como vai aligeirando e dando lugar ao perdão.

Acredito que existem lugares que nos moldam e esta imagem enlaça-se à nossa tentativa de olhar para o passado com a noção do presente. Portanto, há verdades que se manifestam mais turvas, condicionadas por aquilo que julgamos que aconteceu. Por outro lado, achei pertinente que se focasse no quanto bastaria uma decisão diferente para que a nossa história fosse igualmente distinta.

A escrita da autora transportou-me para esta casa: para o seu interior e para tudo o que significou fora do seu espaço. Deixou-me revoltada e fragilizada pela paz que parecia nunca mais chegar. E desarmou-me pelo equilíbrio entre a inocência e a necessidade de pensar um passo à frente, para sobreviverem. Além disso, foi curioso ver como algumas coisas se inverteram.

A Casa Holandesa é sobre reerguermo-nos dos destroços. É sobre os elos que não nos permitem sucumbir. E é sobre sermos capazes de avançar, mesmo que demore. Como cantaria a Capicua, «bora colar os caquinhos e fazer um Gaudí», porque esta obra é magistral, uma autêntica obra de arte, sem perder credibilidade. E tenho consciência que este livro continuará a crescer em mim. Terminei em lágrimas.


🎧 Música para acompanhar: The Nutcracker, Op. 71, Act I: March, Pyotr Ilyich Tchaikovsky, Sir Simon Rattle & Berliner Philharmoniker


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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Uma viagem literária para descobrirmos autores portugueses


Os autores de fevereiro têm uma particularidade comum: por convivência, afinidade ou formação, os seus caminhos cruza(ra)m-se com o Porto. Quando os seus nomes saíram no sorteio, achei esta coincidência curiosa e dei por mim a sorrir. Assim, vou conhecer Francisco José Viegas e recomendar Joana Estrela.


 francisco josé viegas

Natural do Pocinho, Vila Nova de Foz Côa, nasceu em 1962. Professor, jornalista e editor, tem um currículo diverso, pois é responsável pela revista Ler, foi diretor da revista Grande Reportagem e da Casa Fernando Pessoa e ainda exerceu o cargo de Secretário de Estado da Cultura (de junho de 2011 a outubro de 2012). Para além de colaborar em jornais e revistas, também criou programas para a rádio e para a televisão. Na literatura, já conta com uma lista longa de obras publicadas, dividida entre poesia, romance e literatura infantil.

      

      

      

      

   

   

Outros títulos do autor: 
As Imagens | Todas as Coisas | O Segundo Marinheiro | O Medo do Inverno | O Puro e o Impuro | 99 Cervejas + uma | Metade da Vida | A Noite o Que É? | Algumas Distrações | Se Me Comovesse o Amor | Tão Longe Quanto os Homens | Se Eu Fosse... Nacionalidades | Dicionário das Coisas Práticas | A Dieta Ideal


 joana estrela

Natural de Penafiel, nasceu em 1990 e estudou Design de Comunicação, na Faculdade de Belas Artes do Porto. Depois de ter passado por Budapeste e Vilnius, regressou à Invicta, trabalhando em ilustração e banda desenhada. O seu método de trabalho respeita muito o seu próprio divertimento e achei curioso que tenha começado a fazer retratos de família desde cedo, «sobre os quais escrevia legendas divertidas», sendo um «dos seus clássicos fazer listas de coisas-que-dizemos-quando-estamos-zangados».

LI E RECOMENDO

   

📖 Breve opinião sobre Pardalita e A Rainha do Norte aqui

Outras obras da autora:
Mana | Os Tigres na Parede | Menino, Menina | Miau!


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads

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«Ler é desvendar»


O momento em que a leitura passou a ser parte vital - regular - da minha realidade permanece bastante nítido, porque foi transformador, porque marcou a certeza de existirem outras manifestações artísticas que me preenchem as medidas e que me permitem explorar diferentes mundos, perspetivas e rasgos criativos.

Estava no 11º ano e tinha de escolher uma obra para apresentar à turma, numa aula de Português. Aquele contrato de leitura podia ter sido catastrófico, uma vez que não sabia que tipo de histórias me interessavam, que autores poderiam corresponder aos meus gostos. Até então, não tinha hábitos de leitura, mas adquiri-os depois disso, porque, mesmo às cegas, tive a felicidade de escolher um livro extraordinário. Duro, mas que despertou a vontade de não só ler mais exemplares da autora, como também de partir para outros nomes.

