ALMA LUSITANA // OS LIVROS QUE ADORAVA TER ESCRITO

Fotografia da minha autoria


«Escrever é a minha forma de mudar o mundo»


O meu sonho mais antigo relaciona-se com a escrita, pois sempre idealizei o momento em que as minhas palavras estariam guardadas em formato de papel, dentro de um dos exemplares mais especiais da minha biblioteca. Essa concretização tem sido adiada por vários fatores, mas mantenho o desejo em banho maria, alimentando a alma de histórias que não são minhas, até encontrar a direção certa para as que se formam na minha imaginação. Pelo meio, perco-me de encantos por narrativas que, por vezes, me tiram o chão, mas nunca o sentido. Nem o meu propósito.


PERMUTA AUTORAL

A lista de livros lidos vai aumentando. E, inevitavelmente, há obras que me desarrumam por dentro, ao ponto de perceber que não me importava de trocar de lugar com o seu autor. Sendo o livro tão apaixonante, subsiste aquele apontamento de inveja, porque todos nós - escritores amadores ou profissionais - procuramos uma ideia original e memorável. Posteriormente, nasce a admiração, uma vez que sou muito grata aos artistas que têm a capacidade de, através da beleza das letras, criar contextos relacionais. Personagens envolventes. E uma mensagem poderosa. É neste vínculo que a literatura se transcende, porque é sinal da qualidade que a reveste. Atendendo a que a priorizo na minha rotina, há enredos que permanecem firmes para lá do tempo.

É, para mim, maravilhoso quando termino um novo exemplar com este pensamento inequívoco: quem me dera ter sido eu a escrever esta história. Porque esse aspeto demonstra bem o impacto da mesma. E pouco importa se é um clássico, uma obra galardoada ou uma aparente leitura ligeira. A literatura é um estado de alma. E o seu grande mérito - excluindo o talento de todos os que a permitem evoluir - é a quantidade de emoções que nos desperta. Posto isto, embora seja sempre ingrato mencionar um número tão restrito, há livros de autores portugueses que adorava que fossem da minha autoria. Se, um dia, for capaz de me expressar com um pouco da sua mestria e sensibilidade, então, é sinal de que soube guiar-me pelos nomes - e valores - certos.


OS LIVROS QUE ADORAVA TER ESCRITO

 A Causa das Coisas, Miguel Esteves Cardoso 
É impressionante a atenção ao detalhe. E o interesse por temáticas, aparentemente, banais e sem relevância para a nossa formação pessoal e cívica. Além de um profundo respeito por tudo aquilo que nos rodeia, estas crónicas apresentam um caráter transversal e intemporal. Com um estilo perspicaz, mordaz, cómico e irreverente, sei que se, daqui a dez anos, voltar a lê-las, encontrarei a mesma pertinência e o mesmo nível de identificação. E não é qualquer autor que consegue manter um livro tão atual, como quando o escreveu [neste caso concreto, retomamos aos anos 80]. Mas Miguel Esteves Cardoso tem uma mestria que nos contagia, lendo-nos através das suas palavras certeiras.

 Os Livros Que Devoraram o Meu Pai, Afonso Cruz 
Nesta ode à literatura e ao leitor, o autor provou-nos que todos somos feitos de histórias. Portanto, embarcamos numa viagem bastante emocional, que nos desperta um misto de sensações e um inesquecível estreitar de laços. Através de uma passagem de testemunho, de memórias e de património literário, há planos de ação que se fundem no mesmo nível de existência, revelando uma simbiose entre a realidade e a ficção e funcionando não só como um refúgio para os problemas do quotidiano, mas também como fonte de compreensão, pois, quando nos conectamos a algo ou a alguém, é sempre complicado delinear a fronteira que nos ajuda a separar a razão dos sentimentos, tendo em conta que nos movemos muito em função do que nos bate no peito.

 No Teu Deserto, Miguel Sousa Tavares 
Este «quase romance», de caráter autobiográfico, é uma homenagem e, no fundo, um agradecimento. Narrado a duas vozes, é um livro que abunda em sentimentos e que nos convida a refletir sobre o silêncio. Além disso, não deixa de reforçar a importância de dizermos aos outros aquilo que significam, embora já o possam saber. Assumindo um registo intimista, a escrita é fluída e sublime. O seu início é conturbado, mas emocionante. E torna-se bastante interessante acompanhar a viagem ao deserto, que está na sua base. As descrições transportam-nos para o local e para os acontecimentos. E é percetível que estamos perante uma verdadeira história de amor, na qual sobressai o companheirismo, a amizade e o respeito mútuo. É um relato apaixonante, onde temos que lidar com a perda, a ausência e o peso das nossas decisões.

 Debaixo de Algum Céu, Nuno Camarneiro 
Um prédio à beira mar, oito dias de ação e a vida dos inquilinos. Resumidamente, esta é a premissa que sustenta a história, mas a escrita poética do autor tem a capacidade de transformar o quotidiano em reflexões mais profundas. É impressionante o mundo que existe dentro de um espaço fechado e o quanto se pode viver num curto espaço de tempo. A nossa jornada avança sempre, por maiores que sejam os nossos dilemas. E percebemos o quanto as relações podem quebrar ou estreitar em momentos de crise. Numa travessia entre medos e desejos, este livro é feito de pessoas. E podia descrever a nossa realidade.

 Demência, Célia Correia Loureiro 
É uma leitura forte, que nos inquieta e que nos revolta. E alguns capítulos chegam mesmo a magoar, pois é o retrato cru da doença e da violência que marcam mais vidas do que aquelas que seriam expectáveis. Além disso, o contexto em que se desenvolve tem um peso muito significativo na abordagem e na mentalidade perante certos acontecimentos. «Numa pequena aldeia beirã, duas mulheres de gerações diferentes leem o seu destino nas mãos de um mesmo homem», sendo fascinante - mas, igualmente, assustador - perceber como é que as pessoas são tão diferentes consoante aqueles com quem interagem.

