VOTEI DE LÁBIOS VERMELHOS

Fotografia da minha autoria



«O voto é mais forte que a bala»


A realidade que enfrentamos exige-nos cuidados redobrados, resguardo e coragem. Porque, em confinamento, continuamos a lutar contra esta pandemia que já tanto nos tirou. Por isso é que, consciente da minha pegada social, procuro proteger-me e, assim, proteger os meus e quem me rodeia. No entanto, de modo a evitar que se propague uma crise de valores e de democracia, não podia ficar em casa numa altura em que ir para a rua é a melhor arma que tenho para exercer um direito precioso.

Eu compreendo o receio e respeito a escolha de não sair, evidenciando a dualidade de critérios inerente às atuais circunstâncias. Contudo, não me fazia qualquer sentido passar ao lado das eleições, atendendo a que quero ser parte da solução e não do problema. Além disso, por muito que ecoassem observações a negar a possibilidade de certos candidatos chegarem a um lugar de destaque, nunca iria arriscar, ainda para mais, porque sinto que estes pensamentos são perigosos e transmitem-nos uma segurança falaciosa. A única maneira de impedir que seja esse o cenário, é sendo ativa, não desperdiçando a oportunidade que tenho para fazer valer as ideologias que sustentam a liberdade.

Considero, por outro lado, que numa sociedade com tantos meios tecnológicos evoluídos, já seria tempo de procedermos a um voto eletrónico ou de disponibilizarmos alternativas para quem, por algum motivo, se vê impedido de se deslocar ao seu posto de recenseamento. Não existindo essa possibilidade, votei por eles. Porque não está, apenas, em causa a escolha de um Presidente da República. Está em causa o futuro que queremos traçar e o país em que queremos viver. E só podemos ter em vista a equidade e nunca a discórdia e o retrocesso.

Fui cedo e de lábios vermelhos. É certo que a máscara ocultava esta informação, mas o simbolismo acompanhou-me, porque já é parte de mim. Nenhum homem - ou mulher que defenda os mesmos princípios - tem o poder de determinar aquilo que uso ou faço. Portanto, manifestei-me da maneira que acredito ser a mais eficiente: deslocando-me a uma mesa de voto, procurando impedir que a censura, o racismo, o fascismo e a desigualdade tivessem uma nova hipótese de prevalecer em Portugal.

Eu voto porque sinto que conquistar este direito custou demasiado e porque não aceito, nem permito, que sejam os outros a escolher por mim. Se exijo mudanças, não compactuo com a indiferença. Não viro as costas. Não fico à espera dos resultados. Porque quero que os líderes de hoje representem a transparência que a humanidade merece. Naturalmente, haverá falhas e situações a fugir do nosso controlo, mas, pelo menos, ficamos de consciência tranquila por sabermos que mantivemos a porta aberta para aqueles que defendem a liberdade. Como é que podemos equacionar que a condicionem ou, pior, que a anulem?

Votar é usar a minha voz para escolher com justiça. Por essa razão, não permito que me silenciem. E, se for necessário, hei-de gritar para me fazer ouvir, traçando em cruz a democracia na qual quero viver. Porque, tal como se verificou nos resultados eleitorais de ontem, a luta não chegou ao fim. Muito pelo contrário, ainda agora começou!

«Se nessa cidade há muito quem troque o V pelo B, há muito pouco 
quem troque a honra pela infâmia e a liberdade pela servidão»

Comentários

  1. Excelente post. Votar é de facto de extrema importância e ninguém devia abdicar desse direito, infelizmente, há muitas pessoas que não dão valor ao voto =(

    Beijinho grande!

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    1. Obrigada, minha querida! Votar em consciência é a maneira que temos de garantir que não perdemos a democracia; que não perdemos a liberdade

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  2. Fomos duas! :)
    Há que celebrar e dar uso ao nosso direito, como dever. Por todos e para todos! <3

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  3. A minha reverência por este texto. Conto contigo e como teu papel activo para fazer a luta pela democracia, todos os dias, todo o dia, porque não há momento nenhum em que possamos baixar a guarda perante a intolerância, o obscurantismo, o saudosismo de um passado que parece que que alguns querem reavivar. Grande beijinho

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    1. Obrigada!
      Cada vez menos podemos baixar a guarda, porque, infelizmente, os gritos de intolerância ganham destaque. No que me competir, continuarei nesta luta. Por todos

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  4. Votar é um direito essencial! Tenho pena que o Estado me tenha negado de o fazer... :(

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  5. Votar, votar, votar! Votem. Eu votei tbm!

