Entre Margens

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«A vida é feita de momentos colecionáveis»


O mês mais pequeno do ano parece que ampliou, sobretudo, na última semana e meia, só para que conseguisse viver momentos tão bonitos. Continuou a reservar-me dias de nariz entupido e de tosse quase cavernosa, mas tudo isso foi mínimo comparado ao resto. Entre reencontros, novas experiências, voltar a lugares/eventos que me fazem feliz e palavras especiais, fevereiro entrou para o quadro de favoritos.


       MOMENTOS       

Aniversários
É sempre maravilhoso celebrar mais um ano de vida de pessoas que nos são tanto. Num ambiente intimista, festejei o aniversário do meu pai, que será sempre um dos meus maiores exemplos. Dias mais tarde, através de vídeochamada, porque a distância física não permitia outro cenário, foi tempo de mimar a minha empresa de limpeza favorita (ele perceberá sempre o contexto). Que os laços se continuem a estreitar.

Terapia de Casal
A Rita da Nova e o Guilherme Fonseca regressaram ao Hard Club, desta vez para brilharem na sala 1, com o Terapia de Casal. Claro que não podia perder a oportunidade de os rever, por isso, na companhia da Sofia, marquei presença no espetáculo e sinto que conseguiram superar todas as expectativas - quem diria que o Farmville ainda era tendência em 2023! No final, conversei um bocadinho com ambos e foi maravilhoso.

Jantar com a Gémea e o T.
A vida está sempre em movimento e há mudanças inevitáveis. No entanto, se existem elos que sinto que são inquebráveis são o desta amizade. Aproveitando o roteiro gastronómico que temos para explorar, matamos saudades, conversamos muito e fizemos planos para um futuro próximo. Ficou claro, durante o jantar, que sou péssima com coordenadas, mas sou uma sortuda por os ter na minha vida.

      

      

      

      

Outros apontamentos bonitos do mês: visitar os Bombeiros Sapadores de Gaia, a entrevista para A Marca da Marta - Colecionadores do Mundo -, o Porto a passar na Taça, ter mais duas compras no Trade Stories.


       LEITURAS       

📖 As Coisas Que Faltam, Rita da Nova
Alma Lusitana

📖 Preciosa, Nelson Nunes
Alma Lusitana

📖 Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha, Tati Bernardi
Clube Leituras Descomplicadas

📖 Periferia, Catarina Costa
Alma Lusitana


Outras leituras do mês: Maus (Art Spiegelman), A Flor e o Peixe (Afonso Cruz), Independente Demente (Miguel Esteves Cardoso), Orgulho e Preconceito (Jane Austen) e Deve Ser, Deve (Guilherme Fonseca).


     FILMES, SÉRIES & PODCASTS     

Sintam a conquista: há um filme nesta lista!

Love, Simon
Assistir a este filme permitiu-me refletir sobre a injustiça dos padrões duplos. Ou seja, porque é que um heterossexual não tem de se assumir, mas um homossexual sim? Perdoem-me se estiver a ser spoiler, mas existe uma cena deliciosa sobre esta situação, porque vemos heterossexuais a assumirem-se às suas famílias e o quanto isso é estapafúrdio e o quanto perpetua uma pressão desnecessária - já basta que as pessoas sintam o peso da diferença por terem uma orientação sexual que a sociedade considera não ser a norma.

Podcasts
🎤 Par de Jarras, porque a Ana Garcês e a Catarina Alves de Sousa estão de volta ao podcast;
🎤 Livra-te #65, com as tão aguardadas green e red flags literárias da Rita da Nova e da Joana da Silva;
🎤 Palavra #30, com uma conversa entre a Maria Isaac e a sua editora, Diana Garrido, para sabermos mais sobre este universo da edição e da relação entre editores e escritores.


       À MESA       

Neste segmento, tenho dois destaques para partilhar convosco.

Da Terra
Já tinha ido a este restaurante, mas voltei lá com a Sofia, antes de irmos ver Terapia de Casal, e reforcei a minha impressão inicial: é um local encantador, com comida deliciosa. Em regime buffet, temos a possibilidade de experimentar várias opções, o que acaba por ser muito mais interessante.

Passata
Este restaurante italiano fica na Maia e foi uma descoberta incrível, graças ao jantar com a gémea e o T. Adorei o ambiente da sala e o atendimento acolhedor. Para além disso, a comida é ótima. Comi a pizza Mar e Monti, picante como eu adoro, e uma Panna Cotta com calda de frutos vermelhos, que estava no ponto.

