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CULTURA E RELIGIÃO
CULTURA E RELIGIÃO
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Fotografia da minha autoria |
«A riqueza humana consiste na diversidade»
A liberdade é um conceito com fronteiras. Não para mim, porque tive a sorte de nascer num país e numa época em que a minha voz já é ouvida, embora o caminho continue a ser longo. Apesar disso, sei que sou livre e que, para além de ter deveres, também tenho direitos, a começar pela forma como me visto, como interajo e como me expresso. Todas estas conquistas levaram o seu tempo, mas, hoje, fazem parte da minha identidade. No entanto, há partes do mundo onde a mulher é vista como um ser inferior, à custa da cultura e da religião levadas ao extremo.
É sempre delicado abordar estas componentes, porque não podemos analisar todas as sociedades com o filtro da nossa. Mas tudo o que coloque em causa a integridade física, mental e emocional do ser humano - independentemente do seu género - não pode ser permitido. Porque ultrapassa qualquer limite aceitável. E n' Uma Lágrima na Face da Índia são bastante notórios os ecos culturais de uma nação conservadora, na qual o peso das tradições e das crenças consegue ser maior que o respeito pelas mulheres. Atendendo a que são vistas como uma maldição, o seu destino é traçado mal nascem, pois só têm «valor se casarem com um homem». E é desta forma que, com um papel ausente na estrutura social, a violência atinge proporções gritantes. Desumanas. Se esta certeza já é angustiante, perceber que inúmeros comportamentos foram normalizados faz-nos perder um pouco mais de fé na humanidade.
Daniel Nunes de Sousa, criando uma fusão entre a realidade e a ficção, não se poupou na abordagem, descrevendo situações e momentos dolorosos, sem filtro, sem brandura, uma vez que é urgente compreender que este retrato, infelizmente, ainda é o espelho de muitas mulheres. Além disso, alerta para a exploração infantil, para a pouca frequência no sistema de Ensino, para a impunidade, a corrupção e o poder do dinheiro, que permite ocultar tantas fragilidades na lei. Num sistema de patriarcado, é certo que nenhum ato de violência/abuso é desculpável, mas sinto que este enredo também nos ajuda a perceber a pressão exercida sobre os homens, visto que é esperado que correspondam a uma determinada imagem e que sigam certos padrões. Mesmo que não se revejam naqueles valores, alguns deles estão a lutar pela sua sobrevivência. Portanto, reforça-se o quanto é imperativo procurar alternativas, pois esta brutalidade não pode persistir. Mas torna-se evidente que a situação não é tão linear como deveria ser.
O choque cultural é palpável. E, através de um enfermeiro que parte à procura de sentido, embarcamos numa viagem que nos desarma. Confesso que não me identifiquei por completo com o protagonista, mas coaduno-me na sua causa e na consciência da sua voz. Porque há problemas que, por envolverem a humanidade, são mesmo de todos e não podemos ignorá-los. Esta é, então, uma história de amor. De luta. De aprendizagem. É uma narrativa sobre mudança. Garra. Coragem. Na qual temos que quebrar o conforto do silêncio, da negação e da permissividade. Esperava um final diferente e fiquei revoltada com a injustiça. Contudo, foi o desfecho mais indicado, pois transparece uma maior verosimilhança.
Uma Lágrima na Face da Índia, ao centrar-se no genocídio, no infanticídio e numa população que discrimina, mostra que ainda há muito a fazer. Mas também transmite uma ponta de esperança. Porque a educação é uma arma poderosa - e essencial. E uma pessoa pode mesmo fazer a diferença, inspirando tantas outras a seguir as suas pegadas.
Deixo-vos, agora, com algumas citações:
«- Sim, já tratei da minha ausência com a direção do hospital. Não posso adiar mais os meus sonhos. Já pensaste no quão imprevisível a vida é?» [p:12];
«Noah sentiu-se invadido por uma fria sensação que consumiu o seu coração» [p:113];
«No fundo, ela quer contrariar as crenças tradicionais, senão achas que teria andado contigo de um lado para o outro na rua?» [p:190];
«Quando gastaram todo o dinheiro e tinham as mãos carregadas com nove sacos, Jamal pediu para o seguir até Chandni Chowk Road e parou junto do primeiro sem-abrigo que encontrou. Abriu um saco, retirou alguns alimentos e colocou-os nas mãos do homem» [p:250];
«- Alguma coisa tem de ser feita.
