van zee no coliseu do porto

Fotografias da minha autoria


Os versos da Tempo tornaram-se próximos, mas não o suficiente para que crescessem raízes. Alma Nua estreitou laços, no entanto, tenho a certeza de que foi com underwater, em colaboração com Diogo Piçarra e Frankieontheguitar que fiquei atenta a Van Zee.

O cantor e compositor madeirense fez do mar a sua imagem de marca: pelas origens, pela tradução do seu nome artístico do holandês e pelo nome do seu segundo álbum, um dos meus favoritos de 2023 e que continua a marcar vários momentos do meu dia e, inclusive, a embalar algumas sessões de escrita. Há qualquer coisa nas suas letras que magnetizam, que me agitam por dentro, tal e qual aquele pedaço infinito de azul.

   

Tem sido um privilégio vê-lo a navegar e a alcançar o seu lugar no panorama musical português, uma vez que não só lhe reconheço talento, como também sinto que chegou com os valores certos, sem egos e com uma enorme vontade de estar pela música. Por esse motivo, depois de assistir ao seu concerto na Queima das Fitas do Porto, estava desejosa de o ver numa grande sala, com outro tipo de condições, em nome próprio, o que aconteceu no passado dia 15 de fevereiro, num Coliseu do Porto bem composto.

A fila já deixava antever um público em perfeita simbiose com o artista e a banda, mas a forma como a sala se uniu para cantar as mesmas canções foi especial, muito mais do que aquilo que imaginei. Não tenho destreza para acompanhar a velocidade com que transita entre versos, ainda assim, foi impossível não tentar acompanhar, não dançar, não sentir a energia de quem estava em cima do palco a fazer a festa. Além disso, dei por mim a comover-me em alguns temas. Fazendo uma travessia pelos seus trabalhos mais antigos, presentes em Aporia, e pelos mais recentes, que culminam no tão bem bordado Alta Costura, em parceria com o guitarrista Frankieontheguitar, um dos aspetos que mais me impressionou foi o equilíbrio que conseguiu nessa viagem, ao ponto de crer que não fazia sentido existir qualquer outra sequência musical.

Estava, particularmente, curiosa para escutar Como Seria? / Amor Sóbrio, Ainda Prendes o Cabelo e Bravos ao vivo e sei que me apaixonei um pouco mais por estas músicas. Em simultâneo, queria muito ouvir a Even com o Richie Campbell, embora não tivesse garantias de que pudesse acontecer: aconteceu e foi, sem sombra de dúvidas, um dos meus momentos favoritos da noite. Por outro lado, percebi que a Pull Up cresceu em mim, e acho que essa é uma das coisas mais bonitas de estar num concerto, uma vez que sentimos a emoção do artista e ficamos a conhecer os temas de outra maneira. Para Casa continuará a ter um lugar cativo no meu coração e foi maravilhoso ter o Ivandro a cantar a Chamadas, bem como o Bispo a trazer-nos a inigualável Bênção.

   

Fica Só marcou o final do espetáculo, com todos os intervenientes em palco. Apesar de terem sido quase duas horas, fiquei com a sensação de que ninguém queria ir embora, para não se quebrar o encanto do que vivemos e prolongá-lo. Ninguém me perguntou, mas ficarei por perto. E, como canta Johnny Virtus, «para onde vais ou também vou».

Espero que o farol que nos iluminou toda a noite continue a ser a luz que o norteia, porque o Van Zee só não chegará onde ele não quiser. Que concerto extraordinário!

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