      

Também experimentei um chocolate negro com recheio de limão. Não desgostei, mas também não me convenceu por completo. Acho que tenho de voltar a experimentar, para tirar todas as dúvidas.


       ENTRE LINHAS       

Caneta para delinear olhos d' O Boticário
A minha relação com a maquilhagem não é a mais próxima, até porque a falta de jeito é evidente, mas tenho tentado fazer eyeliner com regularidade e acho que encontrei o produto que melhor resulta comigo.

   

Confissões de Um Livreiro
Não sigo esta conta há muito tempo, mas tem sido fascinante descobrir todas as histórias que o Zé Livreiro tem para partilhar, até porque encontramos de tudo um pouco, sempre com imensa graça, ironia e/ou comoção.

Pessoas Partidas Partem Pessoas
Senti cada palavra como se as tivesse vivido. É, também, por esta razão que a escrita me atrai, porque, pela forma como o seu autor se envolve no texto, há pontes que se erguem. Esta história não é minha, mas a Sofia foi generosa o suficiente para que a sentisse como tal. Acho mesmo que foi um dos melhores textos que já li dela. Fizesse parte de um livro e teria várias passagens marcadas com post-its.


       JUKEBOX       

Top 5 de favoritas
🎧 Só Depende de Nós (D'ZRT);
🎧 Do Avesso (Inês Marques Lucas);
🎧 Tudo Bem (Lázaro);
🎧 We Go Down Together (Khalid & Dove Cameron);
🎧 Saída de Emergência (Diogo Piçarra).


Álbuns: Gloria (Sam Smith), Murmúrio (Marta Lima), Tristana (Stereossauro) e Hipersensível (Rita Onofre)


       GRATIDÃO       

«(...) nenhuma história se conta sem marcas na pele»

Fevereiro reservou-me vários pedaços de gratidão, entre eles: a possibilidade de me reencontrar com amigos e de conhecer a Rita da Nova e o Guilherme Fonseca, graças ao espetáculo Terapia de Casal.


Como correu o vosso mês?

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A banda sonora de uma viagem literária


A playlist literária de fevereiro ficou tão versátil como as leituras, porque levaram-me por trajetórias emocionais muito particulares. Por isso, entre sonoridades mais catárticas e outras mais descontraídas, há uma linha de equilíbrio que sustenta o tanto que somos. No total, são mais nove temas nesta Estante Cápsula Jukebox.


AS COISAS QUE FALTAM, RITA DA NOVA
Love Me More, Sam Smith ▫ A jornada da protagonista pareceu-me bastante clara e, sobretudo, pareceu-me que tudo o que mais procurou foi amor: o amor de alguém que nunca conheceu, mas que esteve sempre muito presente nas suas memórias e nas suas ações. Por esse motivo, senti que esta música do Sam Smith a acompanhava bem, já que, no fundo, ao tentar unir todas as peças do seu puzzle, foi tentando amar-se mais e mais, respeitando quem era: com o que tinha e com o que lhe faltava.


MAUS, ART SPIEGELMAN
Never Again, Stephen Melzack ▫ Este tema, que serve para relembrar o Holocausto, é também um lembrete para uma parte da história que nunca deveria ter acontecido e que não podemos permitir que se repita, seja de que forma for. Perante uma novela gráfica que mostrou, sem qualquer embelezamento, a história de um sobrevivente, pensei que esta canção poderia ser o melhor complemento.


PRECIOSA, NELSON NUNES
Tempestade, Carolina Deslandes ▫ Queria um tema impactante e ocorreu-me o documentário Mulher, da Carolina Deslandes, que não só nos centra em problemáticas urgentes, como dá voz ao universo feminino. Nesta história de violência doméstica, optei pelo tema Tempestade, porque creio que, subtilmente, mostra aquilo que devem ser os dias de alguém que tem de caminhar sempre a olhar por cima do ombro.


VOCÊ NUNCA MAIS VAI FICAR SOZINHA, TATI BERNARDI
Lugar Certo, Iolanda ▫ Lembrei-me desta música pela ideia de querer voltar atrás, a esse lugar certo onde sentimos pertencer. Com a vida a mudar tanto, dando palco a dúvidas, receios e a sensações desconfortáveis, ficamos com uma perspetiva de perda. Um pouco como o que encontramos neste romance, porque a protagonista queria muito ser mãe, mas o processo deixou-a com saudades daquilo que foi antes de todas as alterações físicas e hormonais. Ainda que o tema musical nos transporte para uma relação amorosa, acho que combina bem com a narrativa em questão, porque há aspetos que podemos tornar transversais.


