Entre Margens

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As minhas primeiras referências musicais fui buscá-las ao meu pai, mas os Silence 4 não vieram agregados a essa bagagem. Apesar de não os ter abraçado profundamente durante o meu crescimento, havia letras que não sabia cantar, por serem numa língua que não me é tão intuitiva, mas que sabia sentir como se fossem um pedaço da minha história em construção. E isso não se pode esquecer.

Quando anunciaram um reencontro para celebrar os 30 anos da sua formação, admito, hesitei um pouco antes de comprar o bilhete, porque questionei-me se fazia sentido estar presente, tendo em conta que não vivi de perto o crescimento da banda. Só que, depois, questionei-me se estaria disposta a perder a oportunidade de cantar ao vivo a Borrow ou a To Give, por exemplo, e se estaria disposta a desperdiçar um momento que talvez não se voltasse a repetir. A resposta negativa às duas foi bastante esclarecedora.

      

Tinha três anos quando o David Fonseca, a Sofia Lisboa, o Tozé Pedrosa e o Rui Costa se juntaram e se tornaram num «dos maiores fenómenos da música portuguesa», mas isso não impediu que existissem versos seus a ecoar na minha memória. Demorei mais do que devia a incluí-los na banda sonora da minha vida, mas o concerto a que assisti no domingo (16/11) foi a prova perfeita de que ainda cheguei a tempo, porque estarem ou não no ativo não altera a intemporalidade dos temas que lançaram na sua carreira.

Emocionalmente falando, acho que oscilei durante todo o espetáculo: por um lado, porque estava hipnotizada, quase como se não acreditasse bem que os tinha à minha frente, com a viagem visual e auditiva que construíram e que me levou até fases muito específicas da minha jornada e, por outro, porque desejei que demorasse a chegar ao fim. Não fui às lágrimas, mas comovi-me imenso e senti na pele o privilégio de estar naquela sala a ver tudo aquilo a acontecer, a redescobrir a magia de certas canções.

30 anos depois, é maravilhoso poder celebrá-los desta maneira emotiva e memorável.

Fotografia da minha autoria


O meu percurso escolar começou na primária e, embora as memórias se esbatam, sei que o abracei com todo o entusiasmo. Há uma certa magia nas possibilidades, no facto de podermos aprender coisas novas, de se construírem vínculos com aquilo que vem nos manuais, mas também no recreio, na interação com os pares e com aqueles que assumem a responsabilidade de ensinar, educar, orientar. Só que esta realidade não era transversal a todos, algo que podemos verificar em mais um dos Retratos da Fundação.


 uma escrita que dignifica

Um Dedo Borrado de Tinta conta-nos histórias de quem não pôde aprender a ler. Assim, Catarina Gomes leva-nos até à freguesia de Casteleiro, no distrito da Guarda, que tem «a maior taxa de analfabetismo», para nos mostrar o quotidiano dos habitantes desta aldeia «que não tiveram oportunidade de aprender a ler a escrever» e de que forma é que esta ausência se tornou um entreve nas suas vidas e nas tarefas do quotidiano.

Ninguém tem particular interesse em expor as suas fragilidades, por isso, existe uma tentativa evidente para arranjar mecanismos de defesa que desviem a atenção desse lado vulnerável. Apesar de os entrevistados aceitarem conversar com a autora, sente-se que há um certo desconforto por revisitarem o passado, a falta de oportunidades, o que se perdeu porque tiveram de seguir noutra direção, sem que pudessem ser eles a escolher. E, neste ponto, tornam-se ainda mais notórias as desigualdades sociais e de género, que afetam sempre os mesmos grupos. Não obstante, Catarina Gomes escuta sem pressionar, questiona sem a intenção de diminuir e cria espaço para que tenham voz e contem a sua história exatamente como a viveram, sem mascararem mágoas.

«Ao aceitar desenhar a primeira letra do seu nome para mim, e depois as seguintes, é como se concordasse viajar no tempo»

Há, em todas estas pessoas, uma sensação de incompletude, atendendo a que não são capazes de trabalhar as letras, de compreender as suas múltiplas funcionalidades e cruzamentos, mas, por outro lado, partilham uma inteligência e um brio práticos, que lhes permitiu sobreviver e encontrar alternativas. No fundo, creio que este livro nos mostra que lhes roubaram uma parte da liberdade, mas que não se tornaram mártires. Através destes testemunhos preciosos, compreendemos que existem diferentes graus de analfabetismo e que o ensino é um privilégio que continua a não ser para todos.

Um Dedo Borrado de Tinta traz-nos uma nova perspetiva acerca do nosso país e mostra-nos que a pobreza, a ruralidade e os métodos de ensino não são conceitos dissociáveis: influenciam-se e deixam marcas a longo prazo. Com uma escrita que dignifica, é uma obra que também nos mostra que estas pessoas semearam para colher, mas que nunca o puderam fazer pelas palavras, pela independência que vem agarrada à tinta, ao papel.


 notas literárias
  • Lido entre: 13 e 15 de outubro
  • Formato: Digital
  • Género: Não ficção
  • Pontos fortes: Dar voz a quem nem sempre a tem, a escrita que dignifica, o tom claro, objetivo e reflexivo
  • Banda sonora: Escola dos 90, Dealema | Quero é Viver, Humanos | Sete Mares, Sétima Legião | Nasce Selvagem, Resistência

Fotografia da minha autoria


O entusiasmo estava um pouco adormecido, devo confessar, porque as últimas duas experiências a ler Lourenço Seruya não foram tão positivas. No entanto, sendo um dos nomes do desafio que tenho com a Sofia — 5 autores para 2025 —, queria descobrir a direção que seguiu neste livro, que nos leva até uma das aldeias mais bonitas do país.


 plantar pistas com subtileza

Crime na Aldeia trouxe-me uma sensação de familiaridade, por estar a palmilhar ruas que reconheço, embora não como a palma da minha mão. Esta proximidade, acredito, tem impacto na maneira como nos relacionamos com o enredo, porque torna as ações credíveis, sustentadas num espaço físico. As pessoas com quem me cruzei em todas as vezes que fui a Piodão não são as que aparecem retratadas neste livro, não obstante, as casas de xisto podiam muito bem esconder todos os segredos que vamos desvendando.