 Onde Cantam os Grilos, Maria Isaac 
A escrita da autora é maravilhosa, envolvendo-nos numa narrativa que tanto nos aquece a alma, como nos aperta o coração. Através da voz do Formiga, vamos sentir o peso do abandono, dos sentimentos, de sensações proibidas e dos segredos. Mas também do amor, das impressões descontextualizadas e do quanto nada é linear. E se, por um lado, a história começa com um traço doce e lento, por outro, sem estarmos a contar [eu, pelo menos, não estava], consegue virar-nos do avesso. Sinto que não estava preparada para o desfecho e é, também, por isso que considero o livro surpreendente. Para além de ser bastante credível, transportando-nos para a vida da Herdade do Lago, prova-nos que nada é o que aparenta ser. Portanto, é necessário sermos mais prudentes e menos impulsivos - sobretudo, nos julgamentos morais.

 A Noite em Que o Verão Acabou, João Tordo 
Sou fascinada por tudo o que envolva policiais e thrillers, porque o nosso pensamento está sempre em alvoroço, atento aos mais variados sinais. E esta obra é, por isso mesmo, altamente, viciante. Imprevisível. E surpreendente. Porque é cheia de camadas de mistério e de personalidade. Em simultâneo, reúne uma série de reviravoltas geniais, baralhando tudo o que tínhamos desvendado até então. E, confesso, eu bem tentei formular inúmeras hipóteses para solucionar o caso em análise, mas foram todas, gradualmente, deitadas por terra. Porque o autor criou um fio condutor sólido e a transbordar qualidade. Mesmo quando transita entre o passado e o presente, não há qualquer quebra de ritmo. E esse aspeto deixa-nos mais presos a este labirinto.


Que livros gostariam de ter escrito?

Comentários

  1. Espero que esse tempo de escrita esteja próximo! Força nisso!

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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  2. "Laços que perduram" do Nicholas Sparks, adoro este livro dava um thriller incrível. "A noite em que o verão acabou" do João Tordo, que está brutal. "Autobiografia" do José Luís Peixoto que é uma obra-prima. "A Saga de um Pensador" do Augusto Cury, dos meus preferidos do autor.

    Beijinho grande!

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    1. O livro do João Tordo está mesmo fabuloso! Dei por mim a desejar que aparecesse sempre mais um capítulo *-*
      Os restantes ainda não li, mas tenho Autobiografia na lista

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  3. Nunca li nenhum...
    Espero que essa tua obra/s saia depressa. Tu mereces!

    Beijos e abraços.
    Sandra C.
    bluestrass.blogspot.com

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    1. Recomendo todos, como dá para perceber ahahah
      Muito obrigada :D

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  4. ALMA LUSITANA // OS LIVROS QUE ADORAVA TER ESCRITO

    Os Lusíadas

    «Menina e Moça» de Bernardim Ribeiro.

    «O Sentimento dum Ocidental» de Cesário Verde

    «SÓ» de António Pereira Nobre

    «Sinais de Fogo» de Jorge de Sena

    «Ema» de Maria Teresa Horta

    «Pão de Açúcar» de Afonso Reis Cabral

    E traduzir para alemão toda a obra de AFONSO REIS CABRAL (um conto já traduzi)

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    1. Já tenho mais uns quantos livros para adicionar à minha lista :D

      Isso é espetacular!

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  5. Confesso que não conhecia mesmo, mas vamos pensar que um dia vai haver um livro da tua autoria
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  6. Eu estou ansiosa por ver e ler um livro teu, juro! Tenho a certeza que será um sonho que irás alcançar <3

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  7. Posso fazer uma indicação? A Garota dos Pés de Vidro. Não lembro o nome da autora, mas o sobrenome é Shawn. Esse livro me bagunçou por dentro.

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    1. Claro que sim! Agradeço todas as sugestões :)
      Vou já procurar

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  8. Adoro o livro: Pensamentos e Devaneios, da autoria de: Ricardo, águia-livre.

    Pronto. Como gosto de poesia e esse livro é de poesia, gosto de o ler...

    Cumprimentos

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  9. Que ideia criativa para um post, gostei de ler :)

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  10. Não li nenhum dos que foram mencionados, mas grande parte deles estão na minha lista de próximas leituras. Até então, acho que não teve um livro que tivesse mesmo gostado de ter sido eu a escrever. 🤔 Também até então li poucos livros (35, para ser exata) logo não são muitos. Preciso de ler ainda mais! Beijinho

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    1. Certamente que encontrarás algum que te arrebate dessa forma. Mas, caso não aconteça, também não há qualquer mal nisso :)

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  11. Escrever também é a minha forma de mudar o mundo e eu gosto muito muito mesmo de te ler 🧡 e acredito um dia vou ler o teu livro 🧡
    Quando acabo de ler um livro da Dorothy Koomson, penso que gostava de o ter escrito :) assim como os contos infantis da Sophia de Mello Breyner. Pensei o mesmo do O Nosso Reino de VHM, O Meu Coração do tem uma cor e À descoberta de si mesma de Guida Guardado
    Beijinhos*

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    1. Enche-me o coração ler isso, minha querida <3
      Sim, sem dúvida, também não me importava nada de ter escrito os contos infantis de Sophia de Mello Breyner. Quero tanto ler O Nosso Reino e O Meu Coração Só Tem Uma Cor.

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  12. Também gostava de ter escrito "A causa das coisas"! :)

    https://checkinonline.blogspot.com/

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  13. Adorava ter escrito «Pensar», de Vergílio Ferreira <3

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