PERIFERIA, CATARINA COSTA
Sempre Rente ao Chão, Noiserv ▫ Senti-me um pouco perdida nesta combinação, até que me lembrei do Noiserv e da sua capacidade surpreendente de tecer os mais diversos cenários. Sempre Rente ao Chão pareceu-me, então, a melhor escolha, por nos transportar para um lugar de não-pertença, para uma realidade em que a protagonista se vai remendando aos poucos, na tentativa de fugir, de passar despercebida.


A FLOR E O PEIXE, AFONSO CRUZ
We Go Down Together, Khalid & Dove Cameron ▫ Associei logo este tema, não pela ideia de queda, mas por estarmos em constante descoberta do mundo que nos rodeia e, principalmente, de nós. Além disso, achei que esta canção combinava bem com a narrativa de Afonso Cruz porque, quando compreendemos aquilo que é importante, aquilo que temos de mais valioso, também percebemos que há espaços no nosso coração a serem preenchidos e que chegamos, finalmente, a casa.


INDEPENDENTE DEMENTE, MIGUEL ESTEVES CARDOSO
Bem Vindo ao Passado, GNR ▫ A letra talvez não se relacione muito com o conteúdo do livro (e, vai daí, até consigo estabelecer algumas pontes), mas foi uma associação automática pelo título. E porquê? Porque estas crónicas (nunca publicadas) remetem-nos para a altura do jornal O Independente. Por isso, conhecemos a visão do MEC, conhecemos aquilo que, há mais de 30 anos, o apoquentava ou lhe criava uma certa comoção. Assim, regressamos ao passado, para perceber que há muitas ideias que, ainda hoje, fazem sentido.


ORGULHO E PRECONCEITO, JANE AUSTEN
Liz On Top Of The World, Dario Marianelli & Jean-Yves Thibaudet ▫ Poderia ter escolhido qualquer tema da banda sonora do filme, mas quis esta porque a Lizzie será sempre uma das minhas personagens favoritas. É um instrumental, porque o silêncio da ausência de palavras sempre teve voz nesta história, remetendo-me para todas as trocas de olhares que teceram longas conversas com Darcy.


DEVE SER, DEVE, GUILHERME FONSECA
It Wasn't Me, Shaggy ▫ Estive quase para incluir a música da Leopoldina, só pela associação que fiz na review do Goodreads, mas depois resolvi ser mais séria e aceitar que, para além de ter sido mencionada na obra, esta canção é mesmo a que lhe assenta melhor. Convenhamos, não existe maior negacionista que o Shaggy ao longo da música. É chalupice ao mais alto nível, é.

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«Cidade de amor vadio»

Avisos de Conteúdo: Morte, Família Monoparentais, 
Violência, Suicídio, Linguagem Explícita


O lado previsível de determinadas histórias não lhes retira a magia, porque, como mencionou a Sofia em relação ao Balada Para Sophie, é a forma como são contadas que as torna boas histórias e, acrescento eu, inesquecíveis. E foi precisamente isso que senti quando decidi descobrir o livro de Norberto Morais.


AMOR E TRAGÉDIA

O Pecado de Porto Negro é um lugar remoto, «plantado no coração dos trópicos». Conhecido como a cidade do amor vadio, é feito de transações comerciais e de desejos carnais. Além disso, parece envolver mundos antagónicos, que encontram sempre uma maneira de se entrelaçarem. E é nesta trajetória que Santiago Cardomomo, jovem e mulherengo, e Ducélia Trajero, filha do açougueiro da terra, se perdem de amores.

«Para quem se encanta com histórias de amor à primeira vista, 
lamenta-se o desapontamento por não haver sido o caso»

Tenho de reconhecer que esta obra nos envolve numa narrativa que já foi replicada de várias maneiras. No entanto, a forma como o autor a construiu é surpreendente: porque tem uma melodia própria e porque nos faz sentir tudo aquilo que está descrito; porque sentimos na pele a dor, a tragédia e o amor que consegue sobreviver a todos os golpes de vingança e de maldade. Com todas as emoções em evidência, é impossível resistir ao charme dos protagonistas e ao tom obsessivo que destruirá o vínculo deste casal proibido.

