Miúdo-Guerreiro

Fotografia da minha autoria

«Azul e branco é o coração»

O que me motiva enquanto adepta não é apenas a história do clube. São também as pessoas. Naturalmente, ele subsiste independentemente dos nomes que figurem nas camisolas, mas a sua mística perpetua-se e sobressai pelos jogadores. E nunca é fácil despedirmo-nos daqueles que admiramos.

Já o referi várias vezes, sou Porto desde que me lembro de existir. E enche-me de orgulho olhar para dentro de campo e ver profissionais que o sentem e vivem com a mesma intensidade que eu. O André Silva é, precisamente, um deles. Com seis anos de Dragão ao peito, não faltam momentos que o comprovem. Apesar de não o acompanhar há tanto tempo, foi o suficiente para o ver crescer. Como profissional. E um pouco como pessoa, porque existem valores transversais às duas componentes. Sempre defendi que «idade não define maturidade». E a verdade é que este «miúdo» teve sempre um sentido de jogo e de equipa fora do comum. Também errou, é certo, mas vê-lo jogar é perceber que aquilo que o move é de uma grandeza que não deixa ninguém indiferente. Há verdade no seu estilo. Na forma como disputa os lances. Na vontade de fazer mais. E ser Porto é fazer das «tripas coração». E ele fez. Jogo após jogo. Com inteligência. Com compromisso. E sem qualquer tipo de vaidade. Sei bem que sou suspeita, mas o seu percurso é uma referência por tudo isto. E não vai ficar por aqui.

A época termina. E começa uma fase de incógnita, angustia, especulação. E o coração tenta aprender a gerir esta situação, sobretudo quando são os nossos, aqueles que mais queremos que fiquem, que se encontram em risco de sair. Uma parte de mim fica radiante, pois é sinal de que o trabalho não passa despercebido. Mas, por outro lado, permanece aquela réstia de esperança de que as notícias não sejam verdadeiras. Passei tudo isto com o Quaresma. Duas vezes. E foi doloroso em ambas. Porque não nos habituamos a despedidas. Nem nos conformamos com a ausência que aquela pessoa provoca. Não conheço o André Silva, e nunca tive a oportunidade me de cruzar com ele. No entanto, vai fazer-me imensa falta de azul e branco. E por mais que continue a ver uma camisola 10 no relvado, não é ele. Porque nunca haverá alguém igual.

Um dia teria que acontecer. Um dia. Não agora. Perdoa-me o egoísmo por não te querer ver já a ir embora, por achar que ainda tinhas tanto a conquistar com as nossas cores, por não estar preparada para não te saber aqui, em nossa casa. Custa. Mas iria custar sempre, não é? Fosse agora, ou daqui a cinco épocas, a minha vontade seria a mesma: ver-te ficar, pelo menos, mais uma. Ou não fossem existir novos desafios, novas batalhas e novas vitórias para alcançar. Contigo aprendi a ser ainda mais Porto. E que a ambição pode ser sempre maior.

Obrigada! Por seres Porto por inteiro. Por seres um exemplo constante de humildade, dedicação e competência. Por te superares. Por ver em ti a raça de um verdadeiro campeão. Segurei as lágrimas e o nó na garganta, porque quando pensar em ti vou recordar-me sempre do golo de bicicleta frente ao Braga no final da Taça de Portugal, da frieza no penalti em Roma, da frustração em Alvalade, do primeiro golo no Dragão, da polivalência, da capacidade de manter a cabeça erguida perante todas as adversidades, do «miúdo» que conquistou o respeito de todos. E isto é o mínimo. Porque traçaste o teu caminho com passos firmes. E as memórias que deixas são um legado inesquecível.   

Continua igual a ti. Com esse brilho no olhar de quem encara os desafios de frente; de quem pisa o relvado com amor. Vais deixar saudades. Muitas! Mas aquilo que me conforta é ver esse teu sorriso largo, de quem está a abraçar um sonho. Eles têm tanta sorte por te ter. E ainda não sabem bem a dimensão disso. Tenho um orgulho desmedido naquilo que te tornaste. O mundo vai ser pequeno para todo o teu talento.

«Contigo até ao fim». Vai com tudo, miúdo-guerreiro!