A lista dos meus desejos V


«Quando pode realizar todos os seus desejos, o que é realmente importante?»


Os nossos dedos nem sempre conseguem acompanhar a rapidez com que os nossos pensamentos se multiplicam. Muitas vezes, acabamos por não reparar no que escrevemos, no local exato onde estão as letras, na disposição que ocupam. Parece tudo tão mecanizado que já carregamos nas teclas em modo piloto automático, para que nada se perca entre o espaço em que a inspiração surge e a digitamos. Mesmo quando todo o processo é feito à mão damos pouca atenção às palavras. Porque mais importante do que a forma como as iremos escrever é não deixar que as mesmas nos escapem como se fossem pequenas bolhas de sabão, que rebentam mal tocam na nossa pele. Depois, no fim, quando tivermos a certeza que nenhuma ficou esquecida, erguemos o olhar para a primeira linha e corrigimos os eventuais erros que surjam pelo meio.  

É um trabalho meticuloso, até para não corrermos o risco de ler o que queremos e não o que realmente está escrito. Mas é só aqui, quando o texto está praticamente concluído, que olhamos verdadeiramente para as palavras como sempre o devíamos ter feito: com tempo, para que cada uma nos faça sentido, para que não nos falte o respeito que todas elas nos merecem e para que nunca nos esqueçamos da magia que é vê-las a seguirem-se umas às outras. Escrever, para mim, é algo natural porque sempre gostei de o fazer. Sempre me fascinou brincar com as palavras até chegar ao produto final. Por isso, contra mim falo quando digo que por vivermos a correr perdemos o encanto do momento.

Quando pegamos na caneta - ou no lápis - torna-se tudo mais físico, mais palpável e isso acaba por nos obrigar a ter mais cuidado quando preenchemos aquelas folhas em branco. Ainda assim, temos sempre a opção de apagar ou de riscar. No computador temos o corretor automático que nos dá uma preciosa ajuda. Mas a essência da escrita, para quem realmente aprecia fazê-lo, está no som característico das teclas da máquina de escrever. Na folha que sobe aos poucos. Na reposição do papel. Nas particularidades que exigem ser conhecidas antes de se passar ao uso. Talvez pareça um cliché, uma vez que o tempo avança e tudo se moderniza, e eu esteja redondamente enganada, mas acho que qualquer pessoa que escreva - profissional ou amadoramente -, pelo menos uma vez na vida, sonhou ter esta espécie de objeto encantado, que nos faz regressar a tempos antigos. 

A minha mãe tem um curso de datilografia e se calhar foi esse pormenor que despertou o meu interesse por máquinas de escrever. Nunca escrevi numa, mas fico sempre deslumbrada quando alguém o faz e o vejo de perto. É um processo que exige paciência e concentração. Não há como voltar atrás. E aprendemos a olhar as palavras sem que sejam só mais uma, mas aquela que realmente tem que estar ali. Depois é deixar fluir. É abrandar os pensamentos. É deixar que os dedos entrem numa dança com música de fundo própria, ritmada e sem que se perca a posição de cada uma das letras. Podemos tentar fazer isto quando escrevemos no computador ou à mão, mas nunca é a mesma coisa. Já estamos demasiado habituados a este formato. É quando algo nos desafia que compreendemos o valor daquilo que fazemos.

O tempo ganha outro sentido, deixamos de ter pressa. Além disso, damos também privilégio ao toque, àquelas peças arredondadas que descem e sobem sempre que carregamos sobre elas. E o instante em que nos sentamos para escrever é muito mais intimo. Um dia, mesmo que este ainda esteja longe, hei-de ter a minha máquina de escrever. E talvez seja nela que nasça o meu primeiro livro.


Desejo nº5:
Ter uma máquina de escrever

Comentários

  1. Aaawwww quem me dera ter também uma máquina de escrever eheh mas sim, tens toda a razão.

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  2. Que engraçado...eu também tenho um curso de dactilografia e, desde pequena que adorava escrever na máquina do meu pai.

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  3. Ainda não tinha lido o post, só de ver a imagem pensei: "quem me dera ter uma máquina dessas".
    Havemos de ter as duas a nossa máquina de escrever, porque tenho a certeza que escrever nela é diferente, como dizes, não há pressas, escrever tem outro sabor.

    Um beijinho querida

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  4. Uma amiga minha tinha o mesmo desejo, e conseguiu ter uma :))

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  5. A lista dos teus desejos!
    por ser tão longa assim
    de amor, carinho e beijos
    nunca na vida terá fim!

    Quanto tempo foi preciso,
    para tão longa lista escrever
    foi muita a trabalheira para a ler
    disso, não estou arrependido
    acredita, eu te estou a dizer!

    Boa quinta-feira, um beijo para você Andreia Morais,
    Eduardo.