«Estava na altura de também ela começar a mexer, 
que os sonhos pertencem à noite e às horas mortas»

O cenário imaginário torna-se credível pelo movimento, pelas descrições, pelos aromas e pelas vivências que Norberto Morais lhe atribui. Por isso, senti-me a ser transportada para este Porto Negro, tão cheio de vida, de desavenças, de mesquinhez, de desconfiança e, inclusive, de empatia. Embora este local não exista, nem estas pessoas, creio que não cometo qualquer inconfidência ao dizer que poderia ser real, que poderia ser um retrato fiel de quem deambula à procura de propósito e de afeto, independentemente da hora do dia.

«E no desarranjo dos sentidos, teve a certeza de 
alguma coisa se haver quebrado, perdido para sempre»

Nesta terra, que nos permite conhecer o que «há de mais primitivo e profundo» no ser humano, o tempo circula e, com ele, denota-se uma gritante carência emocional. Embora nos repugnem determinados comportamentos, pelo seu traço maquiavélico, compreendemos que tudo isso é fruto de traumas passados e de falta de amor. Sofre-se muito aqui, mas também encontramos apontamentos de esperança e uma certa justiça poética.


Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: O blogue é afiliado da Wook e da Bertrand. Ao adquirirem o[s] artigo[s] através dos links disponibilizados estão a contribuir para o seu crescimento literário - e não só. Muito obrigada pelo apoio ♥

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- título sugerido pela Ana Ribeiro -


Um grande amor nunca morre...

Será que não? Ou será que isto não passa de mais uma frase pirosa que encontramos naqueles livros de desenvolvimento pessoal ou num filme cliché, de domingo à tarde?

Passei a minha curta carreira a ouvir que deveria escrever sobre aquilo que conheço. Talvez por isso não seja capaz de desenvolver este pensamento, porque não sei o que é o amor; porque não sei como se manifesta, que sintomas nos provoca, que desnortes é que nos acendem no peito - se é que acende algum. Se me perguntarem se já amei, não saberei responder com exatidão. Se já fui amado? Isso sei que não. Só sei que acordei com esta expressão a ecoar nos meus sonhos e, agora, estou preso na teia que lançou.

Rasgo a folha e reinício o processo. Escrever à mão foi sempre terapêutico, mas, desta vez, tem sido um tormento. Os prazos aproximam-se e o rascunho permanece em branco. Pego na caneta e volto ao mesmo.

Um grande amor nunca morre...

Merda! Tento abstrair-me deste eco, mas a sua voz só se intensifica. Que espécie de fraude serei eu por tentar vender uma história que não me serve? Pior, que espécie de escritor serei eu, se não souber inventar um horizonte para lá do que conheço? Será este o fim?

Toca o telefone. É o Paulo a questionar-me pelos três capítulos que prometi enviar-lhe na segunda. Apeteceu-me mentir-lhe e dizer-lhe que estava tão embrenhado na narrativa, que ainda não tinha parado de escrever, mas ele perceberia e destruiria o meu disfarce em segundos. Em vez disso, fui honesto, dizendo-lhe que era melhor desistir. Desliguei a chamada, pus o telemóvel em modo voo e afundei-me numa garrafa de whiskey. Talvez embriagado tenha menos escrúpulos para criar uma estória sobre a qual sei tão pouco.

Não resultou. Primeiro, porque não me embebedei (ou não me embebedei o suficiente). Segundo, porque depois daquelas cinco palavras não existia mais nada que um gigante fosso; um gigante nada, como se caminhasse pelo deserto.

Um grande amor nunca morre, mas eu morrerei aos poucos, caso continue nesta obsessão. Aliás, é quase insultuoso estar agarrado a algo tão básico. Insultuoso e frustrante, porque isto já é quase uma luta de honra, para curar um ego ferido.

Evito assumir a derrota - embora o tenha feito anteriormente -, mas sem quaisquer dados fidedignos não poderei escrever. É que nem a porra de uma história alheia posso roubar (sim, estou nesse ponto), porque ao meu redor só existem relações disfuncionais, divórcios, traições e abandono. Neste cenário, parecem-me hipóteses incompatíveis e eu preciso de peças que encaixem.

E se eu escrever sobre isso? E se eu desenvolver este amor que me falta? Momento eureka! Posso não saber se um grande amor nunca morre, mas sei que as palavras são o que tenho de mais próximo dessa realidade. E, se continuar, talvez venha a renascer a cada parágrafo. 