Quando «uma das habitantes da aldeia morre num desastre de viação», não existe uma pessoa que duvide de que «se tratou de um despiste acidental», tendo em conta o piso molhado e o facto de ser uma estrada sinuosa. A aparente pacatez do lugar é quebrada pela tragédia e pelo resultado da peritagem, que comprova que o carro foi sabotado». Portanto, o que parecia um acidente, transforma-se numa investigação de homicídio.

A partir deste momento, e já com a presença da Polícia Judiciária em Piodão, há uma sequência de acontecimentos e comportamentos suspeita: por um lado, porque nos deixa alerta, a questionar motivações e a potencial implicação no crime, e, por outro, porque todos se conhecem e isso parece fazer-nos andar em círculos, sem conseguir atar as pontas soltas. Torna-se evidente que há meias verdades a serem partilhadas, mas não descortinamos as razões e acho que continuamos sempre à margem do que aconteceu — de repente, estamos só a lançar teorias e a sentir que nenhuma encaixa.

«Mas ali estava uma situação que lhe contradizia a crença. Mais uma verdade escondida por entre as ruas estreitas e as casas de xisto acastanhado e portas azuis»

Notei uma grande diferença nesta história, quer em relação à construção da narrativa e das personagens, quer em relação à escrita, que me pareceu mais coesa, só retirava as partes que se centram na vida dos inspetores, porque são as únicas que me parecem pouco conectadas, com um tom exagerado e, por vezes, superficial. Embora entenda o propósito e reconheça que até possam justificar decisões a longo prazo, não senti que fizessem assim tanto sentido para a história central. Além disso, estava tão investida na resolução do crime que preferia não encontrar qualquer tipo de distração paralela.

Crime na Aldeia constrói-se nos detalhes e na atenção que lhes reservamos. Não sei se a concretização é óbvia, mas tornou-se evidente que os sinais estavam lá todos, que as pistas foram sendo plantadas com subtileza, mas que nem sempre somos capazes de os ver — pelas mais diversas razões. Fazendo-nos refletir sobre dinâmicas familiares, a ambiguidade dos nossos valores, os limites da decência e até onde estamos dispostos a ir para esconder os nossos segredos, também nos mostra que há sempre uma altura em que o passado nos pesa e que o silêncio deixa de ser a resposta. Os monstros não habitam apenas lugares distantes, mas nem sempre chegamos a tempo de os travar.


 notas literárias
  • Desafio: 5 autores para 2025
  • Gatilhos: Luto, referência a abuso, linguagem explícita
  • Lido entre: 3 e 5 de novembro
  • Formato: Digital
  • Género: Policial e Thriller
  • Personagem favorita: Lucas (fui-me aproximando ao longo da leitura)
  • Pontos fortes: Evolução na escrita, não ser óbvio, provocar tantas teorias
  • Banda sonora: Suspicious Minds, Elvis Presley | Everybody’s Got To Learn Sometime, The Korgis | Silhouettes, Of Monster and Men | In The Air Tonight, Phil Collins | Bad Habit, The Kooks

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A minha morte nunca me assustou. Amedronta-me a forma como acontecerá, sim, no entanto, não me aflige saber que um dia já não estarei por cá — talvez por ter perdido pessoas importantes muito nova e isso me ter ajudado a perceber que é o curso natural da vida, ainda que soe sempre a um lugar comum e nunca seja fácil lidar com a perda afetiva que nos deixam. Seja como for, não tenho medo de morrer, contrariamente a António Raminhos, cujo espetáculo mais recente sustenta a sua premissa neste tema.

Volto Já aborda experiências pessoais e traz reflexões «sobre o que significa viver num mundo onde a morte é uma realidade inevitável» e cuja presença sempre se fez notar na «sua ansiedade e perturbação obsessiva-compulsiva». Assim, construiu um texto onde transita entre medos, particularidades absurdas do quotidiano, histórias sobre funerais e tradições fúnebres, dinâmicas familiares e tudo o que relembra a finitude.

Foi a primeira vez que o vi a atuar ao vivo e, primeiro, deixem-me só partilhar o meu espanto quando o vi a entrar em palco, porque eu sei que o Raminhos é alto, mas não estava preparada para o quão alto ele é. Segundo, e focando-me naquilo que importa, quero apenas dizer-vos que adorei a cadência do espetáculo, a maneira como encaixou todos os assuntos, garantindo que «o seu habitual humor nonsense» tinha propósito e que trazia um dialeto transversal à plateia. Na sala do Sá da Bandeira estavam pessoas muito diferentes, que podiam não se rever em determinadas crenças e, mesmo assim, sinto que abraçamos cada pedaço das suas histórias de peito aberto, disponíveis para, pelo menos, tentarmos compreender a origem daqueles pensamentos e/ou daquelas atitudes. Houve muita vulnerabilidade e franqueza na partilha e isso conquistou-nos.


