As minhas viagens de metro #23


«Então está tudo dito, meu amor. Por favor não penses mais em mim, o que é eterno acabou connosco. E este é o principio do fim», Ana Moura.


Hoje apetece-me escrever sobre amor. E é então que me lembro que foste tu que me ensinaste tudo aquilo que eu sei sobre isso. Não me parece justo evocar-te em segundo plano quando o que mais quero é poder esquecer-te. Talvez este seja o lado mais triste do amor: as lágrimas e o desejo de não voltar a lembrar.

Pela minha natureza, chama-lhe defeito ou feitio, só consigo olhar para o lado bom. E no amor, por maiores e mais profundas que sejam as cicatrizes, é isso que me move. O lado bom. A fantasia. A magia dos momentos. Encanta-me a ideia de passear de mãos dadas, os abraços apertados e intermináveis nas noites frias de inverno; beijos roubados enquanto se foge da chuva, desprotegidos e encharcados. Nós. E os beijos. É como se o tempo parasse, nos esquecêssemos do mundo e a fita fosse rolando na bobina, igual a uma cena de cinema.   

Há tanto amor por aí. No lado de fora da minha casa. Acho que o meu problema sempre foi pensar que sem ti saberia pouco ou nada sobre ele. Mas sei. Sei o suficiente para compreender que quem ama cuida, protege, luta. Todos os dias. Em em nenhum momento dá o outro por garantido.

Tenho saudades das noites de verão a escrever sobre um "nós" que não existia para lá das palavras. Da sensação aconchegante que era abrir a janela, sentir na brisa um aroma pincelado por um perfume de ninguém. Que bom que era olhar as estrelas e sentir uma mão a pousar sobre a minha, para que depois pudesse encostar a minha cabeça no teu ombro. Amar também é imaginar. E acreditar que um dia todas aquelas palavras sairão do papel para se tornarem na nossa realidade.

Talvez seja louca por ainda acreditar em contos de fadas. Não daqueles em que perdemos o sapato. Por mais que goste da sensação de andar descalça, não é esse final que quero para mim. Não me pertence. Também não acredito no príncipe que chega num cavalo branco, ainda que seja uma imagem deliciosa e completamente fascinante para o início da nossa história. Ainda acredito em contos de fadas pelo amor verdadeiro que existe em todos eles. Por nos ensinarem a amar sem máscaras, sem filtros e sem medos, por mais assustador que seja o futuro. É neste amor que eu acredito. No verdadeiro, no partilhado, no que nos faz querer viver uma vida inteira ao lado de alguém. Sem hesitar.

Não é justo ter que me lembrar de ti sempre que penso em amor. Ou talvez seja. Talvez isto seja a prova de que aquilo que vivi foi bonito de mais para ser esquecido. Tenho saudades nossas. Do que fomos sem o sermos. Das mãos entrelaçadas e dos olhares cúmplices. Dos passeios à beira mar. De sentir o teu perfume de bebé entranhado na almofada e na minha roupa. Sinto falta das vezes em que nos deitamos na relva, à noite, a olhar o céu infinito; das palhaçadas, dos momentos sérios, até das zangas. Sinto falta do que foste. E tenho saudades do que era contigo. A sensação de proteção, de aconchego, de amor... Ninguém era como nós. Nunca quisemos ser como eles. Só nós. E nada nos podia separar.

Aprendi que o amor também quebra. Também chega ao fim. Nós chegamos a esse ponto de rutura. A esse fim que tantas vezes dissemos nunca vir a conhecer. Mas sabes uma coisa? Continuo a acreditar no amor. Falhamo-nos. Perdemo-nos. Para sempre. Mas continuo a ver em nós todos os motivos que nos permitem perceber que o amor também é isto, mas que é bom de mais. Faz sentido em tudo aquilo que é. «Tu e eu» já não existe, mas existimos nós, em separado, como mais para dar ao mundo. 

Ensinaste-me tudo o que sei sobre amor, mas nunca amei por ti. Amei-te por tudo aquilo que o meu coração me sussurrava ao ouvido. E mesmo que agora já não me sejas nada, sei que um dia voltarei a amar de igual forma. Talvez com mais amor. Porque ajudaste-me a compreender que mais importante do que falar sobre ele é senti-lo. Aprendi a caminhar sobre a corda-bamba sem perder o equilíbrio, a saltar sem rede e sem medo de cair, porque algures na queda alguém me dará a mão. Amar é confiar. Faltou-te isso. Faltou-nos. Mas eu sempre fui capaz de te deixar andar com o meu coração nãos mãos, porque mesmo de olhos vendados, sem saber o que esperar, não havia outro lugar no mundo onde estivesse mais protegido. 

