UMA DÚZIA DE LIVROS // MAIO
Fotografia da minha autoria |
«Da crítica ao império dos telemóveis e das redes sociais
ao elogio do silêncio»
As prateleiras cá de casa, destinadas a escritores portugueses, começam a ser limitadas para a minha missão. Porque acredito mesmo no potencial e excelência da nossa literatura. Portanto, o tema de maio para Uma Dúzia de Livros não me podia ter deixado mais entusiasmada, pois pretende «honrar os nossos autores e conhecer melhor o que têm para oferecer». Nesse sentido, fiz-me acompanhar de Ricardo Araújo Pereira, por ser quase uma novidade nas minhas escolhas literárias.
Estar Vivo Aleija reúne várias crónicas escritas para o jornal brasileiro Folha de S. Paulo, onde aborda questões que o apoquentam - desde as mais profundas às mais banais. E é curioso como, por breves instantes, senti que o estava a ouvir dissertar sobre aqueles temas. Porque tem um dialeto tão particular, com uma energia distinta, que torna simples memorizá-lo - na falta de melhor expressão - e ter a sensação de que está próximo do nosso ambiente relacional. Mas esta capacidade só é possível tendo em conta que é um comunicador nato, com uma sapiência cultural e linguística fascinante e um desenvolvimento de raciocínio claro, despojado e a transbordar genialidade. Por essa razão, é muito fácil sermos cativados. E envolvermo-nos num momento de debate interno. É, ainda assim, completamente possível - e válido - não concordarmos com todos os seus pontos de vista, porém, será sempre maravilhoso lê-lo, uma vez que teremos acesso a abordagens perspicazes, sarcásticas, acutilantes e muito bem fundamentadas.
Ricardo Araújo Pereira tem um humor inteligente. E é impressionante a agilidade com que o expressa através de situações comuns do quotidiano - do seu e do nosso. Em simultâneo, consegue equilibrar estes tópicos, associando-os a considerações «de grandes pensadores da literatura», mas sem entrar em discussões pretensiosas. Com uma escrita descomplicada e intuitiva, compreendemos que podia analisar qualquer assunto, independentemente do seu nível de interesse, que continuaria a ter graça e a arrancar-nos gargalhadas. Não obstante, nesta obra, assume um caráter mais intimista, transitando entre dilemas existenciais e morais; entre a crítica e traços mais emocionais e saudosistas. E incita-nos, também, a explorar a nossa curiosidade.
Sinto que as crónicas, de um modo geral, são intemporais. E no meio de tantas fantásticas, reconheço, é complicado selecionar as minhas favoritas. No entanto, Amor e Batatas [por demonstrar que o amor pode ser manifestado de diferentes formas, sem perder a sua essência], Luta de Classes Vocabular [pela verdade e ironia], Maus Tratos a Livros [por expressar o drama de vários leitores] e Pleonasmos Redundantes [pelo traço hilariante] ocupam um lugar de destaque no meu coração. Mas é mesmo importante reforçar que o livro está cheio de textos brilhantes, até porque tem muitas realidades - e ideias - dentro. Naturalmente, há alguns que funcionam melhor do que outros, pela identificação que nos provocam, mas vale a pena fazer esta travessia, desconstruindo problemas sociais e particularidades autobiográficas.
Estar Vivo Aleija é uma obra que podemos ler num sopro ou ir descobrindo aos poucos. Alia conhecimentos plurais e imaginação. E transparece uma postura de autocrítica, convidando-nos a rir de todas as incoerências que encontramos em nós e no mundo - sobretudo, no mundo. Ricardo Araújo Pereira não procura ajudar-nos a compreender aquilo que nos rodeia. Fornece-nos, antes, a melhor arma que podemos possuir: o sentido de humor. Talvez, assim, a vida aleije menos.