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Uma viagem literária para descobrirmos os nossos autores


A viagem literária prossegue, desta vez, entre a prosa e a poesia, e de braço dado com dois autores cujo trabalho pretendo explorar mais, uma vez que apenas li um livro de ambos. Mantendo-me pelo Porto, com a possibilidade de dar um salto a Leiria, não faltarão propostas de histórias, para este mês, no Alma Lusitana.


ANDREIA C. FARIA

A poetisa nasceu em 1984, no Porto. Em 2008, publicou o seu primeiro livro e outros se seguiram. Em 2018, foi galardoada com o Prémio Autores SPA. No ano seguinte, recebeu o Prémio Literário Fundação Inês de Castro.

      

Alegria Para o Fim do Mundo: «Admiro a sua atmosfera desarmante construindo grande intimidade, sem se tornar obscena e sem fazer cedências. Há uma bravura férrea que nos parece sugerir que a intimidade está posta no poema como matéria responsável, animal ciente que se analisa numa medicina rica, eficaz. São poemas da "difícil cria", pessoa improvável, consciência improvável, como desigual, desajustada, que profere para saber de si mas, sobretudo, para desmascarar. O poema está para a perplexidade mas está igualmente para a constatação de que adiantará muito pouco perante o elementar estrago existencial».

Canina: «Outra criatura se recorta nos meus gestos./Outra que a devassa/a natureza, a melancólica prática da carne/acesa em lanhos vivos,/beiços, o mínimo arroubo de dentes/no escuro. Outra criatura pousa./Come e dorme com regalo,/pela tarde beberica/esparsas brisas no caramanchão./Odeia uns quantos, ladra muito./Também ama, se entre o medo/um soldado lhe desarticula a alma/e sente-lhes o cheiro quando à terra/chegam ossos de indigesto esplendor».

Clavicórdio: «Primeiro livro em prosa da poeta, numa compilação de textos dispersos».

Nota: Alegria Para o Fim do Mundo reúne todos os seus livros de poesia anteriores a este


DIOGO SIMÕES

Leiria é o seu berço, mas o percurso académico trouxe-o até ao Porto. Aos dez anos, descobriu os livros e nunca mais largou a mão do encanto que são as histórias escritas. Focando-se em questões sociais, a sua jornada literária conta já com vários títulos publicados - e dos quais está a recuperar os seus direitos de autor.

   

Esquecido: «
Duarte perdeu temporariamente quatro anos de memórias. Esta é agora a sua única certeza. O que resta do acidente são dúvidas e um puzzle de emoções, num Mundo em que ele já não se encaixa e onde as histórias estão por explicar. A sua missão é agora descobrir a verdade, num cenário em que a sua maior batalha é ele próprio. Ele sabe que a noite que permitia enterrar o passado, é a sua maior inimiga. Uma corrida contra o tempo, rodeada de esquemas, segredos e um passado por se lembrar».

O Que Nos Magoa: «Tudo o que Francisca desejava como prenda de aniversário era descobrir o que a vida lhe reservava para o futuro. Na noite em que completa dezoito anos, conhece Daniel, um jovem que lhe desperta novos sentimentos. Com um passado recheado de medos, Francisca deixa-se envolver pelo rapaz misterioso, que parece saber tudo sobre ela. O que não imagina é que os seus caminhos já se cruzaram antes e Daniel, que aparentava agir por mera inocência tem, na verdade, um segredo capaz de aprisioná-la na memória mais marcante da sua vida».


   

Dislike: «Quando o Miguel conhece o André, a sua ideia de felicidade é baseada no que vê nas suas redes sociais. Mas será que o que se vê online corresponde à realidade?»

Três Dias Até ao Natal: «Muitos podem não ver um e-book como um livro, mas é nessa categoria que esta minha nova história se enquadra (...) Quando Mateus se olha ao espelho não é o seu reflexo que vê, mas antes uma imagem de preconceitos, expectativas e autossabotagem que faz de si mesmo. Ao conhecer Sebastien, numa cidade iluminada por decorações de Natal, a sua perceção começa a mudar. Mas conseguirá escapar às expectativas da sua vida social? Pode Sebastien curar as feridas invisíveis de Mateus?»

Nota: O Diogo também disponibilizou histórias gratuitas. Vejam aqui

Fotografia da minha autoria



«Todos merecem uma grande história de amor»


O meu vínculo à sétima arte, vocês sabem, não é o mais estreito e tende a enfraquecer graças ao facto de preferir ler o livro antes de assistir à adaptação cinematográfica. Recentemente, quebrei esta tendência, pois percebi que, de outro modo, demoraria a conhecer uma história tão amorosa e pertinente como Love, Simon.


