Arrisquei nesta banda desenhada às cegas, sem saber o que esperar, e fui surpreendida por uma história cómica, comovente e com um tom leve. Com imagens de uma beleza extraordinária, acompanhamos uma viagem de autodescoberta, com todas as dúvidas, inseguranças e borboletas na barriga que a caracterizam. Fiquei com vontade de ler mais, porque a autora tem uma escrita bonita, fluída e direta.
Aventureira Marielle e o Dia da Fotografia, Nuna
Uma história encantadora, que se lê num sopro, mas que transmite uma mensagem importantíssima sobre aceitação, inclusão e amor próprio. Há características que contam parte da nossa história, mesmo que não nos definam por inteiro, por isso, é essencial sentirmo-nos representados. Porque é uma forma de quebrarmos barreiras e preconceitos; e porque é, também, uma maneira de as pessoas sentirem que as suas ideias, valores e inseguranças são válidos e partilhados por tantos outros.
Mary John, Ana Pessoa
Mary John é uma longa carta dirigida a Júlio Pirata, na qual Maria João, a protagonista, faz um balanço de tudo o que viveram juntos. O relato é melancólico, é engraçado, é comovente, por esse motivo, transforma-se numa viagem de reencontro, de despedida, de mudança e, inclusive, de catarse. Acho que a Andreia adolescente teria beneficiado de um livro assim, porque é um retrato verosímil do desnorte, da dificuldade que é construirmos a nossa identidade, do impacto que certas relações/pessoas têm na nossa vida e do quanto parecem pairar em todos os nossos passos.
Levante-se o Réu, Rui Cardoso Martins
Fui conquistada pela forma como o autor nos narra as histórias, envolvendo-nos num ambiente trágico, cómico, bizarro e revoltante, porque há textos que nos deixam perplexos com o seu desenvolvimento e consequente desfecho. Aliás, há situações tão surreais, que quase duvidamos da sua veracidade, mas aconteceram e são um retrato fiel da vida dos tribunais portugueses. Equilibrando um traço ora inocente, ora caricato, estes registos fazem-nos refletir sobre o rumo da nossa jornada, sobre as nossas escolhas e sobre quem somos em sociedade - com ironia.
Obras Completas Maria Judite de Carvalho
O nome passou despercebido a maior parte da minha vida e, agora que o descobri, questiono-me como é que não é uma figura constante, quando se debate literatura, questiono-me como é que nas minhas aulas de português não me mostraram o mundo que é Maria Judite de Carvalho.
O Momento em Que nos Perdemos, Maria José Núncio
Numa época em que a moda portuguesa conheceu o seu auge, assistimos ao sucesso e ao declínio das personagens principais. Pelo meio, como se vida fosse um jogo de sombras e perdas subtis, mas com um impacto barulhento no quotidiano, é fácil perceber que nem sempre é evidente o momento em que nos perdemos; que, se calhar, nos vamos perdendo aos poucos, até já não ser mais possível colarmos os cacos.
Giz, Gisela Casimiro
Dividido em quatro partes, Giz, para mim, foi alternando entre um misto de mágoa, descoberta e humor. Parece que, à medida que vamos avançando, saímos da rua, onde é necessário intervir acerca de uma série de questões, para entrarmos em casa, onde a conhecemos um pouco melhor, onde conhecemos as cicatrizes que ainda carrega, embora já tenham outro peso. Além disso, entramos num plano mais intimista ao termos acesso aos sonhos que a autora foi registando - e é curioso como existem temas recorrentes. Para terminar, creio que ficamos com uma nota para o futuro, que interliga diferentes pólos: o que foi, aquilo que pode ser reescrito e o que poderá vir.
Autismo, Valério Romão
É um livro doloroso, que nos tira de qualquer zona de conforto, uma vez que nos impulsiona a refletir sobre escolhas, sobre expectativas e sobre aquilo que seríamos nós a fazer, caso estivéssemos no contexto dos protagonistas. Com uma escrita frenética e crua, chega a sufocar, a afligir pelo desnorte, pela falta de respostas e pela sensação de estarmos a falhar num papel específico - e, aqui, refiro-me a um nós pelo simples facto de nos sentirmos parte deste enredo. Colocando o espectro do autismo como peça central, ficamos mais conscientes dos seus condicionantes, ao mesmo tempo que somos convidados a reconsiderar tudo aquilo que implica em quem o sente na pele, nos pais, no casal, na família, porque as repercussões afetam um todo, diariamente, ainda que em graus distintos. Acho que continuo a processar o final.
A Importância do Pequeno-Almoço, Francisca Camelo
Os seus poemas, tão reais, que parecem uma história versada, são-nos servidos passo a passo, como se fossemos, todos juntos, confecionar este grande pequeno-almoço: para alguns, indigesto, porque coloca em evidência o patriarcado, o medo, a solidão, a diminuição, a violência, a necessidade que ainda temos de, enquanto mulheres, nos fazermos visíveis. E, aqui, refiro o quanto adorei Manifesto de Identidade.
Esse Cabelo, Djaimilia Pereira de Almeida
A escrita quase poética da autora transporta-nos para o lado emotivo e doloroso deste conflito interior, colocando uma bandeira nas questões raciais e nas raízes. Esse Cabelo é, portanto, uma tomada de consciência. Porque o nosso cabelo é a nossa identidade. E não tem de ser mudado para sermos aceites.
Tudo São Histórias de Amor, Dulce Maria Cardoso
O amor é complexo e, tal como percecionamos nesta obra, há vários momentos em que parece não estar presente. No entanto, acompanha-nos, ainda que o faça de um modo tão subtil. Porque, continuo a acreditar, Tudo São Histórias de Amor - algumas menos convencionais, outras mais arrebatadoras, mas todas de amor.