ALMA LUSITANA //
NOVOS AUTORES PORTUGUESES

Fotografia da minha autoria


«Somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não»


O som da máquina de escrever ecoa pela casa. Em cima da escrivaninha há penas e tinta preta. E dentro da nossa alma de poetas, romancistas, contadores de histórias existem mil narrativas à espreita, bordadas a imaginação. É por isso que a literatura tem sempre este toque de abraço apertado. Porque, sendo tão plural, reserva-nos infindáveis espaços para nos sentirmos em casa. Escutados. Compreendidos. E valorizados. Atendendo a que há uma voz que nos representa, o universo literário não carece de metamorfoses e de pontos de retorno. Só necessita que estabeleçamos mais pontes, para que o clássico e o contemporâneo se enlacem, sem a falaciosa sensação de que se anulam.

Há nomes que, praticamente, nos acompanham desde o berço. Seja por ouvirmos falar deles. Seja por os estudarmos na escola. Seja por mergulharmos, com todo o coração, na sua obra. E muitos deles marcaram o caminho - e o sucesso - da escrita em Portugal, porque abriram portas a novas formas de expressão. Porque tiveram a ousadia de abordar temas considerados tabu. Porque elevaram aspetos mais banais. E porque, quebrando vários muros, foram capazes de destacar o impacto das palavras na nossa existência. Em simultâneo, permitiram que mais mentes inquietas sentissem o impulso certo para colocar asas nos seus sonhos. Por todas essas componentes, e pela qualidade inerente aos seus manuscritos, transformaram a literatura nacional, marcando-a. No entanto, não é só destes escritores que se faz a nossa identidade.

O talento não é resultado da idade, mas da intensidade com que vivenciamos e sentimos determinadas situações; e da predisposição com que abraçamos o que acontece dentro e fora das nossas fronteiras emocionais. Portanto, o respeito e a abertura deve ser independente deste fator. No antepenúltimo mês de 2019, Sérgio Almeida escreveu um artigo no JN a questionar onde estão os novos ficcionistas portugueses, pois, aparentemente, os «escritores com menos de 35 anos são cada vez mais uma raridade» neste nosso panorama. Para tal, indica a maturidade tardia e a má qualidade do ensino como razões que «justificam o fenómeno». Mas será que este tema é assim tão linear?

ESTARÁ A LITERATURA EM CRISE?

É certo que, não estando no meio, não posso dissertar com dados muito específicos, nem profundos. Porém, não creio que seja este o cenário. Sinto, sim, que precisamos de mudar paradigmas e de parar de querer encaixar todos os escritores na mesma caixa. Além disso, parece-me que falta um pouco mais de vontade em arriscar nos jovens. Porque o seu futuro só pode ser promissor, se existir essa aposta. Compreendo, perfeitamente, o risco associado, mas será que não compensa? Há muita qualidade nas novas gerações, mas, se insistirmos em querer moldá-las ao mesmo padrão, o mais certo é estarmos a condicionar o seu potencial. O seu e o nosso, enquanto leitores, porque continuará a persistir aquela ideia obsoleta de que só determinados nomes e registos é que são válidos e de excelência. Perdoem-me, mas não quero ficar presa só a escritores clássicos. Quero ter a possibilidade de evoluir, acompanhada de autores que estão a conquistar o seu espaço.

ABRAÇAR A DIVERSIDADE

A sociedade está em permanente mudança. E, por consequência, há novos tipos de leitores. Portanto, é fundamental haver um mercado que corresponda às suas necessidades. Tendo em conta que ainda vivemos num país que lê pouco - embora existam melhorias -, talvez fosse mais consciencioso colocar à sua disposição leituras que os permitam sentir-se incluídos. Porque figuras de renome, como, por exemplo, Eça de Queiroz, José Saramago, Agustina Bessa-Luís, não chegarão a todos. Nem têm que pertencer ao leque de escolhas. E ninguém é menos leitor por isso. No mesmo compasso, não é porque alguém que está a dar os primeiros passos não apresenta um dialeto similar que tem menos valor. Há espaço para todos. E é urgente compreender que são todos autores. Que cada um deles terá o seu público. Apenas apresentam modos distintos de abordar a sua criatividade - e liberdade - artística.