O ARGUMENTO

Simon Spier tem 16 anos, uma personalidade carismática, cativante, e uma família e um grupo de amigos que o adoram - e respeitam. Até aqui, nada de alarmante. O problema é que esconde um segredo: é homossexual.

Encobrir esta parte de si nunca foi algo consciente, mas a verdade é que nunca a revelou ao seu núcleo mais próximo. Só quando começou a enviar mensagens regulares a Blue, um correspondente anónimo numa situação semelhante, é que despertou para um conjunto de questões sobre aceitação e autodescoberta.

A vida de Simon fica do avesso assim que alguém tem acesso ao seu e-mail e torna as mensagens públicas.


A NECESSIDADE DE (NÃO) NOS ASSUMIRMOS

O tom descontraído e cómico do enredo fascinou-me e fez com que toda a experiência de acompanhar a jornada de Simon fosse ainda mais especial, porque é evidente o seu desconforto, mas também o seu à vontade. Naturalmente, debate-se com alguns conflitos internos, mas não transforma a sua vida num drama.

Assistir a este filme permitiu-me refletir sobre a injustiça dos padrões duplos. Ou seja, porque é que um heterossexual não tem de se assumir, mas um homossexual sim? Perdoem-me se estiver a ser spoiler, mas existe uma cena deliciosa sobre esta situação, porque vemos heterossexuais a assumirem-se às suas famílias e o quanto isso é estapafúrdio e o quanto perpetua uma pressão desnecessária - já basta que as pessoas sintam o peso da diferença por terem uma orientação sexual que a sociedade considera não ser a norma.

Em simultâneo, levou-me a considerar que este processo de aceitação talvez necessite de ser verbal por um motivo: ao assumirmos quem somos, temos a capacidade de mostrar a alguém no mesmo comprimento de onda que não caminha sozinho e que não tem de se sentir envergonhado, e muito menos que tem de se esconder. No fundo, é uma maneira de quebrar tabus e preconceitos, criando uma bolha segura de empatia.

Love, Simon é sobre aprender a confiar. É sobre errar e tentar consertar falhas. Principalmente, é uma história de amor - próprio e pelo outro - como as verdadeiras histórias de amor devem ser: vulneráveis, puras, sem descurar a comunicação entre pares e sem receio de sermos quem somos. Agora, quero muito ler o livro.

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«A vida de uma mulher num universo totalitário»

Avisos de Conteúdo: Morte, Referência a Doenças


O mundo pode ser um lugar desconhecido, com limites difíceis de traçar, sobretudo, quando não sabemos ao que vamos, quando não temos noção do chão que pisamos. Vagueando sem destino, procurando diminuir as atenções dos demais, há um instinto de sobrevivência que aparenta emergir. Assim é o livro de Catarina Costa.


ENTRE O SILÊNCIO E A CLANDESTINIDADE

Periferia é um romance distópico, com uma temática de ficção especulativa a pautar a narrativa. Neste ambiente, que divide a sociedade em Pacientes e Não Pacientes, acompanhamos o quotidiano de uma mulher sem nome, que pertence ao primeiro grupo e que tenta permanecer oculta, de modo a mudar o seu destino.

«A Periferia não fica nem perto nem longe, e penso 
que é essa a ideia que as autoridades querem sugerir»

A tristeza dos acontecimentos, os silêncios desconfortáveis e uma certa clandestinidade fazem com que esta história tenha imenso potencial, no entanto, ficou aquém das minhas expectativas, porque não consegui relacionar-me com a personagem principal. Se, por um lado, achei interessantes alguns dos seus debates internos e comportamentos, por outro, o início demasiado lento e repetitivo criou uma distância entre nós.

«Há um certo tipo de temor que está em todo o lado. 
Nenhuma casa é um refúgio completo»

É evidente o ambiente opressivo e o medo de fazer algo que a denuncie. Apesar de me ter sentido a andar em círculo, também reconheço que a narrativa foi crescendo e que esta Periferia adquiriu um foco intrigante - com pena minha, algo tardio. Levando-nos para novos territórios, fiquei com mais perguntas do que respostas.


🎧 Música para acompanhar: Sempre Rente ao Chão, Noiserv


Disponibilidade: Wook | Bertrand

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andreia morais

andreia morais

O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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