Na altura, desfrutávamos de uma total autonomia para decidirmos o que queríamos ler. Se, por um lado, essa liberdade era ótima para descobrirmos a nossa identidade/individualidade, alargando o espectro da literatura analisada em aula, por outro, era assustador, sobretudo por não termos grande bagagem. Se não éramos leitores com conhecimento na área, como é que saberíamos escolher? Era um risco que teríamos de correr, é por esse motivo que considero programas como o Plano Nacional de Leitura (PNL) uma ferramenta tão útil.


 será o pnl infalível?

O Plano Nacional de Leitura veio colmatar algumas assimetrias, combatendo a iliteracia e promovendo o contacto com livros distintos. Sou-vos sincera, não sei quais são os critérios para construir as listas de obras recomendadas, como é que esse processo é desenvolvido, definindo quais é que são válidas para propor e quais é que não encaixam no propósito. Às vezes, vou-me cruzando com algumas críticas e, sem querer ser injusta, já me me falta acesso a todas as partes da questão, consigo compreender a acusação de um certo elitismo. E um projeto desta natureza quer-se democrático, realmente centrado nos leitores e amplo, até porque um título com selo PNL pode ter peso. Num tempo em que é prioritário lutar por uma maior representatividade nas leituras da sociedade, ter um projeto que invista nisso é uma maneira de permitir que os leitores, principalmente os mais novos, sejam confrontados com outras realidades e as normalizem. Se o plano não evolui e apenas se foca nos nomes de sempre, fica complicado derrubar certas barreiras.

Em simultâneo, fico a pensar que esta problemática é muito mais estrutural. O PNL não é infalível, precisa de se ir modernizando para responder às necessidades de cada leitor, mas não é o principal culpado. Talvez nem exista um só culpado. Porque é a forma como procuramos incutir a leitura que precisa de uma reviravolta.


 estaremos mesmo a incentivar à leitura?

Este tema ficou a dançar no meu pensamento desde que uma editora demonstrou a sua indignação por nenhum dos seus livros ter sido aceite pelo PNL, não só porque compreendo essa frustração, mas também porque entendo que nem todos os títulos possam integrar o catálogo. Coloquei-me no lugar de cada um dos intervenientes e consigo perceber ambos. E, por isso, fiquei a refletir na questão em termos mais práticos.

Eu trabalho com miúdos do 5º ao 9º ano e vou acompanhando a relação que têm com a leitura, quase da primeira fila. E se os mais novos até leem com gosto, os mais velhos desesperam por terem de o fazer. Quando esta polémica despertou, pensei neles e, sem querer ser mal interpretada, a verdade é que para eles é-lhes indiferente qual a editora do livro: a preocupação maior é ser uma história que lhes roube pouco tempo.

Há umas semanas, alguns alunos do 9º perguntaram-me se os ajudava a escolher a obra que apresentariam às respetivas turmas. É nestes momentos que, sem qualquer tipo de imposição, os procuro desafiar, mas sendo sempre honesta. Eles sabem que, com a idade deles, ler também não era algo que me movesse, sabem que este vínculo foi sendo trabalhado e foi crescendo; eles sabem quais são os autores que me entusiasmam, que livros gostaria que lessem. Acima de tudo, sabem que estou ali para conversarmos francamente.

Assim, com a lista do PNL aberta e total transparência, disse-lhes os títulos que já tinha lido e adorado, que livros não tinha lido, mas dos quais tinha boas referências, que livros requerem um pouco mais de maturidade para serem compreendidos. Não acho que eles sejam desprovidos de sentido crítico, mas faltam-lhes hábitos de leitura e aquela flexibilidade interpretativa que ganhamos quando lemos com mais regularidade. Qual seria a lógica de lhes aconselhar uma história que só os deixaria desmotivados? O meu objetivo é o oposto.

Enquanto percorria a lista, que pode não ser perfeita, fiquei feliz por ver nomes tão diversos como Ondjaki, Ana Pessoa, Afonso Cruz, só a título de exemplo. Sei que ainda precisamos de alargar mais as opções, mas sinto que estamos a ir num bom caminho. Mas este caminho talvez seja inglório se a aposta não for mais profunda, se essa promoção da leitura não for contextualizada e próxima, se continuarem a incutir nos alunos que só existe um tipo de leitura de qualidade: a que é analisada em aula. Os contratos de leitura são um instrumento educativo maravilhoso, mas perde fôlego por ser momentâneo, isolado. Enquanto assim for, continuarei a ver miúdos a escolher obras não pela curiosidade de as descobrirem, mas por serem as que têm menos páginas.


 o que temos para oferecer?

