dores crónicas, bruno nogueira
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Fotografia da minha autoria |
As crónicas do Bruno Nogueira continuam a sair na Sábado, no entanto, com exceção de textos pontuais, tenho evitado lê-las na revista, porque espero sempre que sejam compiladas num livro. Qualquer dia, reconheço, esta gestão é capaz de me correr mal, mas aproveitei a maré que se alinha e foi assim que cheguei ao seu segundo exemplar.
um tom melancólico
Dores Crónicas, parece-me, é uma viagem muito mais intimista pelos assuntos que o inquietam, pelos pensamentos que se reproduzem, repetidamente, em surdina e vão pairando sobre o seu quotidiano. Por esse motivo, notei um tom mais melancólico, por vezes, mais fatalista, concentrado naquilo que se perde com o tempo e com a ausência; ou, então, naquilo que povoa os cenários hipotéticos que construímos sem sabermos bem com que propósito. O Bruno Nogueira tem mais dez anos do que eu e é natural que as nossas visões do mundo se desencontrem em certos pontos, mas tenho sentido que, com o avançar da idade, tendo a olhar para algumas situações com nostalgia, quase como se lhes visse o fim (mesmo que não tenha capacidade para o adivinhar). Portanto, senti-me validada nos medos, nas irritações, na dificuldade em largar a mão.
Sou fascinada com o seu trabalho no humor, até porque cresci com essa referência, mas tenho descoberto uma camada ainda mais encantadora na escrita, talvez por ser tão humana e tão emocional - sem pender para a moralidade de quem acha que sabe tudo sobre a vida. E gosto mesmo que não tenha qualquer receio de demonstrar a sua vulnerabilidade e a tristeza que o habita em várias ocasiões. Acho que isso é fruto de um grande autoconhecimento, sem que se tenha passado a levar demasiado a sério.
«O Porto ensina-nos a todos uma coisa que feita por ele quase parece fácil: ensina-nos a genuinidade com que se deve receber alguém. Não há cerimónias na linguagem, no trato, na despesa que se tem com afectos. Quando alguém é amado pelo Porto, é uma boa oportunidade para se sentir especial»
Tenho várias frases destacadas, que ficaram a ecoar cá dentro e às quais quererei regressar, mas não posso deixar de destacar as cinco crónicas que mais me fizeram sentido: Melhor Assim, A Memória e a Criação, As Janelas Que Contam Histórias, Uma Família e Uma Escadaria e O Porto é Um País - esta última, surpreendendo um total de zero pessoas, é a favorita das favoritas, não só por ser sobre a cidade do meu coração, mas por todo o amor e consideração espelhados nas suas palavras sempre certeiras.
Dores Crónicas é sobre o tempo, a(s) memória(s) e o que nos pesa. Escrito num misto de leveza e intensidade, com sensibilidade e pertinência, acho que nos mostra que todos temos as nossas dores e que refletir sobre cada uma delas pode levar-nos a um sítio bom ou, pelo menos, mais esclarecido. Além disso, em simbiose com as ilustrações lindíssimas de Juan Cavia, acredito que nos mostra que nunca estaremos sozinhos.
notas literárias
- Lido entre: 1 e 2 de fevereiro
- Formato de leitura: Físico
- Género: Crónica (Não Ficção)
- Pontos fortes: A capacidade de observação, o tom melancólico e a forma como associa tantas imagens; as ilustrações do Juan Cavia
- Banda sonora: Rosa à Janela, Baile Popular | Tsunami, Richie Campbell & Gson | Do Avesso, Inês Marques Lucas | O Primeiro Dia, Sérgio Godinho | Margens do Douro, Mundo Segundo, Maze & Macaia
Não conheço 😊
ResponderEliminarSe tiveres curiosidade, aconselho
EliminarNunca me aventurei na escrita do Bruno, vou levar a sugestão.
ResponderEliminarCom a BiblioLED como alguns livros que pretendo ler estão em reserva, aproveito para conhecer novos autores, tem sido uma ideia fantástica.
Beijinho grande, minha querida!
Sou suspeita, mas acho que vale muito a pena descobri-la!
EliminarSim, é ótimo 🥰
Andreia confesso que fiquei curiosa pelo livro, bjs.
ResponderEliminarTem um lugar no meu coração
EliminarGosto muito de ouvir e ler o BN *.* Li o primeiro livro e recomendo :)
ResponderEliminarTambém li e tem um lugarzinho no meu coração 😍
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