a cama onde elas se deitam, faridah àbíké-íyímídé
![]() |
Fotografia da minha autoria |
A ideia de frequentar um estabelecimento de ensino pode ter tanto de entusiasmante como de assustador, porque existem dinâmicas que não compreendemos e talvez não estejamos preparados para todos os segredos que aqueles corredores escondem. Ainda assim, Faridah Àbíké-Íyímídé tentou transportar-nos para essa envolvência, a partir da perspetiva de alguém que passou a maior parte do seu percurso académico a ter aulas em casa.
quando nem tudo é o que aparenta ser
A Cama Onde Elas se Deitam concentra-se na história de Sade Hussein, uma jovem «prestes a começar um novo ano do secundário» na prestigiada Academia Alfred Nobel. Esta mudança é, no fundo, uma tentativa de recomeçar e de encontrar um rumo diferente para o infortúnio que tem sido a sua vida, só não contava que logo na primeira noite no colégio a sua colega de quarto, Elizabeth, desaparecesse de uma forma estranha e a comunidade estudantil desconfiasse que ela poderia ter algum tipo de envolvimento no seu desaparecimento.
A premissa intrigou-me desde o início e creio que a autora tem um talento especial para transmitir uma aura sombria nas suas palavras, o que já tinha sentido no livro anterior, Às de Espadas. Há alturas em que ainda não aconteceu nada de relevante, nada que nos deixe desconfiados, mas é inevitável sentirmos que deve estar para breve: pelo ambiente, pelos diálogos que ficam em suspenso, pelas pistas que vão surgindo nas entrelinhas. Além disso, por ser uma construção narrativa com um ritmo mais lento, a tensão torna-se quase palpável.
O livro está cheio de simbolismos, mensagens em código e personagens complexas. Enquanto o quotidiano avança numa falsa normalidade, vamos percebendo que há ligações por conveniência, que algumas peças não encaixam como deveriam e, sobretudo, que nem tudo o que é dito pode ser assumido como certo. E este último ponto, para mim, foi um dos mais estimulantes da história, porque nenhuma personagem é cem porcento confiável, porque todas elas têm algo a esconder: desde pequenas omissões a comportamentos condenáveis.
«O mau pressentimento voltou a afundar-se em si, subindo-lhe pelos braços. Não acreditava em coincidências. A sua vida até então tinha sido uma série de ratoeiras cuidadosamente montadas pelo Universo. E a piada era sempre ela»
Os temas explorados são de máxima importância, não só por exporem o patriarcado e o silêncio daqueles que poderiam fazer uma diferença positiva e escolheram compactuar com jogos de poder, mas também por reforçarem que há heranças do nosso passado impossíveis de largar. Gostei que a leitura me permitisse traçar tantas teorias, que me revoltasse e me enganasse em certas passagens, no entanto, senti que se estendeu demasiado em detalhes que acrescentaram pouco ao enredo, fazendo com que a justificação fosse precipitada.
Depois de terminar a leitura, cruzei-me com um comentário de alguém que dizia que tinha gostado mais do conceito do que propriamente do livro em si e, em parte, relacionei-me. Não porque não tenha gostado da história, mas porque pareceu-me que as personagens foram crescendo mais do que aquilo que, depois, foi entregue na ação. No fundo, acho que queria ter encontrado um equilíbrio maior entre estas componentes, porque havia potencial para isso.
A Cama Onde Elas se Deitam mostra-nos a importância de termos uma comunidade e o poder da denúncia, ainda que continue a existir tanto por fazer, tantos estigmas por quebrar. Em simultâneo, embora seja uma obra de ficção, deixou-me a pensar na podridão que se esconde em locais considerados de elite, o que só comprova que a ausência de valores abarca todos os estratos sociais, a diferença talvez esteja na forma como, à posteriori, estes são camuflados.
notas literárias
- Gatilhos: Agressão Sexual, Luto, Uso de Drogas
- Lido entre: 16 e 19 de janeiro
- Formato de leitura: Digital
- Género: Jovem Adulto
- Personagens favoritas: Baz e Persephone
- Pontos fortes: os temas, a aura misteriosa, a relação de amizade que se foi construindo
- Banda sonora: Trevo (Tu), Anavitória & Diogo Piçarra | You First, Paramore | You're The One That I Want, John Travolta & Olivia Newton-John | Haunted, Beyoncé | Poet (Music Box), Invadable Harmony | New Girl, Labrinth
8 comments
Fiquei curiosa. Vou guardar a sugestão.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Boas leituras, Isa!
EliminarMais uma excelente sugestão para procurar na BiblioLED. Fiquei mesmo curiosa.
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida!
Espero que tenha 🤞🏻
EliminarNao conhecia mas ja estou a seguir a autora e acabei de comprar um livro (por uma libra) para o meu filhote ler na escola no Dia Mundial do Livro a 7 de Março *.*
ResponderEliminarOwww, que maravilha 😍
EliminarConheço, mas ainda não li 😊
ResponderEliminarAcho que ias gostar :)
Eliminar