O debate anterior prolongou-se entre nós, comigo a alertar-lhes que, muitas vezes, o número de páginas não é sinónimo de facilidade/complexidade. E chegamos a um consenso. Eles precisam de ser estimulados, sim, mas também precisam de ser ouvidos. E eu acho que estas avaliações, embora pertinentes, também transmitem uma noção de abertura falaciosa, porque acredito que é uma prática que necessita de consistência e continuidade; precisa de ser trazida para o centro da discussão e ter visibilidade durante uma aula inteira.

Reconheço a importância de conhecerem textos como O Auto da Barca do Inferno ou Os Lusíadas, mas, após tantos anos de ensino, será que só temos estas obras para oferecer? Porque não analisarmos a fundo um livro de Maria Judite de Carvalho? Porque não trazermos Pardalita, da Joana Estrela? Porque não criarmos clubes de leitura dentro da turma e, em vez de analisarem uma só obra, focarem-se num género e serem os alunos a proporem os títulos que lhes interessam? A partir daí, acredito, poderíamos estabelecer aprendizagens bem mais significativas. Pessoalmente, acho muito mais estimulante contactarem com diferentes estilos, visões, perspetivas e, deste modo, aguçarem o sentido crítico, do que ficarem presos a uma só história.

Isabel Alçada, numa entrevista concedida no ano transato, afirmou que «não há nada pior em educação do que a aldrabice» e eu recupero estas palavras porque me parecem cruciais: é que os alunos rejeitam certas obras e nós, para além de não procurarmos compreender os motivos, não os sabemos cativar com alternativas. Preferimos continuar a insistir nos mesmos modelos, mas depois ficamos chocados com a falta de interesse, que, por consequência, se estende à disciplina em si. Mudar assusta, exige compromisso, mas compensa.

Claro que este trabalho não fica circunscrito à sala de aula, pode e deve ser fomentado em casa e em todos os meios em que se insiram. Além disso, podem chegar ao fim da escolaridade obrigatória e continuarem a defender que não gostam de ler ou, então, podem descobrir esse gosto mais tarde. No entanto, pelo menos, foram-lhes dadas condições plurais, sem julgamentos. Este investimento demora, mas é urgente.


 incluir os leitores na leitura

É importante lutar para que livros que abordem temáticas tão relevantes para os jovens sejam considerados e incluídos no PNL, até porque podem ajudá-los a conhecerem-se melhor, a compreenderem determinadas realidades ou, ainda, a sentirem que têm ali um lugar seguro, que não estão sozinhos. Precisamos de histórias que falem o seu dialeto, contudo, parece-me que para isso acontecer tem de existir uma abordagem mais estrutural. Não estar no PNL não significa que não os venham a ler. Não os sabermos cativar é que pode levar a esse desfecho. E cativámo-los em aula, quando lhes permitimos acesso a obras diversas, muito mais próximas das suas vivências, inseguranças e dúvidas. Não acho, de todo, que só possam ler enredos que sejam quase uma extensão do seu quotidiano, mas acho importante começarmos por aqui, para que se identifiquem e para que sejam eles a querer avançar para outro tipos de histórias, para serem desafiados.

Por muito solidária que esteja com a editora em questão, porque estou, porque acredito que tem um catálogo amplamente estimulante, a minha maior preocupação é se realmente estaremos a incentivar à leitura. E, se não estivermos, o que podemos fazer para colmatar essa falha. Enquanto os programas curriculares seguirem sempre os mesmos parâmetros, também será difícil que o Plano Nacional de Leitura ou outra proposta com esta natureza tenha uma resposta diferente, porque continuaremos a andar em círculo e a repetir padrões.

Os livros bons, como também referiu Isabel Alçada, são aqueles que interessam aos leitores. E, para isso, não pode existir uma só lista, não pode existir obrigatoriedade e portas fechadas. É aos respeitarmos as suas individualidades, trazendo-as para o centro da discussão, que lhes garantimos ferramentas que os ajudem a estruturar os seus gostos. Se continuamos a excluir potenciais leitores da leitura, da literatura, o que sobra? É por esse motivo que, antes de me questionar sobre a presença/ausência de um determinado livro no PNL, insisto em perguntar: estaremos mesmo a incentivar à leitura ou estaremos apenas a validar egos?