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  6. Eu também fui votar e não dispenso fazê-lo! BTW nunca gostei tanto de usar batom vermelho como gosto hoje em dia! <3

    www.pimentamaisdoce.blogspot.com

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  7. Batom vermelho não há como não gostar, acho que foi uma boa partilha, que é sempre bom acabar por ir fazer o nosso dever
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  8. Concordo e assino por baixo — que ainda para mais numa pandemia, que tinham conhecimento que não iria parar para as eleições —, que deveríamos já ter um voto electrónico. Talvez não houvesse tanta abstenção como tem havido e só vai continuar a aumentar e é pena. Lutamos muito por poder votar e há quem desperdice e ignore o poder que tem. Porque votar por aquilo que queremos e decidir também o nosso futuro, atrás do voto é um poder que conquistamos e não deveríamos ignorá-lo.
    Felizmente, o desfecho foi o que quase todos esperávamos, mas o pior não é agora, será depois. Fomos “salvos” pelo Marcelo que foi um excelente candidato, mas daqui a 5 anos não vamos ter a mesma sorte. Há que lutar agora, porque aproximam-se tempos negros para todos os cidadãos portugueses. 😕 um beijinho e fizeste muito bem em levar o batom vermelho! Marcaste a tua posição, ainda que não tenha sido vista.

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    1. Sinto que já podiam ter sido desenvolvidas alternativas. Era bom para todos!
      Faz-me imensa confusão quem não vote por puro desinteresse, porque é o futuro do país que está em causa. Chego à conclusão que damos a liberdade por garantida e, um dia, podemos ser surpreendidos pela negativa.
      Precisamente. Nestas eleições, ainda conseguimos respirar, mas como é que será daqui a 5 anos. Ou, antes, como será nas legislativas? A luta tem de continuar.

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  9. És muito jovem ainda, espero que nunca te desiludas, agora a cor do batom é a que eu quiser sempre! Eu não fui, sou uma pessoa de risco e nenhum dos candidatos merecia que arriscasse a minha vida pelo voto!
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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    1. É, precisamente, para não me desiludir que continuo a lutar - e a votar - pela democracia

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  10. Respostas
    1. E não o podemos deixar de lado. Mais que um batom, é um manifesto!

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  11. Não votar é deixar morrer a democracia. Muitos daqueles que lutaram para a conquistar, foram presos torturados e alguns assassinados pela polícia política do Estado Novo "PIDE". Votar foi mais seguro do que ir ao supermercado fazer compras. Tudo muito bem organizado aqui onde votei a cerca de 400 metros de onde moro, cheguei à seção de voto, entrei, votei não estive lá mais de 2 minutos.

    Faz muito bem em assim proceder Andreia. Tenha uma boa noite.

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    1. Infelizmente, parece que há quem se esqueça dessa parte da nossa história e dos horrores que sofreram aqueles que viveram em ditadura.
      Senti, exatamente, o mesmo, Edumanes!

      Igualmente

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  12. Rendo-me absolutamente ao brilhantismo do teu texto.
    Fechares com a famosa frase de Almeida Garrett, comoveu-me profundamente.

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    1. Muito obrigada, Teresa!
      Sinto que aquela frase, para além de demonstrar bem a nossa essência, deve ser um alerta para não a perdermos e para sabermos qual é o lado certo da luta

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  13. Incrível, Andreia. Assino por baixo!!!
    «Eu voto porque sinto que conquistar este direito custou demasiado e porque não aceito, nem permito, que sejam os outros a escolher por mim.»
    Isto, votar pela democracia, pela nossa liberdade <3

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  14. Votei na votação antecipada. Felizmente conseguimos mostrar o que não queremos, embora perceba pq houve tantos votos no Alentejo para um candidato e pouco no Porto.

    PS: Foste tu que me inspiraste para o post manuscrito :) Achei gira a tua partilha a no instagram!

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    1. Há discursos que, infelizmente, por serem mais próximos, acabam por ecoar com outra força e propriedade. Temos de continuar a lutar para que, mais tarde, esses votos tenham outra expressão e outro rosto.

      Muito obrigada! Fico feliz por saber isso :D

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  15. Eu fui votar de casaco roxo, como forma de agradecimento de eu poder votar!

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  16. Estive novamente nas mesas de voto. Onde estive houve mais de 50% da população a votar. Não foi muita gente, mas foi a maior percentagem que eu alguma vez vi naquela localidade, desde que os meus 18 anos (e tenho 25). O que, por um lado, me deixou bastante contente. Por outro lado, fiquei estupefacta e triste com o que a extrema direita conseguiu.

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    1. Foi um dia/noite agridoce, precisamente pelos aspetos que referiste. A nossa luta tem de continuar

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