OS NOVOS AUTORES PORTUGUESES

É fácil pendermos sempre para os autores que conhecemos bem e que, no fundo, nos transmitem uma certa segurança - contra mim falo. Contudo, também é gratificante abrir a porta a estreias, porque podemos ser surpreendidos pela positiva. E isso aconteceu-me com Helena Magalhães, Afonso Reis Cabral e Célia Correia Loureiro. Mas, para além deles, há mais rostos. Muitos deles anónimos, esperando uma oportunidade. Enquanto esse rasgo de luz não surge, perdemos acesso a histórias arrebatadoras, que fomentam a nossa caminhada neste mundo tão mágico.

Quando, nas minhas redes sociais, perguntei que novos autores portugueses tinha mesmo que conhecer, recebi, somente, uma resposta. O que me fez questionar a atenção que dispensamos aos nossos. Apesar disso, e de forma a valorizar quem tem uma palavra pertinente neste contexto livrólico, há nomes que não posso mesmo deixar de mencionar.

NOVAS AUTORAS QUE JÁ LI

Conheci-as a todas nesta plataforma, em momentos distintos. E mantenho-me atenta ao conteúdo que partilham em rede e aos projetos bonitos que já adquiriram um formato em papel. Para minha felicidade, tenho o privilégio de ter alguns dos exemplares na estante. E terei sempre lugar para mais obras que nasçam num futuro mais ou menos próximo. Porque não só acredito no potencial de cada uma, como ainda reconheço o quanto é simples identificarmo-nos com as suas histórias.


NOVOS AUTORES PARA DESCOBRIR

A lista é bastante reduzida, face à quantidade de novos escritores que vão procurando cimentar o seu lugar no meio. Porém, e aproveitando três sugestões da Ana, tenho cinco nomes que farei por explorar.

Que novos autores portugueses tenho que conhecer?

Comentários

  1. Infelizmente a leitura está em crise....as novas tecnologias fizeram com que hábitos de leitura se fossem perdendo...

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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    1. As novas tecnologias, em parte, condicionam bastante a leitura. É por isso que considero importantíssimo termos algumas estratégias para que essa não seja a nossa tendência

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  2. Acho que mesmo as editoras não apostam tanto em vozes novas porque o que vende são os nomes conhecidos e há imensos talentos que ficam para trás. Vou espreitar alguns dos nomes que referes!Obrigada pelas sugestões!

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    1. O grande problema é esse! Eu compreendo perfeitamente que os nomes conhecidos são uma aposta mais segura e rentável, mas isso acaba por condicionar o próprio futuro literário em Portugal, porque estamos a descredibilizar as novas gerações. E é como tu referes, há imensos talentos que ficam para trás.
      Espero que gostes :)

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  3. Vou sugerir mais alguns: Vanessa Lourenço, Joana Veríssimo, Patrícia Rebelo, Raquel Vicente.

    Beijinho grande!

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  4. Bom dia:- As editoras querem ( e precisam ) de fazer dinheiro. E os novos não vendem....aí está a busílis da questão.
    -
    Feliz início de semana
    Proteja-se.

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    1. E é perfeitamente natural que o queiram fazer, até porque ninguém, seja em que mercado for, quer manter um negócio que dê prejuízo. Mas os mais novos não vendem, muito em parte, porque não há esse investimento prévio. Porque não lhes concedem visibilidade. E essa luta, que acaba por ser desigual, só desfavorece um lado.
      Eu costumo fazer o exercício deste ponto de vista: e se, por exemplo, não apostassem nesses grandes nomes da literatura? Se lhes tivessem fechado tantas portas como fecham aos mais novos? Certamente que não seriam as figuras de referência que são hoje. Claro que nem todas as apostas serão ganhas, mas acho que está na altura de fazermos algumas mudanças

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  5. Há muitos e bons novos escritores em Portugal. Mas é muito difícil remar contra a corrente... há uma espécie de máfia que os impede de alcançar maior notoriedade. Sempre foi assim...
    Querida amiga Andreia, uma boa semana.
    Beijo.