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«Acho que, quando perdemos alguém, é fácil vermos padrões que não existem»

Gatilhos: Pandemia, Referência a Suicídio e Uso de Drogas


É provável que a memória me atraiçoe, mas não me recordo de ter lido algum livro de ficção científica antes, muito pela falta de curiosidade no género. No entanto, depois de ter sido uma das escolhas conjuntas do Livra-te e de me ter cruzado com tantas opiniões favoráveis, decidi arriscar no livro de Emily St. John Mandel.


 o que torna o mundo real?

Mar da Tranquilidade é uma viagem no tempo que nos fragmenta por anos distintos: 1912, 2020, 2203 e 2401. Em todos eles, conheceremos personagens com um papel central para o enredo, mas a que nível?

Os capítulos iniciais deixaram-me com a sensação de estar a pisar terreno incerto, sem saber que trilho seguir, porque não estava a perceber como é que as histórias das personagens se cruzariam. Há vários elementos que se sobrepõem, mas sem ser evidente que seriam suficientes para que tudo fizesse sentido. E, então, há um momento em que as peças do puzzle encaixam e a vontade de encadear o resto torna-se mais frenética.

Fiquei mesmo rendida à construção desta narrativa, visto que explora muito mais do que as viagens no tempo: foca-se, sim, na noção de realidade, naquilo que percecionamos, naqueles instantes que parecem estranhos e se colam à nossa memória, sem que, ainda assim, encontremos um significado concreto. Por outro lado, traz um retrato muito próximo da pandemia, das relações familiares, das vidas em suspenso e, até, do efeito da solidão. Através de uma disrupção na linha temporal, também evidencia o quanto estamos ligados aos outros.

Há uma certa tranquilidade transversal, mesmo perante cenários de caos, que me parece uma consequência da escrita melódica de Emily St. John Mandel. Gostei bastante da maneira como foi criando este quadro que traduz «a humanidade através do espaço e dos séculos». E o capítulo final? Maravilhoso! Queria ter gravado a minha expressão quando compreendi, por fim, tudo o que estava a acontecer e uni as pontas soltas.


🎧 Música para acompanhar: A Thousand Years, Rachel Pierce (Violin Cover)


Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand: (Livro | eBook)

Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

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«Quando não sabemos quem somos, o mundo é o mais excitante dos lugares»

Gatilhos: Saúde Mental, Maternidade


A Estação de S. Bento, no Porto, acolheu-me para fotografar o livro de Djaimilia Pereira de Almeida. Embora não tivesse um ferry ao meu alcance, ocorreu-me ir para um local que também pudesse ser palco de uma fuga, tal como prometia a premissa desta história. Antes de apontar a câmara, permiti-me observar o ambiente: poucos eram os que partiam, àquela hora, mas eram muitos os que chegavam. Só lhes via o rosto, não podia desvendar as suas vidas, o que lhes corria por dentro. E pensava nisto sem saber o quanto a narrativa que segurava nas mãos era feita destas sombras.


uma relação à prova de tudo

Ferry parte em direção ao Sul e leva os nossos protagonistas, o casal Vera e Albano, rumo a uma nova vida, a uma mudança que, perceberemos mais tarde, lhes traga um pouco de paz. Demorei um pouco a entrar na narrativa, mas assim que me alinhei com o ritmo e a abordagem ficou mais fácil de compreender a neblina.

Do outro lado da margem, e ao qual regressaremos através de memórias, ficam fragmentos do passado, manifestações de uma certa convalescência e a sobrevivência perante dificuldades. Por outro lado, abre-nos a porta para um amor incondicional e para os primeiros traços do delírio que nos levam para uma gruta.

Vera escreve e encontra na escrita uma «prova da sua existência», portanto, este Ferry inclui uma história dentro de outra história; inclui uma mulher a recorrer às palavras, ao seu diário, para extrapolar e, inconscientemente, embarcar num processo de catarse, ainda que a lucidez se vá diluindo. É através da personagem feminina que somos confrontados com esta ideia de duplicidade. E é nesta duplicidade que questionamos sonhos, dores, vazios e a falaciosa noção de verdade: até que ponto é que o encadeamento dos acontecimentos é real? Poderá ser uma imagem forjada?

Neste Ferry, que atravessa águas turvas, encontramos uma relação à prova de tudo, feita de uma fibra sólida. Albano foi um rochedo no meio da tempestade, foi a corda que tantas vezes içou Vera da gruta onde se escondia - e, não tão raras vezes assim, desceu às profundezas com ela. Neste amor que sempre os salvou, encontrei dos gestos mais bonitos, porque cuidar do outro não é fácil. Muitas vezes, não chega estar. Outras, é só isso que é preciso. Aprender a gerir estas oscilações é uma travessia.