Regressei a casa de coração cheio e com uma certeza: a de que o Raminhos conseguiu ser sensível, inteligente e cómico nos tempos certos, equilibrando muito bem cada um dos segmentos pensados. E, por isso, o espetáculo foi leve e emocional, arrancou-nos gargalhadas e tirou-nos o tapete, deixou-nos absortos e descontraídos, tudo na mesma medida. E, de repente, «a indesejada visita da morte» transformou-se só em comédia.

Volto Já promete «ressignificar o luto e celebrar a vida» e eu creio que cumpriu ambos com naturalidade e relevância, até porque, sem diminuir dores, ajuda-nos a relativizar. E, por vezes, só precisamos de alguém que nos faça sair da nossa cabeça e praticar o denominado «é o que é». Há muitas coisas que não controlamos e nem sempre é fácil aceitar isso, mas havemos de lá chegar e, quem sabe, rir disso. Com um tom intimista e um texto que, creio, conseguirá perdurar no tempo, espero que o Raminhos volte já.

Fotografia da minha autoria


A violência doméstica «continua a ser o crime mais denunciado e o que mais mata em Portugal», portanto, é necessário um trabalho de denuncia recorrente, que permita ir revertendo essa realidade, por mais utópico que isso soe, infelizmente. Neste sentido, o papel das casas de abrigo tem sido preponderante enquanto rede de apoio e a nova aposta da RTP transporta-nos para esse cenário, dando voz a quem nem sempre a tem.


 existir uma hipótese

Casa-Abrigo é inspirada em histórias reais de mulheres vítimas de violência doméstica: Vera, Madalena, Conceição e Gabriela têm percursos distintos, mas une-as o passado doloroso. A viveram juntas na mesma casa, auxiliam-se na tentativa de redescobrirem o lugar que ocupam, ao mesmo tempo que procuram «conquistar a independência e a segurança» necessárias para recomeçarem as suas vidas noutro sítio. Cada episódio é dedicada a uma das mulheres e a Joana, a psicóloga que as acompanha e gere a casa de abrigo. Contudo, é claro que em todos eles existirá uma partilha cruzada de vivências.

Longe de ser o ambiente ideal, uma vez que as protagonistas veem a sua privacidade condicionada, bem como a sua liberdade, torna-se o recurso que as permite sobreviver, que as permite ir recuperando autonomia sem sentirem que têm de olhar por cima do ombro. Ainda assim, não deixa de ser revoltante, porque esta solução parece perpetuar a noção de que a mulher — ou a pessoa vítima de violência doméstica — é que tem de se esconder, quando as consequências deveriam ser todas aplicadas ao agressor. Mais uma vez, o sistema parece proteger o criminoso, em vez de salvaguardar a vítima. A culpa tem de mudar de lado, sabemos isso, só que essa mudança ainda está longe.

Por outro lado, enquanto há estruturas que continuam a falhar, é bom sentir que existe uma hipótese, que há quem procure fazer uma diferença positiva na vida de quem já está fragilizado o suficiente para combater. Nesta casa de abrigo, encontrarão a força necessária para não baixarem os braços. E serão capazes de a encontrar porque existe quem não se cale, mesmo que as mulheres tenham sido «educadas para saber calar».




Estas mulheres não esquecem a situação dramática que viveram, muito menos tudo aquilo que foram ouvindo e interiorizando como se fosse verdade, mas entenderão que não são apenas este retrato, que carregam muito mais por dentro. E parte da beleza desta série prende-se com a amizade que Vera, Madalena, Conceição e Gabriela foram construindo, com a empatia que desenvolveram, com a sororidade que as fortaleceu. Na ausência de filtros, por vezes, houve um pouco de amor bruto nas palavras, mas estiveram ali umas para as outras — até quando o silêncio parecia imperar entre elas.

  • Episódio 1: tudo tem um sítio e o que mais me impactou foi a certeza de que é preciso dar tempo e espaço para nos adaptarmos a uma nova realidade. Não é fácil deixarmos para trás o que conhecemos, mesmo quando sabemos que não nos faz bem, portanto, há um trabalho sem pressas para restituir a confiança no outro;

  • Episódio 2: as primeiras impressões não passam disso mesmo e conseguem, muitas vezes, induzir-nos em erro. É preciso humildade e inteligência emocional para reconhecermos que erramos e para sermos capazes de ir abrindo a porta. Neste episódio, também se aborda o quanto os filhos sofrem neste cenário e que nem sempre lhes é dada a devida atenção — às vezes funcionam como uma arma de arremesso, mesmo quando se acredita que se estão a proteger os seus interesses e/ou as suas necessidades básicas;

  • Episódio 3: nem sempre é fácil separar a vida profissional da vida pessoal e isso traz consequências a longo prazo. Por outro lado, este episódio deve ter sido um dos mais duros de assistir, para mim, pela manipulação que se faz com os filhos, pela sensação de abandono e pela falta de resposta que os protocolos parecem implicar. É impressionante como os sinais estão sempre lá, mas acabamos por não os ver, porque a carência é mais audível;

  • Episódio 4: o meu episódio favorito por ser a história da Conceição. Esta mulher é o rosto da frustração perante um sistema que continua a negligenciar a vítima e a proteger o agressor, mas também é o rosto maior da luta. Tinha tudo para ser uma pessoa amargurada e, ainda assim, escolheu sempre cuidar e incentivar os outros a não ficarem calados. No final, teve um dos discursos mais transformadores a que assisti, porque nos abala por dentro. Acredito que seriamos melhores pessoas se tivéssemos uma Conceição por perto;