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  6. Eu acho-as bem engraçadas! Espero que consigas concretizar este desejo :)

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  7. eu tenho um , quer dizer é da minha mãe. Mas ainda a tenho guardada :)

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  8. r: essa pessoas são más e só pensam nelas e na sua felicidade. E não pensam na felicidade das pessoas que estejam sempre ao lado delas a apoiara-las *.*

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  9. Adorei o texto, também adoro essas máquinas de escrever o sabor da escrita deve ser memorável são uma autentica relíquia.
    bjs
    http://retromaggie.blogspot.pt/

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  10. Gostei tanto deste post, eu sou tal e qual, primeiro quando as palavras me saiem de rompante, escrevo, escrevo, não olho a erros, que é normal ocorrerem ou até mesmo alguma falha na pontuação. Depois sim, paro, leio e corrijo, é um processo natural penso eu, em quem escreve, quase como se descarregasse a alma, sentimentos, emoções, etc.

    Eu já tive uma máquina de escrever e adorava !!! Era pequenina e ofereçeram-me, lembro-me tão bem, do barulho do teclar, da fita que se enrolava e depois sujava-me toda com tinta, para a desenrolar ehehehe. Mas adoro, a minha mãe recentemente comprou uma e escreve nela e eu fico maravilhada a vê-la escrever e ao sentir aquele relevo nas folhas, que só a máquina de escrever deixa ;)

    Não são caras Andreia, numa loja de antiguidades és capaz de encontrar e são tão giras também ;-)

    Beijinhos minha querida*

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  11. Nunca escrevi numa máquina de escrever e. embora concorde com o que disseste, continuo a preferir escrever no computador e, talvez, porque é mais fácil acompanhar os pensamentos, no entanto, mesmo assim os pensamentos são mais rápidos, por isso, a minha opção é escrever pelo meio mais rápido possível. Acho as máquinas de escrever instrumentos encantadores, mesmo não preferindo o computador, gosto da ideia ou da imagem que traz uma máquina de escrever, tem algo de encantador.

    MORNING DREAMS

    Sofia Silva, Beijos*

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  12. r: Eu também não gosto da expressão mas há casos em que é isso mesmo. Mas ao escrever o post, fiquei mais liberta e já não vou pensar mais nisso pois não vale a pena. Vou aproveitar muito, claro que siim.

    Vamos pois, vamos ter a nossa. Depois também nos habituaremos ao teclado, apesar de ser diferente. Eu penso que é tudo uma questão de hábito.

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  13. "É um processo que exige paciência e concentração. Não há como voltar atrás. E aprendemos a olhar as palavras sem que sejam só mais uma, mas aquela que realmente tem que estar ali."
    Assim é com a máquina, assim é com a vida. Escrevemos sem borrachas, sem o "delete"... Muito forte seu texto, Andreia! Parabéns, princesa! rs
    Beijão e muito obrigada pela presença no "Poesia no sangue".

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  14. Escuso dizer que eu quero um livro assinado, não é?
    És maravilhosa, Andreia.

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  15. r: Vamos pois :)
    Eu sempre achei super giro. e é tudo uma questão de hábito.

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  16. As máquinas de escrever são algo que também me fascinam... um dia gostava de ter uma! A minha avó quando era mais nova, escrevia à máquina e fala disso tão bem!... que dá vontade de experimentar.
    Já tinha saudades de passar por aqui... e de contemplar, além das tuas fantásticas palavras, a ótima escolha musical! :)
    beijinho

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  17. Andei desaparecida, o estágio roubou-me imenso tempo!
    Obrigada pelas tuas palavras... são sempre tão boas de se ler :)

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  18. Correu sim, obrigada :)
    E por isso mesmo, têm ainda mais valor! :)

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  19. Texto maravilhoso amei, Curta e siga o meu canal e TSU
    https://www.youtube.com/user/NekitaReis
    TSU: https://www.tsu.co/Nequeren

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  20. Eu sempre quis, SEMPRE mesmo ... acho que se eu tivesse minhas ideias iriam aflorar AINDA mais ...

    NEW ERA DAILY
    neweradaily.blogspot.com.br

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  21. Este texto fez-me lembrar uma aula minha da faculdade em que falámos exactamente nesta questão da importância de olhar para as palavras. :p

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  22. Então esse teu jeito pela escrita vem da tua mãe ;)


    www.tarasemanias.pt

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  23. Gostei tanto deste post. Também tenho esse fascínio pelas máquinas de escrever. Quando era miúda havia uma cá em casa. E eu ainda cheguei a a escrever nela. :) Mas rapidamente foi substituída por um computador... De vez em quando ainda gosto de me lembrar do som das teclas, ou dos dedos ficarem pretos por causa da tinta... Recordações maravilhosas da infância! :D :D

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  24. Eu tenho uma, que me deram há muitos anos atrás. Escrevi imenso nela (mas curiosamente perdi todas as folhas que tinha) e ainda a tenho, apesar de ter que comprar uma nova fita de tinta. O problema é que eu não sei onde se compra...
    Mas digo-te uma coisa, é mágico escrever numa máquina de escrever. Espero que um dia consigas ter uma :)

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  25. Ainda me lembro da maquina de escrever do meu avo no escritorio dele. espero que consigas ter uma ve em lojas vintage pode ser que tenhas sorte. :)
    Beijinho grande de Toronto
    claudiapersi.blogspot.ca

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  26. Eu desde sempre quis uma, precisamente por causa disso...

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