cor-de-margarida, capicua

Fotografia da minha autoria


A BiblioLED (biblioteca pública para leitura e empréstimo digital) ficou disponível na área metropolitana do Porto. Assim, o meu primeiro passo foi percorrer o catálogo e o segundo, com a lista de leitura já bem composta, foi perceber que seria a oportunidade perfeita para voltar à escrita da Capicua. Depois de Aquário, que continua a ser um dos meus livros de eleição, fui descobrir a sua mais recente obra de literatura infantil.


aceitação e amor próprio

Cor-de-Margarida surgiu de uma forma encantadora, «enquanto contava uma história para adormecer o seu filho, Romeu», e, talvez por esse motivo, traga na sua essência o conforto e a delicadeza da descoberta; traga a necessidade de, desde o início do nosso crescimento, contactarmos com um reforço positivo acerca das nossas diferenças, das nossas particularidades, da imagem que vemos refletida no espelho. Nesta narrativa, Margarida sente-se mal, porque as suas pétalas não têm cor e o que ela mais queria era ter «o vermelho das camélias e o rosa das rosas». Aliás, a tristeza é tão profunda, que acha que não tem qualquer importância, até um dia em que tudo muda para ela.

Entrar em pormenores seria comprometer a experiência que tanto a escrita como as ilustrações da Matilde Horta nos reservam, no entanto, é extraordinário como a artista portuense parte de algo aparentemente simples e nos deixa a refletir sobre o impacto das comparações, sobre este desejo intenso de mudarmos aquilo que não gostamos em nós e, inclusive, sobre como é longo o processo de aceitação pessoal. Ademais, deixou-me a pensar na forma antagónica como nos observamos e como os outros nos veem, ou seja, aquilo que para nós pode ser um defeito, os outros podem sentir que é o que nos dá personalidade, charme, interesse. Portanto, esta noção será sempre muito relativa.

«Não há nada como este cheirinho a terra molhada»

É natural termos inseguranças, passarmos por períodos em que certas características nos incomodam e sentirmos que se fôssemos diferentes tudo seria mais fácil, mas creio que conversar sobre isso pode ser uma maneira de termos ferramentas que nos impeçam de ficarmos presos a esse registo. Não há bem uma fórmula que o elimine (num mundo idílico, quem sabe), mas podem existir estratégias que nos ajudem a compreender que nem todos os dias são de tempestade, que também há alturas em que o sol brilha e podemos sentir-nos radiantes. E fazê-lo na infância, quando as crianças «ainda estão a formar uma identidade», pode potenciar um crescimento sem culpas ou sem a perceção de que terão de corresponder a um determinado padrão.

Cor-de-Margarida tem um toque muito humano, até porque podemos transportar os seus elementos para o nosso quotidiano. Ademais, está longe de ser um livro só para crianças, uma vez que tem uma importante mensagem sobre amor próprio e aceitação. Com sensibilidade e humor, percebemos que é um processo que não fica concluído e que precisamos de o abraçar ao longo da nossa vida, para nos irmos descobrindo. E acho que levanta uma questão pertinente: será que se mudássemos tudo aquilo que não gostamos em nós nos sentiríamos melhor ou perderíamos tudo o que somos?


notas literárias
  • Lido a: 22 de fevereiro
  • Formato de leitura: Digital
  • Género: Infantil
  • Personagem favorita: As Formigas
  • Pontos fortes: a simbiose entre texto e ilustrações, a mensagem e a simplicidade
  • Banda sonora: Flores, Lázaro & Rita Rocha | Conforto, Afonso Pais & Capicua | Deslocado, Napa | Este Meu Jeito, Elisa

Disponibilidade: Wook (Livro | eBook) | Bertrand (Livro | eBook)
Nota: Esta publicação contém links de afiliada da Wook e da Bertrand

Comentários

  1. Já vou levar a sugestão.

    Adoro a BiblioLED li seis livros este mês todos requisitados lá. Excelente iniciativa.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Infelizmente, acabei por não conseguir ler no kobo por causa da formatação, mas a história é amorosa!

      Isso é maravilhoso 👌🏻

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  2. Dá pra perceber que o livro toca nos sentimentos principalmente no amor próprio que é importante para o ser humano, Andreia bjs.

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  3. Parece ser um livro promissor. Fiquei curioso em ler a obra.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está em HIATUS DE VERÃO do dia 19 de janeiro à 06 de março, mas comentarei nos blogs amigos nesse período. O JJ, portanto, está cheio de posts legais e interessantes. Não deixe de conferir!

    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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  4. Parece-me bastante interessante! :)

    www.amarcadamarta.pt

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    1. Aconselho, Marta! E é ótimo para trabalhar com miúdos 🥰

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