  • Episódio 5: com um foco na dependência relacional, faz-nos refletir sobre as ideias que projetamos nos outros, principalmente em relação àquilo que deveria ser uma família. Ademais, confronta-nos com a violência no namoro, com o impacto da ofensa, reforçando que o agressor é, em muitos casos, alguém próximo;

  • Episódio 6: o episódio em que mais chorei, porque acusei a injustiça de um dos desfecho da história, porque fiquei revoltada com a impunidade. Não obstante, acho que passa uma mensagem importante, uma vez que também nos mostra que, apesar do medo que não as abandona, estas mulheres conseguiram reconhecer a importância da sua autonomia e de reconquistarem a confiança e a auto-estima. Juntas, a honrar a amizade que as une, encontrarão uma forma de sobreviver.

Casa-Abrigo não retira a esperança, porém, também não romantiza o processo. Aliás, deixa claro que é possível superar, mas que esse desfecho nem sempre é transversal a todas as histórias, como assistimos no último episódio. Como diria a Conceição, o que interessa é o que deixamos às outras, por isso, que continuemos juntos nesta luta.

Fotografias da minha autoria


Um jantar de amigas foi a desculpa ideal para descobrir, finalmente, o Maria Morcona, um restaurante que transborda identidade portuense e onde nos sentimos acolhidos.

A entrada com um toque vintage e uma decoração que nos recorda a casa dos avós é o convite perfeito para ficarmos à vontade. Entre pratos desirmanados, «recordações de louça nas paredes, quadros típicos portugueses, bicicletas antigas» e artesanato que identifica a essência da cidade Invicta, há um objetivo claro: tratar quem chega como se fosse parte da família, por isso é que é recebido sem cerimónias e com simpatia.

Uma vez que fomos P’ra Encher a Mula, optamos pelo menu P’ro Cumbíbio e, assim, dividir cinco pratos: a Tralheira (com alheira, grelos e ovo de codorniz), Filhas da Pota (tiras de pota panadas servidas com maionese de lima), Chouriço Assado, Ovos Rotos à Morcona (com bacon e frango) e À Brás de Cogumelos (com batata palha, cebola, ovos mexidos e salsa). Interligando modernidade e cozinha tradicional, achei tudo delicioso.


Houve sempre o cuidado de saberem se os pratos estavam do nosso agrado e, quando estávamos quase a dar a refeição por terminada, achei graça que nos perguntassem se ainda íamos dividir o que faltava, para que os pratos fossem vazios, porque sinto que isso é mesmo postura de avó que quer que o neto coma tudo o que vier para a mesa.

O Maria Morcona situa-se no número 92 da Rua dos Bragas e, quem passa na rua, não tem plena noção da dimensão do espaço — para além da sala principal, ainda tem uma esplanada. À moda do Porto, sabe como receber e deixar-nos com vontade de voltar.

Fotografia da minha autoria


O título é provocador e ambíguo, e ficou a ecoar no meu pensamento. Numa altura em que a democracia está a ser posta em causa, senti que tinha de incluir o livro do Tiago Rodrigues na minha lista para a Feira do Livro do Porto e que outubro seria a melhor altura para o descobrir, até porque voltamos a exercer o nosso direito/dever de voto.


 quando as nossas tradições entram em conflito com quem somos

Catarina e a Beleza de Matar Fascistas leva-nos até ao Sul de Portugal, onde uma família se reúne numa casa no campo para cumprir a sua tradição anual: «uma das jovens da família vai matar o seu primeiro fascista, raptado de propósito para o efeito», só que Catarina não parece capaz de concretizar essa missão, apesar de todo o entusiasmo.

É desconcertante imaginar o cenário e a logística de um grupo cuja motivação maior é planear o homicídio de uma pessoa — sendo o conceito de pessoa irrelevante para o caso, já que a conseguiam dissociar dessa humanidade e encará-la somente pelos seus atos. E esse, para mim, é o primeiro foco do conflito, uma vez que nos confronta logo com os nossos valores e com aquilo que estaríamos dispostos a fazer para lutar pelos princípios basilares de qualquer indivíduo. Portanto, escancarando a porta para um tempo que dói, que viola a liberdade, percebemos que ficam várias perguntas no ar.

O clima de tensão é, portanto, evidente e o que mais me fascinou neste texto, que deu origem a uma peça muito aclamada pela crítica e pelo público, foi a quantidade de discussões que espoletou, não só em relação ao sistema político e social, mas também em relação às dúvidas que nos assaltam em momentos preponderantes, às escolhas e à própria dinâmica familiar. Será que a violência tem justificação? Será possível que os termos justiça e vingança sejam sinónimos? Até onde podemos ir pela igualdade?

«Palavras e gestos. Há coisas pelas quais vale a pena morrer»

Os diálogos desarmam-nos e abalam as nossas convicções, sobretudo, porque também nos deixam a pensar na urgência de não sermos espectadores passivos: «somos nós», por isso, precisamos de agir coletivamente, não assobiar para o lado que nos convém. Ademais, achei curioso irmos percebendo as diferenças desta família. Como referiu a atriz Sara Barros Leitão, é «o ritual anual de assassínio que as permite [ultrapassá-las] e unir as suas fraturas». E creio que isso é muito notório nos diálogos entre mãe e filha.