Deixo-vos, agora, com algumas citações:
«Quando hoje me põem no prato batatas estaladiças eu penso: esta pessoa sabe fritar batatas, mas ela não me ama» [p:31];
«A minha mulher chama "ler" àquilo que a maior parte das agências de inteligência chama "terrorismo". Dentro da minha biblioteca há areia de vários continentes. As capas têm mais vestígios de gordura do que a mesa de uma tasca. O nosso O Velho e o Mar caiu no mar, e por isso ficou tão grosso quanto o Guerra e Paz, que aliás parece ter sobrevivido a várias guerras» [p:71];
«- "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena."
- Exactamente. Quem disso isso?
- O grande poeta português Fernando Pessoa Humana.
Foi uma tarde bem passada» [p:114];
Nunca li, mas vou tomar nota.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
É uma leitura muito agradável, recomendo 😊
EliminarNunca li nada do Ricardo, deve ser um livro excelente.
ResponderEliminarBeijinho grande!
É a segunda obra que leio do RAP. E, embora sejam bastante diferentes entre si, é maravilhoso lê-lo!
EliminarParece ser um ótimo livro
ResponderEliminarBeijinhos 😊 , Damsel.me-Clique Aqui
É mesmo 😊
EliminarNunca li nada do RAP, a não ser as suas crónicas.
ResponderEliminarAndreia, continuação de boa semana.
Beijo.
Neste livro, estão uma série de crónicas, mas que ele escreveu para o Folha de S. Paulo. Vale muito a pena, Jaime.
EliminarObrigada e igualmente
Nunca li mas só pelo título já vale a pena!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Verdade 😊
EliminarSabes, gosto imenso de ouvir o Ricardo e de me rir com ele, mas nunca li nada :p
ResponderEliminarSinto que ias adorar, porque há partes do texto em que parece que o estamos a ouvir 😁
EliminarEmbora goste de ler as crónicas de Ricardo Araújo Pereira, não era a ele que escolhia para enaltecer a LITERATURA PORTUGUESA.
ResponderEliminarPorque não?
EliminarParece-me uma bela aposta! :)
ResponderEliminarwww.amarcadamarta.pt
Sem dúvida!
EliminarAndreia nesse momento de quarentena ler bons livros são essenciais, esse livro é um, Andreia bjs.
ResponderEliminarhttp://www.lucimarmoreira.com/
Os livros são mesmo ótimos companheiros. Ainda mais em situações tão delicadas como a que estamos a viver
EliminarGreat post,love it!Thanks for sharing!
ResponderEliminarbeautyqueen000.blogspot.rs
Thanks!
EliminarConheço esse livro de nome e, também, da critica dizer muito bem dele. Vou tentar comprar
ResponderEliminar.
Um dia feliz
Proteja-se
Recomendo, Ricardo, é uma leitura muito agradável!
EliminarNão conhecia esse livro dele.
ResponderEliminarEngraçado, gosto mais de o ler do que o ouvir.
Salvo erro, é o mais recente dele.
EliminarA sério? Isso é curioso 😁
Sempre que venho ao teu cantinho acabo por conhecer novos livros, mais que não conhecia, mas parece ser bastante interessante
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
Que bom! Fico contente por "ajudar" nesse sentido. Sim, vale muito a pena
EliminarQuero muito ler este livro, tem mesmo de vir morar cá para casa :) Gisto muito dos raciocínios do RAP :)
ResponderEliminarBeijinhos*
Acho que vais adorar! É daqueles livros que nos conquistam logo!
EliminarNunca li, mas conheço bem o autor :)
ResponderEliminarSe tiveres curiosidade, sinto que eras capaz de gostar do livro 😊
EliminarRicardo Araújo Pereira o meu crush :P Este homem tem uma capacidade de escrita e de criatividade de invejar
ResponderEliminarEle é mesmo extraordinário! Fico fascinada com os detalhes de que ele se lembra e a forma como os articula. Parece que tudo resulta 😊
EliminarEstou só a apreciar a nossa sintonia, porque tenho uma publicação sobre este livro a sair no domingo! 😂
ResponderEliminarA crónica dos Pleonasmos Redundantes também foi das minhas preferidas!
A Sofia World
A sério? Adoro! Combinado não corria melhor 😂
EliminarRi-me tanto com essa crónica, está hilariante