A relação é testada muitas vezes e questiona-se tudo aquilo que se ganha e que se perde. Além disso, acompanhando a evolução do casal, refletimos sobre conforto e abismo, sobre o que é dito e o que fica apenas no silêncio da intenção e sobre a intimidade que se estreita com o tempo. Sinto que, neste livro, também se explora a dor daquilo que podia ter sido e não foi e a reestruturação emocional que precisamos de fazer perante qualquer tipo de perda. Depois, centrando-me em Albano, pensei muito na quantidade de vezes que nos anulamos para cuidarmos do outro.

Ferry é uma verdadeira história de amor, que transita entre a fantasia e a lucidez. Mesmo que Vera e Albano precisassem de fugir mil vezes, encontrariam sempre uma maneira de voltar um para o outro, como o fizeram, porque nunca largaram a mão.


🎧 Música para acompanhar: What a Difference a Day Makes, Dinah Washington

📖 Outros livros lidos: Luanda, Lisboa, Paraíso | Esse Cabelo | Maremoto


Disponibilidade: Wook | Bertrand

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Fotografia da minha autoria



«Vagueio pela casa, ocupada com nada. Estarei vazia?»

Gatilhos: Maternidade, Doença, Pandemia, Morte


O livro da Anabela Mota Ribeiro apareceu-me em várias publicações e as críticas tão bonitas aguçaram-me a curiosidade. Ainda assim, sabia pouco sobre a sua narrativa e foi desta forma que parti para a leitura.


um diário íntimo

O Quarto do Bebé é descrito como um romance autoficcional em forma de diário íntimo. Aquilo que não somos capazes de distinguir é a fronteira entre o que é real e o que é ficção, entre o que é liberdade criativa e o que se inspira em fragmentos da vida da autora. Mas essa talvez seja a parte menos relevante desta experiência.

O livro foi escrito durante grande parte do confinamento e traz uma premissa curiosa: a filha de um conhecido psicanalista encontra o diário de uma das pacientes do pai, Ester do Rio Arco. Fala Orgânica (nome do diário) torna-se, assim, uma leitura compulsiva, a resvalar para a obsessão. Não só pela curiosidade, não só por ser uma forma de convivência com o falecido pai, mas também por encontrar pontos em comum com a paciente. É fascinante perceber como encadeia cada fragmento.

Este tom compulsivo, de quem não consegue desligar do que lê, passou para o meu lado. Isto é, enquanto leitora, também eu mergulhei a fundo na narração, desejosa de compreender o que viria a seguir. Nem sempre me revi, mas várias foram as ocasiões/passagens em que me identifiquei enquanto mulher. E deslumbrei-me com a capacidade da narradora se colocar a nu na escrita, de mostrar fragilidades, de não ter receio de ser direta, crua, explícita nos medos, nos desejos e, até, na futilidade.

Nesta divisão, «que poderia vir a ser um quarto de bebé», houve algo a nascer, houve algo que se criou e que transcendeu. Nesta divisão, que acompanhou sempre o estado do país, a gerir uma realidade pandémica desconhecida para a maioria de nós, discorreu sobre isolamento (físico e emocional), escrita, morte, doença, perda, raízes, relações de amizade, maternidade, infertilidade, num constante jogo de contrastes; numa constante oposição entre fim e regeneração. Além disso, dividiu atenções com o corpo, quer em relação às suas necessidades, quer em relação a possíveis mudanças.

Este encadeamento narrativo foi sendo feito de uma forma lúcida. Em nenhum momento, Ester omitiu o seu privilégio, aliás, foi franca em relação às portas que isso lhe abriu, ao processo que foi mais célere por ter os conhecimentos certos e acho que este nível de honestidade não pode conceder espaço para julgamentos morais. Nunca se achou mais, apenas agiu de acordo com as armas que tinha a seu favor. Mas não deixa de ser interessante como estas entradas do diário nos permitem refletir sobre questões como estas: refletir sobre como até na doença partimos de casas distintas e nunca jogamos com as mesmas cartas.

O Quarto do Bebé é vulnerável, é um relato sem filtros sobre o vazio, sobre o que é (ou se torna) invisível e sobre tudo aquilo que deixamos de poder contar às nossas pessoas. Confesso que dispensava algumas das referências a Machado de Assis, porque se tornaram excessivas, no entanto, fiquei presa à escrita - ora elegante, ora corriqueira - que nos une às coisas que já não estão, ao que fica, ao que se sobrepõe.


🎧 Música para acompanhar: Preciso Me Encontrar, Cartola


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andreia morais

andreia morais

O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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