Catarina e a Beleza de Matar Fascistas termina com um Posfácio de Gonçalo Frota, que me parece uma maneira fantástica de acedermos ao processo criativo, ao simbolismo de certos detalhes, à sonoplastia e, no fundo, às histórias por trás das histórias. Mas antes de lá chegar, confesso, vacilei com o discurso que encerra o texto — e a peça —, talvez por ser tão próximo da realidade que pretendem perpetuar, talvez por ser um espelho daquilo que vemos a ser construído em discursos inflamados, que, no futuro, poderão «ser artigos da Constituição». E dá medo sentir que nasceram de uma opinião e que a democracia não está a salvo porque não tivemos coragem de lhes impor limites.


 notas literárias
  • Gatilhos: Violência
  • Lido entre: 8 e 9 de outubro
  • Formato de leitura: Físico
  • Género: Teatro
  • Pontos fortes: A ambiguidade, a pergunta inicial, o simbolismo dos detalhes e a provocação
  • Personagem favorita: Sara
  • Banda sonora: Miss Pavlichenko, Woody Guthrie | Cantar Alentejano, José Afonso | Strange Fruit, Billie Holiday | Abandono, Amália Rodrigues | Fischia Il Vento, Coro della Bassa Romagna

Fotografia da minha autoria


A musicalidade da escrita da Valentina Silva Ferreira cativou-me quando li Vertigens. O poder da história, juntamente com a construção da narrativa e das personagens, deixou-me com vontade de continuar a descobrir a sua voz literária tão singular.


 um silêncio que se vai quebrando

Um Lobo no Quarto enlaça-nos a uma teia entre um passado violento e um presente marcado por esses traumas e pela dualidade que as feridas que nos dilaceram deixam. Leo, a protagonista, quis morrer e preparou tudo para o seu suicídio. Saber isso tira-nos o tapete, aflige-nos, não só pela brutalidade da imagem, mas também por não ser claro o que a levou até essa decisão. Os motivos, esses, vamos descobrindo sem pressa, enquanto reconstruímos as ruínas que a dor inflige e oscilamos entre emoção e razão.

Por circunstâncias que não pretendo revelar, para não comprometer a experiência de leitura, Leo tem de regressar a casa, o que a confronta com memórias extremamente agoniantes e cruéis; memórias de algo que ninguém deveria viver. O mais curioso é que este regresso tem um impacto duplo: por um lado, num estado febril, visceral, vemos um crescente desejo de vingança a pairar e aceitamos todos os seus contornos e, por outro, vemos a protagonista «numa viagem de autodescoberta e de resgate do amor próprio». Voltar aos sítios que nos destruíram pode trazer uma certa liberdade.

A maneira como a Valentina construiu a narrativa consegue ser magnética e confusa, isto porque brinca com a linguagem e sabe como agarrar o leitor nos pontos de tensão, mas a constante alternância temporal pode dificultar o processo e, até, distanciar-nos de certas passagens. No entanto, fiquei fascinada com a capacidade de levantar tantas questões preponderantes para o ser humano — enquanto indivíduo e parte de um todo.

«Às vezes, perdemo-nos na companhia dos outros, não é? — Mais grave, perdemo-nos e a companhia dos outros passa a ser incómoda»

Houve momentos em que precisei de parar para respirar, porque há comportamentos repugnantes, que nos fazem duvidar de quem está perto e das suas intenções. E este viver em permanente dúvida, quase como se tivéssemos de olhar por cima do ombro, não é saudável, aliás, chega a sufocar. Mas, depois, parece que há sempre algo que nos resgata e que nos permite recuperar e sarar as feridas. Sem, no entanto, qualquer tipo de romantização, até porque a autora deixa claro o quanto este processo é intenso.

Um Lobo no Quarto mexe com as nossas emoções, ao mesmo tempo que nos impele a encontrarmos o nosso lugar no mundo quando ainda somos estilhaços. Durante a leitura, fui pensando sobre dinâmicas familiares e sobre a dualidade que sentimos em relação à nossa fonte de dor. E é engraçado como tendemos a esquecer-nos das coisas bonitas daqueles que amamos, mas continuamos a lembrar-nos de quem nos fez mal.


 notas literárias
  • Gatilhos: Luto, morte, assédio, linguagem explícita
  • Lido entre: 23 e 25 de setembro
  • Formato de leitura: Digital
  • Género: Romance
  • Pontos fortes: O tom visceral da narrativa e permitir que acompanhemos os pensamentos das personagens ao detalhe
  • Personagens favoritas: O avô e Vitória
  • Banda sonora: Between The Bars, Elliott Smith | Encontros e Despedidas, Milton Nascimento & Hubert Laws | Azul da Cor do Mar, Tim Maia | My Future, Billie Eilish

Fotografia da minha autoria


Os livros da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) são um dos meus desejos de consumo. É certo que ainda só li nove, no entanto, quero continuar a enriquecer-me com as suas obras que abordam sempre temas fascinantes, de um modo apelativo e esclarecedor. Uma vez que também adoro a forma de narrar do Nelson Nunes, não podia perder a oportunidade de ir descobrir o retrato que escreveu para a FFMS.


 compreender as vozes da abstenção

O Tanto Que Grita Este Silêncio traz para o centro da discussão um assunto que ainda é bastante tabu na nossa sociedade: a abstenção. Antes de avançar, permitam-me abrir o jogo e confidenciar que a prática do abstencionismo é algo que me faz confusão, até porque o meu primeiro pensamento vai para todos aqueles que, durante anos, lutaram para que tivéssemos voz, para que tivéssemos a possibilidade de escolher. Só que viver em democracia é, também, entender que há várias tonalidades dentro desta questão.