Largaste a mão e eu deixei-te ir. Se há coisa que aprendi é que no amor, por mais erros que se cometam, nunca se falha. Tu falhaste-me da pior forma possível, mas, mesmo assim, não conseguiste diminuir as crenças que tenho. E um dia vou mesmo perceber porque não tinha que resultar contigo. Perdoei-te. Prometo que sim. E continuo a querer escrever sobre amor, talvez já não me apeteça é escrever sobre ti. É que no meio de tanta história percebi que há mais amor por aí.

Já não me dizes nada sobre amor. Já nem sequer és amor. Mas o amor da minha vida está para chegar. E quando o conhecer vou recomeçar do zero, com a certeza de que me saberá falar melhor sobre este sentimento que tem o dom de mudar o mundo. E irá fazê-lo até ao fim das nossas vidas.


M, 15.07.2014    

Comentários

  1. Oh querida, mais uma vez palavras lindíssimas. É incrível como mesmo com o coração despedaçado a nossa capacidade de amar se mantém firme e hirta :) é realmente uma grande força, essa do amor :)

    r: é, ele às vezes até é querido eheh pois é, eu não percebo como é que o meu irmão (que acho que já não é assim tão criança quanto isso) não tem noção de que o dinheiro custa a ganhar. Eu sempre tive essa noção, sempre me senti mal em pedir o que fosse (ainda hoje sinto e nunca peço a não ser que precise mesmo)... Enfim, cada vez acho mais que ele é um caso perdido.

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  2. Esse coraçãozinho apaixonado,
    precisando de quem lhe dê calor
    dentro do peito bem guardado
    esperando o tão desejado amor!

    Boa quinta-feira, o amor que chegue logo, um beijo.
    Eduardo.

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  3. r: e fazes tu muito bem darling :)
    és uma querida !

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  4. aii, escreves tão, mas tão bem :)
    dá gosto ler o teu blog :)

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  5. Que texto mais carregado de amor


    www.tarasemanias.pt

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  6. :hug;
    antes de mais tenho que dizer que amei ler o teu texto, é bom voltar e ser esta a realidade que encontro, cheia de um sentinmento tao grande que nos abraça e aconchega.
    O Amor é isso mesmo, o amor é um abraço apertado que nos eleva, nos da proteção nos da verdade, mas o amor tambem é doloroso, quebra, magoa, roi, corroi. Na sua imprefeiçao é perfeito, é sentido, é honesto, e todos nos o acabamos por encontrar.
    Temos de passar por algumas provas ate que o verdadeiro amor possa chegar
    Eu acredito em contos de Fadas, almas gemeas, Princepes e princesas modernos, porque acredita, quando o teu princepe te encontrar, o verdadeiro, nao os testes, quando ele te encontrar, vais ver como é verdadeira a historia do beijo do verdadeiro amor, como ele te acorda quando dormias por mil anos, como te faz voar e conhecer o mundo. descobrir o mundo num abraço apertado é a melhor forma de viajar. <3

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  7. Esse texto esta maravilhoso com muito amor,
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  8. Adorei as tuas palavras tão suaves mas tão acolhedoras cheias de amor.
    bjs
    http://retromaggie.blogspot.pt/

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  9. Andreia!!!
    Que lindo!
    E o que mais me encantou, foi que eu acabei de escrever algo sobre "Final feliz" no meu blog. A gente hoje está falando a mesma língua! rs
    Aliás, eu agradeço a sua presença, a sua atenção, e a sua participação, sempre tão cheia de carinho.
    Seu blog é um encanto e eu adoro estar aqui.
    Um beijo, e parabéns pelo texto incrível, querida! <3

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  10. O amor nem sempre é bom para os nossos corações. Mas quando é um verdadeiro amor, então as dores tornam-se mínimas. E espero que quando encontrares o teu verdadeiro amor o vivas de forma feliz e intensa :)

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  11. Tão lindo o texto, tão lindo, acredto sinceramente que quando encontrares o amor da tua vida, falares de amor, vai ser ainda mais especial e grandioso :)

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  12. “É neste amor que eu acredito. No verdadeiro, no partilhado, no que nos faz querer viver uma vida inteira ao lado de alguém. Sem hesitar.”

    Também penso de modo igual. Pelo que pude notar, esse texto foi escrito certo tempo depois de vocês romperem. Eu queria ter esse tipo de serenidade. Mas, no meu atual momento, não tenho. A parte boa é que, por mais que a pessoa tenha soltado a mão, continuamos acreditando no amor. (*´ο`*)
    ••● @ emilie

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