ENTRELINHAS //
QUEM NÃO SONHA VOAR, ALICE?

Fotografia da minha autoria


«Divertido, sensível e realmente especial»


A nossa pegada - nesta estrada imprevisível que é a vida - tem marcas distintas. Porque, perante a mesma rota, encaramos o horizonte de um ponto de vista singular. E isso, naturalmente, é resultado das características que nos tornam únicos. Se há algo que não podemos esquecer é que não somos todos feitos do mesmo molde, muito menos temos que corresponder a padrões únicos. Enquanto seres sociais e autónomos, só temos que nos manter fiéis às nossas particularidades.

Quem Não Sonha Voar, Alice? tem a capacidade de nos alertar para essa necessidade. E para o quanto é fundamental sermos tolerantes, empáticos e cooperantes. Através de uma narrativa emocional, mas igualmente irónica e com traços de humor, acompanhamos a chegada de Alice a Bel-Air, com a missão de prestar assistência a uma escritora em clausura [provocada pela própria]. A sua função será, maioritariamente, cuidar do filho - Frank -, que é uma «criança de 9 anos com uma inteligência acima da média». E o difícil será não nos perdermos de encantos pela sua personalidade, até porque, em nenhum momento, utiliza os seus conhecimentos para se superiorizar face aos demais. É, apenas, um génio - com tudo o que essa condição implica.

Julia Claiborne Johnson, com a sensibilidade da sua escrita e sem romantizar contexto, colocou-nos em contacto com a vida em decadência, a complexidade das relações humanas, a dinâmica familiar, a humildade de reconhecer quando precisamos de alguém que nos ampare e a integração de um elemento exterior, que, consciente ou inconscientemente, tem peso nas ligações saudáveis que se vão fomentando após a sua chegada. E é neste vínculo de cumplicidade e amabilidade que se constroem mecanismos de defesa. Porque aquilo que a figura da Alice veio comprovar - acredito -, é que, na generalidade das circunstâncias, só precisamos de um salto de fé e de abrir o coração, predispondo-nos a ser uma rede de apoio e não de conflito.

Senti que ficaram algumas questões em suspenso. No entanto, esta narrativa, que alberga infindáveis peripécias, faz-nos sonhar, uma vez que nenhum dia é igual ao anterior e que a mente do protagonista é fascinante - em parte, fez-me recordar Sheldon Cooper, com a sua inaptidão social. Mas a verdade é que, independentemente da sua excentricidade, é um miúdo adorável, com o dom de nos arrancar sorrisos, ao mesmo tempo que nos convida para reflexões profundas, pois incita-nos a repensar as nossas atitudes em relação às pessoas que nos rodeiam, compreendendo que, embora possamos ter poucas coisas em comum, a discriminação não pode ser um caminho. Portanto, temos que aprender a reconhecer e a validar as peculiaridades que nos descrevem. Porque todos temos as nossas, por mais que as procuremos ocultar.

Quem Não Sonha Voar, Alice? oscila entre o ser social e o ser individual. Mostra-nos que, talvez, nem todos sejamos feitos de filtros. E que precisamos de mais personalidades genuínas e carismáticas. Além disso, capta a solidão e a genialidade. E foca as várias facetas que coabitam dentro do mesmo ser humano. Utilizando a nossa melhor arma - o coração -, a autora leva-nos por uma travessia pelo amor incondicional - e inconvencional. Pelas reviravoltas da vida. E pelo quanto somos e nos tornamos mais completos por amarmos e sermos amados sem fecharmos os outros dentro de caixas inflexivéis.

Sentir que pertencemos a um lugar faz toda a diferença. Mas, se insistirmos em cortar as asas dos nossos semelhantes, como é que seremos capazes de voar? A liberdade de ser é [ou deveria ser] a ponte que nos une. E não um muro, que nos deixa em lados opostos da margem.


Deixo-vos, agora, com algumas citações:

«- Tanto melhor. Os nadadores-salvadores dizem que eu nado como um homem prestes a afogar-se, mas eu não vejo que importância isso possa ter, desde que eu não me afogue de facto» [p:71];

«- Ela não te odeia. Como poderia ela odiar-te? Tu és perfeita.
Mais tarde, o Xander disse:
- Não tem que ver contigo, percebeste? O que a Mimi odeia é o rumo que a sua vida tomou. Não é propriamente o que ela pensava que iria ser quando tinha a tua idade e se sentia nos píncaros» [p:168];

«- O que está em causa não é o diretor nem a senhora, é o Frank - disse eu» [p:208].


// Disponibilidade //
Wook: Livro | eBook
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Comentários

  1. Nesta altura não podemos parar de sonhar....
    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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  2. Parece-me uma bela obra! :)

    www.amarcadamarta.pt

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  3. A fotografia é lindíssima 🌻 com aquele vaso encantador.
    O livro não despertou o meu interesse 📚

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    1. Foi uma lembrança de última hora, porque olhei para o vaso e lembrei-me de improvisar. Mas também achei que ficou amoroso 😊 muito obrigada!

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  4. Respostas
    1. Sim, é uma ótima companhia!
      Obrigada e igualmente, Francisco

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  5. Você escreve divinamente!
    Gostei muito da indicação. Qual Alice não desejaria voar?

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    1. Muito, muito obrigada, Ana!
      Verdade, acho que é um sonho partilhado pela maioria 😊

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  6. Obrigada pela opinião, Andreia. Acabei de adicionar à minha lista infinita de leituras futuras!

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    1. Eu é que agradeço o retorno! Como te compreendo, essa lista parece que nunca diminui 😂

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  7. Love the quotes you shared.
    Stay safe ♥

    Ann
    https://roomsofinspiration.blogspot.com/

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  8. Não conhecia este livro, vou registar para ler, Obrigada pela partilha.

    Beijinho grande!

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    1. Conheci-o por mero acaso, mas revelou-se uma boa companhia 😊

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  9. Parece-me que iria gostar deste livro :)

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  10. Que historia tao bonita :) O titulo diz tudo :)
    Beijnhos*

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  11. Oh que tem mesmo uma história bastante bonita, mas ainda não conhecia
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  12. Ai os livros que deixam questões em suspenso deixam-me muito nervosaaaa...preciso de respostas xD

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  13. o único livro que quis da bertrand (apesar de que dizia que eles vendiam) teve que ser mandado vir do estrangeiro, foi uma dor de cabeça enorme só por causa de um livrinho... e um desconto por ter feito anos, mas para o usar tenho que gastar 30€ em livros... para quem não estuda, ou não precisa de livros para o trabalho não compensa nada... eu queria, mas é tudo caro...

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    1. Os preços nem sempre são os mais simpáticos, infelizmente, mas livros compensam sempre. Mesmo não estando a estudar ou num trabalho que os requeira como ferramenta.
      Lamento que a experiência não tenha sido a mais feliz

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  14. Nunca li uma história parecida e de facto, estou curiosa! Mega curiosa! Vou adicionar à minha lista. 😍

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  15. Oii, nunca li mais achei incrível. Ótimas citações. Beijos

    Segredosdamarii.blogspot.com

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  16. «Mas, se insistirmos em cortar as asas dos nossos semelhantes, como é que seremos capazes de voar?» Isto. Tudo é mais bonito sem que tentemos passar por cima dos outros, não é?
    Parece-me uma história interessante e adorei a fotografia :)

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    1. Não podia estar mais de acordo, minha querida!
      Muito obrigada 😍

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