Aquilo que o autor faz neste livro é, em primeiro lugar, dar espaço para «que os reais protagonistas do abstencionismo em Portugal» partilhem as suas motivações e, em segundo, levar o leitor a refletir sobre o peso do voto, sobre aquela que pode ser ou não a sua responsabilidade cívica e sobre a importância de se ouvir antes de julgar. Optar por não votar não significa, automaticamente, que a pessoa é desinteressada ou que não se procura informar. Pelo contrário, pode estar tão esclarecida que abster-se é a sua forma de protestar, de mostrar que está insatisfeita com o nosso sistema político.

«Quando a comunidade tem a sensação de ser deixada ao abandono enquanto vê a sua zona de habitação desagradar-se desta forma, não é de espantar que a crença em quem gere a nossa vida em sociedade vá pelo cano abaixo»

Eu sei que continuarei a preferir inscrever a minha cruz no boletim de voto, contudo, ler estes testemunhos alargou-me horizontes, porque compreendi melhor algumas argumentações, porque consegui colocar-me no lugar destas pessoas e perceber que, perante tudo aquilo que viveram, seria quase desumano pedir-lhes para continuarem a acreditar. E a maneira como preferem demonstrar essa descrença não é menos válida do que a minha, apenas diferente e com outro tipo de repercussões. Claro que também encontraremos pessoas que não querem votar por desinteresse, ainda assim, acho que fica claro que precisamos de ir com calma na utilização de argumentos como serem «pessoas quem não ligam a política» ou serem ignorantes. Nestas conversas, não foi isso que encontrei: muito pelo contrário, li discursos de quem se mantém informado.

O Tanto Que Grita Este Silêncio é um exercício de tolerância, de consciencialização e de sentido crítico, que «procura suprir uma lacuna no debate na esfera pública». Além do mais, mostra-nos que não vale a pena atribuir culpas quando há uma responsabilidade coletiva, uma vez que «o desinteresse e o desligamento dos abstencionistas» também se deve à própria postura dos políticos, por vezes tão distantes dos eleitores na forma como expõem os seus discursos. Amor Towles escreveu que «o silêncio também pode ser uma opinião», portanto, para que exista uma democracia autêntica e inclusiva é necessário estar atento, cativar e não tratar quem não vota como se fosse um marginal.


 notas literárias
  • Lido entre: 17 e 18 de setembro
  • Formato de leitura: Digital
  • Género: Não ficção
  • Pontos fortes: Escrita clara, o tema, a tolerância e a abertura para o debate
  • Banda sonora: Medo do Medo, Capicua | Silêncio e Tanta Gente, Milhanas | Quanto Mais Eu Grito, Tara Perdida | Que Força é Essa, Sérgio Godinho

Fotografia da minha autoria


O entusiasmo para ler o livro que me faltava da Mafalda Santos — excluindo o infantil — não estava escrito, mas era quase palpável, porque acho absolutamente fascinante a forma como constrói as suas narrativas. E terminei a sentir que este é o meu favorito.


 uma permanente dúvida

Enquanto o Fim Não Vem divide-se em dois planos: por um lado, temos o inspetor Lobo a tentar solucionar o mistério que envolve a morte de Laura; por outro, temos Afonso, um escritor que apenas pretende que o permitam escrever aquilo que gosta. Pelo meio, ficamos presos a uma teia de incertezas, que nos fazem duvidar até da nossa sanidade.

É quando acreditamos ter entendido o desenrolar da narrativa que a autora nos vira do avesso e nos leva de regresso ao ponto de partida. Com uma construção frenética, que nos agarra desde a primeira páginas, as perguntas multiplicam-se e as pontas parecem não ter forma de serem atadas. E, ainda assim, o leitor acredita em todos os cenários criados, em todas as sequências, mesmo que tenha idealizado teorias contrárias, uma vez que todos os detalhes têm uma razão de ser — continuo a acreditar que essa é uma das maiores valências da escrita da Mafalda Santos. Além disso, acho-a exímia na arte do «mostrar e não contar», desafiando-nos a estabelecer ligações que não são óbvias.

«Já bastam os monstros invisíveis, que não podem ser apanhados»

Sem poder desvendar muito mais acerca da narrativa, achei interessantes as reflexões sobre escrita, processos de criação e bloqueios, da mesma maneira que adorei a forma como abordou a frustração, o luto, os reencontros e as subtilezas que nos influenciam. No final, fiquei com a sensação de que não percebi nada do que aconteceu, no melhor sentido possível, porque é um livro insano e incrível, que não parou de me surpreender.

Enquanto o Fim Não Vem deixa a porta aberta para inúmeras interpretações da história, até porque, enquanto esse fim não chegar, há uma infinidade de realidades atrás da cortina, impulsionando sombras e incertezas que nos desarmam a cada novo instante.


 notas literárias
  • Desafio: 5 autores para 2025
  • Gatilhos: Linguagem gráfica e explícita
  • Lido entre: 1 e 2 de outubro
  • Formato de leitura: Físico
  • Género: Policial e Thriller
  • Pontos fortes: A imprevisibilidade, a construção da história, a escrita e o ritmo
  • Banda sonora: O Mundo ao Contrário, Xutos & Pontapés | Come Together, The Beatles | Suite Bergamasque, L.75, 3. Clair de Lune, Claude Debussy & Alice Sara Ott | Fim da Canção, Ornatos Violeta

Fotografia da minha autoria



Outubro não foi bem o outono que esperava e eu já estava pronta para vestir mais camadas e pedir bebidas mais quentes. Ainda assim, depois dos primeiros dias de inquietação, passou leve, com planos mais caseiros e sessões de escrita que escalaram para sessões de «ventilação do coração».