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    1. O que só pode ser lamentável. Porque perdemos todos. Talvez um dia compreendam que abrir a porta a outros autores e a outros registos é mais um caminho para valorizar a nossa literatura.
      Obrigada e igualmente, Jaime

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  6. Adorei a iniciativa, mas o que tem dado para ver que há muita gente que opta por comprar o livro digital em vez de o ter em folhas
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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    1. Obrigada! Sim, é verdade, há uma grande aposta no formato digital. O que é mais uma ferramenta para fomentar o nosso interesse pela leitura :)
      Pessoalmente, mantenho-me fiel ao papel, mas reconheço as vantagens destes novos meios.

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  7. Ai, estou de coração cheio. Obrigada por esta publicação, não só por eu ali estar, mas por tudo o que dizes! 💙


    A Sofia World

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  8. O problema de Portugal é precisamente esse. Se um desses novos autores que nomeias for reconhecido lá fora, só entãO, terá sucesso em Portugal!!
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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    1. Já nem estava a equacionar essa parte do problema, mas, infelizmente, também é outro dos grandes problemas :/

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  9. Tao bom saber que a nossa literatura tem da guê novo :) Quero muito ler os livros da Sofia Costa 🐛📚 e aguardo o teu, sem pressas 🧡🌈
    Beijinhos*

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    1. Sinto que é mesmo importante, até porque nos traz mais vozes, mais perspetivas, mais imaginação! Recomendo imenso :)
      Obrigada pelo apoio constante <3

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  10. Gostaria de partilhar esta nova geração de escritores portugueses, cuja obra nunca li, no dia 20, no ematejoca azul, se estiveres de acordo.

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  11. Queres saber a melhor? Há umas semanas andei a comentar uma série de cantinhos e a deixar comentários mesmo bons! Pois.... não sei que se passou mas fui a ver e afinal não tinha publicado comentários nenhuns! Clicava no botão, assumia como publicado, mas nãaaooo... gozou com a minha cara xD

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  12. Em suma: Obrigada pelas palavrinhas que foste deixando no meu blog, foi um altura complicada... ainda está a ser um pouco! Mas acredito que tudo há-de melhorar um dia, em breve :)
    És uma querida <3

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    1. Não tens nada que agradecer, minha querida! Estou cá para o que for preciso <3

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  13. O problema das editora é só apostarem nos que a gente conhece, mas esquecem-se que se não apostarem num novo escritor nós também nunca vamos saber.
    E por vezes o inicio pode não ser promissor, mas depois de as pessoas descobrirem pode ser bastante promissor, basta arriscar, umas vezes perde-se umas vezes ganham-se.
    E acho que muitas editoras recebem os livros mas nem sequer o lêem, o que é uma tristeza.
    Eu cá vou prefirindo livros em papel, ler no computador, ipad, etc, não é muito a minha zona de conforto. Quando o faço, ou é por não haver em papel, estar esgotado, ou nem seque haver impresso.

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    1. Precisamente! Há sempre riscos associados, mas também tiveram que contornar essa questão quando lançaram aqueles que são, hoje, os autores de referência. Mesmo que não seja essa a intenção [porque, certamente, não é], acabam por condicionar o futuro da literatura em Portugal. E isso é mau para todos.
      Também prefiro sempre o papel :)

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  14. Não tenho bem noção se é nova neste mundo, mas a Djaimilia Pereira de Almeida tem obras muito boas e é alguém que vale a pena ler ;)

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    1. Sem ter qualquer certeza, penso que se possa incluí-la nesta "categoria". Estou muito curiosa com as suas obras *-*

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