- As mulheres já o fazem há décadas.
- Eu sei, mas não com este impacto.
- Quem será a voz da Índia?» [p:291].
Fiquei curiosa porque nunca li um livro que abordasse a religião. Vai para a minha lista de leituras :)
ResponderEliminarBeijinho grande!
É um livro que recomendo bastante, até por todas as temáticas que envolve! E a escrita do autor é bastante fluída
EliminarPromete ser bem interessante. Eu sempre tive curiosidade em saber e entender mais sobre outras religiões.
ResponderEliminarBeijos e abraços.
Sandra C.
bluestrass.blogspot.com
É uma história muito interessante, embora nos angustie a maior parte das vezes, porque a forma como as mulheres são tratadas não nos deixa mesmo indiferentes
EliminarSempre com boas sugestões de leitura. Também já li livros sobre religião. O conhecimento nunca fez mal a ninguém.
ResponderEliminar.
Deixando Felicitações amigas
Muito obrigada, Ricardo! Sim, sem dúvida, concordo totalmente
EliminarLer é conhecer e viajar, concordo plenamente:) gosto muito de livros e séries sobre religiões :) Vem de encontro ao documentário de Morgan Freeman, História de Deus, que recomendo :) e o Código Da Vinci e a Formula de Deus sao os meus livros preferidos sobre religião :)
ResponderEliminarBeijinhos*
Ainda não vi o documentário, mas tenho que tratar disso! A Fórmula de Deus está na minha lista :)
EliminarPor acaso não conhecíamos o livro, que boa sugestão!
ResponderEliminarBeijinhos 😊 , Damsel.me-Clique Aqui
Recomendo :)
EliminarQuando tinha quinze anos perdi Deus ao ler "O drama de João Barois" de Roger Martin du Gard.
ResponderEliminarSem dúvida que a riqueza humana consiste na diversidade. Eu AMO a diversidade das coisas, dos livros, das pessoas e a diversidade de opiniões.
Confesso que desconhecia esse livro, vou procurar!
EliminarNão é? Crescemos tanto nesta diversidade cultural, de gostos, de opiniões. Desde que nos saibamos respeitar - e não se coloque em causa a integridade física, mental e emocional do outro - há espaço para todos
Deixaste-me tão curiosa! :)
ResponderEliminarbeijinhos
www.amarcadamarta.pt
Se tiveres oportunidade de ler, aconselho :)
EliminarParece ser muito interessante, vou colocar na minha lista de desejos. Boas leituras
ResponderEliminarSou suspeita, porque gostei bastante, mas acho mesmo que está um livro muito interessante :)
EliminarIgualmente
Não conhecia de todo, mas deve ser bastante interssante para conhecer
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem post novos todos os dias
É um livro que nos deixa alerta!
EliminarCuriosa porque a leitura promete
ResponderEliminarBeijinhos
É uma leitura muito interessante. Dolorosa em algumas partes, mas que vale muito a pena!
EliminarBoa tarde tudo bem?Desculpe o encomodar. Sou brasileiro e procuro novos seguidores para o meu blog. Novos amigos também são bem vindos, não importa a distância. No mais desejo muita saúde para você e sua família.
ResponderEliminarhttps://viagenspelobrasilerio.blogspot.com/?m=1
Obrigada pela visita! A maior das sortes para o seu projeto :)
EliminarIgualmente
Muito bom Andreia.
ResponderEliminarA educação é definitivamente, uma arma muito poderosa, tanto, que há quem prefira o povo na ignorância.
Obrigada, Magui!
EliminarPois é, porque assim consegue-se controlar melhor o povo...
O livro que sugere reflete as desigualdades e diferenças de tratamento sofridas pelos cidadãos dessa sociedade, um mal que, infelizmente, é também extensível a muitas outras.
ResponderEliminarParabéns pelo seu blog.
Um grande e fraterno abraço.
Juvenal Nunes
Sim, infelizmente, não é um problema exclusivo de uma sociedade, é transversal a muitas outras.
EliminarObrigada!