Curiosamente, foi um mês com menos eventos culturais na agenda, mas não sinto que tenha demorado a passar. Além disso, sinto que a maior conquista foi mesmo conseguir maturidade emocional suficiente para fechar ciclos e despedir-me do entre o verso e o silêncio com as palavras que precisava.


as coisas maravilhosas de outubro


 os fragmentos aleatórios

A Taylor Swift lançou The Life Of a Showgirl e, mesmo sem ter ouvido o álbum, comprei o vinil na pré-venda da Fnac, porque fazia-me todo o sentido ficar com esta recordação. Adorava ter conseguido comprar a versão em roxo, mas esta universal também é lindíssima e tem tocado com alguma regularidade.

O Diogo Piçarra comemorou dez anos de carreira e, para assinalar esse marco, convidou dez artistas emergentes para reinterpretarem dez temas à sua escolha, o que resultou num cd. Uma vez que é um dos meus artistas de eleição, é claro que também não perdi a oportunidade de comprar o álbum. E que bem que ele fica perto dos outros que tenho na estante.

Nunca me deslumbrei muito com maquilhagem, mas os batons sempre foram uma perdição. Atualmente, estou mais alinhada com os lápis de lábios e rendi-me por completo aos da Essence, porque acho que a relação qualidade-preço é excelente.

Um jantar de amigas foi a oportunidade ideal para descobrir, finalmente, o Maria Morcona, um restaurante a transbordar identidade portuense. Hei-de falar-vos mais detalhadamente sobre ele, mas achei tudo maravilhoso e é claro que quero regressar.

      

   

Outros fragmentos aleatórios: o autocolante oferecido pela minha professora de português do básico, o batom Superstay Matte Ink na cor 35, as chamadas de aniversário surpresa menos surpresa da história.


 as músicas e os álbuns

Sinto que outubro esteve recheado de música que me encheu as medidas, com muitos lançamentos novos a deixarem marca. Claro que regressei sempre aos artistas do costume, mas fui alternando, permitindo-me descobrir registos distintos.

As músicas que marcaram o mês: Santa, Mimicat | Mentira, Gama WNTD | Armadura, Zarko | Addicted, Haley Joelle | Maré, Ricardo Ribeiro & Ana Moura.

Os álbuns que marcaram o mês: The Life Of a Showgirl, Taylor Swift | After The Sun Goes Down, Khalid | DEZ, Diogo Piçarra.


 as publicações

As publicações têm sido mais escassas e espaçadas, porque continuo à procura da voz que quero para este projeto. Ainda assim, destaco duas:

  • as coisas que quero voltar a fazer no porto;
  • uma conversa entre educação da tristeza e foguetes: ou como a arte nos vai curando as feridas.


 os filmes, as séries e os podcasts

Para este segmento trago um making of, um episódio de podcast, um vídeo de homenagem e uma série.

Filmar Para o Boneco: A nossa convivência já é longa o suficiente para que não seja segredo o quanto adoro o plano dos bastidores, o quanto me entusiasma compreender a origem e, quem sabe, os detalhes que só conhecemos quando nos abrem esta porta. Por isso, é claro que fui ver Filmar Para o Boneco, o making of da série de televisão FELP. Desde o início do projeto «até à gravação da cena final, realizador e argumentistas, técnicos e atores desvendam os segredos de uma série em que humanos e bonecos interagem num mundo de ficção, mas com muitas semelhanças com o nosso quotidiano». Sou suspeita, mas vale a pena.

Margarida Santos no Geração 90: A voz da Margarida Santos é muito necessária, uma vez que comunica saúde nas redes sociais com conhecimento e de forma clara e acessível. Recentemente, foi convidada do Geração 90 e, entre outros assuntos, realçou a importância de se promover literacia na saúde, de se adotar um discurso direto, para que não existam tantas assimetrias. É fundamental que as pessoas compreendam o que estão a ouvir e, por isso, adequa a sua linguagem para que qualquer um a entenda. Além disso, em conversa com Júlia Palha, refletiu sobre consumismo, sobre a importância de termos um propósito e qualidade de vida, porque isso também afeta a nossa saúde — por exemplo, está documentado o impacto que a cultura tem nessa área da nossa vida, portanto, não faz sentido que seja algo de luxo. Com um tom franco, creio que ficamos todos mais sãos por a ouvirmos.

Homenagem GNR - Pronúncia do Norte: Os GNR celebram 45 anos e a Rádio Comercial reuniu 29 artistas nacionais para uma homenagem à banda. A música escolhida foi a inigualável e comovente Pronúncia do Norte, o que pode ou não ter-me deixado em lágrimas — claro que deixou, quem é que quero enganar? É um dos meus temas favoritos e acho sempre mágicas estas ligações.

Casa-Abrigo é inspirada em histórias reais de mulheres vítimas de violência doméstica: Vera, Madalena, Conceição e Gabriela têm percursos distintos, mas une-as o passado doloroso. A viveram juntas na mesma casa, auxiliam-se na tentativa de redescobrirem o lugar que ocupam, ao mesmo tempo que procuram «conquistar a independência e a segurança» necessárias para recomeçarem as suas vidas noutro sítio. Cada episódio é dedicada a uma das mulheres e a Joana, a psicóloga que as acompanha e gere a casa de abrigo. Contudo, é claro que em todos eles existirá uma partilha cruzada de vivências.


 os livros

A tbr foi aumentando ao longo do mês, enquanto a lista de livros por ler foi diminuindo, deixando-me com uma margem maior para dar uma resposta mais imediata aos que estão na estante e permitindo-me começar a explorar novas opções através do Kobo Plus e da BiblioLED.

Os favoritos do mês: Enquanto o Fim Não Vem, Mafalda Santos | Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos, Olga Tokarczuk | Catarina e a Beleza de Matar Fascistas, Tiago Rodrigues.

Outros livros lidos: Lavores de Ana, Ana Cláudia Santos | Um Dedo Borrado de Tinta, Catarina Gomes | A Rapariga Com Gelo nas Veias, Karin Smirnoff | Uma Vida Incrível e Maravilhosa, Emily Henry | À Escuta dos Amantes, Júlio Machado Vaz | Atos de Desobediência, Helena Magalhães | Este é Um Livro Sobre Amor, Paula Gicovate | O Último Avô, Afonso Reis Cabral.


 os momentos

A tradição mantém-se e o Terapia de Casal volta a ter um novo espetáculo ao vivo em ano ímpar. Neste reencontro na cidade Invicta, não os fomos ver ao Hard Club, porém, estivemos a ver o Guilherme Fonseca e a Rita da Nova no Teatro Sá da Bandeira.

      

Fnac Talks com Manel Cruz

A estreia de Manel Cruz, em nome próprio, aconteceu com Vida Nova, em 2019. Este álbum, «eleito um dos melhores do ano pela crítica», leva-nos numa viagem por tudo o que falta revelar, pelas origens e pela «vontade de voltar ao estúdio e aos palcos». Em 2025, recebe uma nova edição, assim como o primeiro álbum de Foge Foge Bandido — agora em formato vinil triplo, «contendo o alinhamento original da obra» em questão.

Quase que o evento de apresentação destes dois trabalhos nos passava despercebido, mas ainda fomos a tempo de assistir à conversa conduzida pelo irmão de Manel Cruz, que foi interligando apontamentos intimistas e memorísticos com algumas reflexões acerca do meio artístico, das expectativas criadas e da identidade individual e coletiva.

   


Novembro, sê gentil ✨

Fotografia da minha autoria



A tbr de outubro foi aumentando ao longo do mês. E que bom que é olhar para a estante e perceber que já são poucos os livros que tenho em espera, porque isso dá-me a possibilidade de explorar novas histórias de uma forma mais imediata, para além de me abrir a porta para explorar ainda mais o Kobo Plus e a BiblioLED.


 a tbr de outubro: expectativa
  • Enquanto o Fim Não Vem, Mafalda Santos;
  • Uma Vida Incrível e Maravilhosa, Emily Henry;
  • Um Dedo Borrado de Tinta, Catarina Gomes;
  • Catarina e a Beleza de Matar Fascistas, Tiago Rodrigues;
  • Dieta da Poesia, Afonso Cruz;
  • Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos, Olga Tokarczuk.
 
 a tbr de outubro: realidade

Da lista anterior, não li Dieta da Poesia, porque o livro do Afonso Cruz ainda não chegou. Por outro lado, consegui descobrir os seguintes exemplares:

  • Lavores de Ana, Ana Cláudia Santos;
  • A Rapariga com Gelo nas Veias, Karin Smirnoff;
  • À Escuta dos Amantes, Júlio Machado Vaz;
  • Atos de Desobediência, Helena Magalhães;
  • Este é Um Livro Sobre Amor, Paula Gicovate;
  • O Último Avô, Afonso Reis Cabral,


 algumas curiosidades

Em outubro, li:
  • 11 livros: 3 policiais/thrillers, 5 romances, 1 de teatro e 2 de não ficção;
  • 8 autoras e 3 autores: 7 portugueses, 1 polaca, 1 sueca, 1 norte-americana e 1 brasileira;
  • 4 autores lidos pela primeira vez: Ana Cláudia Santos, Olga Tokarczuk, Tiago Rodrigues e Júlio Machado Vaz.

Favoritos do mês:
  • Enquanto o Fim Não Vem, Mafalda Santos;
  • Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos, Olga Tokarczuk;
  • Catarina e a Beleza de Matar Fascistas, Tiago Rodrigues.


 vamos a contas?

Outubro foi um mês muito poupado, mesmo tendo feito compras literárias.

  • Comprei um livro físico (A Rapariga Com Gelo nas Veias), mas, como aproveitei o saldo que tinha no cartão Fnac e uma campanha promocional, gastei 0€;
  • Ativei a subscrição do Kobo Plus, que me custou 7,99€. Li 6 eBooks, o que me permitiu poupar 70,79€;
  • Comecei outubro com 13€. Como li 11 livros, amealhei 11€, partindo para novembro com 24€.


 tbr de novembro
  • Crime na Aldeia, Lourenço Seruya;
  • Os Transparentes, Ondjaki;
  • As Oito Montanhas, Paolo Cognetti;
  • As Invisíveis, Rita Pereira de Carvalho;
  • A Subtração, Alia Trabucco Zerán;
  • As Aventuras Completas de Dog Mendonça & Pizzaboy, Filipe Melo & Juan Cavia.

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andreia morais

andreia morais

O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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